Capítulo 20
CAMILA
Olá, me chamo Camila Toledo. Sou médica formada recentemente e estou tentando uma vaga pra fazer meu internato em uma grande hospital.
Não namoro, mas já fui noiva de um cara (Mauricio) e namorei por quase um ano com uma garota (Rafaela).
O Mauricio era meu amigo desde de sempre, e sempre rolou aquela paixãozinha de criança, mas depois que conheci a Rafa na faculdade as coisas mudaram e comecei a ver que eu não gostava tanto de homens como eu imaginava.
A Rafa foi minha primeira e única mulher, ela era de mais. Super atenciosa, extrovertida, engraçada, inteligente, tudo que eu adorava em uma pessoa.
Namoramos por quase um ano, e íamos morar juntas, mas começamos a brigar o tempo todo e notamos que o namoro não ia durar muito devido nosso conflito de personalidades e diferenças de opiniões.
Decidimos terminar e ficar só na amizade mesmo, e uma bela amizade. A Rafa hoje é meu porto seguro, minha melhor amiga.
No fim fomos morar juntas, como amigas. Não vou dizer que as vezes não batia uma recaída, mas ela as vezes arruma uma namorada e eu com essa história de fazer o internato, não tenho tempo nem pra pensar em sair de casa, quem dirá em arrumar namorada.
Em um domingo eu estava no hospital já há 48 horas direto, eu precisava trabalhar muito pra conseguir uma vaga naquele hospital.
Estava a base de café pra me manter acordada até que começa um tumulto de ambulâncias chegando com vários feridos.
Havia ocorrido um grava engavetamento na avenida principal, com muitos mortos e feridos.
Rapidamente os médicos de plantão correram para atender os pacientes que chegavam nas ambulâncias. Me dirigi rapidamente a uma delas para começar os primeiros atendimentos e quando abri a porta havia uma garota desesperada chorando sobre o corpo de outra garota que estava muito machucada e aparentemente em óbito.
O socorrista tentava fazer a massagem cardíaca, afim de reanima-la, sem muito sucesso.
Depois de muito tentar ele me olhou e fez um sinal negativo com a cabeça.
-- Não adianta. – ele
-- NÃÃÃÃÃÃO. Doutora faz alguma coisa, ela não pode morrer – a garota gritava suplicando
-- Menina, não tem mais o que ser feito. – Socorrista
Vendo aquela cena dramática, meu instinto foi mais forte.
-- Conduza ela até a emergência, RÁPIDO!
-- Mas Doutora, ela já esta a 5 minutos sem os sinais. – Socorrista
-- Se o senhor não acredita, eu acredito nela. – eu disse levando a maca até a emergência.
A garota me seguia desesperada, quando fui entrar na sala de reanimação tentaram impedi-la de entrar.
-- Senhorita, terá que aguardar aqui. – segurança
-- Não, eu vou com ela. Não vou deixar ela aqui sozinha.
-- Deixa ela, eu me responsabilizo.
Como todos os outros médicos estavam ocupados com os acidentados que chegavam nas ambulâncias eu estava ali sozinha com uma garota que estava a 5 minutos já morta e outra desesperada.
Para uma interna recém formada isso seria apavorante, mas meu objetivo era a vida daquela garota.
Rapidamente comecei os procedimentos de reanimação e com o desfibrilador comecei a reanimação de choque.
-- Afaste-se – eu disse para a garota
1, 2 choques e nada.
3,4 e 5 choques e nada.
-- Doutora, não deixa ela morrer.
Aumentei a voltagem e tentei mais uma vez.
Mais 3 choques e nada, já era tarde de mais, não tinha mais o que ser feito.
-- Eu sinto muito.
-- Não, tenta mais uma vez, por favooor. – menina
-- Não adianta garota, ela já se foi, eu sinto muito. – eu
A garota desconsolada abraçou a garota morta, chorava e gritava:
-- Naaat, acorda, não me deixa. – - menina
Mesmo com todo meu treinamento psicológico para não me afetar com os pacientes eu agi contra o protocolo e fiz uma ultima tentativa de reanimação.
-- Eu posso perder minha vaga nesse hospital, mas vou tentar mais uma vez, afaste-se. – eu
Tentei mais uma, duas, e na terceira vez um sinal de batimento se deu no monitor.
E então, um milagre se fez.
A garota estava a 7 minutos sem nenhum sinal vital e volta a vida.
-- Eu não acredito.
-- Ela ta vivaa, eu sabiaaa. – a garota gritava e chorava desconsolada
Rapidamente chamei um enfermeiro que a levou para tomar outros cuidados e leva-la a um leito.
A garota queria acompanha-la, mas dessa vez eu a impedi.
-- Agora você vai ter que esperar, ela vai ficar bem, depois você pode vê-la no quarto.
-- Obrigada por arriscar seu emprego, você salvou a vida dela.
-- Estudei 5 anos pra isso. Salvar vidas. Você é parente dela?
-- Sou amiga, já liguei pros pais dela. – menina
-- Você esta bem? Estava no acidente também? – eu
-- Não, eu estava passando por perto e a vi ser atropelada e vim junto com ela. – menina
-- Precisa de alguma coisa? – eu
-- No momento só ficar la com ela. – menina
-- Bem, isso você não pode. Mas quando ela estiver liberada para visitas eu venho te chamar, ok?
-- Ta certo.
-- Eu preciso ir, tem muita gente ferida por aqui. Se precisar de alguma coisa, procure pela Drª Camila Toledo. – eu
-- Obrigada Drª Camila. – menina
-- E você, como se chama? – eu
-- Beatriz.
-- Ok, Beatriz. Aguarde aqui que trago noticias da sua amiga. – eu
-- Ok, obrigada mais uma vez.
Sai de la com um sentimento inédito. Trouxe a vida de uma garota de volta por pura teimosia.
Fui ajudar no atendimento das outras pessoas e depois fui ver a amiga da Beatriz.
Cheguei no quarto dela e um médico estava la.
-- Como ela esta? – eu
-- Estável, está em coma. O trauma no crânio foi grave. Você é a médica que a atendeu? – Dr.
-- Sim, sou eu. – eu
-- Você é interna né? Vou te deixar responsável por ela. Qualquer duvida me procure. – Dr.
-- Ok. Obrigada. – eu
Depois de um tempo fui até a sala de espera e la estava a Beatriz e mais um casal. A mulher chorava compulsivamente e o homem tentava consola-la, mas estava se segurando pra não chorar também.
-- Doutora, como ela esta? – Beatriz
-- A situação dela é grava, mas estável. Ela teve um traumatismo craniano e algumas fraturas nas pernas, braço e tórax. A fratura no tórax resultou em um perfuramento do rim. Vim pedir a autorização dos pais para a cirurgia. – eu
-- Mas quando ela vai acordar? – senhora
-- No momento não posso lhes dizer quando, ela esta em coma.
-- Ai meu Deus Rafael, a nossa menina em coma. Eu não vou aguentar se acontecer algo a ela. – senhora
-- Calma Ana, ela vai se recuperar. Ela é forte. – Senhor
-- Doutora, gostaríamos de fazer a transferência dela para um hospital particular. – Senhor
-- Senhor, uma transferência nesse momento pode ser muito perigoso para o estado dela. Cuidaremos muito bem dela, fique tranquilo. Preciso que assinem aqui para autorizar a cirurgia. – eu
-- Ok, quando podemos vê-la? – Senhora
-- Depois da cirurgia eu venho avisa-los do estado dela e quando podem entrar. – eu
-- Obrigada. – Senhor
Notei que agora a Beatriz estava um pouco mais calma, não falava muito e parecia meio envergonhada em estar ali. Ficou só sentada na cadeira chorando e ouvindo a conversa.
Cheguei mais perto dela e me agachei na sua frente.
-- Você esta bem? Precisa de alguma coisa? – eu
-- Eu preciso da Nat bem, você pode fazer isso por mim? – Beatriz
-- Eu vou cuidar dela, eu prometo. Me promete que vai ficar bem? – eu
-- Eu vou tentar. – Beatriz
-- Ok, vou la preparar a cirurgia dela. Trago noticias. – eu
Fui ao centro cirúrgico e acompanhei toda a cirurgia que foi muito delicada e demorada.
A cirurgia durou 5 horas. A garota foi levada ao quarto e eu fui falar com os pais.
-- Ai Doutora que demora, aconteceu alguma coisa? Como ela esta? – Senhora
-- A cirurgia foi um sucesso. Foi delicada, mas tudo correu como esperávamos. Ela já esta no quarto. – eu
-- Podemos vê-la? – Senhor
-- Claro, só pode entrar uma pessoa de cada vez, mas vou abrir uma exceção para vocês. – eu
-- Obrigada Doutora. – Senhora
Notando que a Beatriz não estava ali perguntei:
-- Onde esta aquela menina que estava com vocês? – eu
-- A Beatriz? Ela foi na rua respirar um pouco, vou la avisa-la que vamos entrar. – Senhora
-- Não precisa, eu mesma a encontro e aviso. – eu
-- Ok, obrigada mais uma vez. – Senhora
Fui em direção à rua. O Hospital ainda estava tumultuado de pessoas a procura de parentes envolvidos no acidente e todos vinham me pedir informações. Quando finalmente cheguei na rua, a vi sentada em um dos bancos.
Com todo esse tumulto eu não tinha reparado o quanto ela era linda. Aqueles cabelos pretos lisos e ondulados nas pontas, seu jeito próprio, simples, mas contagiante. Parecia ser uma garota alegre, extrovertida, mas uma tristeza enorme nublava seus olhos.
-- Posso me sentar aqui com você? – eu
-- Doutora Camila, sente-se, por favor. Alguma noticia? Como foi a cirurgia? – Beatriz
-- A cirurgia foi ótima, mas ela ainda esta estável e em coma. – eu
-- Mas quanto tempo ela vai ficar assim? – Beatriz
-- Isso eu não tenho como te dizer. Ela pode acordar amanha, mas pode ficar assim por dias, meses e em alguns casos até por anos. – eu
Nesse momento ela voltou a chorar.
Muito bem Camila, ótima maneira de consolar a menina falando que a amiga dela pode ficar anos em uma cama de hospital, parabéns ¬¬
-- Hey, calma. Ela vai melhorar. Eu vou cuidar dela, mas quero que você fique bem também. – eu
-- Como eu posso ficar bem sabendo que ela esta la daquele jeito? Nem pode me ouvir pra pedir desculpas. – Beatriz
-- Vocês tinham brigado? – eu
-- Eu fiz muita coisa errada, e não da pra acreditar que ela esta dessa maneira e com raiva de mim. – Beatriz
-- Impossível alguém ter raiva de você. Você é um doce. – eu
-- Obrigada, mas não sou tudo isso não. – Beatriz
-- Olha, sabia que em alguns casos quando a pessoa esta em coma ela pode ouvir as pessoas em volta dela? – eu
-- Sério? Mas como? – Beatriz
-- Milagres da ciência. Tem muitos médicos que não acreditam nisso, mas eu acho possível. – eu
-- Eu posso vê-la? – Beatriz
-- Claro, os pais dela estão com ela agora. Depois você entra ta bem? – eu
-- Ta bom *-*
-- Você tem um sorriso lindo sabia? Deveria usar mais vezes. – eu
Ela ficou constrangida com o meu comentário e depois até eu fiquei, saio tão impulsivo. Essa garota era linda, o sorriso dela me desconsertava.
Fim do capítulo
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