Capítulo 28
Mais algumas semanas se passaram e finalmente chegara o último dia do ano. Na verdade, nem demorara tanto para chegar o Réveillon, pois as jovens sempre tinham algo para fazer nas semanas que antecederam o último dia do ano. Mariana procurou resolver todos os detalhes de sua viagem para Itália e também os detalhes de sua formatura, e para isso contou com a ajuda de Clara que sempre estava presente, nos diversos lugares que a loira precisou ir. Isso de certa forma deixou Mariana mais tranquila novamente, pois viu que Clara era uma namorada participativa, mesmo com todo seu medo em relação as pessoas lhes descobrirem. Assim, as jovens passaram todas aquelas semanas juntas, com exceção ao Natal, onde cada uma passou na casa de seu respectivo pai.
Porém, agora chegara o dia tão almejado por Mariana, pois finamente iria conhecer a família de sua amada. Mesmo que não fosse propriamente uma apresentação, ela estava feliz, afinal, achava que aquela atitude era um grande passo se tratando de Clara. Em contrapartida, a morena estava um pouco nervosa com aquele dia, pois, por mais que soubesse que Mariana jamais faria algo que levasse seus pais a ficarem em dúvida, estava fora de controle ficar tranquila quanto aquele encontro. Na realidade, ela estava com um pressentimento ruim, como se algo decisivo fosse acontecer.
Assim, procurando deixar todos esses pensamentos de lado, Clara já estava dentro do carro, seguindo para a casa de Mariana para buscá-la e finalmente irem para a casa de seus pais. A morena estava belíssima, em um vestido branco curto, expondo a beleza de suas pernas naturalmente bronzeadas. Seus cabelos estavam soltos e jogados de lado e no braço usava um bracelete prata, que combinava perfeitamente com a sandália prata de salto alto que calçava.
- Ai meu Deus, diga que vai dar tudo certo hoje. - Foi a única coisa que a morena falou consigo mesma durante todo o caminho.
Logo já estava em frente ao prédio de Mariana, pegou o celular e avisou a loira que já estava no portão esperando-a. Não demorou muito e surgiu Mariana, numa visão que mais parecia coisa de cinema. Ela também trajava um vestido branco, todo justinho em seu corpo que delineava perfeitamente suas curvas. O vestido era tomara que caia e a loira não usava mais nenhum adereço, a não ser o belo Scarpin amarelo que caíra perfeitamente com aquele visual.
- Ual!!! Amor, você quer me matar desse jeito?? - Disse Clara, assim que Mariana entrou no carro.
- Ahh, que isso amor, olha para você. Nossa, como você está linda. - Retrucou a loira, dando um beijo em Clara. - Eu já disse que amo quando você veste branco?
- Já sim, amor, mas linda como você não há ninguém! Você está maravilhosa, Mari.
A loira deu um largo sorriso para Clara e encostou a cabeça no banco, fazendo charme.
- Amor, me dá mais um beijo? O último beijo do ano, pois já sei que na sua casa você não vai nem respirar perto de mim.
- MARIII!! - Falou Clara, fingindo estar brava, mas na verdade achara graça do comentário de Mariana. - Tudo bem, só vou beijar por que está impossível resistir a você, tão linda desse jeito.
A morena aproximou sua boca à da loira e puxou delicadamente o lábio inferior, como se estivesse provocando a jovem. Mariana deu um sorriso safado e retribuiu a provocação mordendo também o lábio inferior da morena.
- Hum, podemos ficar assim a noite toda sabia? - Disse a morena sussurrando.
- Sabia, e eu estou quase te levando para dentro da minha casa. - Falou a loira antes de puxar Clara para um longo beijo.
Os lábios permaneciam colados e as línguas dançavam em ambas as bocas, como se estivessem bailando sincronizadamente ao som de uma música intensa. O beijo durou vários minutos, até que finalmente as bocas se desgrudaram, sorrindo, felizes por poderem expressar pelo menos ali aquele amor.
- Vem aqui, deixa eu corrigir seu batom. - Disse a loira pegando um batom na bolsa e passando novamente nos lábios de sua amada. - Pronto, está linda, meu amor.
- Deixa eu arrumar o seu também. - Falou Clara, também consertando a maquiagem da loira. - Prontinho, perfeita. Agora vamos?
- Vamos!! Estou ansiosa para conhecer meu sogro e minha sogra.
- Eles irão amar você. Tenho certeza.
- Vão amar sua amiga. - Brincou a loira com o fato de ter que ser apresentada como amiga dela.
- Ai amor, já é um começo, né? - Falou a morena com um sorriso sem graça.
- É sim amor, é sim. Vamos!
- Vamos.
Logo as duas jovens já estavam em frente à casa dos pais de Clara. O quintal já estava lotado de pessoas, grande parte era da família de Clara, outros eram amigos ou membros da igreja que Dona Ana e Sr. Antônio frequentavam.
- Ai amor, estou um pouco nervosa agora. - Disse a loira, ainda dentro do carro.
- Calma Mari, eles são muito tranquilos, tente agir naturalmente. Pelo amor de Deus, não se esqueça que você é apenas minha amiga, não vá me chamar de amor lá, ok?
- Claro né, fica tranquila, não vou dar um fora desses.
- Tudo bem, eu sei que você não vai dar mancada. - Concordou Clara, tentando disfarçar o quanto também estava nervosa. - Vamos então.
As jovens saíram do carro e seguiram para dentro da casa. Logo Sr. Antônio avistou a filha chegando e caminhou até ela para cumprimentá-la.
- Clara, meu amor! Que bom que você já chegou. - Disse abraçando a filha e olhando para Mariana que estava logo atrás da morena. - Vejo que trouxe uma amiga.
- Oi pai, er.. trouxe sim. Essa aqui é a Mariana, uma amiga minha, já falei dela para o senhor.
- Boa noite, Sr. Antônio, muito prazer em conhecê-lo! - Disse a loira estendendo a mão para o pai de Clara.
- Como você é bonita minha jovem, parece até modelo! - Brincou Sr. Antônio, fazendo Mariana ficar vermelha. - Vem aqui, me dê um abraço.
Sr. Antônio puxou a loira para um abraço, deixando-a ainda mais sem graça.
- Obrigada, Sr. Antônio, er... gentileza sua. - Falou a loira, depois que saiu do abraço de Sr. Antônio.
- Bom, fique à vontade aqui em casa, viu minha jovem. Todos os amigos das minhas filhas são bem-vindos aqui.
- Muito obrigada. - Respondeu a loira com um sorriso no rosto.
- Pai, onde está a mamãe? - Perguntou a morena.
- Está lá na cozinha, sua mãe não sai de lá. Leva sua amiga para conhecê-la.
- Vou levar pai. - Concordou a morena. - Vamos lá Mari?
- Vamos.
As jovens seguiram para a cozinha e encontraram Dona Ana agitada, preparando uma vasilha enorme de vinagrete.
- Mãe! Será que nem no Ano Novo a senhora sai da cozinha? - Brincou Clara.
- Filha! Que bom te ver, me dá um beijo aqui por que minhas mãos estão ocupadas. - Disse Dona Ana virando o rosto para a filha beijar.
- Ai mãe, a senhora não tem jeito mesmo. - Disse a morena dando um beijo no rosto da mãe.
- E essa jovem bonita aí, quem é?
- Mãe, essa aqui é a Mariana, aquela amiga que falei que iria trazer.
- Oh minha filha, não repare os modos, mas é um prazer te conhecer. - Disse Dona Ana levantando as duas mãos para mostrar que elas estavam sujas.
- O prazer é todo meu, Dona Ana. - Disse a loira também indo até a mãe de Clara para dar-lhe um beijo no rosto. - Pelo jeito a senhora é boa na cozinha, hein.
- Ah, a cozinha é meu lugar preferido da casa. A Clara e o Antônio vivem pegando no meu pé por isso, mas eles não ficam sem minha comida.
- Ahh, eu imagino. - Disse a loira, rindo do comentário de Dona Ana.
- Bom, vamos lá para fora então, Mari, vou te apresentar o restante do pessoal.
- Isso filha, deixe sua amiga bem à vontade aqui. Sinta-se em casa viu, Mariana.
- Muito obrigada, Dona Ana.
Mariana e Clara seguiram para o quintal e logo foram contagiadas pela alegria das pessoas que lá estavam. O quintal era muito bonito, cercado de plantas e coberto por grama. Várias mesas também haviam sido espalhadas e Dona Ana havia enfeitado as paredes com vários panos brancos e com mensagens de otimismo e paz, climatizando ainda mais a chegada do Ano Novo.
Após aquele encontro, as jovens também já estavam mais tranquilas. Mariana ficou feliz por ter sido recebida de forma tão simpática pelos pais da morena, realmente eles eram muito acolhedores. Clara sentia-se igualmente feliz, pois antes de entrar na casa de seus pais temeu que Sr. Antônio desconfiasse que fosse Mariana a moça que ela havia beijado, conforme Henrique falara. Porém, ele não demonstrou receio nenhum, assim Clara teve certeza que seu pai realmente não acreditara no que Henrique havia falado. Tudo correria bem então, Mariana seria apenas uma amiga muito querida e não haveria mais motivos para se preocupar com a desconfiança de seu pai.
Assim seguiu-se a noite, Clara apresentou a loira para todos que ela conhecia, inclusive para seus tios e tias, que ficaram todos impressionados com a beleza da jovem, fazendo com que Clara se sentisse toda orgulhosa, mesmo que sem demonstrar isso. Mariana por sua vez rapidamente se entrosou com os membros da família de Clara, conversando animadamente com todos, sem deixar escapar nenhum indício que os levassem a desconfiar da verdadeira relação que as jovens tinham.
Clara procurava sempre ficar ao lado de Mariana, pois percebera que a jovem estava atraindo os olhares de vários homens, inclusive de seu primo Alex, um grande amigo de infância, que por sorte era extremamente tímido com as meninas e ainda não havia chegado perto da loira para puxar assunto.
- É, vou ficar de olho em você viu, está chamando muito a atenção das pessoas. - Disse a morena no ouvido de Mariana.
- Ainda bem que eu não tenho que me preocupar com isso, afinal, só tem pessoas que você conhece aqui, né, e a maioria são da sua família. - Falou a loira, procurando contar vantagem.
- Nisso você tem razão. Deu sorte! - Brincou a morena.
Logo se aproximaram delas o Douglas e a Isadora, primos de Clara.
- E aí Mariana, está gostando de passar a virada de ano aqui? - Perguntou a jovem.
- Estou adorando, todos são muito simpáticos - Respondeu a loira educadamente.
- Sua família também costuma fazer festas no fim de ano? - Perguntou Douglas.
- Costuma sim. Mas meu pai se casou no início do mês e saiu em lua de mel ontem. Então...
- Ah sim, que bom que você veio passar aqui então. Er... você não tem namorado? - Perguntou Isadora.
- Er... eu...
- Não, ela está solteira. - Respondeu Clara, temendo que a loira desse algum fora. Porém logo se arrependeu ao perceber o olhar malandro de Douglas para a irmã Isadora.
- Nossa, como uma mulher linda como você ainda está solteira? - Perguntou o jovem, já todo interessado.
- Er... ah, obrigada pelo elogio. Mas eu não estou querendo namorar agora, estou muito bem assim, er... solteira.
- Hum, entendi. - Falou o jovem, ainda encarando a loira.
- Er.. Mari, vamos ali pegar um pouco de churrasco? - Falou Clara, incomodada com as discretas investidas de seu primo em sua namorada.
- Er... vamos, vamos sim. Depois conversamos mais. - Disse a loira, tentando ser simpática. Porém, Clara não gostou de sua atitude e logo que se afastaram dos dois jovens, voltou a falar no ouvido de Mariana:
- Precisava ser tão simpática assim com o Douglas?
A loira respirou fundo e pacientemente falou:
- Clara, acho que você já está sentindo os efeitos do álcool, cuidado, pois já está dando na cara que está com ciúmes.
- O-oque? Por que você fala isso, acha que eles perceberam alguma coisa?
- Não né, mas, o tempo todo você fica falando no meu ouvido. - Falou a loira baixinho. - Olha, eu adoro isso, mas sei que depois você vai ficar toda preocupada, com medo de ter dado na cara que somos um casal.
- Ai, você tem razão.
- E outra, acho melhor você parar de beber, por que o álcool faz a gente fazer coisas que certamente iremos nos arrepender depois.
- Ai Mari, não é assim também né, estou super bem, não sou de ficar tonta só bebendo cerveja.
- Então tá, você sabe seus limites. Mas só te lembrando, você já bebeu cerveja e vinho, não é uma mistura muito boa.
- Tá tá tá, relaxa, estou bem. - Falou impaciente.
Já faltava meia hora apenas para a virada do ano e as jovens continuavam conversando, ora com algum primo de Clara que fazia questão de estar perto da loira, ora com algum amigo ou amiga de Sr. Antônio e Dona Ana, que adoravam falar sobre algum tipo de problema para Clara, como se a morena pudesse resolvê-los por ser advogada.
Tudo estava indo bem até que um convidado especial de Sr. Antônio adentra o quintal e segue direto para onde estava Clara e Mariana.
- Olá Clara, está lembrado de mim? - Falou o jovem com um sorriso lindo no rosto.
- Ah, er... sim. Dr. Gustavo, não é? - Respondeu a morena um tanto sem graça.
- Exatamente, mas acho que pode tirar o "Doutor", não é?
- Er.. tudo bem, Gustavo. Er... como vai?
- Estou bem, seu pai me convidou para passar a virada de ano aqui. Quase perco a virada mesmo, estava no hospital.
- Ah, pois é.
Mariana acompanhava o diálogo dos dois, tentando disfarçar o olhar curioso sobre o médico.
- "Quem é esse sujeito? Será que não sabe ser educado e cumprimentar as pessoas?? Só vai falar com a Clara? Aff, só podia ser médico mesmo, é metido". - Pensava a loira, já irritada com a atitude do médico.
- Dr. Gustavo!!! Que bom que você veio! - Disse Sr. Antônio, se aproximando do médico.
- Ah, obrigada Antônio, acho que cheguei a tempo de pegar os fogos de artifício.
- Iiih, fica tranquilo que você vai aproveitar muito dessa festa ainda, não é Clara?
- Hã? - Disse a morena sem graça, ao ver o pai empurrando-a descaradamente para o médico. - Er... espero que sim né pai, tem muita carne, muita cerveja, se você gostar disso, certamente irá aproveitar muito.
- Então irei mesmo! - Concordou o médico.
- Er... deixa eu te apresentar minha amiga. Essa aqui é a Mariana. - Disse a morena puxando a loira para a conversa.
- Olá, prazer, sou o Gustavo.
- Prazer. - Respondeu seca, mas sem dar muito na cara que estava incomodada com a presença dele.
- Sente-se lá com a Clara, Gustavo, ela e Mariana te farão companhia, já que você não conhece ninguém. Por que eu estou cuidando do churrasco, não poderei te fazer companhia por enquanto.
- Sem problemas, Antônio, será um prazer ficar ao lado dessas belas moças - Disse, encarado a morena.
- Pois é, na minha casa só entra gente bonita. - Brincou Sr. Antônio. Já Mariana, apenas ria educadamente, mas na verdade estava cada vez mais incomodada com a presença daquele médico que Clara nunca mencionara para ela.
- Vamos sentar então? - Disse Clara, tentando sair logo daquela situação embaraçosa.
- Vamos!
- Podem ir que eu levo churrasco e cerveja a vocês.
- Muito obrigado, Antônio. - Disse o jovem dando uma piscada de olho para o pai de Clara, como se estivesse trocando algum tipo de sinal.
Os três caminharam até a mesa e Gustavo fez questão de puxar a cadeira para Clara se sentar, deixando Mariana enfurecida.
- "Aiii, eu mato esse médico metido a besta". - Pensou a loira. Clara olhava para ela completamente sem graça, pois sabia o quanto era ruim passar por aquilo.
- Ainda não te elogiei Clara, mas você está muito linda hoje.
- Er... obrigada Gustavo. - A morena respondia ao elogio, mas não tirava os olhos de Mariana, que nitidamente já estava alterada.
- Dr. Gustavo!! Que surpresa vê-lo aqui! - Disse um senhor, amigo de Sr. Antônio.
- Ah, como vai Sr. Luís? - Cumprimentou Gustavo, levantando-se da cadeira.
Enquanto o médico conversava com Sr. Luís, Mariana aproveitou-se para falar algo no ouvido de Clara.
- É melhor você dar um jeito de despachar esse sujeitinho, não estou gostando nada de ver essa cena, ele está dando em cima de você descaradamente! Vou ao banheiro e você aproveita para colocá-lo em seu devido lugar! - Disse a loira em voz baixa, antes de se levantar da mesa e seguir para dentro da casa.
Já dentro da casa, Mariana não conseguia controlar os pensamentos impacientes causados por aquela situação:
- "Que ódio!! Só podia acontecer isso mesmo, esse lance de fingir ser amiguinha é um saco!! A Clara tinha que ter a decência de pelo menos dar o fora nele." - Pensava a loira, enquanto seguia em direção ao banheiro. - "Onde é o banheiro??"
Mariana se dirigiu até a cozinha para perguntar para Dona Ana onde era o banheiro.
- Com licença, Dona Ana, onde é o banheiro?
- Ah sim minha filha, é lá no final do corredor da sala.
- Obrigada! - Disse a loira já saindo. Porém, Dona Ana a chamou.
- Mariana, vem aqui, deixa eu te perguntar uma coisa.
- Sim, pode perguntar, Dona Ana. - Respondeu a jovem, escorando as mãos na mesa.
- Vem mais perto, não quero que ninguém escute.
A loira até achou graça de Dona Ana e aproximou seu rosto ao da mãe de Clara.
- Mariana, eu vi que o Dr. Gustavo está sentado lá na mesa com vocês. E aí, você acha que a Clara finalmente vai dar uma chance a ele?
O rápido sorriso que Mariana havia colocado no rosto se desfez com aquela pergunta.
- Não sei dizer, Dona Ana, eles estão apenas conversando. Mas, acredito que a Clara não esteja muito interessada.
- Que isso menina, por que você acha isso? O moço é bonito, é médico, que jovem não iria querer um partido desses?
- Acho que ela está bem do jeito que está Dona Ana. - Falava a jovem séria.
- Não está não, conheço minha filha. Olha, queria que você ajudasse a Clara. - Falou Dona Ana respirando fundo. - Ahh Mariana, desde que ela terminou o namoro com o Henrique nunca mais a vimos com ninguém, ela precisa superar isso. Dá uma ajudinha minha filha, quem sabe ouvindo uma amiga ela não resolva voltar a namorar.
- Ai Dona Ana, vou ver o que eu faço, está bem? - Disse a loira, para tentar agradar a mãe de Clara e finalmente fazê-la parar de pedir aquelas coisas.
- Isso minha querida, ela vai te ouvir! - Falou feliz.
- Er, bom, agora se a senhora me der licença, realmente preciso ir ao banheiro.
- Ah, é claro Mariana, vá lá. Obrigada querida, você realmente é uma ótima amiga para minha filha.
A jovem saiu como um foguete da cozinha e correu para o banheiro. Fechou a porta e tentou se acalmar, pois a vontade que tinha era de tirar Clara daquela mesa, e levá-la para qualquer lugar, longe do Dr. Gustavo.
Estava se sentindo muito mal, pois percebera que os pais de Clara praticamente estavam fazendo torcida organizada para que a morena namorasse com o médico.
- "Calma Mariana, fica calma, não posso deixar transparecer meu nervosismo. Ai que situação, meu Deus. Agora eu entendo por que a Clara temia tanto que eu viesse conhecer seus pais. Mas poxa, como ela nunca me falou desse médico?? Quem é esse sujeito? Será que vou ter que aguentar a festa toda aquele engomadinho dando em cima da minha namorada?? Ahhh, mas não vou mesmo! Acho bom que a Clara se livre dele logo."
A loira estava uma pilha de nervos e acabou demorando mais do que o esperado no banheiro. Logo escutou algumas batidas na porta.
- Oi, tudo bem aí?
- Já estou saindo! - Disse a loira sem graça.
Abriu a porta e se deparou com Isadora, olhando para ela com expressão de preocupada.
- Ei Mari, tudo bem? Fiquei preocupada com você, pois vi que estava demorando para sair.
- Ai, me desculpe Isadora, eu fiquei um pouco enjoada, por isso demorei. - Mentiu a jovem.
- Nossa, quer que eu busque um remédio para você? - Perguntou a jovem, ainda preocupada.
- Não, não precisa. Muito obrigada.
- Vem aqui, vamos sentar um pouco no sofá. - Falou a prima de Clara, puxando a loira pela mão. - Nossa, você realmente não está com uma cara muito boa.
- Não, já estou bem, Isadora. Vamos voltar lá para fora.
- Não Mari, fica aqui, até por que acho que a Clara está engajada num assunto lá com o médico bonitão.
- Que bom para ela! - Falou a loira, tentando disfarçar, mas se corroendo de ciúmes.
- Ei, deixa eu te perguntar uma coisa, er... você realmente não está namorando, não é?
- Estou, er... quer dizer, estou enrolada Isadora.
- Hum, que pena, meu irmão ficou encantado com você.
- Ai Isadora, vamos lá para fora, acho que preciso respirar ar puro. - Disse a loira ignorando totalmente o comentário da jovem. Só queria ter Clara em seu campo de visão para saber se ela estava se comportando direito e se fizera o que lhe pedira: dar um fora no médico.
- Er... tudo bem, vamos. - Respondeu a jovem, estranhando o comportamento de Mariana.
As duas voltaram para o quintal e logo Douglas se aproximou da irmã.
- E ai meninas, falta pouco para a virada. - Disse o jovem alegre. Porém, disfarçadamente Isadora fez sinal negativo com a cabeça, como se estivesse falando para o irmão não tentar nada com a jovem.
- É sim, falta pouco. - Falou Isadora, tentando disfarçar os sinais que estava emitindo para o irmão.
- Ih, olha lá, a Clara está chamando a gente. - Falou o jovem. - Vamos sentar lá com eles.
- Homens, nunca percebem que estão sendo inconvenientes. - Disse Isadora no ouvido de Mariana. A loira apenas sorriu forçado e seguiu para mesa de Clara.
- Nossa Mari, você demorou.
- Er, acho que a bebida começou a fazer efeito, fiquei um pouco enjoada. - Disse a loira, para confirmara versão que havia contado anteriormente para Isadora.
- Nossa, mas você está melhor? Quer deitar um pouco no meu antigo quarto? - Perguntou a morena levantando-se da cadeira que sentava e direcionando-se para a outra cadeira, ao lado de Mariana.
- Não, já estou melhor. Foi apenas um enjoo passageiro.
- Bom, temos um médico na mesa, você não precisa se preocupar, Mari. - Brincou Isadora.
- Não precisa! Estou bem! - Respondeu, mais uma vez de forma seca.
Todos olharam para ela tentando entender sua atitude. Logo ela percebeu que estava dando na cara e tentou disfarçar.
- Er... sempre tive trauma de médicos.
- Ahh, está explicado agora! - Disse o médico. - Mas eu sou bonzinho Mariana, não se preocupe.
- Ah, imagino. - Falou a loira, dando mais um sorriso forçado.
- Pessoal, o papo está ótimo, mas já está quase na hora da virada. - Falou Douglas.
- Nossa, é verdade, faltam cinco minutos. - Respondeu a morena - Vamos levantar então, quero começar o ano em pé e festejando. Vem Mari.
A loira olhou para Clara que estendia a mão para ela e se sentiu mais alegre com aquele pequeno gesto. Pegou a mão da morena e deixou-se levar por ela até a parte central do quintal, onde não tinha cadeiras.
- Achou que eu deixaria de passar a virada de ano ao seu lado, é? - Disse Clara, no ouvido de Mariana.
- Sinceramente, por um momento eu achei sim.
- Para, amor! Não liga para o Gustavo, já dei um fora nele, ok?
- Jura?
- Preciso jurar? Eu disse que estou enrolada com uma pessoa, e pedi para ele não contar para meus pais. Pois eles têm mania de se intrometerem na minha vida.
- Ai amor, fico feliz em ouvir isso. Mesmo! - Enfatizou a loira.
- PESSOAL, FALTA UM MINUTOOO!! - Gritou Sr. Antônio, se juntando à multidão no centro do quintal.
Muitos fogos de artifício já tomavam conta do céu paulistano, logo iniciaram a contagem regressiva até finalmente gritarem em conjunto:
- FELIZ ANO NOVO!!!!
- Amor, feliz Ano novo!! -Disse a morena, abraçando forte a loira.
- Feliz Ano novo meu amor! Eu te amo muito, Clara, muito mesmo! - Falou a loira, como se estivesse pressentindo algo de ruim.
- Também te amo, meu amor! - Respondeu Clara, ainda no ouvido da jovem, sem se dar conta da tensão na voz da loira.
- Eii, não vão abraçar o restante do pessoal não?? - Brincou Isadora.
- Ahh, claro né prima. - Respondeu Clara, saindo dos braços de Mariana. - Vem aqui, Feliz Ano Novo!
- Feliz Ano Novo prima!!!
Todos começaram a trocar abraços entre si e palavras desejando um ano abençoado e de paz. Não demorou muito para Sr. Antônio puxar uma oração, silenciando as vozes que continuavam a festejar.
- Bom pessoal, queria pedir a todos que ficassem rapidamente em silêncio para rezarmos esse Pai-Nosso. Isso é uma festa, mas não podemos nos esquecer d'Aquele que nos deu a vida e que também é responsável pelos caminhos que iremos trilhar nesse novo ano. Então, que Deus possa abençoar a todos, que seja um ano iluminado e abençoado.
Logo Sr, Antônio puxou a oração e todos o acompanharam respeitosamente, até mesmo aqueles que não possuíam nenhuma crença. Mariana olhava encantada aquela atitude, pois por mais que fosse contra algumas determinações da igreja, ela não negava a existência de Deus e acreditava sim no poder da oração. Assim que terminaram de rezar, todos voltaram para suas mesas e agora, Mariana estava mais tranquila, pois o médico deixara de lado as cantadas e investidas em Clara e conversava agora com o primo da jovem.
A morena continuava bebendo cerveja e já demonstrava sinais de embriaguez, o que de certa forma preocupava Mariana, pois temia a reação de Clara.
- Clara, é melhor parar de beber. Acho que você já está ficando bêbada. - Disse a loira em voz alta, como se aquilo fosse apenas um conselho de amiga.
- Relaxa Mari, estou acostumada.
- Isso é verdade, Mari, a Clara costuma beber muito em festas de família.
- Nossa, mas seus pais não acham ruim? Eles são tão religiosos.
- Ah, eles implicam um pouco, mas é Ano Novo, relaxa!
- Tudo bem então! - Respondeu a loira com um sorriso no rosto.
Ora ou outra Clara lançava um olhar para Mariana, que entendia perfeitamente o significado. Algumas vezes também entrelaçava os pés aos da loira e até mesmo encostava levemente a mão na coxa da jovem. A loira também já havia bebido algumas cervejas, o que fora suficiente para deixá-la alegre além da conta, caso contrário, certamente evitaria aquelas demonstrações de carinho de Clara.
- Mari - Chamou Clara.
- Oi.
- Vem aqui, deixa eu te contar um segredo. - Falou a morena, chamando a jovem para lhe falar no ouvido.
A loira aproximou o ouvido da boca de Clara e escutou o que a morena queria lhe falar.
- Estou louca para te dar um beijo. E se a gente der uma escapadinha lá para meu antigo quarto?
- O que?? Será que estou ouvindo direito? Onde está minha namorada medrosa? - Respondeu a loira também no ouvido de Clara.
- Ah amor, está tudo indo bem, ninguém imagina nada, vamos, rapidinho, só quero um beijo.
- É claro que eu vou, amor, seria maluca de recusar um pedido desses, ainda mais vindo da minha namorada medrosa.
Enquanto as jovens trocavam segredos ao pé do ouvido, Sr. Antônio discretamente reparava as duas. Porém elas nem perceberam que estavam sendo observadas e pediram licença para o pessoal que estava à mesa, com o pretexto de que iriam retocar a maquiagem e seguiram para dentro da casa, acreditando que ninguém as notara.
Clara seguia na frente e Mariana a acompanhava, tentando agir normalmente, como se fossem apenas duas amigas. Logo as duas já estavam dentro do antigo quarto de Clara e a morena rapidamente fechou a porta e puxou delicadamente a loira para si, enquanto mantinha as costas sobre a porta.
- Ai, já estava louca para fazer isso. - Sem demoras a morena puxou o rosto de Mariana e lhe deu um beijo intenso, cheio de vontade.
Quanto maior a sensação de ser proibido, mais delicioso e intenso ficava o beijo.
- Como você é gostosa amor, aii, queria poder beijar você toda, agora. - Falava a morena por entre os beijos.
- Aii, não fala assim, pois já fico daquele jeito.
- Hum, será que não dá para eu sentir rapidinho? - Falou a morena maliciosa.
- A-amor... não... melhor não... é arriscado... - Disse Mariana, cheia de desejo e medo.
- Ahh, quem vai vir aqui agora, amor?
- Não amor, ai.. vai... nãooo - Dizia a loira, tentando lutar contra a própria vontade.
A morena começava a descer a mão até a coxa de Mariana, enquanto beijava o pescoço da jovem, porém, quando subiu seu olhar para a janela, que dava para os fundos da casa, avistou Sr. Antônio olhando pelo vidro com um olhar totalmente incrédulo.
Assustada, Clara imediatamente empurrou a loira, que precisou se escorar na cômoda para não cair ao chão.
- Cla-Clara, mas o que acont...
- VOCÊ ESTÁ MALUCA MARIANA???? QUER SE APROVEITAR QUE ESTOU BÊBADA?? - Gritou a morena, tentando se passar por vítima.
- Mas...
A morena correu em direção a janela, porém Sr. Antônio virou as costas e saiu em direção ao quintal.
- Clara, o que está acontecendo?? - Perguntou Mariana confusa, acompanhando a morena se sentar na cama com um olhar desesperado.
- Merda Mariana, merd*!! - Respondeu Clara completamente exaltada, balançando o corpo compulsivamente. - Não... nãoo... isso não aconteceu. NÃOOO!
- Clara, estou ficando assustada, o que aconteceu? - Perguntou mais uma vez.
- Porr* Mariana, você é cega??? Meu pai estava olhando pela janela! Que porr*a!
- O-oque?? Ai meu Deus, não...
- Como você pôde aceitar vir para o quarto comigo?? Caramba, como pude fazer isso??
- Calma Clara, não fica assim. - Disse a loira se sentando ao lado de Clara e pegando em sua mão.
- NÃO FICA ASSIM???? - Retrucou a morena se soltando das mãos da loira e levantando-se da cama. - Você não entende a gravidade do que aconteceu aqui, né Mariana?!!! Você tinha que ter me impedido de vir para cá.
- Clara, a ideia foi sua, calma, pare de pensar assim. - Mariana também começava a ficar desesperada com a reação de Clara. - Ta-talvez tenha sido melhor desse jeito, agora você e seu pai terão uma conversa sobre isso tudo.
- ACORDA MARIANA!!! Você não viu a cara que meu pai fez. Ai meus Deus, e agora o que eu faço??? - Clara levou as duas mãos à cabeça e começou a andar de um lado para o outro.
- Clara, por favor tente se acalmar, não vai adiantar ficar assim.
- Mariana, por favor não fala nada! Você não entende, meu pai me viu te beijando, que porr*! Como me acalmar???
- Mas Clara, você mesmo até pensou em vir contar para eles., agora aconteceu, é só enfrentar, já disse que estou com você.
A morena parou em frente a cômoda, apoiou as duas mãos sobre ela tentando controlar a respiração. Mariana continuava sentada na cama, olhando para ela, temendo sua reação.
- Mariana, acho melhor er... acho melhor você ir embora.
- O-o que? Mas... - Perguntou a loira com a voz tremula. Porém Clara a interrompeu antes que terminasse a frase.
- Mari, por favor vai embora, se meu pai falar alguma coisa para minha mãe está tudo acabado. Preciso reverter essa situação, eu.. er... eu vou falar que foi um engano, que... que.
- Que eu forcei a situação?? - Completou Mariana decepcionada.
- Mariana, vai embora, vou pensar no que dizer. Você aqui só está me deixando mais tensa.
- Não acredito que você vai fazer isso comigo.
- O que você quer que eu faça??? Que pegue na sua mão e proponha ao meu pai uma conversa entre nós três??? - Perguntou a jovem irritada e de forma irônica.
- Sim Clara, é exatamente o que penso. É a chance de enfrentarmos isso juntas e começarmos o ano sem mentiras, sem precisarmos nos esconder.
- CHEGA!!! NÃO QUERO OUVIR NADA DISSO, MARIANA. - Gritou mais uma vez. Por sorte o som que vinha do lado de fora era muito alto e abafava os gritos da jovem. - É impressionante como você não entende que nem tudo é fácil como você imagina. Você acha que é só conversar que as coisas se resolvem, mas não é assim!!
- Não acredito que você está falando assim comigo, Clara, eu não tive culpa do que aconteceu, pare de descontar em mim.
Mariana falava triste, porém Clara estava tão cega e assustada, que somente conseguia pensar na decepção que possivelmente causara em seu pai, justamente num momento que era para ser festivo.
- Vai embora Mari, já disse, não dificulte mais as coisas.
A loira sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e mesmo com o coração doendo tentou insistir mais uma vez para que a morena repensasse.
- Clara, eu te peço, me deixa ficar aqui e te ajudar, eu estou com você. Quero te ajudar a ficar calma.
- Mari, se você realmente quer me ajudar, por favor vai embora.
O coração de Mariana apertou tanto que mais parecia ter diminuído de tamanho.
- Tudo bem. - Disse engolindo seco. - Vou embora.
A loira se levantou da cama e caminhou incrédula em direção a porta, tentava a todo custo engolir o choro, para conseguir atravessar o quintal sem atrair os olhares curiosos. Não estava acreditando que Clara a mandara embora dali. Não estava acreditando que sua namorada, que há pouco tempo a tratava de forma carinhosa e cheia de desejos, estava agora a expulsando da casa de seus pais.
Saiu do quarto, seguiu pelo corredor da casa completamente desnorteada e chegou ao quintal, passou pela mesa onde estava anteriormente, que por sorte estava vazia, e pegou sua bolsa. Percebeu que as pessoas continuavam festejando, comprovando que o ocorrido havia sido revelado apenas para Sr. Antônio. Começou a andar em direção ao portão tentando controlar seu desespero, no entanto, ainda conseguira olhar em direção a churrasqueira e avistar o pai da morena preparando as carnes, como se nada tivesse acontecido, entretanto sua expressão era séria.
Ao chegar ao portão, Mariana se deu conta de que não havia ido com seu carro, para aumentar ainda mais seu desespero. Saiu na rua e encostou-se no muro que ficava ao lado do portão, onde as pessoas não conseguiriam avistá-la.
- "Meu Deus, por que foi acontecer isso?? Por que deixei que a Clara me levasse até o quarto?? Não podia ter feito isso, não podia!! O que vai ser agora??? Aiii meu Deus, não posso ficar sem ela." - A loira já não conseguia conter as lágrimas, era indescritível a dor que se formava em seu coração.
Mariana sentia que aquilo iria abalar completamente seu namoro e que Clara não seria forte o suficiente para enfrentar a situação. Era exatamente por isso que queria ficar ao lado dela. Porém, a morena a mandara embora e aquilo havia sido uma atitude cruel, na qual a loira jamais faria com ela.
- "Como ela pôde me mandar embora?? À essa hora ainda, nem de carro eu estou, ai meu Deus, como pode a Clara ter ficado tão diferente por causa disso??"
Mariana continuava encostada no muro, chorando, sem saber como iria sair dali, até que num susto, escutou uma voz vindo de seu lado esquerdo.
- Ei, tudo bem com você, moça? - Perguntou o rapaz.
A loira virou-se assustada e avistou um jovem alto, de cabelos cacheados e loiros, parecendo de um anjo, com o olhar preocupado.
- Er.. tudo... tudo bem. - Disse enxugando as lágrimas com as duas mãos.
- Não está não, você está chorando. - Disse o jovem, parando em frente a loira. - Não precisa se assustar, eu sou o Alex, primo da Clara. Estava fazendo uma ligação aqui fora e te vi chorando.
- Estou bem Alex, não precisa se preocupar. - Falou ainda tentando evitar que as lágrimas continuassem a cair.
- Mariana, não é? - Disse o jovem, para confirmar o nome da loira.
A loira apenas balançou a cabeça, concordando com o rapaz.
- Mariana, por que você não entra e fica um pouco no sofá ou no quarto?
- Nãoo!! - Respondeu desesperada, comprovando ainda mais o quanto estava alterada. - Eu preciso ir embora daqui, mas estou sem carro. Por favor, onde posso pegar um taxi?
- Mariana, vai ser difícil achar um taxi por aqui, a essa hora. Onde você mora? - Perguntou preocupado.
- Eu moro há uns 40 minutos daqui, perto do centro.
- Tudo bem então, eu te levo.
Mariana até pensou em recusar, mas não poderia permanecer ali, sozinha em frente à casa dos pais de Clara, assim aceitou a carona do jovem.
- Obrigada, Alex, e me desculpe fazer você sair da festa.
- Não precisa se desculpar. Você não está bem. - Disse o jovem percebendo que havia ocorrido algo sério. - Vem, meu carro está logo ali do outro lado da rua.
Os dois seguiram para o carro e Mariana continuava com o coração apertado, segurando o choro. Logo o jovem percebeu e voltou a tocar no assunto.
- Mariana, sei que posso parecer um estranho curioso, mas, se você quiser pode se abrir comigo.
- Não Alex, eu realmente agradeço, mas é um assunto complicado e pessoal. - Respondeu a loira com o olhar perdido para a janela lateral.
- Mariana, você está assim por causa da Clara, não é?
A loira desviou seu olhar da janela e encarou o jovem.
- O-oque? Por que você acha isso?
- Mari, er... posso te chamar assim?
- Pode.
- Er.. Mari, eu e a Clara sempre fomos muito próximos, eu diria até os melhores amigos. Crescemos juntos e sempre saíamos juntos. Nos afastamos um pouco depois que ela começou a namorar o Henrique, mas posso te dizer que eu a conheço bem.
- E onde você quer chegar com isso? - Perguntou assustada.
- Mari, você e a Clara não são apenas amigas, não é?
- O QUE??? De onde você tirou isso???
- Calma Mari, não vou contar nada a ninguém, se é esse seu medo.
A loira ficou muda, pois sabia que o jovem tinha certeza do que falava.
- Olha, eu estava reparando em vocês durante a festa, percebi que vocês ficavam trocando olhares e segredos, também percebi que a Clara sempre estava ao seu lado tentando evitar que algum primo nosso se aproximasse de você com segundas intenções.
Mariana voltou a chorar ao ouvir as palavras de Alex.
- Me desculpa Mari, não quero fazer você chorar mais, só quero tentar te ajudar.
- E se nós realmente formos mais que amigas?? Vai me dizer que você não tem preconceito??
- Olha Mariana, vou ser sincero com você, nunca lidei com isso, mas não tem por que discriminar vocês. Sem contar que a Clara, além de prima também é uma grande amiga, mesmo estando distante dela, eu continuo considerando-a muito.
- "Ai meu Deus, e agora?? O que falo para esse menino??" - Pensava a jovem perdida.
- Aconteceu alguma coisa séria, não é? Alguém descobriu? Meus tios descobriram?
- Alex, por favor, não insista, esse assunto é muito delicado, e... er... eu mal conheço você, me desculpe.
- Tudo bem Mari, eu te entendo, eu só falei isso por que eu imagino o que tenha acontecido.
A loira iria encerrar o assunto, porém ficou curiosa para saber do que o rapaz estava falando, até por que ele parecia mesmo conhecer bem a Clara.
- O que você acha que aconteceu?
- Acho que alguém viu vocês duas e a Clara pirou, não foi isso? - Perguntou Alex olhando rapidamente para Mariana. A loira, porém, não chegou a responder, apenas abaixou a cabeça, em sinal de tristeza. - Foi né...
- E agora, Alex?? Está tudo acabado?? - Perguntou a loira, chorando e entregando de vez que o jovem estava certo.
- Puta merd*!
- Me fala Alex, por favor, você conhece bem a Clara e os pais dela, por favor, me diga o que você acha que vai acontecer?
- Me explica primeiro, o que aconteceu?
- O pai dela viu a gente se beijando.
- Caramba!! Mas, a tia Ana viu também?
- Não, mas a Clara estava com medo do Sr. Antônio contar para ela.
- Ele não vai fazer isso, pelo que eu conheço o tio Antônio, ele vai fazer de tudo para abafar a história.
- Mas, isso quer dizer o que?
- Mari, meus tios são muito católicos, acho que você já percebeu isso.
- Já.
- Me desculpe falar assim, mas acho difícil eles aceitarem isso. É justamente por isso que a Clara deve ter pirado. - Explicou o jovem.
A loira encostou a cabeça no banco e voltou a chorar em silêncio.
- Me desculpa Mari, não quis te deixar assim.
- Não é sua culpa. - Falava com a voz embargada.
- Mari, eu só falei isso por que conheço o amor e carinho que a Clara tem com meus tios, ela sempre tentava agradar eles, em tudo.
- Ok Alex, já entendi. - Falou a jovem ríspida, tentando fazer Alex parar de falar aquelas coisas.
- Ai, estou te deixando pior, calma Mari, talvez não aconteça nada disso, quem sabe agora a Clara não enfrente a situação. Quem sabe também o tio aceite esse namoro. - Falou o jovem mais para tentar agradar a loira.
- Acho difícil ela se assumir Alex, foi a Clara que me mandou embora da festa. - Disse Mariana, como se uma lança lhe atravessasse o peito na mesma hora.
- Caramba, a Clara perde a noção das coisas quando o assunto envolve os seus pais.
- Ela ficou desesperada, fora de si.
- Você realmente gosta dela, não é?
- Sim, ela é a mulher da minha vida, Alex, por ela eu me assumi para toda minha família.
- Espera aí, você é assumida?? Meu Deus, como consegue namorar com alguém er... que- não -quer... er... se assumir?? - Perguntou o jovem, sem graça, pois percebera no meio da pergunta que estava cada vez mais piorando a situação.
- Ela iria se assumir Alex, ela até tentou.
- Hum. - Apenas murmurou o jovem, pois pelo que conhecia a morena, não acreditava que isso iria acontecer.
A loira preferiu não falar mais nada. Apenas indicava o caminho de sua casa para o jovem e continuava enxugando algumas lágrimas que insistia em descer em seu rosto. Logo chegaram ao prédio de Mariana e antes que a jovem saísse do carro, Alex disse:
- Mari, vou conversar com a Clara.
- Não Alex, por favor, não faça isso.
- Calma Mari, não vou falar sobre você, vou falar sobre ela. Até por que eu já tinha percebido que havia algo entre vocês.
- A Clara achava que você estava olhando para mim. - Falou a loira com um sorriso triste no rosto.
- Não, não... claro que não. - Disse o jovem, ficando vermelho. - Er... eu estava reparando em vocês e acabei percebendo que não era só amizade.
- Acho que a Clara não vai gostar de saber que você descobriu tudo.
- Mari, nós somos amigos, vou dar o apoio que ela precisa. Imagino que ela não tenha ninguém para conversar sobre isso.
- Nisso você tem razão, ela chegou a contar para a Manu, mas ela reagiu muito mal.
- Ela contou para a Manu????
- Aham. - Confirmou a loira, balançando a cabeça.
- Nossa, a Clara deve estar sofrendo bastante. - Falou o jovem realmente preocupado. - Conheço bem a Manu também, ela é muito moralista.
- É talvez seja melhor mesmo você conversar com ela, por que não sei quando ela vai ter coragem de me procurar de novo. - Disse Mariana, quase sem conseguir completar a frase, pois voltara a chorar compulsivamente.
- Mari, por favor, não fica assim. - Tentou consolá-la.
- Vou subir Alex, obrigada pela carona.
- Ei Mari, espera, me passa seu telefone, assim posso te ligar e contar como estão as coisas.
- Tudo bem. - Respondeu a jovem triste, pegando o celular na bolsa. - Me passa o seu também.
Os jovens trocaram os números e logo Mariana se despediu de Alex e seguiu para seu apartamento. Estava péssima, sem dúvida era o pior começo de ano que já tivera.
Tomou um rápido banho e deitou-se na cama, na esperança de controlar melhor suas emoções, porém a dor que sentia parecia aumentar a cada minuto que passava. Alex havia sido muito gentil de levá-la em casa, porém ele também conseguira a deixar pior do que estava antes.
- Meu Deus, diz que não acabou, não posso ficar sem ela, não posso. - A loira chorava muito, abraçada ao travesseiro.
Vários pensamentos lhe passavam pela cabeça e dentre eles a possibilidade de Clara desistir daquele amor. A loira estava agoniada, detestava ficar sem notícia, queria estar ao lado de Clara, ajudando-a a passar por tudo aquilo, porém, o fato de Clara ter pedido que ela fosse embora a deixava com mais medo ainda. Lembrou-se também das palavras de Clara, ao dizer que iria "reverter a situação".
- Como ela acha que irá reverter essa situação?? Falando que eu me aproveitei de sua embriaguez??? Que eu a agarrei?? Aiii, não acredito nisso. - A loira chorava de soluçar e só interrompia suas frases quando não conseguia controlar o choro. - Ela me mandou embora, no meio da madrugada, como alguém que ama pode fazer uma coisa dessas??
Aquele último pensamento a derrubou de vez. A loira agora apenas chorava, com medo de pensar novamente que o amor de Clara não era igual ao que ela tinha pela morena. Chorou até o dia amanhecer, até que não aguentou mais e mandou uma mensagem para seu amigo Fred. Até pensou que o jovem não fosse responder logo devido a hora, afinal ele certamente estaria dormindo. Porém, para sua surpresa seu celular tocara praticamente na mesma hora em que mandara a mensagem.
- Mari, meu amor, o que aconteceu? - Perguntou Fred preocupado.
- Fred, por favor, quando você puder... - A loira não conseguiu terminar a frase e começou a chorar novamente.
- Marii, o que aconteceu? Onde você está?
- Es-tou em Ca-sa... - Disse chorando e soluçando.
- Então já estou indo aí. Me espera.
Fred desligou o celular, e em menos de uma hora já estava no apartamento da loira. Pegou a chave extra de Mariana e entrou correndo, temendo que tivesse acontecido algo com a amiga. Quando chegou no quarto, viu a loira deitada, chorando silenciosamente.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Lana queen
Em: 24/09/2016
Oie de novo
O sexto sentido é uma coisa incrível, a sensação que algo ia dar errado e mesmo assim acabaram fazendo uma loucura que claro iam ser pegas...E agora??
Coração apertado com o sofrimento da Mari, e com o desespero da Clara...Fui pro outro...curiosa beijos
Resposta do autor:
Sabia que eu escrevi esse capítulo com o coração na mão?
Nossa, foi tenso demais escrever a reação da Clara, mas quando acontece algo assim, muitas pessoas perdem mesmo a razão, agem por impulso. Tadinha da Mari, mas a Clara também sofre... e sofre muito.
Beijos
lucy
Em: 07/01/2016
muito intensa a situação delas ....Clara pisou na bola.....tadinha da Mari
o primo da Clara vai dar uma forca . ctza bjs adorando o conto 😘🌷
nota Mil !!!!!
Resposta do autor em 13/02/2016:
Lucy, minha leitora querida!
Saiba que li todos os seus comentários, logo que você os mandava. Porém, somente agora tive condições de respondê-los.
Quero agradecer muito pelo carinho, por ter dedicado tempo em vir aqui me deixar um comentário em cada capítulo. Esse carinho me deixa feliz e emocionada!
Obrigada!
Grande beijo!
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Sophia L
Em: 21/09/2015
Esse capítulo foi tão forte. Mto marcante a forma como o desespero nos leva a agir em determinadas situações. Nem consigo me imaginar passando pelo o que a Clara passou aonser pega pelo pai. Mas a Mari, aí Mari, coitadinha, que sofrimento.. Lendo novamente os capítulos percebemos como esse amor é forte.
Resposta do autor:
Pois é... o desespero cega as pessoas. Não foi fácil para a Clara passar por isso, e penso que cada pessoa reage de um jeito. A Mari sofreu muito sim, mas seu amor pela Clara é algo verdadeiro e raro, por isso ela passou por cima de todo o orgulho para tentar reatar o namoro...
;)
Beijos
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