Capítulo 34
Os dias na Itália foram passando rapidamente para Mariana, todos os dias a loira tinha algo para fazer. Depois da noite em que Chiara quase lhe beijara, as duas jovens se tornaram ainda mais amigas. Chiara levou Mariana para conhecer diversos outros lugares da Itália, para além das fronteiras romanas. A jovem conseguiu ainda algumas telas e tintas para que Mariana pudesse praticar uma das atividades que mais apreciava: a pintura. Assim, a loira costumava reservar parte do final da tarde de cada dia para poder pintar as mais belas e variadas paisagens.
Geralmente era nesse momento que a jovem pensava em Clara. Sentia muita falta da morena e muitas vezes, a emoção que sentia era refletida para os quadros que pintava. Nos dias em que ela se via mais otimista e esperançosa em retomar seu namoro com Clara, os quadros eram repletos de cores e abordavam tanto os aspectos naturais, como um rio ou um céu azul, mas abordava também o cotidiano da cidade, as pessoas conversando alegres nos restaurantes, bares e praças.
Porém, não era sempre que a jovem se encontrava esperançosa em relação à Clara. Na verdade, na maioria dos dias ela temia que sua amada jamais voltasse para ela. Sabia que não seria nada fácil fazer Clara enfrentar aquela situação, chegou a pensar até que talvez a morena nem quisesse vê-la mais, para poder assim seguir pelo caminho mais fácil e permanecer arraigada à sua covardia.
Era justamente nessas circunstâncias, em que a tristeza apertava seu coração, que Mariana buscava o conforto através da amizade com Chiara. Na verdade, Mariana também passou a contar com a presença de outro amigo, o Pedro, que desembarcara na Itália para também participar do curso sobre turismo em cidades históricas.
Pedro era daqueles que reprovava completamente a atitude de Clara, assim o jovem sempre aconselhava Mariana a esquecer a morena e partir para outra. Principalmente depois que ficou sabendo que Chiara era lésbica e que estava muito próxima a ela. Achava a italiana linda, inteligente e acima de tudo, acreditava que ela estava interessada em Mariana. E foi exatamente sobre esse assunto que os jovens estavam conversando em uma noite de quinta-feira, num bar muito próximo a pousada em que estavam hospedados.
- Já falei para você, Mari, está na hora de ser feliz e parar de ficar sofrendo por quem não te merece. - Dizia Pedro.
- Ai Pedro, por favor, para de falar assim da Clara, eu amo aquela mulher mais do que tudo, é bobeira você ficar falando para eu esquecê-la. - Disse a loira impaciente.
- Poxa, Mari, o que ela fez com você não tem perdão, vai viver sua vida e deixe ela amargar o gosto de sua própria escolha.
- Pedro, eu não vou desistir da Clara, é isso que fazemos quando amamos. A gente luta, vai atrás, até ter certeza de que o amor não é correspondido. E eu não tenho essa certeza, muito pelo contrário, eu sei que ela me ama, só é fraca para aceitar isso.
- Que amor é esse então?? Mari, quem ama quer ficar junto.
- Aii Pedro, eu sei disso, por isso ainda acredito que a Clara vai superar o medo para poder viver esse amor comigo. - Respondeu Mariana confiante.
- Tudo bem, Mari, você que sabe, mas te digo uma coisa, a Chiara está afim de você, uma pessoa legal, inteligente e que tem tudo a ver com você. - Falou o jovem, antes de levar um pedaço de pizza à boca.
- Pedro, já te disse que a Chiara é minha amiga, ela não está afim de mim. Aquele dia, lá na ponte foi apenas um momento totalmente influenciado pelo clima romântico de Roma! - Disse a loira, tentando convencer o amigo. - E você sabe que ela tem um grande amor também, ela ama a Fabiana.
- Ela pode até amar a Fabiana, mas ela é diferente de você.
- Diferente do que?? Do que você está falando agora, Pedro?
- Estou comparando o amor dela pela Fabiana e o seu pela Clara.
- Hum, continua. - Falou Mariana, já prevendo que iria reprovar o que o amigo iria dizer.
- Mari, a Chiara quer esquecer a Fabiana, não a vejo presa a ela como vejo você presa à Clara. Tenho certeza que se aparecesse uma oportunidade ela ficaria com você, arrisco até a dizer que ela não voltou a tentar nada por que te respeita e que não quer perder a amizade com você.
- Pedrooo, acordaa!! Eu vivo falando da Clara para ela e ela sempre me fala da Fabiana, para de ver coisas onde não tem, para de forçar uma situação só para me levar a esquecer a Clara. - Mariana falava de forma um pouco exaltada, mas logo percebeu e procurou recuperar a calma. Respirou fundo, pegou na mão do amigo e voltou a falar. - Olha, desculpa, sei que você só está tentando me ajudar, mas por favor, para de falar mal da Clara para mim. Ela é uma pessoa maravilhosa, você sabe disso.
- Eu sei Mari, me desculpa também. Mas é que não gosto de te ver sofrendo assim, não acho justo!
- Eu estou melhor, Pedro, sério. Acho que estou mais forte, mais segura. Não tire minha esperança em reatar com a Clara, ela é a mulher da minha vida.
- Tudo bem, Mari, vou parar de falar mal dela. Mas, não vou mudar minha opinião sobre a Chiara, ela está interessada em você sim.
- Não está, quer saber mais do que eu, que convivo com ela há mais tempo???
- Exatamente por isso, muitas vezes a convivência faz a gente deixar de enxergar o óbvio.
- Bom, continuo achando que você está vendo coisas, mas vamos deixar esse assunto de lado, pelo amor de Deus!!
- Está bem! - Disse o jovem, agora sorrindo para a loira.
- Nossa, passou tão rápido né, já vai fazer um mês que estou aqui.
- Passou mesmo! Parece que cheguei ontem. - Concordou Pedro. - Logo estaremos no Brasil de novo.
- É, de volta a realidade. - Falou a loira pensativa.
Na verdade, sua cabeça logo remetia para Clara, não sabia ainda como iria fazer quando chegasse no Brasil, pois não sabia se Clara iria procurá-la. Gostaria muito de ter essa certeza, porém o que predominava em sua mente era a possibilidade dela mesma ir procurar a morena.
- Eii, volta para a Itália. - Disse Pedro, estalando os dedos na frente de Mariana para chamar sua atenção.
- Tá, ok, ok, voltei! - Respondeu Mariana, balançando a cabeça. - Vamos falar e pensar apenas coisas boas.
- Loira, isso é fácil, olhe à sua volta, estamos em Roma.
- Ai Pedro, nós tivemos muita sorte, né.
- Sorte nada, somos bons profissionais, Mari, estamos colhendo os frutos do nosso trabalho.
- Nossa, hoje você está filosofando. - Brincou a loira.
- É, estou no clima da Roma antiga.
- Não seria Grécia antiga?? - Corrigiu Mariana.
- Ahhh, você entendeu vai. Mas Roma também tinha seus filósofos! - Disse o jovem se defendendo.
Os dois começaram a rir e nem repararam a chegada da jovem italiana.
- Nossa, pelo jeito o assunto aqui está ótimo! Buonanotte!!!
- Buonanotte! - Responderam os jovens.
- Posso saber sobre o que conversavam? - Perguntou a italiana, se sentando à mesa junto com Pedro e Mariana.
- Ahh, parlando de ti - Disse Pedro de forma engraçada. Porém Mariana olhou para ele com o olhar fuzilador.
- Falando de mim?? - Perguntou Chiara curiosa
- Não liga para ele, Chiara, o Pedro não fala coisa com coisa.
- Hum, sei. - Falou desconfiada.
Mariana deu um chute por debaixo da mesa que atingiu em cheio a canela de Pedro, forçando-o a inventar uma desculpa.
- Er... a Mari estava me contando do workshop que você deu, deve ter sido ótimo.
- Ah, foi muito mais do que ótimo, Pedro. - Falou a loira.
- Obrigada, Mari. - Agradeceu a italiana, sorrindo para ela.
- Pedro, a Chiara mostrou tantos lugares lindos, você precisava conhecer.
- Bom, eu marquei com dois americanos que conheci no curso de sair no fim de semana para conhecer melhor alguns pontos da cidade que ainda não consegui ir, até pensei em chamar vocês.
- Ah Pedro, quem sabe, vocês vão ficar em Roma, né?
- Sim, só em Roma mesmo.
- Er... Mari, se você não for sair com o Pedro eu tenho outra proposta para te fazer.
- Oba, adoro ter opções. - Brincou a loira. - Diga, qual proposta?
- Queria saber se você não anima de ir para Milão? A gente pode ir de carro, saímos amanhã e voltamos na segunda.
- Nossa, é sério?? - Perguntou a loira empolgada.
- Claro que é sério. - Respondeu Chiara, rindo da jovem.
- É óbvio que quero ir, vai ser ótimo!!
Pedro olhava para Mariana com um olhar de: "te falei que ela está afim de você". No entanto, Mariana ignorava os sinais do amigo e continuava prestando atenção em Chiara.
- Pedro, anima de ir também?
- Hã??
- Vamos para Milão com a gente. - Falou Chiara animada.
- Ah, não, vou deixar vocês irem sozinhas mesmo. - Falou o jovem, tentando conter o sorriso para Mariana. Porém a loira deu outro chute por debaixo da mesa, forçando-o a se explicar melhor. - Er... eu combinei de sair com o pessoal já, eles querem me mostrar algumas coisas e acho que seria sacanagem dar o bolo neles.
- Dar o bolo?? - Perguntou a italiana, sem entender o significado daquela expressão.
- É... "dar o bolo" significa faltar com algum compromisso, entendeu? - Explicou Mariana.
- Ah sim, bom, então você não vai me dar o bolo, né Mari?? - Perguntou Chiara de forma engraçada.
- Não, de jeito nenhum!! - Respondeu convicta. - Quero aproveitar meu último fim de semana aqui na Itália, afinal, nós vamos embora na semana que vem, né Pedro.
- Pois é, vai sim Mari, aproveite lá com a Chiara.
Mais uma vez Mariana encarou o jovem com o olhar fuzilador, fazendo com que a italiana se divertisse com as indiretas de Pedro.
- Vamos aproveitar sim, tem muitos lugares bonitos pelo caminho, tem certeza que não quer ir com a gente, Pedro?
- Tenho, aproveitem por mim, quero conhecer mais de Roma, quem sabe da próxima vez.
- Tudo bem então, mas, se mudar de ideia é só falar. - Disse a italiana de maneira simpática.
- Pode deixar!
- Mas então nós já vamos amanhã? - Perguntou Mariana
- Sim, vamos amanhã por que assim dará mais tempo para pararmos nos lugares.
- Nossa, nem acredito, já estou ansiosa, Chiara, sempre quis percorrer as cidades italianas de carro, dizem que é um caminho fantástico de Roma até Milão.
- É sim, podemos até fazer algumas paradas na praia, a estrada passa muito próximo ao mar.
- Meu Deus, perfeito. - Falava a loira encantada.
Os três jovens permaneceram mais algum tempo no bar, se deliciando com diferentes sabores de pizzas, mas não demorou muito para Mariana propor de voltarem para a pousada, afinal, precisava arrumar as coisas, pois iria viajar com Chiara no dia seguinte. Assim, os três voltaram para a pousada e Pedro e Mariana se dirigiram logo para seus respectivos quartos, enquanto Chiara seguiu para sua casa. Antes de ir a jovem combinou o horário que iria passar na pousada para pegar Mariana.
- Mari, vamos sair amanhã por volta de 15 horas, pode ser?
- Pode ser sim, amanhã o curso acontecerá só na parte da manhã.
- Então combinado. Passo aqui para te pegar às 15 horas, sem atrasos hein!
- Nossa, achei alguém que se parece comigo! - Riu Mariana, afinal, aquela recomendação sempre era dada por ela.
- Ah, ótimo então, se prepare, pois vamos aproveitar muito. - Disse a italiana, piscando para ela.
- Com certeza. - Respondeu a loira com um sorriso gigante no rosto.
- Então vou indo, até amanhã, ragazza. - Falou a jovem, se aproximando de Mariana para lhe dar um beijo.
- Até amanhã. - Disse a loira, beijando o rosto de Chiara.
Mariana seguiu para seu dormitório, animada com a notícia de que percorreria boa parte da Itália de carro. Chegou no quarto, tomou um rápido banho e foi logo mandando um e-mail para o Fred, para lhe contar as novidades. Avisou o amigo que aquele seria seu último fim de semana na Itália e que estava indo para Milão comprar uma blusa que combinasse perfeitamente com seu estilo. Mariana também falou que iria viajar apenas com Chiara e no momento em que escrevia, se deu conta de que aquilo realmente soava estranho.
Afinal, iria viajar com uma lésbica assumida, que já havia dado em cima dela. Todavia, quando Mariana se lembrou dos relatos de Chiara sobre Fabiana, voltou a ficar tranquila e preferiu encarar aquilo como uma viagem entre amigas.
-"Amiga, a Chiara é minha amiga, e não quer nada além de amizade, não tenho com o que me preocupar, afinal sempre fui sincera com ela. A Chiara sabe que amo a Clara, ‘aff'... o Pedro só sabe encher minha cabeça de coisas."
A loira terminou de escrever o e-mail, fechou o notebook e foi se deitar, queria estar descansada para a viagem de amanhã para poder registrar todos os momentos. Assim, rapidamente Mariana pegou no sono e só foi acordar no dia seguinte.
Como estava ansiosa para viajar, o período da manhã demorou a passar para a loira, olhava sempre para o relógio, fazendo com que Pedro toda hora tirasse sarro de sua cara, como se o motivo de toda a ansiedade fosse pelo fato dela ir viajar ao lado de Chiara.
- Relaxa Mari, você dá conta. - Falou Pedro no ouvido de Mariana.
- Aii, cala a boca menino! - Disse a loira em voz baixa, pois ainda estavam no curso. - Pedro, vem com a gente, vai ser divertido.
- Não Mari, eu já combinei com o pessoal, sério mesmo.
- Tudo bem, mas se comporta aqui, hein, ou vou contar para a Duda.
- Relaxa gata, jamais faria sacanagem com a Duda, não esse tipo de sacanagem, né. - Disse bancando o esperto.
- Pedrooo!! Me respeita seu traste. - Falou a loira, dando um soco no braço do amigo.
- Ai Mari, isso dói.
Os dois olharam para frente e perceberam que estavam atrapalhando o curso. Logo pediram desculpas e ficaram em silêncio até o final. Após o término do curso, todos os participantes combinaram de ir almoçar num famoso restaurante de Roma, já conhecido por Mariana.
A loira seguiu para o restaurante, porém almoçou rapidamente e pediu licença para sair, pois queria chegar logo ao local onde estava hospedada para terminar de arrumar suas coisas. Deu um beijo em Pedro e saiu em direção a pousada, pensando apenas na viagem que estava prestes a fazer com Chiara.
Às 15 horas em ponto, Chiara chegou à pousada, para buscar Mariana, seguiu para a portaria e conversou com um de seus funcionários, passando algumas orientações para o final de semana que estaria ausente na pousada. Depois seguiu para o quarto de Mariana, porém, antes mesmo de bater na porta a loira já estava saindo com uma enorme mala.
- Pelo jeito você adora bagagens, hein! - Brincou Chiara, observando a loira carregar com dificuldade sua mala. - Deixa eu te ajudar.
- Ai, obrigada! - Disse aliviada. - Tudo bem, Chiara?
- Tudo ótimo, e você? Animada?
- Muito! Estava super ansiosa, o período da manhã demorou para passar - Falava a loira enquanto carregava a mala pesada, com a ajuda de Chiara, em direção ao carro.
- Ai Mari, acho tão bonito seu jeito.
- Meu jeito? O que tem meu jeito?
- É simples, parece até criança as vezes.
- Está me chamando de infantil é??
- Claro que não, Mari, quero dizer esse jeito sincero que você tem para se expressar.
- Ah, assim tudo bem. - Falou a loira aliviada.
Logo as duas chegaram no carro e Mariana ajudou Chiara a guardar sua mala no bagageiro.
- Nossa, isso me lembra o dia que você chegou na Itália. - Falou a italiana.
- É verdade, parece que foi ontem, vou sentir muita falta daqui.
- E eu vou sentir muita falta de você, Mari. - Disse Chiara encarando Mariana, depois te fechar a porta do bagageiro.
- Er... eu também, er... também vou sentir sua falta Chiara, depois eu queria conversar uma coisa com você.
- O que?
- Ah não, depois eu falo.
- Tudo bem, não sou uma pessoa muito curiosa.
- Sorte a sua então, por que eu sou muito curiosa. - Falou rindo e fazendo Chiara rir.
- Bom, vamos então? Ou você quer pegar mais alguma bagagem? - Brincou a morena.
- Não não, chega né, parece até que estou voltando para o Brasil.
- Pode ter certeza que você vai voltar com muito mais bagagem, sei que você vai acabar comprando muita coisa em Milão.
- Nossa, não me deixe comprar muito, Chiara, tem um limite para levar no avião.
- É verdade. Mas, enfim, vamos conversando no caminho, quero aproveitar a luz do dia para te mostrar as paisagens italianas, você vai amar Mari. - Disse Chiara, já abrindo a porta do carro. - Vem, muita coisa boa nos espera nesse fim de semana.
Ao escutar a última frase de Chiara, Mariana teve uma sensação estranha, porém não deixou transparecer nada para a morena. Apenas sorriu para ela e abriu a porta do carro para também entrar. Sentou no banco do passageiro e olhou para Chiara, que estava com um sorriso enorme no rosto. Somente naquele momento Mariana se deu conta de que não perguntara para Chiara o motivo dela estar fazendo aquela viagem.
Chiara, como se estivesse lendo os pensamentos de Mariana, falou:
- Mari, tem algo te incomodando?
- Não, er... claro que não, Chiara.
- Então porque está com essa carinha aí?
- Bom, é que, ahh, não é nada!
Chiara olhou mais uma vez para Mariana e sorriu para ela. De fato, a italiana não era curiosa, pois não insistiu mais no assunto.
- Então, podemos ir?
- Podemos!! Vamos aproveitar muito sim.
A italiana ligou o carro e seguiu pelas ruas de Roma, até alcançar uma autoestrada em perfeitas condições.
- Nossa, a estrada é excelente!
- É sim, ela segue nessas condições até Milão.
- Ai que bom.
- Você passa mal em viagens, Mari?
- Só quando a estrada possui muitas curvas e quando não está em perfeitas condições, aí o carro mexe muito e eu acabo passando mal.
- Fique tranquila então, essa estrada parece um tapete.
- Deu para perceber! - Falou a loira empolgada. - Mas, me diga Chiara, qual será nosso roteiro?
- Nosso roteiro será simples.
- Simples como?
- Simples, lembra do que te falei sobre conhecer Roma? - Perguntou a italiana, ainda com um sorriso no rosto.
- Claro que me lembro, você disse que o melhor jeito de conhecer Roma é se perdendo.
- Pois é, acho que isso serve para toda a Itália. - Disse, piscando o olho para Mariana, mas sem se distrair, pois estava dirigindo.
- Então, vamos nos perder?
- Ahh, bem que eu queria, mas acho difícil me perder por essa estrada, conheço bem esse caminho, Mari. Mas, o que estou querendo dizer é que não temos um roteiro pronto, vamos para onde a gente quiser, para onde nos der vontade.
Mariana sentiu uma coisa boa ao ouvir aquelas palavras. Lhe veio uma sensação de liberdade nunca antes experimentado.
- Nossa, estou me sentindo uma aventureira assim, Chiara.
- Não deixa de ser uma aventura, Mari.
A loira olhava para Chiara completamente impressionada. A italiana era livre, simples, desencanada com a vida e conseguia transmitir aquilo muito bem. Tanto que Mariana começava a perceber que aquela viagem realmente se transformava em uma aventura da qual ela jamais pensou em viver.
Foi impossível para a loira não achar Chiara ainda mais bonita. A segurança que ela sempre demonstrava ao realizar coisas que aparentemente não eram simples, deixava Mariana fascinada isso por que Chiara parecia ter o dom de deixar as coisas naturais, parecia que não tinha medo de aproveitar o melhor da vida.
Chiara revezada seu olhar entre a estrada e a loira, sabia que Mariana estava pensando em algo relacionado a ela, mas não quis perguntar nem mesmo desviar os pensamentos da loira. Pelo contrário, a jovem ligou o som do seu carro e colocou uma música do Bob Marley, que por sinal Mariana adorava e que havia encaixado perfeitamente com o momento...
O toque inicial da música mal começou a tocar e Mariana já foi logo comentando:
- Ah, não acredito!! Você gosta de Bob Marley??
- Adoro, sempre coloco as músicas dele quando vou viajar, me deixa bem, eu gosto de coisas simples. - Disse a italiana, levando a mão ao volume para aumentar o som.
Logo as duas jovens ficaram em silêncio, deixando a música contagiar o ambiente.
Here's a little song i wrote,
You might want to sing it note for note,
Don't worry, be happy
In every life we have some trouble,
When you worry you make it double
Don't worry, be happy
Dont worry be happy now
Dont worry be happy
Dont worry be happy
Dont worry be happy
Dont worry be happy
Aint got no place to lay your head,
Somebody came and took your bed,
Don't worry, be happy
The landlord say your rent is late,
He may have to litigate,
Dont worry (small laugh) be happy,
Look at me im happy,
Don't worry, be happy
I give you my phone number,
When your worried, call me,
I make you happy
Don't worry, be happy
Ain't got no cash, aint got no style,
Ain't got no girl to make you smile
But don't worry, be happy
Cause when you worry, your face will frown,
And that will bring everybody down,
So don't worry, be happy
Don't worry, be happy now...
Don't worry, be happy
Don't worry, be happy
Don't worry, be happy
Don't worry, be happy
Don't Worry Be Happy- Bob Marley
Aqui está uma pequena canção que eu escrevi
Você pode querer cantá-la nota por nota
Não se preocupe, seja feliz
Durante toda a vida nós temos algumas dificuldades
Quando você se preocupa, você a faz dobrar
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz agora
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Ainda que não tenha um lugar para por sua cabeça
Porque alguém veio e levou sua cama
Não se preocupe, seja feliz
O proprietário diz que seu aluguel está atrasado
Ele pode exigir a liquidação
Não se preocupe (pequeno riso) seja feliz
Olhe para mim. Eu estou feliz.
Não se preocupe, seja feliz
Eu lhe dou o meu número de telefone
Quando você estiver preocupado, me chame
Eu faço você feliz
Não se preocupe, seja feliz
Ainda que você não tenha dinheiro, ainda que não tenha nenhum estilo
Ainda que nenhuma garota lhe dê um sorriso
Não se preocupe, seja feliz
Quando você se preocupa, seu rosto fica carrancudo
E isso derruba todo mundo
Assim, não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz agora
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
Não se preocupe, seja feliz
(Não Se Preocupe, Seja Feliz)
Várias outras músicas nesse mesmo estilo, tocaram no carro e as jovens seguiam viagem embaladas pela positividade que as letras emanavam. Ora ou outra elas também cantavam em voz alta, como se estivessem se libertando de qualquer resquício de pensamento ruim. Além de cantar elas também riam uma da outra, pois estavam parecendo duas adolescentes que acabaram de fugir de casa.
As jovens também conversavam durante o caminho e Mariana muitas vezes se perdia em sua própria emoção ao avistar paisagens naturais e culturais tão belas. O melhor de tudo era viajar ao lado de uma conhecedora ferrenha das cidades italianas, pois Chiara apresentava cada detalhe para a loira de maneira apaixonada, demonstrando que aquilo realmente era sua vida, sua realização.
Chiara fizera várias paradas ao longo do caminho, revelando as belezas de diversas cidades, sendo muitas delas, cidades pequenas e carregadas de história. No entanto, a jovem optou em fazer uma parada mais longa durante o percurso, afinal eram mais de 8 horas de viagem e ela não estava nem um pouco preocupada em chegar logo à Milão. O fato era que, ela queria aproveitar para mostrar a Mariana todos os encantos dos lugares que ficavam entre as duas maiores cidades da Itália.
Assim, depois de terem passado por pequenos vilarejos, Chiara sugeriu que elas ficassem em Toscana, pois além de poderem apreciar a paisagem do local, a italiana finalmente iria poder mostrar para Mariana o melhor vinho da Itália. A loira concordou de prontidão e se deixou guiar, literalmente pelas coordenadas de Chiara. Porém, como já estava anoitecendo, a italiana sugeriu para Mariana que elas deixassem as coisas numa pousada já conhecida por ela e depois saíssem para jantar e apreciar a vida noturna da região de Toscana.
- Nós vamos para Florença então, Chiara?
- Não Mari, não vamos para Firenze, vamos ficar em Montalcino, você conhece?
- Acho que não.
- Bom, lá encontramos um dos melhores vinhos da Itália, o Brunello di Montalcino.
- É perto daqui? - Perguntou a loira olhando para o horizonte que começava a escurecer.
- Sim, já estamos chegando, Mari. Er, espero que você não se importe de ficar aqui, essa cidade é muito pequena, tem menos de 5 mil habitantes, mas é maravilhosa. É considerada pelo UNESCO
como patrimônio histórico da humanidade.
- Ah Chiara, você ainda tem dúvida de que eu vou gostar?? Já estou amando, é perfeito, essas colinas são tão lindas.
- É, aqui é um lugar um pouco bucólico, mas eu também acho fantástico.
- Eu confio no seu gosto. - Disse a loira sorrindo para Chiara.
A italiana retribuiu o sorriso e voltou a olhar para frente. Não demorou muito e Chiara entrou numa outra estrada, de menor porte, que dava acesso a Montalcino. Era uma linda estrada e mesmo no final da tarde, prevalecendo a pouca iluminação, Mariana pôde admirar as belezas dos diversos campos de vinhedo que se revelavam ao longo do caminho.
- Nossa Chiara, isso aqui é tão lindo. - Falava a loira olhando pela janela lateral.
- Amanhã passaremos por aqui de novo, para retornar para estrada principal, ai você poderá apreciar ainda mais.
- Chiara...
- Oi...
- Obrigada, você não tem noção de como está sendo importante na minha vida, isso tudo que estou vivendo é incrível!
- Mari... - A italiana encostou o carro na beira da estrada, tirou as mãos do volante, segurou uma das mãos da loira e voltou a falar. - Eu que tenho que agradecer, há tanto tempo que não me sinto assim, viva. Te conhecer foi a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo.
- Ai, não fala assim.
- Davvero!
- Adoro quando você fala italiano. - Disse Mariana, sem graça
Chiara olhou para ela como se quisesse dizer alguma coisa, mas acabou não falando nada. Apenas continuava com seu sorriso no rosto. Mas antes que se instaurasse o silêncio no carro, a loira voltou a falar
- Chiara, er... por que você me chamou para vir para cá? Er.. você viria já, ou resolveu vir por minha causa?
- Eu resolvi vir por mim e por você, Mari, acho que nós duas precisávamos dessa escapada, mas, não posso deixar de falar, estar com você me anima muito e quando me lembrei que você já vai embora semana que vem, então pensei em desfrutar um pouco mais de sua companhia.
- Chiara, isso foi a melhor coisa, obrigada. - Disse a loira se sentindo emocionada e indo até o rosto de Chiara para beijá-la.
A italiana pela primeira vez ficou sem ação com o beijo de Mariana. Assim, sem pensar duas vezes, voltou a ligar o carro e seguiu para a pousada em Montalcino.
Mariana continuava olhando pela janela e ficava cada vez mais encantada com a beleza daquela pequena cidade. Havia uma diversidade grande de paisagens, que se revezavam entre colinas, campos de vinhedos e construções antigas da época do renascimento. Quando Chiara adentrou o centro da cidade, a loira ficou completamente extasiada. As casas eram todas feitas de pedra, parecia que nada havia mudado desde o momento em que elas foram construídas.
- Estou sem palavras, Chiara, agora eu entendo por que a cidade entrou para a lista da UNESCO.
- Mari, espera para ver amanhã cedo, isso aqui é pura história, é como se estivéssemos voltado no tempo, no momento do renascimento. - Explicava Chiara, feliz por ver que Mariana estava adorando aquele lugar.
- Nossa, aquelas ruas também são todas feitas em pedras? - Perguntou a loira ao avistar diversos becos estreitos com casas beirando as ruas dos dois lados.
- Sim, são todas feitas de pedra. Vamos ter que parar o carro aqui, pois não podemos avançar mais. É proibido o trânsito de veículos nessa parte da cidade.
- Sem problemas. - Respondeu a loira ainda deslumbrada. - A pousada é aqui perto?
- É sim, está vendo aquela rua ali? - Falou Chiara, apontando para um beco ao lado de Mariana.
- Sim!
- Então, é bem ali. Vamos?
- Vamos!
As duas jovens saíram do carro carregando as malas e quando Mariana viu o tamanho da bagagem de Chiara, ficou até envergonhada.
- Ai meu Deus, que vergonha, Chiara, você só trouxe essa bolsa?
A italiana começou a rir para ela e apenas concordou com a cabeça.
- Nossa, preciso aprender a levar apenas o necessário para os lugares. - Disse a loira sem graça, carregando sua enorme mala com a ajuda de Chiara.
Mariana acompanhou Chiara entrar na pequena rua e parar em frente a um portão estreito e antigo, que dava entrada para a pousada que a italiana se referira anteriormente.
- Mari, esta pousada é dos pais de uma amiga minha. É tudo muito simples, espero que você não se importe.
- De forma alguma, Chiara, eu adoro coisas simples. Esse lugar é lindo, não se preocupe.
Chiara adentrou a pousada junto com Mariana e logo foi recebida calorosamente por uma senhora italiana, de características marcantes. Depois Chiara apresentou Mariana a ela, porém a jovem entendeu pouco do que a senhora falava, pois ainda não compreendia bem o italiano.
Mariana ficou olhando Chiara conversar com a senhora numa simpatia tão grande que realmente era possível perceber que elas se conheciam há muito tempo. Depois de alguns minutos de conversa, Chiara olhou para Mariana e perguntou:
- Mari, a dona Nina está perguntando se vamos querer dois quartos separados ou se podemos ficar em um quarto com duas camas de solteiro?
- Ah, pode ser no mesmo quarto, Chiara, você que sabe.
A italiana balançou a cabeça em afirmativo para a loira e voltou a falar em italiano com a dona Nina. Logo Chiara recebeu a chave do quarto e pediu para que Mariana a acompanhasse. Chegaram ao quarto e a loira foi logo deixando a mala pesada no canto do quarto.
- Nossa, nunca mais viajo com uma mala pesada dessa. - Disse a loira, se sentando em uma das camas.
- Relaxa Mari, agora vamos descansar um pouco e já já saímos para jantar. Ou você prefere ir agora?
- Ai, vamos tomar um banho e descansar só um pouquinho, depois nós vamos.
- Ok! Vou ver se tem toalhas no banheiro.
A jovem seguiu para o banheiro e Mariana aproveitou para visualizar melhor o quarto, realmente era bem simples, as camas eram antigas, com a cabeceira feita de aço e os móveis eram de madeira rústica, combinando com as estruturas das paredes, todas feitas em pedras.
- Gostou? - Perguntou Chiara, ao voltar do banheiro.
- Sim, gostei muito!
- Que bom, Mari, não é qualquer pessoa que gosta disso aqui, sabia?
- Que isso!! Como alguém pode não gostar disso?
Chiara deu um riso irônico e disse:
- Pode acreditar, tem gente que não gosta, a Fabiana era uma delas.
- Nossa, achei que ela fosse parecida com você.
- Não Mari, nós somos bem diferentes, ela é um pouco fresca para algumas coisas, já eu não me importo de as coisas serem simples, pelo contrário, até prefiro. Mas ela não é uma pessoa esnobe, entende? Tudo isso é questão de afinidades e gostos.
- Sim, eu entendo.
- Mas, não vamos falar sobre isso! Toma sua toalha. - Disse Chiara, entregando a toalha nas mãos de Mariana. - Pode tomar banho primeiro, que eu vou voltar lá na portaria para conversar mais um pouco com Dona Nina, já volto, ok?
- Sim, vou tomar um banho e fico te esperando aqui.
- Não vou demorar.
- Ok! - Concordou Mariana, já se direcionando para o banheiro.
A loira tomou um banho demorado, mas quando saiu do quarto viu que Chiara ainda não havia voltado. Assim aproveitou para trocar rapidamente de roupa, pois queria evitar de trocar na frente da morena. Mariana ainda não tinha lidado com essa situação, de trocar de roupa em frente a outra mulher. Na verdade, ela só trocara de roupa na frente de Clara, dessa forma, não sabia como se portar diante de outra lésbica.
- "Aii que bobeira Mariana, até parece que a Chiara é como aqueles homens safados que ficam secando as mulheres, eu hein, estou exagerando, não é por que ela é lésbica que vai ficar me olhando também, né??" - Pensava a loira.
Depois que terminou de se trocar, Mariana deitou na cama e acabou cochilando. Apenas acordou depois de um tempo com um barulho vindo da cama ao lado. Quando abriu os olhos, avistou as costas nuas de Chiara, tendo apenas a parte da cintura para baixo envolvida numa toalha. Mariana não conseguiu fechar os olhos, ficara admirando a beleza da italiana e automaticamente se lembrara do pensamento que tivera antes de cochilar.
- "Meu Deus, como não olhar para essa beleza??" - Pensou Mariana. - "Nãoo!! Que isso Mariana, não posso."
A loira voltou a fechar os olhos, porém, a necessidade de ver aquele corpo era mais forte que ela, assim voltou a abri-lo.
- "Caramba, que saudade do corpo feminino, não dá para deixar de olhar"
Mariana continuava encarando a italiana, que agora segurava as duas pontas da toalha e se desnudava completamente. Mariana desceu as vistas por todo o corpo de Chiara e ficou ainda mais espantada com a beleza da jovem.
- "Aiii meu Deus, chega, melhor parar!" - A loira virou-se rapidamente na cama, olhando para o outro lado e só voltou a olhar para Chiara depois que percebeu que a jovem já havia se trocado.
Assim, Mariana fingiu que tinha acabado de acordar e puxou assunto com a italiana.
- Nossa, acho que acabei pegando no sono.
- Pegou mesmo, não quis te acordar. Então fui tomar banho. - Disse a jovem, se sentando na cama em frente à Mariana. - Já estou pronta, vamos jantar?
- Vamos! - Disse a loira se levantando rapidamente da cama e tentando apartar a imagem que ainda estava em sua cabeça de Chiara nua.
A italiana acompanhou calmamente com o olhar, a jovem se levantar da cama e falou:
- Agora eu entendo por que você traz tanta bagagem.
- Hã? - Perguntou a loira sem entender.
- Você sempre está bem vestida, Mari, você está linda. - Falou a italiana, olhando para Mariana com um sorriso no rosto.
- Ai, obrigada! - Disse sem graça. - Er... mas, isso não é desculpa, você sempre está linda e bem vestida e não carrega quase nada de bagagem, não sei como consegue.
- São seus olhos, Mari, que por sinal são lindos também! - Disse Chiara, se levantando da cama. - Agora vem, estou morrendo de fome.
- Eu também! Vamos.
Mariana acompanhou Chiara até a saída da pousada, tentando não pensar mais na cena que vira há pouco no quarto.
Fim do capítulo
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Lana queen
Em: 25/09/2016
Voltei kkk
Não consegui dormir...tô agitada hoje
Conhecendo um pouco sobre a Itália da uma vontade de ir pra lá...Já é um desejo antigo meu segundo destino fora do Brasil, o primeiro é N.Y. tá tudo tão lindo amando cada detalhe você arrasa nos detalhes eu amoooooo.
Mari tá certa mesmo tendo terminado não tem como se envolver com a Chiara...coração da Mari tem dona.
Beijos
Resposta do autor:
Pq anda tão agitada, hein mocinha? rsrs
Que bom que ficou com vontade de ir para a Itália... caso um dia vá, me conte como foi a experiência e se de fato narrei bem os lugares, rsrs
Mari ainda ama a Clara né, não trairia seu sentimento.
Beijinhos
mtereza
Em: 09/09/2015
Continua sem aparecer Gi do 24 ate o 34 só aparece a caixa de comentarios 
Resposta do autor:
Nossa, estou achando isso muito estranho, pois pra mim tá aparecendo normal...
Será que tá assim pra todo mundo? Gente, pelo amor de Deus, não é possível que terei que postar tudo de novo, rsrs.. Terei um treco, hahaha
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