Capítulo 70. A convenção dos ratos.
Logo na segunda-feira de manhã depois de ter passado o fim de semana sozinha sem a esposa e os filhos Márcia foi trabalhar como se nada tivesse acontecido. Ao chegar ao batalhão foi recebida pela cabo Renata que já a aguardava na antesala do gabinete da coronel.
-- Bom dia coronel Mantovanni!
-- Bom dia cabo Renata! -- Como estão as coisas por aqui?
-- Até agora tudo bem coronel, mas há alguém em sua sala a sua espera.
-- Sim e quem é?
-- O coronel Gutierrez e ele está com cara de poucos amigos.
-- Obrigada por me avisar cabo. A senhora poderia chamar o soldado Monteiro e o sargento Vasques depois em minha sala?
-- Sim senhora coronel, eu os chamarei e agora se me der licença?
A coronel acenou afirmativamente com a cabeça e a cabo saiu em direção aos seus afazeres. Ao entrar no gabinete de subcomandante, o coronel já a esperava sentado no sofá que existia na sala.
-- Bom dia coronel Mantovanni!
-- Bom dia coronel Gutierrez! – Mas que visita é essa em minha sala tão cedo?
--Só vim ver como estão as coisas e pelo visto está tudo bem. Gostei de ver, fez as coisas como o combinado.
-- Mas eu não combinei nada com o senhor e se está se referindo à visita do Adamastor em minha casa, eu disse que não era nada demais.
-- É eu estou sabendo sobre a conversa e fico animado com isso. Pelo menos eu posso confiar em alguém.
Agora era a deixa e a hora da coronel colocar o comandante contra a parede.
-- Mas como assim o senhor está sabendo coronel?
Vendo que havia dado uma bola fora, o coronel desconversou e disse que as notícias corriam igual água no rio.
-- É verdade coronel, nisso o senhor tem toda a razão e eu até me sinto bem sabendo que estamos nos entendendo.
-- Eu também Mantovanni, fico bem em saber que você continua a mesma de sempre. Mas e como estão a sua esposa e os filhos?
-- Bom coronel, depois daquela palhaçada que o senhor fez em minha casa, achei melhor que minha esposa fosse viajar.
-- Viajar? – Como assim coronel Mantovanni?
-- Em primeiro lugar coronel, eu não devo satisfações do que acontece entre eu e minha esposa para o senhor e para ninguém, em segundo ela foi porque a minha sogra estava querendo conhecer a terra do pai do meu falecido sogro e em terceiro, essa viagem já havia sido programada por nós, mas como agora não dava para ir e como ela está de licença por causa do nascimento do Nicola e da Antônia, eu permiti que fosse.
-- E para onde foi a sua esposa coronel?
-- Ela deve estar curtindo Lisboa e depois vai conhecer outros lugares, volta talvez daqui uns vinte dias.
-- Você mandou a sua esposa para Portugal? – Mas como, está jorrando dinheiro assim no seu bolso coronel?
-- Gutierrez dá um tempo! – Hoje qualquer um de nós pode viajar para onde quiser, até para a China, as passagens caíram de preço e é por isso que o pessoal anda voando muito para fora do Brasil. Está afim de reservar uma passagem para lá? – Que tal nós dois, eu e você?
-- Não Márcia, esse negócio de comer gafanhoto e outras coisas esquisitas não é para mim.
-- Então se me der licença, preciso trabalhar e o senhor também!
-- Ah propósito, ia me esquecendo. Hoje teremos uma reunião e eu quero que você vá comigo Mantovanni.
-- E posso saber com quem é essa reunião coronel?
-- Com o nosso grupo coronel. Será às oito horas em minha casa, portanto não se atrase.
-- Sim senhor coronel, estarei lá.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Quando saiu da sala da coronel, Gutierrez pediu para que o subtenente Hainz verificasse se a esposa da coronel havia mesmo embarcado para a Europa. A cabo Renata que ouvira tudo foi até a sala da coronel e contou o que ouvira.
-- Obrigada Renata, mas tome cuidado com o que faz, eles são muito perigosos.
-- Sim coronel e agora se me permite o sargento Vasques e o soldado Monteiro já estão aguardando para vê-la.
-- Mande-os entrar e obrigada.
Assim que os dois entraram na sala, a coronel tratou logo de passar a conversa que tivera com o coronel. Porém, sustentou a tese de que a esposa estava viajando com os filhos, a sogra e o agora sogro, o coronel Raimundo.
Na hora do almoço o coronel já tinha a confirmação sobre a viagem de Andressa para Portugal. Segundo disse o subtenente Hainz, ela havia embarcado na quinta-feira no voo das vinte horas para lá.
-- Então é verdade que a coronel mandou a esposa viajar? – Pelo menos ela não mentiu.
-- O senhor sabe que ela não é dada a mentiras coronel e sempre foi correta com as coisas.
-- E isso ninguém pode negar. Mas veremos hoje a noite quando ela olhar para meio milhão de reais, se essa honestidade toda vai continuar.
-- Mas coronel, ela é incorruptível!
-- Veremos Hainz, meio milhão muda a cabeça de qualquer pessoa.
Márcia se reuniu com os amigos e passou toda a informação para eles e seria dado seguimento ao plano, naquela mesma noite. Ela iria desmascarar o comandante na festa de aniversário do Jubileu de Prata do coronel que seria na outra semana.
No horário combinado a coronel estava em frente à casa de seu comandante. Os amigos estavam a uma certa distância e assim, poderiam observar melhor o que se passava por lá.
-- Eu estou com medo de que aconteça alguma coisa Tavares, falou a coronel Monteiro que estava junto ao coronel.
-- Eu também coronel, mas vamos aguardar. Não se esqueça que a caneta de nossa amiga, tem uma microcâmera minúscula instalada nela. É por isso que podemos ver o que acontece lá dentro. Ah, e o relógio também tem uma menor ainda.
-- Mas que cachorra filha da puta, essa ela nunca me falou! Exclamou a coronel para o amigo.
-- E você não conhece a figura? Esqueceu que nós todos nos conhecemos a mais de trinta anos?
-- É verdade Tavares, mas já faz tudo isso? -- Caralh* estou velha mesmo!
-- E como está!!! Falou rindo o coronel.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Assim que a coronel chegou na casa do Gutierrez, viu que ali estavam alguns policiais que ela já conhecia de outras datas. O capitão Esdras também estava presente e estranhou quando viu que Márcia estava entre eles.
-- Coronel Mantovanni a senhora por aqui?
-- Boa noite capitão, eu é que pergunto: -- O que faz o senhor por aqui?
-- Creio que o mesmo assunto que a trouxe aqui!
Logo o coronel Gutierrez veio dar as boas vindas a todos e apresentou a coronel para quem ainda não a conhecia.
-- Senhores hoje temos uma nova integrante de nosso grupo. Com vocês a coronel Mantovanni que é subcomandante e minha auxiliar na Força Tática.
-- Boa noite senhores, espero que minha presença aqui não os esteja incomodando. Afinal, eu não poderia recusar o convite do meu comandante, não é mesmo coronel?
-- Sim, mas ainda falta somente uma pessoa a chegar.
Logo em seguida o coronel é avisado que o ilustre convidado chegou. A coronel quase caiu das pernas quando viu que o convidado tão esperado era Níldo Amaral Santos, ou seja, o conhecido e temido bandido, assassino e traficante Barbatana. Quando entrou e viu que a coronel estava na sala indagou ao anfitrião:
-- O que ela faz aqui Gutierrez?
-- Calma Nildo, ela está com a gente.
-- Tem certeza de que ela está com a gente, já nos encontramos em outras ocasiões e eu não confio na sua subcomandante.
-- Pode confiar, ela já recebeu o recado que eu mesmo levei pessoalmente na casa dela na semana passada e creio que a esposa e os filhos estão acima de qualquer tipo de honestidade. Afinal, ela não ia querer que a família fosse dizimada.
Enquanto isso do lado de fora da casa, os amigos da coronel não acreditavam no que estavam vendo.
-- Mas que crápula Tavares, ele é aliado daquele safado do Barbatana. Aquele canalha já matou um dos meus homens, ai que ódio desses dois!!!
-- Calma Cláudia, por enquanto só podemos olhar e esperar o que nossa amiga vai fazer.
A reunião prosseguiu normalmente até que Gutierrez chamou a coronel de canto, abriu uma mala e falou:
-- Aqui tem duzentos e cinquenta mil reais coronel e será muito fácil para você ganhar esse dinheiro.
Ao olhar para o montante que estava a sua frente, a coronel perguntou:
-- Mas o que é isso coronel? – Que dinheiro é esse?
Barbatana aproximou-se da coronel e disse:
-- Nós resolvemos testar a sua lealdade e o seu amor incondicional pela sua esposa e filhos coronel Mantovanni. A senhora não quer ficar viúva novamente e nem perder seus filhos, não é mesmo?
Nesse momento a coronel sentiu o sangue ferver, mas não colocaria tudo a perder, pois a vingança era um prato que se comia frio e começava pelas bordas. Eu mesmo me encarregarei de acabar com você, pensou intimamente
-- Coronel Gutierrez, eu já pedi para o senhor deixar a minha família fora disso. É a mim que o senhor quer afetar e não a eles. E tem mais senhor Nildo ou Barbatana, quando se trata da minha esposa e dos meus filhos, faço qualquer coisa para que nada aconteça a eles. E virando-se para o coronel Gutierrez Márcia perguntou:
-- O que eu tenho que fazer coronel?
-- Simples, é só me livrar do coronel Adamastor e do agora tenente coronel Delgado.
--Mas como eu farei isso, o senhor só pode estar louco?
Nisso Barbatana interveio na conversa e ameaçou:
-- Ou a senhora faz isso coronel, ou a sua família já era.
-- Não se atreva a fazer nada contra eles, porque eu te busco embaixo da saia da sua mãe seu desgraçado.
Barbatana então sacou do revólver e apontou para a coronel que a essa altura já tinha feito o mesmo. Nessa hora o bandido percebeu que a coronel não tinha medo e ficou um pouco apreensivo. Ele havia percebido que a coronel não se curvava a qualquer um e dando uma risada que demonstrava seu nervosismo, falou:
-- Calma coronel foi só brincadeira!!!
-- Cuidado com essas brincadeiras Barbatana porque talvez um dia elas serão prejudiciais à sua pessoa.
O coronel deu a reunião por encerrada e quando a coronel ia saindo falou:
-- Obrigada pela sua presença coronel.
-- Eu é que agradeço o convite senhor. Boa noite!
Quando a coronel ia entrar em seu carro, o coronel chegou próximo a ela e disse:
-- Já está tudo preparado e decidido coronel Mantovanni. O assassinato do Adamastor será na comemoração do meu Jubileu de Prata. Assim, ninguém desconfiará de nós e sabe por quê? -- Porque estaremos todos na comemoração inclusive todos os policiais que aqui estiveram. Portanto, sairemos livres de qualquer acusação e você sairá com duzentos e cinquenta mil reais.
-- Perfeito coronel, nem eu teria ideia melhor. Mas e o Barbatana?
-- Os dias dele já estão contados. Lembra-se da morte do Clóvis? – Será um pouco pior, aliás, o que você acha de Barbatana assada?
-- Nunca comi coronel e nem sei qual o gosto. Cozida é melhor porque não fica seca. E mais uma vez boa noite senhor.
-- Boa noite Mantovanni e saiba que você me deu uma ótima ideia.
A coronel ficou imaginando uma maneira de pegar Barbatana. O que ele falou sobre Andressa e os filhos, não ficaria barato. Sim, ele havia cavado a própria sepultura e cozinhar seus pedaços era uma ideia agradável e agora estava tudo pronto para pegar o coronel, mas antes, ela teria que armar a ratoeira para pegar três ratos de uma vez. Eram eles o subtenente Hainz, o coronel Gutierrez e Barbatana.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: