Capítulo 2. Em dias como os nossos
~ Atualmente ~
Emily nunca havia se sentido tão dominada por alguém, mas aquele olhar profundo que encontrou em meio a uma multidão penetravam em sua alma, como sempre fizera, arrepiando cada parte do teu corpo, desvendando todos os segredos, inibindo todas as suas fontes de pensamento. Naquele momento Emily jurava poder ouvir as batidas do próprio coração que alegremente se fortaleciam e aceleravam, cada parte de seu corpo queimava como fogo, e a dona daqueles olhos tão profundos e castanhos escuro finalmente sorriu ao avistar Emily.
Todas as ações de Emily se encontravam fora de controle, o ar que ela respirava era insuficiente para suprir todo o ar que os próprios pulmões precisavam. Aquele olhar aquecia seu coração de forma tão completa que preenchia todo o vazio que antes se instalava lá. Os desejos da garota lutavam pelo controle do seu corpo, e mantê-lo era uma tortura. Com as palmas da mão úmidas pelo suor do nervosismo e as pernas fracas pela tremedeira, Emily puxou todo o ar que conseguiu e o prendeu por alguns segundos na tentativa de estabilizar as emoções. Naqueles poucos segundos em que segurou a respiração ela se lembrou da frase que uma vez ouvira da própria mãe: “-- O coração jamais se esquece daquela pessoa que o fez sentir a adrenalina do amor, a palpitação e a falta de fôlego.”. Emily sabia que era a hora de enfrentar todas as confusões que seu coração havia criado no passado. Toda força que ela havia juntado durante os seis anos que passou longe foi esquecido no exato momento em que o sorriso de Anne novamente a fez vulnerável as suas vontades. Anne cortou a multidão em passos largos e acolheu Emily em seus braços.
-- Estou tão feliz que tenha voltado! -- Anne apertou o abraço, aproveitando cada segundo daquele momento.
-- Como é bom te reencontrar Anne! -- A voz fraquejou e Emily quase derramou uma lagrima.
As amigas não se viam há seis anos, e não se falavam a quatro. Quando Emily foi embora, fugindo de seus sentimentos e responsabilidades, não houve despedidas, a jovem havia passado na UFOPE em Ouro Preto e deixou a cidade sem comunicar a ninguém que não fosse de sua família.
----------------------------------------------------------------
~ 4 anos atrás ~
O celular de Emily tocou e a garota atendeu quase que instantaneamente.
-- Até que enfim! Pensei que não fosse ligar hoje. -- Emily se jogou na cama, animada.
-- Desculpe Em, mas eu estava resolvendo coisas tuas aqui.
-- Como assim coisas minhas? Eu não deixei nada pendente por ai. -- A voz de Emily mudou.
-- Tem certeza? Olha, há dois anos, quando eu disse que você e Anne me agradeceriam em um futuro eu não estava brincando. Mas você está estragando tudo! -- O tom de voz de Alice não era o de alguém que estava falando sério.
-- Você não vai vir com essa história de novo, vai? Você sabe o que aconteceu.
-- O que eu sei é que vocês deveriam conversar. Liga para ela.
Alice e Emily sempre se falavam por telefone, e Alice sempre recordava a amiga que ela precisava se desculpar com Anne por ter ido embora sem se despedir, mas a garota nunca ouvia. Naquele dia, a história não era a mesma, Alice tinha outros motivos para insistir na ligação.
-- Anne precisa de você. -- Alice que sempre era brincalhona quando tocava nesse assunto, ficou mais séria.
-- Eu também precisava dela. -- Emily pensou ser mais um dos jogos de Alice para convencê-la a ligar. -- Mas a vagab..
Alice interrompeu.
-- João Paulo morreu esta manhã. -- Emily ficou incrédula e paralisada do outro lado da linha.
João Paulo era o irmão caçula de Anne e Emily sabia o quanto a amiga era apegada com o irmão. Ela o conhecia quase tão bem quanto Anne, pois elas tomavam conta dele nas noites de terça e quinta feira, quando os pais saiam para jantar.
-- Emily, ainda está na linha?
-- Sim. -- A voz de Emily soou mórbida.
-- Você irá ligar, certo?
-- Irei. As coisas mudaram. Meu orgulho não vale o preço.
Emily deixou de lado o orgulho e a mágoa, ignorou todos os acontecimentos do passado e decidiu que ligaria para a amiga naquele mesmo dia. Ela sabia do quanto Anne precisaria do apoio da única pessoa que a conhecia tão bem. E Anne estava realmente abalada com a morte do irmão. João Paulo não apresentava sintomas de nenhuma doença. Os pais notaram que o menino não estava respirando na cama em que dormia e então correram para socorrê-lo, mas já era tarde, o corpo pequeno do garoto já estava gelado. Os legistas diagnosticaram a morte por consequência de uma parada cardíaca súbita. João Paulo sofria de Miocardiopatia.
------------------------------------------------------------------------------
~ Atualmente ~
-- Obrigada por ter vindo me ver no aeroporto. -- Emily soltou-se dos braços de Anne e observou a amiga. Um sorriso enorme se instalava no rosto de ambas.
Emily era uma ruiva de descendência holandesa, seus olhos eram de um tom azul claro. A ruiva possuía cílios compridos e pele pálida. O cabelo pouco ondulado e comprido caia sobre o ombro cobrindo parte da regata branca que ela adorava usar. As pernas torneadas e pouco volumosas estavam a amostra, Emily estava usando um dos seus shorts jeans escuro preferidos, e um tênis Calvin Klein folha cinza.
-- Eu não perderia sua chegada por nada. Só é uma pena eu ter que voltar para o escritório. -- Anne pareceu desanimada ao relembrar dos horários que tinha a cumprir, era seu primeiro mês no escritório de advocacia e ela não podia causar má impressão.
-- Teremos outros momentos para conversar.
Anne possuía uma beleza inigualável, os desenhos do rosto e da boca se aproximavam da perfeição. Os olhos e cabelos eram de um tom castanho escuro, e a pele parda sempre estava bronzeada. Anne adorava ir à praia. As curvas corporais eram moderadas, pois Anne nunca foi uma pessoa totalmente dedicada à vaidade, coisa que Emily cuidava muito bem de fazer.
-- E você não sabe o quanto eu esperei por esses momentos. -- Lágrimas se formaram nos olhos de Anne. A emoção de reencontrar a amiga lhe trazia lembranças boas, mas também lembranças ruins. -- Podemos jantar hoje à noite?
-- Essa com certeza é uma ótima ideia. Teremos mais tempo para colocar a conversa em dia. Vejo você à noite então? – Emily sorriu, já estava empolgada para jantar com a amiga.
Emily acompanhou Anne até a saída do aeroporto. Ambas teriam que pegar um táxi, embora fossem seguir sentidos diferentes. A primeira conversa entre as duas tinha deixado Emily nervosa. Durante quatro anos elas só se falavam pelo celular e pelo skype, vê-la e tocá-la enquanto conversavam foi diferente, Emily sentiu seu coração pular a cada sílaba que Anne pronunciava.
Os planos de Emily para o dia de sua chegada à Porto Alegre se resumiam em dois pequenos passeios. Ela queria rever seus amigos. Sua primeira jornada foi até a casa de Matheus, um amigo de longa data. Para sua sorte, o rapaz ainda morava no mesmo lugar. Emily bateu à porta e esperou por alguns minutos até que foi recebida por Márcia, mãe do Matheus.
Márcia era uma mulher elegante, sempre bem arrumada. O estilo de mãe de família que usa salto até dentro de casa. Sua vaidade era totalmente notável. Emily quando a viu nem sequer acreditou que ela continuava com as mesmas feições de seis anos atrás.
-- Emily, querida, quanto tempo! -- Márcia envolveu Emily em seus braços. – Como eu sei que não está aqui só para me ver, sinto-me na obrigação de lhe informar que o Matheus não está. Mas se quiser ficar para conversarmos, seria ótimo saber da sua viagem.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: