Capítulo 22
Quando eu estava saindo de um quarto de um paciente encontro com a Rafa no corredor.
-- Rafa, o que você esta fazendo aqui? – eu
-- Você esta a 3 dias sem ir pra casa e ainda acha que não tenho direito de vir aqui pelo menos trazer seu almoço? – Rafa
-- ooun que fofa, ta com saudade de mim já? – eu
-- Deixa de ser chata e vamos la almoçar. – Rafa
-- Que horas são? – eu
-- 12:45 – Rafa
-- Meu Deus, eu preciso ir. – eu
-- Mas e o almoço que eu trouxe? – eu
-- Desculpa Rafa, é que eu tinha outros planos para o almoço hoje e por sinal estou muito atrasada. Depois te conto tudo. – eu
-- Vai pra casa hoje né? – Rafa
-- Acho que sim. – eu
-- Acho nada, se você não for eu venho aqui te buscar. Você precisar descansar. – Rafa
-- Ta bom Rafa, logo nos falamos, preciso mesmo ir, beijo. – eu disse saindo correndo
Sai correndo para a cantina. Será que ela ainda vai estar la?
Quando eu estava chegando ela estava se levantando da mesa para sair.
-- Beatriz? – eu
-- Achei que você não viesse mais.
-- Me desculpe, tinha varias pessoas para atender. Que irresponsabilidade a minha te convidar para o almoço e chegar atrasada.
-- Imagina, eu sei que você estava ocupada, nem se preocupe.
-- Você já almoçou?
-- Não, fiquei aqui pensando, não estou com fome.
-- Mas agora vai comer. – eu disse saindo
Fui até o restaurante e fiz dois pratos e voltei para a mesa.
- Nossa, nem minha mãe me faz comer tanta salada e verduras. – Beatriz
-- Pois vai comer, é muito bom.
Almoçamos e conversamos muito. Eu adorava estar na companhia dela, ela me trazia uma calma, e todo o cansaço que eu tinha passava quando estava com ela.
-- Beatriz, eu preciso ir. – eu
-- Pode me chamar de Bia, você me chamou assim ontem. Eu prefiro.
-- Ta bom, Bia ^^ Nos vemos depois. – eu
Voltei aos meus afazeres querendo ficar a tarde toda ali com ela, mas não podia.
O dia passou devagar, as vezes eu passava na frente do quarto da Natalia e a Bia estava la olhando pra ela. Preferi deixa-la com a menina, deviam ser muito amigas, a Beatriz parecia gostar muito dela.
No fim da tarde fui até la pra ver como estava a Natália e la estavam os pais dela.
-- Doutora, que bom vê-la. Pedimos informações a enfermeira, mas ela não sabia nos dizer como nossa filha estava. – senhora
-- Boa Noite, foi pra isso que vim até aqui, pra ver como ela esta. Mantenho a enfermeira de olho nela o dia todo pois tenho outros pacientes a atender, mas ela não sabe lhes dar detalhes do caso. Bem a Natália continua estável e só aparenta melhoras nos machucados e nas fraturas. – eu
-- Achei que a senhora fosse dar atenção total para a nossa filha. – senhora
-- Senhora, eu bem que gostaria, mas tenho outros pacientes a atender. – eu
-- Então, gostaríamos de transferir ela para uma clinica particular onde manteremos médicos com mais experiência cuidando 24 horas dela. – senhor
Nessa hora a Beatriz entrou no quarto e ouviu o que o senhor tinha falado.
-- Senhor, eu já lhe falei sobre o risco de transferi-la nesse estado. – eu
-- Eu também sou médico e sei dos riscos – senhor
-- Mas senhor Rafael, a Doutora Camila esta fazendo um ótimo trabalho. Se não fosse por ela a Natalia nem estaria mais aqui com a gente. Ninguém vai cuidar tão bem da Nat quanto ela. Eu sei que não tenho direito de pedir isso para o senhor, mas eu confio no trabalho da Drª Camila e sei que a Natália esta bem cuidada aqui.
Os dois ficaram abismados com a garota e concordaram em deixa-la aqui mesmo. Logo sai da sala e os deixei com a garota.
Quando já estava fora do quarto alguém segura meu braço.
-- Bia, obrigada por me defender la dentro, é ótimo saber que você acredita no meu trabalho. – eu
-- Eu confio muito em você Doutora, e sei que com você cuidando da Nat, ela se recuperará mais rápido. – Bia
-- Obrigada pela confiança Bia. Bem, eu preciso ir agora, meu chefe me chamou pra conversar, acho que dirá se consegui a vaga aqui ou não. – eu
-- Com certeza vai conseguir. Boa Sorte la. – Bia
-- Obrigada, depois nos falamos. – eu
Como meu chefe havia pedido fui até a sala dele, já estava anoitecendo.
-- Com licença. – eu
-- Drª Camila, ia mandar lhe chamar agora mesmo, entre.
Me sentei e ele começou a falar
-- Recebi informações de que a senhora havia levado alguém para o quarto dos médicos, é verdade?
-- É verdade sim senhor, mas não é nada do que o senhor esta pensando. A garota é acompanhante de um dos pacientes e estava dormindo em uma cadeira desconfortável e como ninguém nunca vai naquele quarto eu ofereci para que ela descansasse.
-- Mas você sabe que isso é proibido, imagine se deixássemos todos os acompanhantes de pacientes dormirem la.
-- Eu sei senhor, isso não vai mais acontecer.
-- Com certeza não vai, terminei de avaliar os residentes e Escolhi o Mauricio, você esta dispensada.
Não estava acreditando no que eu estava ouvindo, aquele idiota me entregou e ainda ficou com a vaga.
-- Ok, obrigada pela oportunidade senhor.
Sai daquela sala rápido e fui em direção ao estacionamento. Só queria ir pra casa descansar e pensar no que fazer agora. Nisso alguém me chamou.
-- Doutora Camila?
-- Sim.
Era a Beatriz. Quem eu mais e menos queria ver naquele momento.
-- Você esta indo pra casa?
-- Sim.
-- Podemos almoçar amanha? Sem atrasos rsrs
-- Me desculpe Beatriz, mas amanha eu não estarei aqui. - eu
-- Ganhou folga? Merecido né.
-- Não, eu não consegui minha vaga e fui dispensada. Mas não se preocupe, vão colocar um ótimo médico para cuidar da sua amiga. – eu
-- Não acredito, foi por que eu estava naquele quarto não foi?
-- Não, provavelmente não foi só por isso, mas ele soube disso e usou como desculpa.
-- Eu nem sei o que te dizer, estou me sentindo tão culpada.
-- Não se sinta, talvez eu não merecesse a vaga mesmo.
-- Você era a única que merecia essa vaga, você esta aqui a dias sem comer e dormir direito trabalhado direto, salvou varias vidas e trouxe uma pessoa que já haviam desacreditado a vida também. Eu já sei o que fazer.
-- Onde você vai. – eu
-- Espere ai.
Fiquei no estacionamento triste, liguei pra Rafa e contei que não havia ganhado a vaga e ela ficou ainda mais triste por mim, ela sabia mais do que ninguém do quando eu queria e estava lutando por essa vaga.
Depois de mais de meia hora a Beatriz volta ao estacionamento.
-- Venha, tem uma pessoa que quer falar com você.
Eu a acompanhei e fomos até a sala do meu chefe, onde o Mauricio estava também.
-- Sentem-se. – chefe
-- Drª Camila, eu já havia lhe falado sobre minha decisão, mas essa mocinha esteve aqui e me contou coisas que eu não sabia. Quero fazer uma pergunta a vocês. Quantas horas você esta de plantão Mauricio? – chefe
-- 48 horas senhor. – Mauricio
-- E você Camila? – chefe
-- Um pouco mais. – eu
-- Certo. Até onde fui informado, a senhorita esta a mais de 72 horas aqui, estou enganado? – chefe
-- Não senhor. – eu
-- E também agiu contra o protocolo tentando reanimar uma pessoa com o desfibrilador mesmo ela estando mais de 5 minutos sem os sinais, estou enganado? – chefe
-- Não senhor. – eu
Nesse momento o Mauricio já deu um sorrisinho de vitória.
-- Mesmo sabendo que isso é contra as regras, a senhorita hoje fez uma coisa que alguns chamam de milagre, outros chamam de ciência. E se não fosse pela sua teimosia teríamos uma pessoa morta e não uma paciente hoje. Sabendo disso, vejo que a senhorita cumpre seu juramento de preservar a vida e não só tenta puxar meu saco. A vaga é sua Drª Camila. – chefe
Olhei pra Bia e ela estava com um sorriso lindo, não acreditei que ela tinha ido falar tudo aquilo pra ele, mas estava muito feliz por ter conseguido a vaga.
-- Muito obrigada, o senhor não vai se arrepender de me dar essa vaga. – eu
-- Tenho certeza que não, precisamos de médicos como você. Meus Parabéns. Agora vá pra casa e tire o dia de amanha de folga e volte depois pronta. – chefe
-- Com certeza, obrigada mais uma vez. – eu
Saímos da sala e o Mauricio ficou la com cara de tacho ainda tentando convencê-lo a ficar com a vaga.
-- Bia, não acredito que você falou com ele. – eu
-- Seria muito injusto eu não fazer nada, e mais injusto ainda ele dispensar você, perderiam uma excelente médica. – Bia
-- Obrigada, nem sei como lhe agradecer. – eu
-- Esse foi o meu agradecimento pelo que você tem feito por mim, na verdade isso não paga nem um terço do que você fez por mim. – Bia
-- É sempre um prazer te ajudar. Eu preciso ir pra casa agora, você vai ficar aqui essa noite de novo? – eu
-- Eu até que queria, mas minha mãe pediu pra que eu fosse pra casa. – Bia
-- Então entra ai que te dou uma carona. – eu
-- eer, não preci.... quer saber, eu aceito. – Bia
-- Então vamos...
Eu que sempre fui comunicativa, estando ali sozinha com a Bia fiquei muda. Eu queria muito conversar com ela, adorava sua voz, mas eu não conseguia dizer nenhuma palavra sequer.
O que isso Camila? 5 anos de faculdade, milhares de seminários apresentados pra varias pessoas, apresentação de TCC pra Doutores e você com vergonha agora? O que há comigo?
Fim do capítulo
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