Capítulo 2
Assim que Luana entrou no quarto, Tina se surpreendeu ao ver que a amiga estava verdadeiramente encantadora. Usava um terno Armani preto com decote ousado, mostrando a blusa quase transparente, com aplicações de canutilhos mínimos furta-cor. Percebeu que, apesar de a amiga saber que lhe comprara um Prada para o evento, escolhera uma sandália linda. Fora isso, apenas uma corrente de ouro no pescoço e um relógio Bulova. E ainda havia arrumado os cabelos, deixando-os com ar descontraído, um perfeito visual lesbianchic.
– Uau, gostei... muito. Quem é você? O que fez com a minha amiga? Brincou Tina, realmente satisfeita com a aparência da amiga, sentindo algo que jamais lhe tinha passado pela cabeça. A mulher lhe pareceu incrivelmente sexy.
– Ela foi abduzida, estou só usando o corpo e as roupas dela...- Seguiu no mesmo tom. – E você está linda. - Elogiou, sendo sincera. Tina, dois anos mais nova, tinha o corpo perfeito, e sabia como ninguém explorá-lo, de forma sexy sem ser vulgar. Loira dos olhos azuis, tinha um jene se quoi, que deixava os homens babando.
– Não estou, querida, sou linda. Pode confessar que você também tem tesão por mim. – Riu, tentando disfarçar a sensação que havia tido com relação à amiga.
– Já disse, não gosto de loiras. – Brincou.
– Só diz isso pra disfarçar, porque não consegue pensar em outra loira além de mim. – Seguiu no mesmo tom, para não demonstrar que, pela primeira vez, desde que se conheciam, o comentário sobre a outra não gostar de loiras, a incomodou.
– É verdade. Vou ter de confessar... Então está pronta? Vamos? – Seguiu brincando.
– Me cheira antes, pra ver se tô com perfume suficiente. – Mas, imediatamente se arrependeu, pois, se Luana se aproximasse de seu pescoço ficaria difícil explicar o arrepio que, por certo, percorreria seu corpo, pois só de pensar já estremecera.
– Tina, está dando pra sentir seu perfume lá do elevador.Vamos.
– Você não vai nem abrir o seu presente? Fez bico, estendendo a sacola com o embrulho dentro. – Agradecendo silenciosamente que a amiga não tivesse encostado em si.
– Ah, é mesmo... meus tênis...
– Não, resolvi te comprar uma Havaianas, mas agora não vai combinar. – Deu de ombros, esperando a reação da amiga ao abrir o presente.
– São lindas, obrigada... E combinam, tanto quanto as Havaianas...
– Bom gosto é fundamental, e isso tenho de sobra. – Menos para escolher amizades, é claro. - Risos
Tina viu que Luana vestiu as sandálias e se observou frente ao imenso espelho do closed. Sentiu vontade de abraçá-la, mas conseguiu se conter. Que estava acontecendo? Devia estar ficando louca... estava desejando sentir o corpo da amiga, mas não como sempre o fizera, fraternalmente. Justo ela que sempre tivera certeza da sexu*l*idade.
– Vamos, antes que eu fique com pena de usá-las fora do apartamento. Ameaçou, olhando para as sandálias que deviam ter custado uma pequena fortuna.
– Ok, mas só se me prometer que só vai tirá-las amanhã.
– Não vai dar, como vou dirigir com elas?... a menos que você dirija pra mim.
– Nem pensar! Tá vendo, é nisso que dá... que diabos! Agora estamos perdidas, nem as lésbicas mais querem dirigir... É o fim dos tempos.
– Vamos de uma vez, ou posso mudar de ideia com relação às loiras.
– Tá. Vou aceitar esse argumento. -Virou-se para pegar a bolsa antes que Luana a encarasse e percebesse que estremecera novamente, só em pensar na possibilidade de a outra resolver cumprir a promessa. - Pode ser que uma de nós arranje alguém pra dirigir no final da noite. – Acrescentou, para não deixar evidente que estava travando uma luta com tudo que sempre acreditara.
Quarenta minutos depois, chegavam à galeria. O evento estava bem prestigiado pela mídia, que aproveitava para clicar algumas celebridades presentes.
Julia e Claire acenaram discretamente, assim que Luana e Cristina entraram, chamando-as para uma troca de impressões sobre as vestes, os frequentadores e, finalmente, sobre a exposição.
Luana, que não gostava muito da “badalação”, não se arrependeu do encontro, porque a mostra era realmente fantástica, e há tempos não privava da companhia das amigas. Apesar disso, não demorou em se afastar do grupo e explorar a exposição, interessada no trabalho.
Tina pôde observar, de onde estava conversando com as amigas, quando a fotógrafa aproximou-se de Luana,abordo-a em visível flerte. Não sabia se a amiga reconheceria a autora do painel que observava, mas que a fotógrafa provavelmente a tinha reconhecido, não tinha dúvida, pois rapidamente a monopolizou. Primeiro oferecendo uma taça de champanhe, depois levando-a para ver outra de suas obras.
O sentimento que dominou Tina naquele momento foi completamente novo e assustador, e nem tanto porque se sentira atraída pela melhor amiga, mais por ser atropelada por um sentimento ainda mais novo,o ciúme. Luana, seguindo a morenacujo corpo era de dar inveja, como se em transe, deixou Tina completamente fora de si. Se arrependimento matasse, teria caído fulminada naquele instante. Sabia que a escritora não resistiria ao charme da mulher, cujo biotipo era exatamente o que gostava.
Quando a fotógrafa finalmente se afastou de Luana, Tina rapidamente se aproximou, levando consigo as amigas, na tentativa de livrar a outra das garras da mulher com ar de arrogância.
– Parece que você vai ser obrigada a me agradecer. Disse rindo, se aproximando pelas costas da amiga. – Mas disfarce, tá dando bandeira demais. - Riu, tentando descobrir se a outra já tinha sido fisgada.
– Louca, quer me matar de susto. Estava distraída olhando os pôsteres.
– Sei, deu pra ver que era para os painéis que você estava olhando... – Sorriu, mesmo que não fosse essa sua vontade, percebendo que a outra já não podia mais ser salva.
– Nos atualizem da conversa. – Claire pediu, chegando acompanhada de Julia.
– Ora, Lu já fisgou a fotógrafa que, diga-se de passagem, é muito bonita mesmo. Se eu fosse lésbica também quereria sair com ela.
– Hum... ultimamente você tem falado tanto disso, Tina, que já estou desconfiando que está em fase de transição. - Brincou Julia.
– Tô quase pensando nisso... homem está virando bicho em extinção. Os bons, educados e gostosos estão desaparecendo, os outros,proliferando.- Respondeu sarcasticamente, fazendo com que as amigas concordassem.
– Então, depois daqui vamos pra onde? - Atalhou Claire, depois de correr os olhos pelo local sem avistar nada interessante além da própria exposição.
– Vocês não sei, eu vou pra casa.
– Sei...para a sua ou para a da Camille? – Perguntou, sem conseguir disfarçar a ironia.
–Vou pra minha e ela para a dela ou sei lá para onde. Estávamos apenas conversando. E, a propósito, dei um furo do tamanho do mundo. Não sabia que ela era a artista. Vocês nem pra me avisarem.
– Você sumiu, quando a avistamos já estavam juntas, e, aparentemente muito à vontade, flertando. - Riu Julia, arrancando risadas também das outras.
– Parem com isso. Nada a ver.
– Tá bem, mas acho melhor desaparecermos novamente, porque lá vem ela, servi-la novamente. Cuidado, está querendo embebedá-la, antes... - Tina adiantou-se, beijando a face de Luana e arrastando consigo as amigas, em direção contrária a que vinha Camille, antes que cometesse um ato de completa insanidade e saísse arrastando Luana dali, sem poder explicar-lhe a razão.
Tendo se afastado com Julia e Claire, fez questão de não perder de vista a amiga, mesmo não podendo fazer nada para impedir o que já imaginava que iria acontecer, precisava ao menos enfrentar aquele tornado de sentimentos até o fim. A morena, por certo, tinha perguntado à escritora quem ela era, porque ambas olharam em sua direção, e pôde entender que Luana estava se justificando, com certeza dizendo que eram velhas amigas.
Viu quando a fotógrafa pegou Luana pelo braço e atravessou a galeria, para apresentá-la a um grupo de pessoas, no qual uma, pela semelhança física, devia ser sua mãe. Depois, deixou a escritora conversando com o grupo e se afastou para cumprimentar alguns jornalistas e colecionadores, mas sem deixar de observá-la de longe.
Como depois de um tempo, Luana parecia ter esquecido que viera à galeria não para apreciar as obras, ou a fotógrafa, mas para se reunir com as amigas, Tina insistiu com Julia e Claire que deviam resgatá-la do grupo, onde parecia ter ficado retida.
– Estamos indo... Anunciou Julia. – Imagino que não vá mesmo conosco. Dessa vez vamos perdoá-la, mas amanhã vamos querer relatório completo do restante da noite. - Completou, sussurrando ao ouvido de Luana.
– Para onde vão?
– Ainda não sabemos...vamos rodar os bares para decidir onde terminar a noite.
- Tem certeza que não quer vir conosco? – Tina ainda insistiu, antes de se dar por vencida. Obtendo como resposta apenas um sorriso.
Despediram-se do grupo e de Luana, lançando-lhe olhares insinuantes, como se soubessem onde ela terminaria a noite.
Já sem muita vontade, Tina acabou acompanhando as amigas no tour pela noite paulista, chegando em casa quase de manhã, com uma dor de cabeça infernal, depois de ter misturado vodka e uísque. Não queria nem conseguia pensar em nada, muito menos em Luana, então, decidida a deixar os problemas para resolver no dia seguinte, jogou as roupas no chão do closed, tomou um banho rápido, e caiu na cama disposta a simplesmente se desligar do mundo.
Como tinha abusado da bebida, passou a noite se revirando. Precisou levantar para beber água. Depois teve pesadelos. Em um deles via Luana entrar mar adentro, sem que conseguisse fazê-la voltar, nem conseguia alcançá-la, depois de também ter se jogado no mar. Em outro, Ricardo aparecia gargalhando, como se fosse de algo que ela dissera. Por fim, teve um sonho erótico com a amiga, no qual a outra a despia, enquanto se agarrava aos seus cabelos curtos, revoltos, para que a beijasse ainda mais, e a possuísse sem demora.
Acordou num sobressalto, molhada, e completamente suada. Tirou a máscara de dormir, e olhou para o relógio sobre o criado mudo, ainda eram oito horas. Precisava dormir, do contrário passaria o restante do dia de ressaca. E como na segunda teria a agenda cheia, precisava estar descansada.Mas, por mais que tentasse, não conseguiu. A lembrança da cena de Luana sendo arrastada pelo braço, pela fotógrafa, invadia seus pensamentos, fazendo com que se contorcesse ainda mais na cama.
Duas horas depois, irritada, acabou se convencendo de que não conseguiria voltar a dormir, e que precisava fazer algo a respeito, antes que enlouquecesse. Então, pegou o celular e ligou para Luana, esperando tocar até cair na caixa postal. Terminou desistindo, sem deixar recado, simplesmente porque não sabia exatamente o que dizer.
Ligou a televisão do quarto, zapeando pelos canais até que encontrou um filme antigo,que decidiu rever. Deixou-se ficar atirada na cama até o estômago dar sinal de fome. Sem coragem de preparar algo, descobriu que ainda tinha em estoque refeição pronta no congelador, exigindo apenas que se desse o trabalho de colocar no micro-ondas.
Fim do capítulo
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