Capítulo 32
Depois de quase 13 horas de viagem, finalmente o avião de Mariana aterrissara em solo italiano. A loira parecia ainda não acreditar que estava em outro país tanto que esperou que todos saíssem do avião para poder se levantar de sua poltrona.
- "Meu Deus, finalmente cheguei, estou na Itália!!! Por favor Senhor, que eu viva coisas boas aqui, que eu me transforme em uma nova mulher como falou o Fred, mas acima de tudo espero ter a Clara de volta quando eu retornar ao Brasil." - Pensou a loira como se estivesse fazendo uma prece.
Desceu do avião e seguiu pelo corredor que dava acesso as bagagens, reparando nos estilos de roupa e nas características das pessoas. Ainda estava frio na Europa, pois o país ainda estava no final do inverno, assim era marcante encontrar pessoas com aqueles casacos gigantes, cachecóis e luvas.
A loira começou a sentir o coração mais alegre ao se dar conta de que estava no país que tanto amava. Não teria como ficar triste, estando prestes a viver todas as novidades que a Itália lhe reservava.
Continuou caminhando pelo corredor, reparando em cada detalhe e também se recordando da vez que estivera na Itália. No entanto anteriormente havia chegado pelo aeroporto de Milão agora estava em Roma, a cidade onde iria acontecer o workshop e o curso.
Felizmente Mariana possuía grande desenvoltura para se comunicar e como já havia viajado bastante, conhecia a estrutura dos aeroportos, o que lhe proporcionou saber como funcionava a retirada de bagagens e onde deveria ir. Assim, pegou um carrinho para colocar todas as suas malas e seguiu em direção a saída do aeroporto, onde estavam diversas pessoas com placas de nomes, aguardando a chegada de turistas, empresários, estudantes, dentre outros.
- "Quem será que veio me buscar aqui no aeroporto" - Pensou a loira olhando para as plaquinhas, na esperança de avistar logo seu nome.
Como a jovem estava na Itália a convite de uma empresa de turismo de lá, eles mandariam um responsável para levá-la até a pousada e lhe orientar a respeito de sua hospedagem e do curso que faria. Mariana olhava para cada plaquinha até que finalmente avistou um braço levantado no meio da multidão de pessoas, com uma placa escrito: MARIANA NOVAES - AGÊNCIA DE TURISMO BELAMAR.
Ao ver seu nome a loira já foi logo abrindo um sorriso aliviado, pois estava cansada e temia que a pessoa demorasse a lhe buscar. Começou a pedir licença para as pessoas e adentrou no meio da multidão. Quando avistou o rosto da pessoa que segurava sua placa, se surpreendeu ao ver que era uma bela mulher, de estatura baixa, com fortes características italianas: cabelos pretos, olhos escuros e pele branca.
- Buon pomeriggio, sono MarianaNovaes. - Disse a jovem em italiano.
- Ah, olá! Seja bem-vinda à Itália, eu falo português! - Disse a jovem com um sotaque de Portugal, misturado com italiano.
- Ah que bom então, essa foi a única frase que aprendi em italiano! - Respondeu a loira aliviada. A jovem italiana riu do comentário e falou:
- Bom, começou aprendendo bem! Espero que você entenda meu português.
- Entendo sim, seu português é ótimo, só achei engraçado o sotaque.
- Sim ,é por que passei dois anos em Portugal, aí aprendi o português, mas acabo misturando um pouco com o italiano também - Brincou.
- Está ótimo.
- Mas chega de conversar aqui, você deve estar cansada, vamos para o carro. Só tem isso de bagagem? - Brincou mais uma vez.
- Só tudo isso, vamos então.
Mariana deixou-se guiar pela jovem até o carro, as duas guardaram as malas e adentraram o veículo. Logo a jovem italiana deu a partida e voltou a falar:
- Desculpe minha falta de educação. Me chamo Chiara.
- Chi-Chiara?? - Perguntou Mariana, incrédula.
- Sim, Chiara, significa Clara em português. - Disse a jovem sorrindo
- "Ai, não acredito!" - Pensou Mariana.
- Não gostou do nome?
- Er... não, imagina, lindo nome.
- Ah, grazie! - Agradeceu em italiano.
- "Caramba Deus, valeu!!! Obrigada por ajudar a me desprender do Brasil" - Pensou irônica.
- Você deve estar muito cansada. - Disse a italiana, ao ver a loira pensativa.
- Ah sim, estou um pouco. É difícil acostumar com o fuso horário.
- É sim, aqui são 4 horas mais tarde, em relação ao Brasil, não é?
- Isso mesmo.
- Fique tranquila, a pousada que você ficará é próxima daqui. Pertence a agência de turismo. Espero que você goste.
- Com certeza irei gostar! - Respondeu a loira, já se esquecendo do detalhe em relação ao nome da italiana.
- Você já veio à Itália?
- Já sim, fui em várias cidades, Milão, Roma, Florença, Pisa. - Disse Mariana, tentando se recordar das cidades que já visitara.
- Não foi em Veneza?? - Perguntou Chiara espantada, visto que esta era uma das cidades mais procuradas pelos turistas.
- Não, não fui. - Respondeu a jovem tentando esconder mais uma vez sua expressão pensativa. Lembrar de Veneza a fazia lembrar de Clara, afinal, as jovens planejavam conhecer juntas aquela cidade.
- Então você precisa conhecer! Veio apenas para o curso ou ficará mais dias na Itália?
- Bom, vim apenas para o workshop e para o curso que terá depois sobre o turismo em cidades históricas.
- Ah, mas vai dar tempo para você conhecer Veneza! - Insistiu Chiara.
- Er... acho que não vai dar, mas quem sabe. - Falou a loira, demonstrando total desanimo em ir para Veneza. Na verdade, ela tinha esperanças de um dia ir para lá com Clara.
- Tudo bem, mas vale a pena ir. Lá é a cidade dos apaixonados. - Falou a jovem animada. - Você namora?
- Er... não, estou solteira. - Disse tentando esconder a tristeza.
- Hum, então talvez não queira ir para Veneza por isso. - Especulou a italiana.
- "Meu Deus, será que todo italiano é assim?? Desse jeito não vou parar de pensar na Clara nunca." - Pensou um pouco irritada. No entanto Chiara percebeu e voltou a falar:
- Me desculpe Mariana, foi apenas uma brincadeira, não me leva a mal, está bem?
- Que isso Chiara, não se preocupe, é que estou cansada mesmo. Depois que eu dormir um pouco serei outra pessoa. - Disfarçou a loira.
- Bom, estamos chegando. Logo você vai poder descansar. - Disse a jovem, ainda sorrindo.
De fato, não demorou nem cinco minutos e Chiara estacionara o carro em frente a uma pousada. Mariana ficou admirada com a arquitetura do local, era realmente uma das coisas mais belas da Itália: a tipologia das casas antigas.
- E aí? Gostou? - Perguntou a italiana.
- Nossa, amei!!
- Então você precisa ver dentro como é! Vem, pode deixar as malas aí que pedirei para um funcionário da pousada levar para o quarto.
- Obrigada!
- Bem-vinda a Pousada IndirizzoMedievale. - Disse Chiara caminhando para dentro da pousada.
Mariana acompanhou Chiara e realmente ficou ainda mais encantada quanto avistou o ambiente interno. Os móveis eram todos medievais, dando a impressão de estar em épocas passadas. As paredes eram repletas de pinturas renascentistas, misturando ainda mais os tempos históricos.
- Nossa, é perfeita essa pousada! - Falou a jovem encantada.
- Sabia que você iria gostar. O seu chefe deu ótimas referencias de você Mariana, disse que você é especializada em turismo histórico.
- Er.. eu gosto dessa área - Falou envergonhada. - Fiz alguns cursos sobre isso e aproveitei todas as matérias possíveis na faculdade que abordavam temas relacionados a isso.
- Então você vai aproveitar bastante nosso workshop. Talvez você até contribua com algumas informações sobre o Brasil.
- Nossa, imagina, quem sou eu.
- Não seja modesta Mariana.
- Mas.. er.. é você que vai dar o workshop? - Perguntou sem graça, pois começara a se dar conta de que não estava falando simplesmente com uma funcionária da agência.
- Sim. Sou formada em História, Mariana, me especializei em História Cultural e Patrimônio e depois fiz doutorado em Cultura e Turismo.
A loira ficou ainda mais sem graça. Jamais imaginaria que aquela pessoa simples, que lhe buscara no aeroporto era uma pessoa tão culta. Inevitavelmente pensou no quanto as aparências enganam.
- Nossa, acho que vou aprender muito com você então. - Disse ainda sem graça.
- Na verdade no workshop aprenderemos uns com os outros.
- Então você trabalha para a agência através dos cursos que você ministra?
- Bom, na verdade eu sou sócia da agência. Depois que me formei, eu e um amigo do Doutorado resolvemos nos juntar e abrir essa agência. Além de oferecer passeios turísticos guiados na região, nós também oferecemos cursos, para as pessoas que se interessam por esse tema.
- Nossa! Não sabia que era assim, muito legal essa ideia. - Falou a loira completamente abobalhada. Chiara riu da expressão de Mariana e voltou a falar:
- Mas enfim, vou pedir para mostrarem qual o seu quarto. Fique à vontade, descanse bastante, pois amanhã já começa o workshop. O jantar é servido às 20h, mas se você preferir comer em outro lugar é só pedir informação para o recepcionista que ele lhe indicará um bom lugar.
- Muito obrigada Chiara.
- Não precisa agradecer! Até amanhã, Mariana.
- Até.
A jovem saiu em direção a um dos funcionários da pousada e pediu para que ele mostrasse o quarto à Mariana. A loira por sua vez esperou que o rapaz viesse e o seguiu enquanto também observava os móveis do interior da pousada. Ao chegar no quarto, o funcionário explicou em italiano os detalhes sobre o quarto, como ligava a TV, como funcionava a internet e o ar condicionado. Depois que percebeu que Mariana não entendia muito bem aquele idioma, explicou novamente em inglês e pediu desculpas a ela, por não ter percebido aquele detalhe. A loira sorriu para o funcionário e disse que não tinha problema nenhum, era até bom que ela já iria se familiarizando com o italiano.
Depois que o moço saiu do quarto a loira sentou-se na cama e olhou a decoração do quarto. Realmente não era uma pousada comum, tudo era diferente, até mesmo o quarto. Havia diversos objetos de decoração, um espelho gigante emoldurado em madeira rústica e a cama também seguia a mesma lógica decorativa do espelho.
- Aii meu Deus, isso aqui é lindo, perfeito! Não poderia ter ficado em lugar melhor. - Disse a loira empolgada, como há muito tempo não ficava.
Virou para o lado e avistou uma janela enorme e foi logo se levantando para apreciar a vista.
- Meu Deus!!! - Foi tudo o que a loira conseguiu dizer, pois ficara deslumbrada com a vista. Era como se realmente tivesse voltado no tempo, as casas, as ruas e os comércios seguiam todos a mesma lógica arquitetônica do século X.
A jovem respirou fundo, deixando aqueles ares novos adentrarem em seus pulmões e pela primeira vez, desde que terminara com Clara, sentiu-se feliz novamente.
- Vai dar tudo certo, vai sim! - Disse a loira antes de sair da janela e caminhar para o banheiro para tomar um banho.
Depois do banho a loira vestiu uma roupa mais leve e deitou-se na cama para finalmente dormir um pouco. Porém, antes de pegar no sono ficou pensando na coincidência de encontrar uma pessoa com o mesmo nome que a Clara.
- Nossa, isso foi muita ironia do destino, como pode?? A primeira pessoa que tive contato se chama Chiara, ai meu Deus.
A loira evitou pensar em Clara, pois sabia que se desse corda ao pensamento iria ficar triste novamente. Assim, procurou pensar nas novidades que estava vivendo, incluindo o contato que tivera com Chiara.
- Estou impressionada com ela, eu achando que ela era uma simples funcionária, sendo que na verdade ela é dona da empresa e doutora em Turismo, meu Deus, que vergonha. Mas acho que foi até bom eu não saber disso antes, acho que ficaria intimidada na presença dela, ela deve ser super inteligente. Nossa, quero aproveitar ao máximo para aprender as coisas com ela.
A loira ficou mais um tempo pensando na postura simples de Chiara, porém não demorou muito para acabar pegando no sono, devido ao seu cansaço.
Quando já estava quase dando 20 horas a loira despertou assustada, achando que já era mais tarde do que imaginava.
- Aii, espero não demorar muito para me acostumar com esse fuso. - Disse a loira se levantando da cama.
Mariana escolheu uma roupa de frio e a vestiu rapidamente, para poder descer para o jantar. Não tinha se dado conta de que a última vez que comeu fora no avião. Assim, não demorou muito e a loira já estava no local onde seria servido o jantar na pousada. Preferiu jantar por lá mesmo, devido à sua fome, mas logo em seguida pretendia dar uma volta pelas redondezas para admirar a paisagem noturna.
Dessa forma a loira serviu seu prato com as mais variadas comidas italianas e enquanto comia, observava o movimento de pessoas na pousada. Reparou que havia diversas pessoas de outros países, que possivelmente estavam ali por causa do workshop que teria amanhã. Ao se lembrar do workshop, automaticamente se recordara também de Chiara. Procurou à sua volta, no entanto não avistou a italiana, imaginando que certamente ela não ficava na pousada.
Quando terminou de jantar, a loira saiu da pousada e começou a caminhar pelas ruas de Roma, apreciando as construções históricas e o clima antigo e diferente que aquele lugar proporcionava. A jovem queria manter a cabeça focada nas coisas boas que estava vivendo ali, porém, não conseguiu deixar de se lembrar de Clara.
Estar caminhando sozinha por aquelas ruas a fez desejar ainda mais a presença da morena ali com ela.
- "Como pode isso, estou há quilômetros de distância, mas não consigo te esquecer, Clara. Se estivéssemos juntas, com certeza nesse momento eu iria estar dando um jeito de ligar para você, para falar como aqui é lindo, cheio de história. Você iria gostar tanto." - A loira conversava por pensamento como se estivesse falando com Clara. - "Poderíamos sair para outros lugares de Roma, mas não só de Roma, iria te mostra tudo o que já conheço da Itália e finalmente iríamos para Veneza... aii Veneza, como quero conhecer esse lugar, como quero estar lá com o amor da minha vida."
A loira continuou andando vagarosamente, admirando cada detalhe das ruas e, enquanto fazia isso, não conseguia desprender os pensamentos de Clara.
-"E você? O que será que está fazendo agora? Clara, tenho certeza que não está feliz, tenho certeza que sente minha falta. Você precisa perceber que a sua felicidade é ao meu lado, você precisa vencer esses medos."
A loira se sentou em um banco que tinha em frente a uma pizzaria e continuou a pensar desanimada:
- "Não acredito que continuo com esses pensamentos, não acredito que ainda defendo a Clara, que não sinto raiva pelo o que ela me fez. Nossa, o Fred tem razão, preciso mudar, preciso me colocar àfrente disso tudo. Quem dera que fosse tão fácil quanto falar! Como pude mudar tanto?? Onde está aquela Mariana forte, que não se apaixonava por ninguém, que não deixava ninguém me fazer sofrer?? Então o amor é isso?? É todo esse sofrimento??" - A loira respirou fundo como se tivesse exteriorizando suas lamentações. Ela começava a perceber que ficar ali sozinha só a iria fazer pensar cada vez mais em Clara.
- "Ai Pedro, chega logo, preciso de você para me distrair. Se eu ficar a semana toda pensando na Clara do jeito que eu estou, vou ficar maluca."
- Pelo jeito você já se familiarizou com as ruas italianas.
- Clara?? Quer dizer, Chiara... nossa, me assustou. - Disse a jovem, toda atrapalhada, ao ser surpreendida pela italiana.
- Me desculpe, Mariana. - Pediu a jovem, rindo da expressão assustada da loira. - Prefere me chamar de Clara?
- Er... não, não, prefiro Chiara mesmo!
- Tudo bem então. - Disse se sentando ao lado da loira. - Você conhece alguém com esse nome?
- Er... sim, conheço uma pessoa chamada Clara. - Disse a loira tentando disfarçar o quanto aquele nome representava para ela. No entanto a italiana percebeu que algo a incomodava.
- Mariana, você não me parece muito feliz, não está gostando da Itália?
- Imagina, Chiara, estou amando aqui, você não tem noção de como amo esse país. A pousada também é perfeita!
- Hum, então está chateada com alguma outra coisa?
- "Aii, não quero falar. " - Pensou a loira. Não queria mesmo falar sobre Clara, até porque não queria falar sobre sua sexualidade com uma pessoa que ela mal conhecia. Assim, a jovem voltou a falar, se justificando, mas sem entregar nada do que estava passando. - Er.. digamos que passei por alguns problemas recentemente lá no Brasil, mas isso não importa por que estou na Itália, longe de tudo e de todos e eu amo isso aqui.
- É verdade, nada como uma viagem para nos ajudar a colocar a cabeça no lugar. Mas uma coisa eu te falo, as lembranças não saem da nossa cabeça, independente da distância que estivermos dos problemas. O que muda não são as tribulações, mas sim nossa forma de pensar! - Disse a italiana, como se já tivesse vivido a experiência de ter que se afastar de algo que lhe causava dor, para poder refletir melhor.
- É, acho que você falou tudo agora, Chiara!
- Vai por mim Mariana, o tempo é capaz de fazer milagres, mas o que vai determinar nossa verdadeira mudança é nossa postura.
A loira deu um sorriso para a italiana e ficou com o olhar vago, pensando na providência que fora escutar aquelas palavras de Chiara. A jovem tinha uma percepção boa, parecia até que ela sabia o que a loira estava vivendo. O melhor daquilo tudo era que ela não perguntava para a loira o que ela estava passando, respeitava seu espaço e seu silêncio, fazendo com que Mariana a admirasse ainda mais.
- Chiara, posso te falar uma coisa?
- Claro que pode
- Você é tão simples, fiquei surpresa quando você disse que era dona da pousada e também que já havia feito mestrado e doutorado. Você parece ser tão jovem.
- Digamos que eu comecei a estudar cedo, mas já tenho 34 anos.
- 34?? Nossa, você está nova, mas te daria uns 24 anos no máximo.
- Que beleza, fiquei 10 anos mais nova então! - Disse sorrindo. - Ah, você deve achar que sou mais nova por que sou baixinha, não é?
A loira riu do comentário e respondeu:
- Não, você realmente parece ser mais nova, seu rosto mesmo er.. sua pele, parece que é mais nova. - A loira ficou sem graça ao tecer aquele comentário, pois deu a entender que estava reparando na pele da morena.
- Ah, grazieragazza!!
- Acho o idioma italiano, muito bonito, quero aprender!
- Ah, durante esse mês que você for ficar aqui já irá aprender muita coisa. - Disse Chiara, simpática.
- Você aprendeu muito bem o português! Inclusive tem palavras que parece até o português do Brasil.
- Mas, isso foi por que tive contato com uma brasileria, quando morei em Portugual. Estudavamos juntas. Então acabei aprendendo muita coisa com ela.
- Ahh, agora está explicado.
As jovens riram um pouco e em seguida as duas ficaram em silêncio como se estivessem pensando coisas profundas. Logo Mariana começou a ficar incomodada com o silêncio e voltou a puxar assunto.
-Er.. mas, me diga Chiara, você estava passando por aqui quando me viu?
- Sim, eu estava acompanhando um casal até o bairro judeu, fica próximo daqui.
- Também quero ir nesse bairro.
- Bom, se quiser posso te levar lá agora.- Disse com outro sorriso.
- Mas, er... você não tem nenhum compromisso agora? - Perguntou a loira
- Nenhum, iria direto para o quarto!
- Er.. você fica na pousada?
- Fico sim, mas nem sempre. Geralmente eu fico na pousada em véspera de algum curso ou workshop, ou então quando há bastante movimento.
- Entendi, bom, vamos então? - Disse a loira, já se sentindo mais animada.
- Vamos, é por aqui. - Respondeu Chiara, apontando o caminho.
As jovens caminhavam lentamente e Chiara ia explicando a Mariana as características do lugar, tanto em relação a arquitetura, como também sobre a história. Quando estavam próximas ao bairro judeu Chiara disse.
- Passeios noturnos são muito comuns aqui em Roma, hoje a criminalidade reduziu fortemente, assim, vários casais vêm para cá a procura de uma noite romântica.
- É, imagino. - Respondeu Mariana, tentando não pensar em Clara. - Aqui é lindo demais, é muito iluminado, parece que a cidade ganha uma nova vida a noite.
- E ganha mesmo, Mariana. A apropriação do espaço se modifica durante o dia e durante a noite.
- Nossa, é lindo! - Disse a loira admirando a entrada do bairro judeu.
- Aquelas são as Colunas do Pórtico Otaviano. - Explicava Chiara, como uma verdadeira guia turística.
- Nossa, estou ganhando uma visita guiada por Roma durante a noite - Brincou a loira.
- Pois é, quando for ao Brasil também quero ser guiada assim! - Disse Chiara, respondendo à brincadeira.
- Pode deixar.
- Bom, o Coliseu está muito próximo daqui, você já foi lá, não é?
- Já sim, é lindo. Mas nunca fui a noite.
- Nossa, então preciso te levar lá, fica maravilhoso iluminado. Você está cansada?
- Não, de jeito nenhum, sou uma nova mulher depois que dormi. - Respondeu empolgada.
- Então aceita ir lá?
- Nossa, você ainda me pergunta?? Eu que tenho que perguntar se você realmente quer ir lá comigo.
- Claro que sim, o papo está muito agradável. É interessante mostrar a cidade para alguém que entende a história e a arquitetura do local. Vamos sim, Mariana!
As duas jovens saíram caminhando pelas ruas de Roma e antes mesmo que Mariana perguntasse, já avistavam o Coliseu ao fundo.
- MEU DEUS!!! - Exclamou a loira, em admiração. - Mas.. er.. é lindo!
- Sabia que você iria gostar.
- Não tem como não achar isso lindo, nossa, pena que não trouxe minha máquina para tirar uma foto.
- Sorte a sua então, estou com máquina aqui. - Disse Chiara, tirando uma máquina da bolsa. -Sempre levo nas minhas visitas guiadas.
- Nossa, você está se saindo melhor que encomenda Chiara! - Brincou a loira.
- Vamos lá então, fica ali que vai dar para pegar o coliseu ao fundo. - Disse a italiana, arrumando a posição da loira para a foto. - Sorria...
Mariana fazia pose para a foto e a jovem acabou se empolgando e tirando várias fotos de Mariana.
- Você é muito fotogênica, Mariana.
- Sou nada, é o coliseu que deixa qualquer pessoa bonita
- Não, você é realmente muito linda. - Disse encarando a loira.
Mariana ficou sem graça e foi logo pegando a máquina das mãos de Chiara para disfarçar seu semblante avermelhado.
- Agora é a minha vez de tirar uma foto sua!
- Nem pensar, sou péssima para sair em fotos. - Respondeu a morena, tentando tirar a máquina das mãos de Mariana.
- Não não, só uma Chiara, vai.
- Nem pensar!
- Está bem, então vem aqui, tira uma foto comigo.
- Hum, está bem, assim até que vai, sua beleza vai me ofuscar na foto mesmo. - Falou brincando.
- Não vai nada, vem. - Disse aloira, puxando Chiara.
As duas bateram a foto e em seguida caminharam para o Coliseu. Realmente aquele passeio fez Mariana se esquecer do Brasil, nada como uma companhia divertida e inteligente para conseguir distraí-la de todo seu sofrimento em relação a Clara.
Chiara continuava explicando para a loira cada detalhe sobre o Coliseu e ela, por sua vez ficava pensando no jeito simples e simpático da italiana. De fato, a loira jamais pensou encontrar alguém que fosse tão importante, mas que ao mesmo tempo preservasse a simplicidade, como principal característica.
As jovens mal se conheciam, mas parecia que já eram amigas de longa data, pois começavam a conversar outros assuntos, não apenas sobre turismo, história e arquitetura. Mariana se sentiu feliz, pois realmente pensou que fosse ficar intimidada na frente de Chiara, devido aos títulos que ela possuía. Porém seu jeito humilde fez com que Mariana a tratasse como uma amiga, por sinal, uma amiga que surgira no momento em que a loira mais precisava.
E foi nesse clima de empolgação e diversão que se seguiu o restante da noite. As jovens ficaram um tempo apreciando o Coliseu e depois retornaram para a pousada, conversando variados assuntos sobre suas vidas, mas sem evidentemente tocar no assunto sobre afetividade.
- Bom, espero que tenha gostado do passeio, Mariana. - Falou Chiara.
- E você ainda tem dúvida?? Nossa, jamais me esquecerei desse dia. Roma é ainda mais apaixonante a noite.
- Com certeza! Se você animar, podemos sair amanhã à noite novamente.
- Claro que animo! Pelo jeito você vai me ajudar a conhecer muito sobre Roma.
- Se você quiser, mostrarei com prazer!
- Quero, com certeza! - Respondeu a loira sorrindo.
- Bom, então amanhã podemos ir ao bairro Trastevere, você conhece?
- Eu já li sobre ele, lá encontramos diversos bares, não é?
- Sim, isso mesmo, mas não é só isso. As ruas também são extremamente históricas, contendo várias casas medievais. A ponte, na qual atravessa o rio Tibre e que dá acesso ao bairro, possui mais de 500 anos. É muito linda.
- Já estou ansiosa para conhecer então.
- Bom, amanhã temos o workshop, deve acabar por volta das 18 horas, então voltamos para a pousada e daqui seguimos para o Trastevere, chamarei alguns amigos.
- Perfeito, Chiara! - A loira não conseguia parar de sorrir.
- Agora vou deixar você em paz, vá descansar, pois amanhã andaremos bastante.
- Nossa, o workshop não vai ser em um local fechado?
- Não mesmo, temos um belo acervo arquitetônico a céu aberto, não tem como ficar preso em uma sala.
- É verdade. - Concordou a loira. - Bom, então vou indo para o meu quarto, preciso dormir e tentar me adaptar a esse horário. Chiara, muito obrigada! Foi muito bom conhecer o lado noturno de Roma em tão boa companhia.
- Eu digo o mesmo! - Disse a italiana sorrindo. - Boa noite, Mariana.
- Boa noite, Chiara!
A loira já ia caminhando para seu quarto, quando escuta Chiara lhe chamar.
- Mariana. - A loira virou-se para ouvir o que a morena tinha a lhe dizer. - Depois te passo as fotos, ficaram lindas, vale a pena até revelar.
- Obrigada! - Riu a loira, tímida.
- Buona notte, ci vediamo domani!! - Disse Chiara em um forte italiano.
- Fino a domani - Respondeu a loira.
Mariana entrou em seu quarto se sentindo feliz pelas belas coisas que já pôde conhecer naquele dia. Sentia-se feliz também por estar na presença de Chiara. A loira continuava espantada com a simplicidade da moça, considerou-se sortuda por ter feito amizade logo de cara com alguém que conhece tão bem os quatro cantos de Roma. Na verdade Mariana sabia que os conhecimentos de Chiara ultrapassavam as fronteiras romanas, certamente ela era conhecedora de diversos outros locais, inclusive outros países. A alegria de Mariana vinha também de seu lado profissional, pois certamente aprenderia muito com Chiara.
A loira tomou um outro banho rapidamente e antes de se deitar na cama, pegou o notebook para mandar um e-mail para Fred, avisando-o que chegara bem. Aproveitou também para contar o que já havia conhecido e da amizade que já havia feito. Pediu para que o jovem avisasse seu pai, já que Sr. Augusto não era familiarizado com o computador. Perguntou também como o jovem estava, pedindo para sempre mandar notícias sobre ele, incluindo sua mais nova paixão por Alex.
Quando Mariana se lembrou de Alex, acabou trazendo junto as lembranças de Clara, assim não conseguiu evitar e acabou escrevendo para o Fred, pedindo para que ele mandasse notícias dela. Em seguida, enviou o e-mail e desligou o computador para finalmente poder dormir. No entanto, o sono não viera rápido, mesmo diante de todas as coisas boas que havia vivenciado há poucos minutos, agora, as lembranças que prevaleciam eram de Clara.
- Eu te amo tanto Clara, andar pelas ruas de Roma me fez desejar ainda mais estar com você. Tudo aqui incita o romantismo, tudo aqui me faz lembrar de você. Roma é a cidade que você tem grande paixão, me lembro quando você me disse isso, aiii Clara, volta para mim. - Novamente a loira falava consigo mesma como se estivesse falando com a advogada.
Lembrou-se do dia em que estavam se conhecendo e a morena começou a falar de forma apaixonada sobre Roma.
- Queria muito que estivesse aqui, muito. - A loira deitou-se na cama e abraçou o próprio corpo, como se estivesse tentando sentir a presença de Clara. - Estou com tanta saudade de você, será que você sente essa mesma saudade?
A loira tentava, mas quando estava sozinha não conseguia deixar de pensar em Clara.
- Chegaa, preciso parar de regredir, por que não consigo?? Por que sempre vem os mesmos pensamentos?? Meu Deus, quando o Pedro chegar vou pedir para ele ficar no mesmo quarto que eu.
A loira cobriu o corpo todo com o edredom inclusive a cabeça, como se estivesse tentando fugir dos pensamentos. Porém eles continuavam fortes em sua mente, queria a todo custo saber o que Clara estava fazendo, queria saber se a jovem estava ciente de que ela havia viajado para a Itália, queria saber se esse fato mudara alguma coisa em relação a sua decisão. Entretanto, não demorou para se dar conta de que estava se precipitando novamente e perdendo o foco.
- Caramba Mariana!!! - Disse descobrindo a cabeça do edredom. - Ontem eu estava no Brasil, como sou exagerada, como sou ansiosa. Aiii, preciso me tratar, preciso melhorar isso. Não posso viver nessa ansiedade por respostas, preciso aprender a viver o hoje, mesmo sabendo o que quero para meu futuro. Minha aflição em tentar prever o que vai acontecer futuramente me deixa agoniada, preciso me desprender disso. Preciso ficar calma. Está decidido, eu quero a Clara, quero ela na minha vida, mas não será hoje que isso vai acontecer. Chega de deixar esse acontecimento atrapalhar minha vivência cotidiana, preciso aprender a ser leve, preciso confiar que de fato existe um tempo para cada coisa.
A loira parou de falar por um instante, como se estivesse tentando controlar a ansiedade e começou a respirar vagarosamente. Começou a mentalizar as coisas boas que havia ocorrido naquele dia e foi deixando que essas lembranças substituíssem aos poucos as recordações que lhe causavam ansiedade e dor.
- Isso, vai dar tudo certo, vai sim. Esse foi apenas o primeiro dia. Muita coisa boa me espera. - Disse para si mesma, ao se lembrar de todo o caminho percorrido ao lado de Chiara, sob as ruas antigas de Roma até chegar ao Coliseu completamente iluminado. - Pare de ser ingrata Mariana e valorize o que você tem agora!
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Depois da conversa que Clara tivera com Alex, no shopping, a morena ficara ainda mais abatida. Não conseguia se perdoar por não ter ido até Mariana pelo menos para se despedir. Não conseguia se perdoar também por estar tratando a jovem como se ela não fosse importante em sua vida, afinal, desde a conversa que tivera na casa da loira, nunca mais a procurara.
Por mais que a morena soubesse que aquilo era o melhor a se fazer, devido a sua incapacidade de lutar por aquele amor, queria achar outra forma para lidar com aquela situação. Mas na verdade não havia outra forma, a solução que faria mudar toda aquela história somente seria concretizada a partir de suas próprias mãos e de sua coragem. Assim, toda vez que pensava nessas coisas, Clara desanimava, pois sabia que Mariana tinha razão: ela não saia do lugar, ela não enfrentava nada.
Dessa forma, insistir naquelas lembranças era o mesmo que chover no molhado, pois sabia que nada mudaria se ela não modificasse sua própria postura. Naquela segunda-feira à noite, depois de ter pensado mil coisas sobre a viagem de Mariana, sobre a possibilidade de ela encontrar outra pessoa que fosse capaz de fazê-la feliz, capaz de assumir um relacionamento homoafetivo ao lado da loira, Clara finalmente decidiu que não poderia ficar em casa. Precisava arranjar uma forma de esquecer Mariana, já que não era forte o suficiente para lutar por ela.
Assim, decidiu ligar para o Alex e convidá-lo para sair para algum barzinho, pois mesmo sendo segunda-feira, opções é que não faltavam na grande São Paulo. Dessa forma, ligou para o primo, que foi logo aceitando o convite. A morena também aproveitou para chamar a Laura, que sempre insistia para que Clara voltasse a sair com ela, tanto que quando a morena fez o convite para a amiga ela foi logo se surpreendendo e aceitando, antes que a jovem mudasse de ideia.
Clara combinou de ir para um barzinho que ficava próximo ao escritório de advocacia em que trabalhava. Lá o ambiente era agitado e geralmente tocava pop/rock, um estilo de música que ela também gostava muito e que não iria lhe causar mais depressão, o que certamente causaria outro estilo como, por exemplo, MPB.
A jovem combinou de encontrar o primo e a amiga por volta de 21 horas, no entanto, antes mesmo disso já estava no local. Queria sair logo de casa, pois já não aguentava mais chorar e se lamentar, por conta de seus próprios defeitos e limitações. Dessa forma, a morena saiu do carro e ficou em frente ao estabelecimento esperando os jovens. Estava distraída, olhando para o nada, demonstrando claramente que não estava bem. No entanto ela era uma bela mulher e isso atraia os olhares das pessoas.
Assim, nesse meio tempo em que esperava a chegada de sua amiga e de seu primo, pelo menos dois caras pararam em frente a ela para tentar puxar assunto e levá-la para dentro do bar para oferecer-lhe uma bebida. Os rapazes que lhe abordaram eram até bonitos e esbanjavam simpatia, porém a jovem não via graça alguma naquilo. Queria sair logo da entrada do bar, queria poder entrar e ficar quieta conversando apenas com Laura e Alex. Se fosse há um tempo atrás Clara teria adorado ter sido cantada por dois rapazes em um curto espaço de tempo, porém, agora não conseguia achar o mínimo de graça daquela situação.
Aquilo fez Clara se lembrar de uma das últimas coisas que Mariana lhe dissera: "me fala que pode me esquecer e que voltará a namorar homens, aí sim eu vou entender sua escolha.". Realmente Clara não se via mais namorando homens, na verdade não se via namorando mais ninguém. Sabia que o que estava em jogo não era uma mera questão de gênero, mas sim um verdadeiro sentimento. A questão não era o fato dela ser lésbica ou não, mas sim de ter encontrado o amor na figura de uma mulher. Clara até mesmo acreditava que Mariana era a única pessoa capaz de lhe despertar aquele sentimento.
A morena respirou fundo tentando apartar os pensamentos até que escutou a voz de Alex vindo em direção à rua.
- Clara! Já está aí há muito tempo? - Perguntou o jovem, dando um beijo na prima.
- Um pouco, tudo bem Alex?
- Tudo sim!! Fiquei muito feliz por você querer sair de casa. Isso mesmo, não pode se render a tristeza.
- É, mas já estou me arrependendo de ter vindo.
- Por que??
- Ah, nada não. - Respondeu Clara, para evitar que o assunto sobre Mariana se iniciasse.
- Tudo bem, mas não fica assim, quero alegria hoje.
- É, vou me esforçar, mas sem pressão, ok, Alex? Só quero ficar tranquila, conversando coisas leves.
- Eu sei prima, relaxa, não vim para te dar sermões não, você sabe que o que mais quero é te ver bem!
- Eu sei.
Logo Laura também apareceu na rua, e já começou a gritar empolgada ao ver Clara.
- Quem é vivo sempre aparece minha gente!!! Claraaa, que saudades, amiga! - Disse abraçando a morena.
- Saudade também, Laura, tem muito tempo mesmo né.
- Nossa, você emagreceu muito, Clara, ou é impressão minha??
- Não, eu emagreci mesmo.
- Nossa, porque??
- Por nada, nada de mais. Mas enfim, deixa eu te apresentar meu primo Alex.
- Oii, prazer, me chamo Laura. - A jovem falava toda alegre.
- Olá. Prazer, Alex. - Disse o jovem educadamente.
- Bom, vamos entrar gente? - Perguntou Clara.
- Vamos, nossa, estou com fome, nem comi em casa, deixei para comer aqui.
- Então vamos pedir algo para comer logo. - Respondeu Clara.
- Com certeza, você está precisando recuperar uns quilinhos. - Brincou a amiga.
-"Ai, até quando vou ter que aguentar as pessoas falando sobre meu peso??" - Pensou, tentando esconder a irritação.
Os três se sentaram logo na primeira mesa que estava desocupada e foram rapidamente chamando o garçom para fazerem os pedidos.
- Vamos tomar Chopp hoje? - Perguntou Alex.
- Ai, acho que não, vou ficar só no refrigerante mesmo. - Disse Clara desanimada.
- Que isso Clara, não estou te reconhecendo amiga. Garçom, pode trazer três chopp's para gente! - Disse Laura, sem deixar Clara relutar.
- Isso mesmo Laura!! Hoje será o dia do Chopp!! Nada de refrigerante, Clara.
- Ai, tudo bem, mas estamos dirigindo, sem exageros, por favor!
- Caramba Alex, o que aconteceu com ela?? - Perguntou Laura mais uma vez, apontando para Clara. - Gente, você está muito diferente Clara.
- Coisas da idade Laura, vai por mim. - Disse Alex, tentando ajudar a prima, antes que Laura iniciasse um interrogatório.
- Credo, Deus me livre, estou novíssima, sai para lá desânimo. - Laura continuava animada, enquanto Clara tentava a todo custo disfarçar sua tristeza.
Os jovens ficaram no bar bebendo e conversando diversos assuntos. Laura não parava de falar e Alex sempre tentava dar um jeito de inserir Clara na conversa, porém a morena sempre ficava com o olhar vago em direção ao palco, como se estivesse apreciando as músicas. No entanto, era seus pensamentos que não saiam da Itália. Queria saber o que Mariana estava fazendo naquele momento, logo olhou no relógio e imaginou que ela estivesse dormindo, por conta do fuso horário que era mais tarde na Europa.
- "Caramba, assim não dá, Clara, não dá!" - A morena sacudia a cabeça, tentando dispersar os pensamentos, enquanto Laura e Alex continuavam conversando.
Logo Clara percebeu que a amiga estava afim de seu primo e começou a sentir ainda mais mal. Lembrou-se da primeira vez que encontrou com Mariana, depois da agencia de turismo. Ela estava segurando vela para seus amigos Pedro e Duda quando Clara lhe chamou para se sentar junto com ela. Assim começou a se lembrar de todos os detalhes daquele dia, os primeiros sentimentos que se afloravam naquele momento, os sorrisos, os olhares. Estava impossível não pensar na loira.
- "Meu Deus, por que naquele dia na agência eu não fui direto para a mesa do Pedro?? Talvez assim
eu nunca teria me apaixonado pela Mari, tanto sofrimento seria poupado. Por que eu tive que ir justo na mesa dela?? Por que isso teve que acontecer justo comigo??" - Clara continuava tão imersa em seus pensamentos que não ouvira Alex lhe chamar.
- Clara... Claraaa..
- Hã... oi? - Disse a morena, saindo de seus devaneios.
- Quer beber mais um chopp?
- Não, melhor não, Alex, acho melhor vocês pararem também, já beberam demais.
- Está certo, vamos parar, também temos que trabalhar amanhã, nem rola de beber muito.
- Se você quiser eu posso te deixar em casa. - Disse Laura, toda insinuante para Alex.
O jovem olhou sem graça para Clara, e esta por sua vez apenas dizia por sinais para ele aproveitar. Porém Alex fazia sinal negativo para Clara, querendo dizer que não estava afim. Logo a morena pensou que fosse por causa dela e decidiu ir embora.
- Gente, acho que vou indo.
- Ahh, que isso, fica ae!! - Laura já mostrava sinais de embriaguez.
- Laura, para de beber, amiga, se não, você não vai ter condições para dirigir.
- Ahh, mas tem um anjinho para me levar em casa. - Disse, puxando um cacho do cabelo de Alex.
- Mas você está de carro aí, vai deixar o carro para trás, para poder ir com o anjinho aqui? - Perguntou Clara já impaciente, fazendo Alex ficar mais vermelho do que já estava.
- Eii meninas, relaxa, vamos parar de beber, esperar o efeito do álcool passar um pouco e ai vamos embora cada um no seu carro.
- Poxa, não quer me levar em casa?? - Falou Laura, fazendo uma cara manhosa.
- Er... não dá Laura, onde você vai deixar o carro? É perigoso.
- Bom, se você quiser pode ir dirigindo atrás dela, Alex, para garantir que ela chegue bem. - Clara falara irritada, pois achava que Alex estava dando o fora em Laura por sua causa, não queria que o primo tivesse pena dela.
- Não, acho que é melhor fazermos isso que falei, vamos esperar um pouco e já já a gente vai. - Insistiu o jovem.
Laura olhou para Alex e começou a perceber que ele não estava afim de lhe acompanhar. Assim, acabou mesmo que de contragosto concordando com ele. No entanto, aquela situação acabou deixando um clima chato na mesa, seja por parte de Clara, que estava impaciente com o primo, seja por Laura que se sentia rejeitada. Dessa forma a morena se levantou da mesa e disse:
- Não se preocupem, aproveitem a noite, pois eu já vou indo, afinal, não bebi quase nada, estou bem para dirigir. Alex, leva a Laura, vai ser melhor.
- Tudo bem - Concordou o jovem. Por mais que não estivesse afim de se envolver com Laura, realmente percebera que a jovem não estava muito em condições de dirigir sozinha pelas ruas de São Paulo.
- Não precisa, estou bem. - Falou Laura com a voz embolada.
- Não está não, aceite a companhia do Alex - A morena abaixou no ouvido da amiga e disse. - Aproveita, ele só é um pouco tímido.
Laura ao ouvir aquilo abriu um sorriso malandro para a amiga e aceitou que Alex a acompanhasse, mesmo que fosse cada um em seu carro. Quando chegasse em sua casa ela daria um jeito tirá-lo do carro e convidá-lo para entrar. Assim, Clara despediu dos dois, deixou o dinheiro para pagar parte da conta e saiu do bar, com a mesma tristeza que entrara.
Contudo, antes que a morena atravessasse a rua para ir em direção ao seu carro, Alex correu em sua direção.
- Claraaa, espera aí...
- O que foi, Alex?? Pare de me proteger, pare de ter dó de mim, isso já está me deixando com raiva! - Disse brava.
- Ei, para, não estou com dó de você, de onde tirou isso?
- De onde tirei?? Caramba, Alex, a Laura está super afim de você, ela é uma gata e você fica dando o fora nela por minha causa!! CHEGA!! Estou cansada, não quero que tenha pena de mim por que sou fraca. Fuii, me deixa. - Falou mais uma vez brava, dando as costas para o primo e caminhando em direção ao carro.
- Esperaa!! - Disse segurando o braço de Clara. - Não sinto pena de você, eu simplesmente não estava afim!
- Ah tá bom, não estava afim, Alex?? Você no mínimo deve ter pensado "Ahh coitada da Clara, vai ficar segurando vela, já tá sofrendo por causa da Mari, coitadinha."
- PARA COM ISSO!! - Agora foi a vez do jovem falar bravo. - Posso me compadecer da sua dor, querer te ver bem, mas pode ter certeza, pena eu não tenho de você!
- Vai mesmo tentar me convencer que não estava afim da Laura? Que homem não iria querer uma mulher como ela.
- Eu Clara.
- Alex, está acontecendo alguma coisa que eu não sei?? - Perguntou Clara, agora desconfiando da atitude do primo.
O jovem ficou mudo e de cabeça baixa, fazendo Clara insistir e ter ainda mais certeza de que algo acontecia.
- Vamos Alex, me fala, eu te conheço, o que está acontecendo?? Você não sabe esconder as coisas, vamos, quero saber.
O jovem respirou fundo e falou:
- Clara, também estou apaixonado.
- Como é que é?? Apaixonado??
- É Clara, isso mesmo que você ouviu - Falou o jovem tímido. - Por isso não faz sentido eu ficar com a Laura.
- Como assim apaixonado, Alex?? Desde de que eu te conheço você nunca se apaixonou por ninguém, quem é essa sortuda? - Perguntou Clara curiosa e ao mesmo tempo surpresa.
- É uma longa história Clara, posso te falar depois? A Laura está sozinha lá no bar.
- Nossa, é verdade. Tudo bem, vai lá.
- Por favor, pare de pensar que tenho pena de você. - Disse olhando nos olhos da prima - Eu não tenho pena de você por que essa escolha foi sua mesmo, Clara.
- Ok, ok, você disse que não iria me dar sermões hoje, por favor, Alex, não estou bem, não me deixe pior.
- Tudo bem. Desculpa, Clara.
- Eu que tenho que pedir desculpas, né, agi como uma idiota e você é o que mais tem me dado forças. Me desculpe mesmo, entendi tudo errado.
- Relaxa prima, agora deixe-me voltar. Ainda tenho que acompanhar a Laura em casa. - Disse virando os olhos.
- Aii, se prepara, é capaz da Laura te atacar, conheço a amiga que tenho, ainda mais embriagada.
- Culpa sua né, mas tudo bem, eu cuido disso. Não quero brincar com a menina.
- Brincar com a Laura??? - Falou Clara, rindo ironicamente. - Mais fácil ela brincar com você.
- Deixa de ser abusada, Clara.
- Tudo bem, vai lá então, tenta ir lá em casa amanhã, aí você me conta quem é essa mulher misteriosa que ganhou seu coração.
- Tentarei ir sim! Beijo prima, se cuida e fica bem, ok?!
- Pode deixar. Beijo primo!
Alex seguiu de volta para o bar e Clara atravessou a rua para pegar o carro.
- "Ai que idiota eu sou, jogando o Alex para cima da Laura sem saber que ele está envolvido com alguém. Nossa, ultimamente só tenho falado de mim também, mal sei das coisas que ele tem vivido, preciso parar de me lamentar e começar a olhar mais à minha volta." - A morena adentrou o carro se sentindo mal por ver que estava sabendo pouco sobre o primo. - "Que noite meu Deus, era melhor ter ficado em casa."
Clara ligou o rádio e começou a dirigir rumo a sua casa. Porém era evidente que as lembranças de Mariana não saiam de sua cabeça.
- "Estou tentando, juro que estou tentando, mas nada me faz te esquecer Mari, nada!" - Involuntariamente uma lágrima descera sobre o rosto da jovem. - "O pior de tudo isso é saber que te perdi por culpa minha. Como vou conseguir conviver com isso, sabendo que a felicidade estava em minhas mãos e por medo eu a perdi??"
Assim que chegou em casa Clara tomou seu longo banho e em seguida foi direto para cama, se sentindo da mesma forma que estava antes de sair com a Laura e o Alex.
- "De que adianta sair? Estou do mesmo jeito, ou até pior, que mancada dei com o Alex. Ai meu Deus, será que vou conseguir superar isso e esquecer a Mari? Será que um dia vou voltar a ser a pessoa que eu era?"
Em meio aqueles sentimentos e pensamentos preocupantes, Clara sentiu a saudade de Mariana aumentar de uma maneira fora do comum. Era como se tivesse visualizado em um rápido flash a presença da loira bem ali, ao seu lado na cama. Rapidamente passou a mão ao lado da cama que estava vazio e fechou os olhos, como se estivesse sentindo a presença de Mariana ali.
- "Nunca mais, nunca mais vou sentir seu cheiro, seus toques." - Novamente a morena começou a chorar, mas dessa vez, não abraçou o travesseiro e nem mesmo seu próprio corpo, simplesmente chorava com as mãos sobre o lado vazio da cama, sabendo que ele estava vazio por sua culpa. Em meio as lágrimas lembrou das palavras do primo: "Eu não tenho pena de você por que essa escolha foi sua mesmo, Clara."
Respirou fundo, controlou o choro e disse as últimas palavras daquela noite:
- A escolha foi minha! Chega de ter pena de mim mesma, se for preciso endurecer o coração para superar, será exatamente isso o que vou fazer! Vou tocar minha vida, do melhor jeito que conseguir, não derramarei mais lágrimas, se a escolha foi minha, preciso me conformar com a perda. Chega de ser fraca!
E foi dessa forma, com os sentimentos endurecidos, que Clara adormeceu naquela difícil noite de segunda-feira.
Fim do capítulo
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lucy
Em: 09/01/2016
puxa vida as coisas não estão nada fáceis.....
Clara vai ter que sofrer e crescer.na.marra pra se dar conta que não
vale a.pena ficar longe da Mari .....pode. até vir.a.perder
e a situação pra isso acontecer é grande porque.não ? afinal
a italiana é linda e pode cativar a loira,.....eu torço pra Clara e Mari ficarem juntas
mas.antes que isso aconteça a Mari.pode se deixar envolver pela.moça já que Clara
tá na inércia dando a certeza de que nada vai mudar na atitude da.morena...apesar que
isso pode mudar.....saudade solidão depressão...... isso pode mexer e muito com Clara e dar um
sacode.na.morena
espero que.essa situação se reverta
tá muuuuito bom esse conto tá nota mil !!!/bjs
Resposta do autor em 13/02/2016:
Ei Lucy,
Pois é, não foi um caminho fácil para minhas personagens, não é mesmo? Clara sofreu muito, foi cabeça dura e precisou perder para perceber o sentido maior de sua vida... A verdade é que ela correu um sério risco de perder a Mari para a Chiara... O pior é que na vida real muitas vezes passamos por situações semelhantes devido a falta de coragem, por isso, muitas ainda compreendem a Clara, sentem raiva, mas a entendem, rsrs
Beijinhos
Sem cadastro
Em: 09/09/2015
Gi, só mais um pouquinho e vc chega lá!!! 😆😆😆😆
Resposta do autor:
Tô chegando, rsrs
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