Capítulo 36
Mariana e Chiara seguiram para um bar que mais parecia uma taverna, com mesas feitas de pedra, um balcão gigante de madeira, com diversos barris de vinho ao fundo. A loira ficava cada vez mais deslumbrada com a simplicidade daquele lugar, ao mesmo tempo que também reconhecia sua grandiosidade histórica e simbólica. Porém, mesmo diante de toda novidade visual que aquele local proporcionava, Mariana não conseguia tirar de sua cabeça a imagem de Chiara nua.
A jovem tentava a todo custo pensar em outras coisas, inclusive para não deixar transparecer à Chiara, no entanto a italiana percebeu que Mariana estava inquieta e acabou perguntando.
- Mari, está tudo bem com você? Me parece um pouco distraída.
- Er... eu, eu estou bem, Chiara, só estava aqui viajando na arquitetura desse bar, muito bacana aqui.
- É sim, e a comida também é ótima, vamos pedir logo, pois estou com muita fome.
- Ótima ideia, também estou com fome. - Respondia a loira automaticamente.
Mariana estava encontrando dificuldades para lidar com aquela situação, pois nunca passara por algo parecido. Quando começou a sentir desejos por Clara, o sentimento de amor viera junto, entretanto, por Chiara ela sabia que o que estava sentindo era um mero desejo, algo realmente carnal. Olhar o corpo desnudado da italiana deixara sua libido à flor da pele e pela primeira vez a loira começou a temer por seus próprios atos. Ainda mais por ter que dividir o mesmo quarto com Chiara.
A loira continuava viajando em seus pensamentos e Chiara apenas reparava o olhar perdido de Mariana, com uma expressão enigmática. Até mesmo na hora em que o garçom apareceu para anotar seus pedidos, a loira pareceu estar em outro local.
A italiana continuava reparando em Mariana, como se já soubesse quais eram os seus pensamentos, entretanto, continuava agindo como se nada estivesse acontecendo.
- Então Mari, está gostando da comida? - Perguntou a italiana, depois que já estavam quase no final da refeição.
- Perfeito, Chiara, a comida italiana é maravilhosa.
- É sim, sou suspeita para falar. - Riu a jovem. - Mas, também quero ter a oportunidade de experimentar a comida brasileira.
- Er.. por falar nisso, eu queria conversar com você depois.
- Sobre?
- Sobre o Brasil, mas vamos deixar para outra hora.
- Você que manda, Mari, acho bom mesmo a gente se desligar de tudo à nossa volta. - Disse encarando a loira.
- "Ai meu Deus, não fala assim." - Pensou Mariana, afobada.
- O que você acha disso, Mari?
- Hã?
- O que você acha de nos desligarmos completamente do que está longe e aproveitarmos o momento?
- Eu, er... eu acho que isso seria ótimo, er.. desde que...
- Xiuu, nada de "desde de que". - Pediu a italiana, fazendo com que a loira se calasse. - Assim que terminarmos aqui, quero te mostrar um lugar lindo. Vamos viver o hoje Mari, sem peso nenhum, sem compromisso, sem preocupações, apenas viver. Tem uma música brasileira que fala disso não é?? Como é mesmo??
A italiana fazia uma expressão engraçada, de quem está se esforçando para se lembrar de algo e Mariana não pôde conter o riso.
- Ahh, já sei, é assim: "e não há tempo que volte amor, vamos viver tudo o que há para viver, vamos nos permitir..." - Cantou a italiana, toda animada e com um sotaque charmoso.
- Adoro essa música. - Respondeu Mariana, encantada. - É do Lulu Santos.
- Isso, isso mesmo, gosto muito das músicas dele.
- Eu também. - Disse a loira suspirando fundo. - Aii Chiara, você tem o dom de me deixar tranquila sabia? Nossa, quando estou com você me sinto livre para fazer as coisas, você deve causar essa sensação em todos que fazem parte de sua vida.
- Eu sou assim com quem me desperta essa ânsia de viver bem cada momento. - Respondeu sorrindo. - Você me traz isso, Mari.
A loira retribuiu o sorriso e em seguida voltou a olhar a sua volta, dentro daquele bar épico. A música que Chiara havia cantado para ela não saía de sua cabeça, levando a loira a ficar pensando sobre sua vida e sobre o momento presente:
- " ‘Vamos nos permitir'... será possível nos permitir sem ter arrependimentos depois?? Esquecer o que está longe, pelo menos por um momento?"
- Espero que seus pensamentos estejam por essas redondezas. - Falou Chiara, interrompendo a viagem mental da loira.
- Er... está sim, vamos?
- Já terminou de comer?
- Já sim, estava maravilhosa a comida.
- Quer pedir mais alguma coisa?
- Não, estou satisfeita, agora estou curiosa para conhecer o lugar que você quer me levar.
- Ahh, então vamos logo, esse é o melhor horário para ir até lá.
- Melhor horário? Por que, é muito movimentado? - Perguntou curiosa.
- Aguarde, você verá com seus próprios olhos. - Respondeu Chiara, com um sorriso bonito no rosto.
As jovens pagaram a conta e saíram pelas ruas da pequena cidade de Montalcino. Na maioria das ruas que as jovens passavam se encontravam poucas pessoas, fazendo com que Mariana se questionasse, onde a morena queria levá-la.
- Chiara, para onde você está me levando?
- Calma Mari, apenas aprecie os mistérios dessas pequenas ruas, viva isso, Mari, tente viver a história desse lugar, olha como tudo está em perfeitas condições. É como se vivêssemos em um passado muito distante.
Chiara parecia fazer mágica com as palavras, pois conforme Mariana ia adentrando as ruas cada vez mais desertas, ela ficava ainda mais hipnotizada com os encantamentos daquele lugar. Chiara conseguia dar vida à história e fazia com que Mariana realmente vivenciasse um período passado.
- Chiara, não é perigoso ficar aqui à essa hora da noite? Não tem ninguém na rua.
- É exatamente por isso que estamos aqui.
Mariana parou de caminhar e olhou para Chiara, esperando que ela desse uma explicação para o que acabara de dizer, porém a italiana continuava falando como se tudo aquilo fosse normal.
- Mari, olha bem onde estamos, repare os mínimos detalhes. - Dizia a morena apontando para as construções antigas que estavam por toda a parte.
Mariana começou a olhar atentamente à sua volta. Chiara havia a levado para uma rua sem calçadas, contendo casas antigas dos dois lados e diversas entradas para outras ruas. No início de cada nova rua se encontrava um arco em pedra, como se fosse a entrada de um grande castelo. Nas janelas das casas haviam vários vasos de flores, dando uma singeleza incomparável para aquele local.
A iluminação era feita com pequenas luminárias retangulares, que ficavam suspensas próximas as janelas das casas e o chão da rua era todo feito em pedras largas, como se fossem belos pisos esculpidos pela própria natureza.
Depois de ter feito sua análise do local, Mariana compreendeu por que Chiara a levara naquele horário. Realmente o silêncio que predominava as ruas a fizera observar e sentir ainda mais aquele lugar, como se realmente estivesse na Idade Média.
Chiara olhava para a loira e logo percebeu que ela estava não apenas vendo o lugar, mas também sentindo, assim, enquanto a jovem se perdia em suas observações, a italiana aproveitou-se para caminhar vagarosamente até Mariana. Ficou com seu corpo praticamente colado às costas da jovem e desceu a boca até seu ouvido para dizer:
- Fecha os olhos, Mari...
A loira se arrepiou toda ao sentir o contato do corpo de Chiara em suas costas, mas sem dizer nada, apenas obedeceu ao pedido da italiana e fechou os olhos.
- Existe uma história sobre esse lugar, Mari... - Chiara continuava falando em voz baixa, no ouvido de Mariana. - Essa cidade está cercada por uma bela fortaleza, que amanhã cedo terei o prazer de lhe mostrar, mas a história que quero contar se passou entre duas donzelas que viviam a amarga falta de liberdade imposta por seus pais. Eles eram importantes senhores feudais e seguiam as determinações impostas pela igreja. Imagine, Mari, que aqui, durante a Idade Média, muitas mulheres deixavam de viver suas vontades, por ordens dos homens e da Igreja, que era a grande detentora do poder, naquela época.
Enquanto Chiara ia falando, Mariana sentiu uma força estranha lhe invadir o interior, como se fosse ela uma daquelas mulheres, como se de fato o tempo passado estivesse se configurando à sua volta.
- Quase todas as mulheres viviam nesse aprisionamento doméstico, Mari, mas não é o caso dessas, que eu vou lhe contar. Havia, dentre as famílias dos grandes senhores feudais, que habitavam essa região, duas belas jovens que se destacavam, não apenas no quesito beleza, mas também na inteligência e na coragem. Agnese, era uma jovem muito doce e bondosa, mas também era audaz e firme em suas decisões, algo que contrariava muito seu pai, suas irmãs e diversas outras mulheres da época, que acabam assumindo o papel de submissão de forma natural, como se tivessem nascido apenas para servir aos homens. Já Cecília era uma jovem obediente às vontades de seu pai e da Igreja, no entanto ela sempre conviveu com um sentimento do qual não sabia explicar o que representava, até se encontrar por acaso com Agnese, em uma solenidade da Igreja. A partir dali as jovens se tornaram amigas, e como suas famílias eram muito abastadas, não se importaram com a amizade das moças.
Mariana respirava longamente, como se tivesse adentrado na história.
- Agnese mostrou para Cecília o gosto da liberdade, ensinou-lhe a sair escondido durante a noite, para apreciar a bela paisagem do alto de uma colina, ensinou ainda que a vida era muito mais do que apenas servir aos homens, ensinou que ela podia e deveria viver para ela mesma e que aquilo não era pecado algum. Ensinou para Cecília que a felicidade está muito mais dentro de nós mesmos do que do lado externo. E assim a jovem foi se permitindo viver com intensidade as aventuras que aqueles passeios noturnos secretos lhes proporcionavam. Tudo caminhava perfeitamente bem, até que em um desses passeios noturnos nas colinas de Montalcino, Agnese revelou à Cecília seu maior desejo...
Chiara parou sua narrativa por alguns segundos, esperando que as palavras adentrassem ainda mais no imaginário de Mariana, porém logo percebeu que a loira já estava completamente hipnotizada pela história ao ouvi-la perguntar ansiosa:
- Qual? Qual era o maior desejo de Agnese?
- Seu maior desejo era fugir daqui ao lado de Cecília. - Respondeu Chiara, ainda com um tom de voz baixo.
Mariana sentiu o braço se arrepiar, mas antes que voltasse a falar mais alguma coisa, Chiara continuou a história:
- A jovem de coração puro e bondoso virou-se para Agnese e sorriu, demonstrando que também compartilhava daquele desejo. Foi então que Agnese fez o que sempre tivera vontade de fazer desde que vira Cecília pela primeira vez. Lhe beijou delicadamente a boca, despertando todo o desejo que estava contido no interior de Cecília. As jovens fizeram amor pela primeira vez ali mesmo, nas colinas, cercadas pela gigante fortaleza. A partir daquele dia elas viviam apenas pelo amor que sentiam uma pela outra, no entanto a necessidade de ficarem juntas todos os dias acabou fazendo com que o desejo de fugir dessa cidade se tornasse real. Assim elas planejaram a fuga e marcaram de se encontrar exatamente aqui, onde estamos.
Mariana se arrepiou ainda mais ao ouvir da boca de Chiara que elas estavam no exato lugar onde as jovens combinaram de se encontrar para poder viver livremente aquele amor.
- Porém, Cecília tinha o coração bondoso e amava imensamente suas irmãs, assim, antes de sair, a jovem revelou à sua irmã mais velha que iria partir ao lado de Agnese, achando que poderia confiar nela. No entanto, assim que Cecília saiu de casa, sua irmã foi às pressas avisar seu pai sobre a fuga e sobre o romance da jovem com Agnese e este por sua vez correu sem pensar até o local onde as jovens haviam combinado de se encontrar.
Chiara desencostou seu corpo de Mariana e caminhou até ficar de frente para a jovem. Mariana abriu os olhos e encarou a morena esperando que esta desse continuidade à história.
- Agnese já estava aqui, à espera de Cecília. - Continuou Chiara, apontando para o início de uma rua, próximo ao local em que elas estavam. - E não demorou muito para que Cecília chegasse por ali...
A italiana ia contando e mostrando os locais onde as jovens se encontravam na história.
- Ao se avistarem as duas jovens começaram a sorrir e caminhar uma em direção a outra, como se não houvesse mais nada à sua volta, como se o mundo tivesse parado durante aquele momento. Porém, antes mesmo que elas voltassem a se tocar, o pai de Cecília apareceu sorrateiramente e apunhalou Agnese pelas costas, com sua espada e em seguida matou a própria filha. As jovens caíram uma ao lado da outra. Agnese conseguiu forças para pegar a mão de Cecília antes de seu último suspiro... as jovens morreram aqui, de mãos dadas.
- Nossa, que história triste, Chiara. - Disse a loira, impressionada.
- É sim, mas não acabou, depois de algum tempo as pessoas começaram a relatar que, por diversas vezes avistaram duas jovens de mãos dadas caminhando livremente pelos becos estreitos dessas ruas, mas, ninguém sabia dizer quem elas eram.
- Vo-você acha que isso... que.. que são elas? - Perguntou Mariana, já morrendo de medo.
- Sim, acho que elas estão vivendo em outro lugar o amor que não puderam viver aqui na Terra.
- Ai Chiara, você não tem medo? - Perguntou a loira, aproximando seu corpo ao de Chiara.
- Não tem por que ter medo, que mal você acha que elas iriam fazer para mim que também gosto de mulher? - Disse a italiana, rindo da pergunta de Mariana e também por ver que ela estava com medo.
- Ai, não sei, mas não sou muito fã dessas histórias de fantasmas.
- Venha então. - Disse a italiana, segurando a mão de Mariana. - Vamos voltar para a pousada, já está tarde mesmo.
As jovens começaram a caminhar, porém quando atravessavam a entrada de uma rua, escutaram um barulho vindo do meio da escuridão.
- Chi-Chiara, o que foi isso?
- Xiuu... - Disse a morena, encostando a loira na parede de uma das casas e aproximando seu corpo ao dela, como se estivesse escondendo ambas atrás da viga de pedra da residência.
Chiara ficou olhando para a entrada da rua, esperando alguém aparecer, já Mariana, respirava rápido, como se estivesse prestes a ter um ataque de pânico. A italiana percebeu o estado assustado de Mariana e lentamente colocou seu rosto colado ao dela e disse:
- Calma, eu estou aqui...
Mariana continuava respirando rápido, porém, agora não sabia se o motivo de sua falta de ar era o medo ou a proximidade que a morena estava dela. Já Chiara continuava com o rosto colado ao de Mariana e agora sua mão descia e se encaixava em sua cintura.
A loira, começou a deixar o medo de lado e a ceder espaço para o desejo que sentira há momentos atrás, quando ainda estava no quarto da pousada apreciando o corpo nu de Chiara, o mesmo corpo que agora estava colado ao dela. Assim, sem perceber Mariana levou seu nariz ao pescoço de Chiara, como se estivesse sentindo seu cheiro. A morena instintivamente se arrepiou ao sentir o ar que saía das narinas de Mariana tocar seu pescoço.
Agora era o coração de Chiara que se acelerava e como num transe, a morena desencostou um pouco seu corpo do da loira para poder olhar em seus olhos, levou uma das mãos até o pescoço de Mariana e quando estava começando a direcionar a boca até a da jovem, escutou novamente um barulho vindo da rua. Quando as duas jovens olharam, avistaram um pequeno cão que saía do beco, carregando um pedaço de carne na boca.
As jovens se olharam e começaram a rir, como se não estivesse acreditando que tudo aquilo fosse por causa de um cachorro.
- Aii, não acredito. - Disse Mariana, ainda com Chiara à sua frente, com uma mão em sua cintura.
- Até eu cheguei a pensar "coisas"... - Falou Chiara, referindo-se à história que ela mesmo contara.
- Er... por falar nisso... - Mariana se desencostou da parede e começou a caminhar rapidamente, puxando Chiara pela mão. - Vamos sair daqui, prefiro ver um cachorrinho do que os fantasmas de Agnese e Cecília.
As jovens correram de mãos dadas até a pousada de Dona Nina, porém ainda permanecia um clima estranho no ar, afinal elas quase se beijaram naquela estreita rua histórica e o desejo entre elas estava ainda mais aflorado.
- Bom, chegamos. Vou pegar a chave na recepção. - Disse Chiara.
- Tudo bem, te espero na porta do quarto.
Enquanto Chiara ia até a recepção, Mariana seguiu para o quarto tentando controlar a vontade que sentia de tocar Chiara.
- "Meu Deus, não posso ficar assim, que desejo é esse?? A Chiara está tentando me seduzir e o pior é que ela está conseguindo, caramba, o que eu faço?? Como vou conseguir ficar trancada nesse quarto com ela sem fazer nada?? "
A loira respirava fundo, enquanto permanecia encostada na porta do quarto esperando Chiara voltar.
- "Calma, calma Mariana, o que aconteceu lá na rua foi uma coisa de momento, ela não vai tentar nada, a Chiara me respeita e sabe que eu amo a Clara, não vai acontecer nada aqui!"
- Pronto Mari, vamos entrar? - Disse Chiara, chegando despercebidamente.
- Aii que susto. - Falou Mariana, se despertando de seus pensamentos.
- Nossa, estava concentrada aí, hein. - Comentou a italiana sorrindo de uma maneira extremamente charmosa.
A jovem passou com seu corpo muito próximo ao de Mariana e levou a chave na fechadura, para abrir a porta. Era evidente que ela estava provocando a loira, pois tudo o que fazia tinha um ar de sensualidade que deixava Mariana toda atrapalhada.
A loira esperou Chiara entrar no quarto e em seguida adentrou temendo que a jovem tentasse algo e que ela não tivesse forças para resistir, devido ao seu estado de puro desejo. No entanto, Chiara caminhou vagarosamente até sua bagagem e retirou uma roupa leve, para poder vestir e falou:
- Espero que eu não tenha deixado você com trauma de passeios noturnos, Mari.
- Não, er... que isso, Chiara, eu... eu adorei o passeio.
- Adorou? - Perguntou Chiara ainda de maneira sedutora, enquanto começava a retirar sua própria calça.
- Si-sim, eu adorei... gostei muito da história também... apesar de ser triste. - Respondeu Mariana automaticamente, ao ver Chiara se despindo.
A italiana já havia retirado a calça e começava agora a tirar a blusa, porém, antes que Mariana visse qualquer coisa, ela saiu como um foguete para o banheiro, deixando Chiara rindo no quarto e já imaginando os efeitos que ela estava causando na loira.
Mariana fechou a porta do banheiro e ficou um tempo encostada na parede, tentando recuperar a calma.
- "Aii meu Deus, o que eu faço??"
A jovem se desencostou da parede e foi até a pia para escovar os dentes. Lavou o rosto várias vezes com a água fria que escorria da torneira e somente depois que se sentiu mais segura para voltar para o quarto é que saiu do banheiro.
Olhou para a cama e avistou Chiara sentada, como se estivesse apenas esperando ela sair do banheiro.
- Está se sentindo bem, Mari?
- Er.. estou, tudo bem sim.. - Respondeu sucintamente.
- Descanse então, pois amanhã conheceremos muitos lugares. - Disse Chiara, tranquilamente, como se não houvesse um clima estranho entre elas.
- Pode deixar, vamos dormir então.
- Vamos sim, só vou escovar meus dentes e já volto.
Mariana acompanhou Chiara adentrar o banheiro e aproveitou-se para trocar rapidamente de roupa. Depois deitou-se em sua cama e começou a se sentir mais tranquila, afinal, Chiara parara de tentar lhe seduzir.
A loira ficou virada de costas para a cama da italiana e esperou que Chiara saísse do banheiro e se deitasse, para poder de fato ficar relaxada. Escutou a morena se mexendo na cama e virou-se apenas para desejar uma boa noite e agradecer pelo dia.
- Chiara, obrigada mais uma vez, adorei o dia. Tenha uma ótima noite!
- Já disse que não precisa agradecer, Mari, o passeio foi muito bom para mim também. Durma bem, minha querida!
A loira voltou a ficar de costas para a italiana, porém somente por saber que a jovem estava ali, tão próxima dela, lhe tirara o sono.
- "Dorme Mariana, pelo amor de Deus, sossega mulher, você sempre controlou seus desejos, tenta pensar em outra coisa... vai, pensa..."
A loira tentava desesperadamente colocar outro pensamento na cabeça, porém só conseguia pensar nos momentos que acabara de viver com Chiara, na pequena cidade de Montalcino.
- "Será que aquela história é real ou a Chiara que inventou?? Nãoo, acho que é real sim, a Chiara não inventaria uma história só para me provocar, ela é uma pessoa séria, já estou viajando aqui... Chega de pensamentos, vou dormir!"
A loira finalmente conseguiu silenciar sua mente, porém, quando tudo parecia estar tranquilo e dentro do controle a jovem sentiu a aproximação da italiana às suas costas. Chiara saiu de sua cama, levantou o cobertor que Mariana estava usando e se deitou ao lado dela...
Mariana sentiu seu corpo todo ficar arrepiado e antes que tentasse falar qualquer coisa a jovem disse em seu ouvido.
- Eu tentei, Mari, juro que tentei apartar essa vontade louca que estou sentindo de te beijar, mas não dá... - Falava a italiana no ouvido da jovem, enquanto envolvia sua cintura com o braço. - Eu preciso ser beijada, Mari... eu.. eu quero te beijar, preciso sentir novamente o beijo de uma mulher.
Mariana respirava cada vez mais rápido e começava a se deixar levar pela fala de Chiara. A jovem por sua vez começava a beijar o pescoço de Mariana e apertava sua barriga com a mão.
- Deixa Mari, me deixa sentir novamente como é estar como uma mulher...
- Chiara... - A voz de Mariana saía falhada, demonstrando que o desejo era recíproco. - Você nunca mais... esteve com ninguém... depois... da... Fabiana?
- Nunca...
A loira virou-se para a italiana, que respirava tão rápido quanto ela e tentou dizer:
- Chiara...
A italiana colocou o dedo na boca de Mariana, impedindo-a de falar e em seguida disse:
- Eu sei Mari, eu sei sobre o seu coração e também sei do meu. - Falava com a boca muito próxima a de Mariana. - Mas, eu preciso viver isso aqui com você, não me diga não mais uma vez, estou louca para te beijar.
- Aii, não fala assim... - Respondeu com a voz, já rouca.
- Então me faça parar de falar.
- Mas, mas eu não devo... eu...
- Mari, os únicos que não sentem desejos são os deuses... - Falou a italiana, agora com a mão no rosto de Mariana, lhe acariciando. - Você é tão linda que parece sim uma deusa, mas é humana como eu e sei que também quer me beijar... me beija, Mari... preciso sentir isso.
Nessa hora Mariana não resistiu mais, levou sua mão também ao rosto de Chiara e lhe beijou com todo o desejo que estava segurando, desde que vira a jovem sem roupa. Era um beijo apressado, sedento, totalmente impulsionado por aquela força de possuir Chiara em seus braços pelo menos por um momento.
Chiara aproveitou-se para entrelaçar suas pernas às da loira, enquanto puxava ela para ainda mais perto de si. As bocas continuavam grudadas e as línguas se tocavam de forma sincronizada, fazendo com que o beijo satisfizesse grande parte daquele desejo anteriormente contido.
O beijo fora longo, mas o mais curioso é que nenhuma das duas jovens aproveitou-se para ir além daquele simples contato labial, apenas se arriscavam ora ou outra a fazer carinhos nas costas e na cintura e logo foram percebendo que todo aquela pressa evidenciada no início do beijo, foi cedendo lugar para a docilidade e cumplicidade.
- Que beijo delicioso, Mari, nossa... como segurei para não te beijar antes.
- Aii Chiara, você estava me matando, sabia? Você sabe como seduzir uma pessoa.
- Nunca tentei seduzir ninguém, mas você é um caso sério. - Disse rindo.
- Você que é um caso sério.
Logo Chiara interrompeu o diálogo com um novo beijo. As duas jovens de fato estavam com um desejo arrebatador anteriormente, porém ao se beijarem perceberam que o que estavam precisando era de sentir a presença do corpo feminino, mesmo que de maneira inocente, através de simples beijos. Precisavam sentir a presença uma da outra, era uma presença que dispensava quaisquer palavras, elas simplesmente sabiam o que predominava em seus corações, mas se permitiram viver os cuidados que aqueles beijos proporcionavam.
As duas tinham histórias fortes do lado de fora daquele quarto, histórias que ainda estavam pendentes. Chiara sabia que por mais que tentasse esquecer Fabiana, somente iria conseguir fazê-lo se encontrasse pessoalmente com a jovem e ouvisse de sua boca, olhando em seus olhos, que ela realmente não a queria mais. Já Mariana, esperava que Clara voltasse atrás e decidisse de uma vez por todas se aceitar enquanto uma mulher que gosta de outra mulher.
Porém, no momento em que as jovens se beijavam, nenhum desses pensamentos lhe vieram à cabeça, elas apenas continuavam se beijando, como se pelo menos por aquela noite, nada precisasse ser resolvido em suas vidas, como se aqueles beijos atuassem como um antídoto para o sofrimento que a separação de suas amadas lhe causara.
- Chiara, te conhecer foi uma das melhores coisas que já me aconteceu, sabia?
- Mari, não fala assim, posso me apaixonar por você - Disse brincando.
- Boba.
- Você apareceu na minha vida no momento certo, Mari, acho que foi coisa dos deuses mesmo ou quem sabe de Agnese e Cecília. - Brincou mais uma vez.
- Aii Chiara, essa história é verdadeira mesmo, ou você inventou?
- Hahaha, acha que tenho uma imaginação tão boa assim?
- Ah, sei lá...
- É claro que é verdadeira, foi a filha de Dona Nina que me contou.
- Ela é lésbica?
- Não, ela já é casada até, tem filhos e tudo, mas ela sabia de mim, aí me contou a história e desde então fiquei fascinada por ela.
- Nossa, você é doida, como pode ficar fascinada por uma história de fantasmas??
- Aii Mari, não veja por esse lado, a história é fascinante por que mostra que o amor transcende a vida terrestre, o amor é mais forte que a morte.
- Nossa, que lindo isso que você disse - Falou a loira, viajando no que a italiana acabara de pronunciar.
- Você faz uma carinha linda quando está pensando. - Disse a jovem, antes de levar seus lábios para beijar a loira mais uma vez.
E assim passou-se a noite, as jovens ficaram abraçadas se beijando, vivenciando os sentimentos mais belos de paz que aqueles simples beijos traziam aos seus corações.
No dia seguinte Mariana acordou e percebeu que estava sozinha no quarto. Chegou a pensar até que Chiara estivesse sem jeito para lidar com a situação, depois do que acontecera entre elas na noite passada, porém, logo a morena adentrou o quarto com um sorriso gigante no rosto, deixando Mariana mais aliviada.
- Buongiorno, bella ragazza!! - Disse a italiana, toda sorridente.
- Bom dia Chiara! - Respondeu a loira, retribuindo o sorriso e se ajeitando na cama. - Achei que tivesse me abandonado aqui.
A jovem deu um longo suspiro e caminhou até Mariana, sentando-se na cama ao lado dela.
- Como poderia te abandonar aqui, depois te ter passado uma noite tão gostosa ao seu lado? - Falava, enquanto passava a mão delicadamente no rosto da loira.
- Foi gostoso mesmo, Chiara.
A italiana pegou a mão de Mariana e deu um beijo, depois ficou um tempo olhando para ela e sorrindo.
- Chiara...
- Mari... - As jovens falaram praticamente ao mesmo tempo, fazendo com que ambas rissem.
- Pode falar, Mari.
- Não, fala você primeiro.
- Tudo bem. - Concordou a italiana, ainda segurando a mão de Mariana. - Eu queria dizer que se você está arrependida pelo que aconteceu, não tem com o que se preocupar e...
- Ei xiuuu, agora é a minha vez de pedir para você não falar nada. - Disse a loira, interrompendo Chiara.
A italiana ficou em silêncio, ainda com um sorriso no rosto e acompanhou com os olhos a loira se ajeitar na cama, ficando sentada de frente para ela.
- Chiara, não estou nem um pouco arrependida, fica tranquila. Nós duas temos nossas pretensões lá fora, no Brasil, mas isso que nos aconteceu foi muito bom, não dá para ter remorso disso. Eu não te enganei nem você a mim, fomos sinceras quanto aos nossos sentimentos e quer saber, te beijar foi a melhor coisa que fiz nesse último mês.
Depois de ouvir aquilo Chiara lançou um sorriso ainda mais adorável para Mariana. Realmente ela havia ficado um pouco preocupada com a reação da loira após aquela noite, porém, se via agora diante de uma Mariana segura e relaxada, que lhe deixava mais tranquila.
- Mari, é muito bom ouvir tudo isso, fiquei com medo de você ficar mal hoje, não quero em hipótese alguma te ver triste ou se sentindo mal por minha causa.
- Chiara, é impossível eu me sentir mal por sua causa, olha tudo isso que você está me proporcionando.
- O que exatamente eu estou te proporcionando? - Perguntou curiosa.
- Um olhar diferente sobre a vida, sobre o modo de se encarar as coisas, sei lá... ao seu lado eu fico mais desencanada, mas, não é algo inconsequente, sabe? É algo livre, mas racional e ponderado.
- Você diz isso pelo fato de não termos ido adiante ontem? - Perguntou a italiana, referindo-se ao fato delas terem ficado apenas nos beijos.
- Também, eu tenho que confessar para você, estava louca de desejo para poder te tocar.
- Eu também, mas os beijos me saciaram, Mari, er, você queria ir além? - Perguntou meio receosa.
- Logo que começamos a nos beijar eu também me senti saciada Chiara, realmente nós duas precisávamos disso.
A italiana levou a mão ao rosto de Mariana e contornou delicadamente com o dedo os traços da boca da jovem.
- Mari, acho que vou querer mais daqueles beijos.
- Eu também! - Disse a loira puxando o rosto de Chiara para lhe beijar a boca.
O beijo não foi tão demorado, mas deixou as duas jovens ainda mais sorridentes, por verem que as sensações eram compartilhadas por elas.
- Aii, você beija muito gostoso, Mari.
- Você também! - Disse a loira olhando para Chiara.
- Bom, acho que agora a senhorita podia levantar, pois temos muito o que conhecer.
- Que horas são?
- São 6 horas da manhã ainda, mas quero te mostrar muita coisa, então é melhor sairmos cedo.
- Claro, já vou levantar.
- Ainda bem que você é uma pessoa animada para essas coisas.
- Adoro conhecer lugares novos, ao seu lado me motiva ainda mais, é muito bom viajar ao lado de quem conhece os lugares.
- Ahh, achei que fosse por minha companhia ser agradável. - Brincou a jovem.
- Ahhh, mas isso é uma verdade também!
- Bom, mas agora chega de papo e levante, vou ficar te esperando lá onde será servido o café da manhã.
- Tudo bem, me arrumo rapidinho. - Disse a loira se levantando da cama e caminhando para o banheiro.
- Combinado! - Respondeu a italiana, já seguindo em direção à porta. - Me encontre lá.
Depois que Mariana e Chiara desfrutaram do maravilhoso café da manhã de Dona Nina, as jovens seguiram viagem para poderem aproveitar bem o dia. O primeiro lugar que a italiana levou Mariana foi para o alto de uma colina, ainda na cidade de Montalcino, onde se encontrava uma vista Maravilhosa.
No alto da colina havia uma construção muito antiga, também feita toda em pedra seguindo a mesma lógica arquitetônica das outras construções encontradas na cidade. Porém, aquela obra possuía uma característica diferente, pois parecia mais um minicastelo, esculpido no meio do nada, no alto daquela colina.
- Que lugar lindo, Chiara, o que é aqui?
- Ahhh, mia dolce ragazza, achou que eu iria te trazer na cidade que possui o melhor vinho da Itália, sem te levar em uma Enoteca?
- Aii, não me diga que é aqui que encontramos o Brunello di Montalcino? - Perguntou Mariana empolgada, referindo-se ao nome de um dos melhores vinhos da Itália.
- Exatamente! Estou te levando para a Enoteca Fortezza.
- Aii, você é demais!! - Disse Mariana feliz.
Chiara parou o carro no espaço que se tinha para deixá-lo, afinal, aquela Enoteca tinha sido construída no alto de uma colina, cercada por todos os lados por ribanceiras, que davam uma bela vista para as outras colinas ao seu redor.
As jovens desceram do carro e ficaram um tempo apreciando a vista maravilhosa, aproveitaram para também tirar fotos no lugar, já que a vista proporcionava uma das mais belas paisagens, tendo ao fundo várias colinas intercaladas com campos de vinhedos.
Depois de admirarem a natureza do local, as jovens adentraram a Enoteca Fortezza e foram recebidas por um senhor italiano simpático, que explicou um pouco sobre o lugar e também falou sobre a produção do Brunello di Montalcino. O lugar possuía mais 650 anos de tradição e seu interior refletia grande parte dessa história. Em seguida as jovens se sentaram em uma mesa e foram, finalmente, degustar o vinho.
- É Chiara, realmente aquele vinho que tomamos em Roma, não chega aos pés desse aqui, é o melhor vinho que já tomei. Nostra madre!! - Brincou a jovem ao final da frase, arrancando risos de Chiara e do senhor italiano.
Mariana e Chiara ficaram mais algum tempo conversando com o Senhor, que entendia muito bem o inglês, mas não demoraram para seguir viagem. Quando estavam, novamente na pequena estrada que as jovens percorreram no dia anterior para chegar a Montalcino, Mariana pode apreciar melhor a vista do local.
Era uma paisagem rica em elementos naturais e ao fundo contrastava as construções antigas esculpidas em pedra. Conforme iam se afastando de Montalcino, outras novas belas paisagens iam se configurando no caminho, tornando a viagem sempre nova e prazerosa.
- Para onde vamos agora, Chiara?
- Vamos para outra cidade pequena, chamada Montepulciano. Mari, a vista da estrada para essa cidade é uma das coisas mais belas, é cheia de muralhas e o centro histórico é a coisa mais linda. Esta cidade é uma joia da arte renascentista, você vai gostar.
- Tenho certeza disso! - Sorriu Mariana.
Chiara olhou para o sorriso da jovem e logo em seguida encostou o carro na beira da estrada.
- Ei, por que parou?
- Por que me deu vontade de te beijar de novo, você não vai me deixar viajar com vontade, né?
- Ah, claro que não, isso não se faz! - Brincou a loira, antes de ir até Chiara para lhe beijar.
As jovens se beijavam com vontade, sem se importarem com o movimento da estrada. Na verdade, quase não se passava carro naquele local, no entanto, depois de alguns minutos elas avistaram um senhor vindo em suas direções, em uma carroça cheia de cachos de uva. O senhor passou por elas olhando fixamente para dentro do carro e esbravejou algumas palavras que Mariana não compreendeu muito.
Já Chiara, começou a rir logo que o senhor foi se afastando e ligou o carro para sair daquele lugar. No entanto, antes de arrancar com o carro, levou o rosto até Mariana e lhe beijou novamente a boca, agora suavemente.
- Chiaraaa, me conta, o que ele falou?? Por que você está rindo? - Perguntou Mariana também rindo, mas sem saber o motivo.
- Aii, melhor eu nem falar.
- Ahh não, fala...
- Aiii Mari, tem que rir mesmo, eu não te falei que aqui é uma país muito conservador?
- Falou.
- Pois é, esse senhor falou que estamos cometendo um pecado mortal, que é uma vergonha e blá blá blá.
- Aiii Chiara, e você ainda ri disso??
- Vou fazer o que?? Chorar?? - Falou a italiana, ainda rindo.
- É, você tem razão, melhor rir.
- Aii Mari, quando estávamos lá na Enoteca Fortezza, senti uma vontade de te beijar, enquanto olhávamos aquelas colinas, mas você acha que seríamos recebidas tão bem como fomos, se tivéssemos nos beijado?
- É, acho que não.
- Com certeza não!
- Então você passou vontade!!
- Passei vontade por um bem maior: te mostrar o delicioso Brunello di Montalcino.
- Ahh, que linda você, né.
- Linda é você, e para de falar assim, se não vou parar o carro novamente para te beijar e a viagem não vai render. - Brincou Chiara.
Assim, as jovens seguiram viagem, passando por diversos lugares fascinantes. Chiara fez uma parada mais longa na cidade de Montepulciano, conforme havia combinado com Mariana e a loira, como de costume, ficou encantada com o local. De fato, a cidade era repleta de muralhas antigas localizadas em um relevo tortuoso, que dava um charme ainda maior para cidade. Havia também vários becos e entradas que pareciam secretas, mas que revelavam sempre novas construções, impossíveis de não serem apreciadas com olhos surpresos.
As jovens percorreram grande parte da cidade a pé, tirando fotos, tanto das construções quanto delas mesmas e depois de almoçar, Chiara mostrou todo o centro histórico para Mariana, falando da história daquela cidade, como se elas estivessem participando de um minicurso. Depois de subirem e descerem diversas ladeiras, Chiara chamou Mariana para seguirem viagem novamente.
As jovens seguiram viagem e em determinado momento do percurso, Mariana avistou uma placa indicando quantos quilômetros faltavam para chegar em Veneza, somente aí se deu conta de que talvez Chiara lhe estivesse levando para lá.
- Chiaraaa, para onde estamos indo agora?? - Falou assustada.
- Para um belo lugar que sei que você ainda não conhece. - Respondeu a italiana inocentemente.
- Chiara, estamos indo para Veneza??
- Ahh Mari, para de ser estraga prazer, era para ser uma surpresa.
- Não, não Chiara, por favor, não me leva para lá, não quero ir.
- Não?? Como alguém pode não querer ir para Veneza?? É por causa do cheiro da cidade? - Perguntou a jovem, sem entender o motivo de Mariana e já encostando o carro no acostamento.
- Não, não é por causa disso, eu quero muito conhecer Veneza, mas...
- Mas??
- Aii Chiara, não fica chateada comigo, mas é que eu e a Clara sempre falamos em conhecer Veneza juntas, acho que eu me sentiria mal em vir aqui sem ela.
Depois de alguns segundos de silêncio, Chiara falou sem graça:
- Ai Mari, eu que peço desculpas então.
- Nãoo, imagina, você é ótima, Chiara, como iria saber sobre isso?? Só quis me agradar, não tem por que me pedir desculpas, eu que tenho que agradecer por você ser tão legal comigo.
- Já disse que não precisa agradecer, Mari, estamos fazendo essa viagem para nós mesmas e está maravilhosa. Não se preocupe, não estou chateada por isso não, eu te entendo, de verdade.
- Mas, fiz você perder muito tempo, né?
- Não fez não, tem uma entrada para Milão logo mais, rapidinho estaremos lá.
Mariana suspirou longamente, deu um sorriso para Chiara e disse:
- Você é linda, sabia?
A jovem não falou nada e Mariana aproveitou-se para lhe dar um beijo. Chiara ajeitou o corpo de lado, para poder corresponder melhor ao beijo de Mariana e as duas ficaram por mais alguns minutos assim, apenas se beijando, sem falar nada. Depois, Chiara fez um carinho no rosto de Mariana e voltou a ligar o carro, seguindo agora em direção a Milão.
Depois de quase duas horas de viagem, as jovens chegaram a conhecida capital da moda. Milão era muito diferente das outras cidades que Mariana e Chiara passaram, porém também tinha seu charme próprio, seja pelas construções antigas misturadas com as mais recentes, ou pelo movimento contínuo de pessoas, vestindo as mais variadas roupas, mostrando um cotidiano totalmente diferente do encontrado nas pequenas cidades italianas tradicionais. Já estava de noite e a cidade ganhara um charme ainda maior diante das luzes que a iluminava.
Quando chegaram ao hotel que Chiara escolhera para as jovens ficarem, a italiana percebeu que Mariana estava com uma aparência diferente. Assim foi logo fazendo o check-in na recepção e levou a loira para o quarto, para saber o que estava acontecendo com ela.
Assim que adentraram o quarto, Chiara perguntou:
- Mari, você está se sentindo bem?
- Ai Chiara, acho que estou passando mal. - Disse se deitando na cama. - Estou me sentindo um pouco zonza, acho que foi a viagem.
- Com certeza Mari, nós andamos demais e também pegamos muitas estradas tortuosas né, aii, me desculpa, você tinha me avisado que passava mal.
- Ei, vem aqui. - Disse Mariana, estendendo a mão para que a italiana fosse até ela.
A jovem se sentou na cama ao lado de Mariana e ficou fazendo carinho em seu rosto, esperando que ela falasse.
- Para de me pedir desculpas, não faz sentido, tudo o que você fez por mim nessa viagem foi maravilhoso. Agora vem aqui, fica deitada comigo um pouco, logo vai melhorar.
- Claro que eu fico. - A italiana deitou-se ao lado de Mariana e lhe abraçou pela cintura, enquanto segurava sua mão e lhe fazia carinho.
Não demorou muito e as duas jovens pegaram no sono, afinal, ambas estavam cansadas da viagem que fizeram. Porém no meio da noite Chiara acordou e silenciosamente se levantou para poder tomar um banho. Adentrou o banheiro e tomou um rápido banho, mas quando saiu do banho percebeu que estava morrendo de fome.
Olhou para Mariana que continuava dormindo um sono profundo e decidiu procurar algum estabelecimento aberto, onde pudesse comprar algo, mesmo que fosse no próprio bar do hotel. Porém, antes de sair, caminhou em silêncio até a cama e deu um beijo na testa de Mariana. A jovem nem sequer se mexeu, demonstrando que realmente estava cansada, assim, Chiara saiu do quarto deixando a loira envolvida em seu sono.
Mariana dormia tranquilamente até que de repente uma música vinda do canto do quarto começou a tocar, o som começara baixo e fora aumentando gradativamente, fazendo com que a loira acordasse, mas não se assustasse.
A jovem se sentou na cama e começou a olhar para os lados, como se estivesse tentando localizar onde estava, até se lembrar de que estava num hotel em Milão. Procurou de onde vinha o som e quando percebeu uma luz piscando na mesinha, próxima a porta do banheiro, se deu conta de que era um celular.
- Nossa, quem está ligando numa hora dessas??
A jovem se levantou rapidamente para atender o celular, mas quando pegou e viu o nome no visor ficou logo tensa e sem saber o que fazer.
- "Fabiana???"
A jovem continuava segurando o celular, mas sem atendê-lo, enquanto andava pelo quarto pensando onde Chiara poderia estar.
- "Meu Deus, não posso atender, o que a Fabiana vai pensar se escutar a voz de outra mulher atendendo o celular da Chiara?? Aiii, o que eu faço, a Chiara vai ficar louca quando souber que a Fabiana ligou."
O celular parou de tocar e Mariana se sentou na cama, ansiosa para se encontrar com Chiara.
- O que será que a Fabiana queria?? Já são 3 horas da manhã. - Disse, olhando no visor do celular. - Ninguém liga à toa em plena a madrugada, isso é certo! Preciso achar a Chiara.
A loira voltou a se levantar da cama e saiu em direção ao saguão do hotel, na esperança de encontrar Chiara por lá. Pediu informação para o recepcionista e este informou que havia uma jovem no bar do hotel, assim, Mariana seguiu para o local indicado pelo italiano e logo que adentrou o bar, avistou Chiara, sentada, terminando de comer um sanduiche.
- Chiara!! Que bom que te achei - Disse a loira, ansiosa.
- O que foi, Mari, está se sentindo mal ainda?
- Não, estou bem, toma. - Falou, entregando o celular para Chiara.
- Para que você trouxe isso? - Perguntou a italiana ao pegar o celular.
- Chiara, a Fabiana acabou de te ligar
- Como? - Perguntou novamente a italiana, com um sorriso no rosto como se não tivesse entendido o que Mariana lhe falara.
- É isso mesmo que você ouviu, a Fabiana acabou de te ligar.
O belo sorriso que estava estampado anteriormente no rosto da jovem se desfez, dando lugar para uma expressão séria e tensa.
- Mari, como assim a Fabiana me ligou agora?? Já são mais de 3 horas da manhã.
- Eu sei, também fiquei surpresa, liga para ela, Chiara.
- Não!!
- Por que não?
- Por que estou cansada de sofrer Mari, e se ela me ligou só por que está carente??
- Chiara, se você não ligar, nunca vai saber e sempre ficará com isso na cabeça. Vai, liga sim, você mesma me disse que ela sempre te ligava.
- Sim, ela me ligava, mas durante o dia, né Mari.
- Mas, nós estamos esquecendo do fuso horário, lá no Brasil deve ser umas 23 horas agora.
- Mas, ela conhece os fusos, Mari, sabe muito bem que está tarde aqui.
- Então liga e descobre o que ela quer, vai Chiara, para te perder tempo, eu sei que você quer falar com ela.
- Aii Mari, tenho medo do que ela tem para me falar.
- Esse medo não vai te levar à lugar algum, me dá aqui o celular. - Disse a loira, pegando o celular das mãos de Chiara. - Vou ligar para ela e você fala.
Chiara concordou com a cabeça e esperou Mariana ligar para a jovem.
- Toma, está chamando.
A italiana pegou o celular das mãos de Mariana, com a expressão visivelmente tensa e ficou esperando que a jovem atendesse. Porém o celular chamou até cai na caixa postal.
- Mari, ela não atendeu, caiu na caixa postal.
- Tenta mais uma vez então.
A jovem voltou a ligar para Fabiana, no entanto, agora o celular da jovem nem chegava a chamar, caía direto na caixa de mensagens.
- Aii Mari, ela desligou o celular, nem chama mais.
- Não acredito, por que será que ela fez isso?
- A Fabiana é assim, Mari, faz as coisas e depois de um minuto se arrepende e foge.
- Ai Chiara, não fica assim. - Disse a loira, segurando a mão da morena. - Acho que isso quer dizer alguma coisa, se ela te ligou é por que estava pensando em você.
- Mari, você é otimista demais, pensa um pouco, ela me ligou e logo em seguida desligou o celular, ou seja, se arrependeu.
- Chiara, não sabemos se de fato foi isso que aconteceu. - Disse olhando nos olhos de Chiara. - Eu queria te propor uma coisa.
- O que?
- Lembra que te falei que queria conversar com você sobre o Brasil?
- Sim, me lembro.
- Então, queria te propor de ir para o Brasil comigo, você precisa procurar a Fabiana, nem que seja para colocar um ponto final nessa história. Esse lance de conversar só por telefone não dá certo, você precisa olhar nos olhos dela, só assim você vai enxergar uma verdade nisso tudo.
- Ai Mari, eu confesso que penso nisso todos os dias, mas me falta coragem para ir atrás dela e também não sei se é uma boa eu chegar lá sem falar nada.
- Chiara, onde está aquela mulher livre e corajosa que me fez ver a vida com outros olhos?? Nesse pouco tempo que te conheço percebi que você não se importa muito com o que os outros vão pensar, é a sua felicidade em jogo, acho que vale a pena arriscar
A italiana ficou pensando, mas pela sua expressão, Mariana pôde perceber que ela estava realmente com vontade de ir para o Brasil.
- Chiara, você poderia pegar uns 15 dias de férias?? Acha que seu sócio daria conta de ficar sozinho na pousada durante esses dias?
- Mari, não sei, preciso saber se tem algum curso agendado para esse período.
- Mas, ele não poderia dar o curso?
- Sim, até poderia, mas é complicado largar o negócio assim, sem ter planejado.
- Ah Chiara, são só 15 dias.
- Ai Mari, não sei, eu não conheço muito o Brasil.
- Você fica lá em casa. A Fabiana trabalha em qual estado?
- Em São Paulo mesmo, a sede da empresa dela é na Avenida Paulista, isso pelo menos eu tenho certeza.
- Então, eu moro em São Paulo, Chiara, e você é uma pessoa bem informada e desinibida, vai se sair muito bem andando em São Paulo.
- Mari, vamos decidir isso depois, me deixe pensar melhor.
- Tudo bem, mas você sabe muito bem que precisa ir para o Brasil.
A italiana segurou a mão de Mariana sobre a mesa e olhou para ela sorrindo.
- Obrigada pela ajuda, você é uma pessoa muito boa, realmente virou uma amiga, uma amiga que ainda me ajudou a controlar a carência.
As jovens começaram a rir ao final da frase de Chiara e Mariana acabou ficando vermelha, como de costume.
- Aii Chiara, você já passou por isso antes, de ficar com alguém que é muito sua amiga e perceber que o fato de ter beijado e estado mais próxima dessa pessoa, não atrapalhou em nada na amizade?
- Mari, isso só aconteceu com você, mas é estranho né, há poucos minutos estávamos ficando e agora você veio correndo para ajudar a me acertar com a Fabiana, isso realmente é algo raro.
- É diferente, né. - Concordou a loira. - Mas Chiara, posso te perguntar uma coisa?
- Claro Mari, pode sim
- Quando nós ficamos pela primeira vez, você tinha em mente a intenção de esquecer a Fabiana?
- Aii, sabia que você iria perguntar isso. - Respondeu Chiara, fazendo uma expressão engraçada. - Eu tento esquecer a Fabiana, desde a última vez que nos falamos por telefone e confesso que você foi a primeira que me fez esquecê-la, mesmo que por alguns minutos. Mas eu tenho ciência que não é um esquecimento verdadeiro, pois ainda tenho sentimentos fortes por ela. Contudo, você me permitiu ver que a vida continua e pode ser vivida bem, entende?
- Claro que entendo, Chiara, acho que o que estou vivendo é muito parecido com isso. - Falou Mariana. - Quando eu saí do Brasil eu estava desolada, só pensava na Clara, achava que eu não poderia viver sem ela, tinha vontade de ir atrás dela, mesmo sendo ela a errada da história. Acho que agora eu encontrei um equilíbrio, sabe? Eu amo a Clara, amo muito e quero ficar com ela, mas também quero ser valorizada. A sua companhia que me fez ficar assim, mais tranquila com a vida.
- Fico muito feliz de escutar isso, muito mesmo!
- Chiara, pensa direitinho sobre minha proposta, vá para o Brasil resolver sua vida!
- Aii Mari, você falando assim até me dá uma força estranha aqui no coração.
Mariana aproveitou-se do momento para insistir um pouco mais para Chiara ir para o Brasil.
- Vai Chiara, arrisca, enfrenta esse medo e vai atrás da Fabiana, tenho certeza que você sairá do Brasil com uma resposta, chega de ficar na dúvida.
A italiana ouvia atenta os motivos que Mariana dava para ela ir para o Brasil atrás de Fabiana e cada vez mais a jovem sentia vontade de realmente fazer aquilo, até que não segurou mais e ousou:
- Quer saber, eu vou, Mari. - Falou Chiara, num ímpeto de coragem. - Você está certa, preciso colocar um ponto final nisso.
- Ou então recomeçar sua história com ela. - Disse a loira, animada.
- Prefiro ir com os pés no chão, Mari, sem expectativas. Vou apenas por que preciso resolver meus sentimentos.
- Está certa.
- Quero resolver isso de uma vez por todas! - Enfatizou Chiara, olhando para o celular.
Depois daquela conversa, as jovens voltaram para o quarto do hotel e permaneceram conversando sobre suas vidas afetivas e sobre o que pretendiam fazer quando chegassem ao Brasil. Quando já estava quase completando 5 horas da manhã, as jovens decidiram dormir, se não, dificilmente elas iriam conseguir aproveitar o passeio em Milão.
No outro dia, Chiara levou Mariana para conhecer diversas lojas da cidade e pela primeira vez durante aquela viagem, as jovens faziam um turismo que não estava relacionado com a história, mas sim com o comércio da moda. A loira precisou se controlar para não comprar em todas as lojas que Chiara a levava, porém, não esqueceu de comprar uma blusa para Fred, conforme o amigo havia recomendado e também aproveitou para comprar um vestido que ela achou a cara de Clara.
Quando foi comprar o vestido, a loira até chegou a temer se teria oportunidade para entregar para a morena do jeito que ela gostaria: já estando ao lado dela novamente como namorada. No entanto, optou em deixar os medos e inseguranças de lado e simplesmente seguir suas vontades. Chiara também fizera o mesmo e comprara um colar para Fabiana, com a intenção de presenteá-la quando encontrasse com ela no Brasil.
Depois de passarem a tarde toda andando pelas lojas de Milão, as jovens decidiram retornar para o hotel e descansar, pois, iriam retornar para Roma, no outro dia de manhã. E assim, fizeram, logo que chegaram no quarto as jovens apenas tomaram um rápido banho e pegaram no sono. No dia seguinte logo cedo, saíram em direção a Roma, porém, agora não fizeram mais nenhuma parada em outras cidades, seguiram direto pela estrada que ligava Milão àquela cidade.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Lana queen
Em: 25/09/2016
Ansiosa por essa volta...Chiara no Brasil não vai dar muito certo. Bora descobrir
Resposta do autor:
Poxa, não posso fazer suspense nem exercer minha maldade literária... rsrs
Já sabe o que deu né... Chiara no Brasil... ixii
Sem cadastro
Em: 09/09/2015
Gi pra mim apareceu normalmente. Deve ser algum problema no servidor das meninas.
Pode continuar pois tô ansiosa para o capítulo 43, Kkkkkkk
Bjos
Resposta do autor:
;)
Postado já, vc viu? rs
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