“O diálogo que leva ao amor dá a cada um a vontade de se arriscar, não surge da sedução e do charme, mas da coragem de se apresentar por nossas falhas, feridas e perdas.” (Contardo Calligaris)

 

            - Eu não to acreditando que tô ouvindo isso de você Cecília – Eu disse olhando-a realmente descreditada de sua atitude.

            - Por que não? – respondeu com o cenho franzido.

            - Pelo amor de Deus amor! – cheguei perto dela e peguei a gargantilha na mão – Você acha o que Ana? Que eu to guardando isso pra ficar lembrando dela? – puxei o envelope de sua mão com uma certa raiva me subindo e olhei dentro retirando o resto do que tinha nele. – Também acha que eu fico pensando nela? – entreguei a foto que estava dentro e ela olhou reconhecendo a garota como a ex namorada de Júlia. Ana pareceu render-se ao olhar a foto. E me olhou demostrando arrependimento por suas palavras.

            - Desculpa – disse sentida – Eu... – ficou em silencio me olhando com uma cara de culpa.

            - Amor vem aqui! – peguei a foto da mão dela e coloquei-a junto da gargantilha sobre a cômoda, e puxei Ana para sentar comigo na cama. – Por que tá agindo assim? – perguntei – E seja sincera comigo!

            - Eu não gostei do seu jeito ontem – ela disse olhando em meus olhos. – Da forma que agiu quando eu disse que a Flá cuidaria bem da Júlia. Você me olhou de um jeito que parecia estar com ciúmes dela. – disse e eu dei um meio sorriso tocando seu rosto.

            - A única pessoa que desperta ciúmes em mim é você Ana Cecília. – disse carinhosa – Por que não me falou isso ontem quando estávamos vindo pra casa?

            - Eu não quis parecer aquela maluca de ciúme sabe... mas acho que eu acabei fazendo isso né? – disse baixando o rosto e eu a fiz olhar para mim.

            - Eu te acho linda com ciúmes de mim! – disse e ela sorriu de canto de boca – Ana quando você voltou pro Brasil e você e Júlia tiveram aquela conversa ela veio pra minha casa ao anoitecer trazer a Vavá. Ela estava com isso na bolsa dela e se está na minha gaveta é porque ela deve ter guardado ai. Ela nem deve se lembrar que isso está ai. Eu ainda não devolvi as coisas dela amor! Mas se isso te incomoda posso ver o que ainda tem dela por aqui e entrego para ela.

            - Tudo bem! – respondeu – Não precisa ter tanta pressa assim – disse dando um sorrisinho. – Me desculpa? Por ter feito essa cena ridícula de ciúmes?

            - Claro que desculpo loirinha. Mas eu quero te pedir uma coisa – disse segurando sua mão – Se por um acaso você se incomodar outra vez com alguma atitude minha, promete que conversa comigo antes de tirar qualquer conclusão precipitada?

            - Eu prometo – respondeu tocando meu rosto.

            - E nunca se esqueça de uma coisa. Você... – disse colocando meu dedo indicador sobre o seu peito - é a única mulher na minha vida Ana. É a única que eu amo – disse dando um selinho nela – Que eu desejo – dei outro – e com quem eu vou passar o resto da minha vida! – Selei nossas bocas, dessa vez aprofundando nosso beijo. 

            - Eu te amo mais que tudo! – ela disse de olhos fechados, abrindo-os lentamente e me dando de presente aquele brilho encantador que emanava de seu olhar quando ela se declarava para mim. Aquele olhar dela falava mais que todas as palavras do mundo.

            - Vem jantar! – eu disse. – Valentina quer que a gente assista Frozen com ela e eu disse que iriamos só depois de comer.

            - Então vamos logo! – ela me olhou e levantou da cama colocando short, depois estendeu sua mão para mim – Não quero deixar nossa filha esperando – disse fazendo meu coração disparar com suas palavras. – segurei sua mão e seguimos juntas até a sala. Valentina estava sentada mexendo nos dvds de filmes.

            - Filha vamos comer – Chamei-a. - Depois a mamãe põe o filme pra gente ver!

            Jantamos num clima feliz. Eu contei para Ana sobre minha conversa com a professora da Vavá e expliquei a ela todos os detalhes que Camila havia me dado. Também contei sobre a receptividade de Camila ao saber da noticia, e que ela tinha me garantido que não permitiria que nenhuma criança na escola usasse aquilo de modo maldoso contra nossa pequena. Apesar de não conhecer tão bem Camila, Ana já gostou dela de cara só pela atitude da professora. Ana também me contou sobre sua conversa com Júlia, sobre o restaurante, sobre o que falaram de Flávia, e a única coisa que não gostei foi o fato de ouvir minha noiva me contar que a descarada da Cintia se insinuou pra cima dela.

            - Pois ela que se atreva a olhar pra você assim outra vez que eu vou mostrar a ela o que é perfeição! – eu disse ao sairmos da mesa e seguir até a sala e Cecília gargalhou me abraçando.

            - Ciumenta linda da minha vida! – beijou meu pescoço – Toda essa perfeição aqui é sua amor! – ela sentou-se no sofá ao lado de Vavá e eu fui até o dvd, coloquei o filme e voltei para sentar-me ao lado de Cecília

            - Eu quelo fica no meio! – Valentina disse passando pelo colo de Ana e entrando entre nós duas. Nos afastamos dando espaço para ela que jogou a cabeça no colo de Ana e os pés sobre as minhas pernas. Com o controle remoto, dei play no filme.

            -  Tá preparada pra ter ela entre nós duas pro resto da vida? – perguntei a Ana baixinho, com a cabeça escorada no sofá e os olhos fixos em seu rosto.

            - To até pensando em começar a providenciar mais um... – disse com o olhar repleto de significados – O que acha da gente começar a praticar mais tarde? – perguntou com aquele sorriso cafajeste dela.

            - Acho uma ótima ideia – respondi baixinho. Estendi meu braço por cima do sofá e ela fez o mesmo com o dela, entrelaçando nossas mãos. Ficamos assim por um bom tempo.

            - Mamãe eu posso ter um Olaf pra mim? – Vavá perguntou em certa parte do filme.

            - Eu vou ver se acho um pra você amor! – respondi.

            - Sabe o que devíamos fazer? – Ana disse chamando minha atenção. – Deviamos levar ela pra Disney. O que acha da idéia? – esperou minha resposta.

            - Acho uma ótima ideia. Podemos programar uma viagem pra nós três. – respondi e ela abriu um sorriso contente - Eu precisarei tirar o passaporte dela e o nosso visto.

            -  Que tal programarmos pra depois do casamento? – ela fazia um carinho suave nos cabelos de Valentina e seus olhos olhavam para a televisão. – Escolhe uma data pra me fazer a mulher mais feliz do mundo! – voltou a me olhar. Fechei meus olhos relembrando algo por um momento e sorri com a lembrança.

            - Dia 07 de agosto! – disse apenas.

            - É uma data perfeita! – ela repetiu com um sorriso bobo no rosto – Eu adoro dia 07 de agosto. Foi o dia que em que beijei você pela primeira vez. – sorri confirmando.

            - Está marcado então! Agora preciso ver com a Carla se consigo alterar minhas férias pra podermos viajar.

            - Quando serão suas férias amor?

            - Estavam agendadas pra dezembro, junto com as férias da Vavá. Vou tentar adiantar pelo menos uns 15 dias.

            - Ótimo. Posso programar tudo pra gente então? – perguntou confirmando.

            - Pode minha linda!

            Continuamos a ver o filme. Já perto do final Valentina adormeceu. Estava prestando atenção no filme quando Ana soltou sua mão da minha me fazendo olhar pra ela. Discretamente ela limpou uma lágrima que descia por seu rosto. Estávamos vendo a cena onde a princesa Anna salvava sua irmã Elsa de ser morta pela espada.

            - Tá chorando amor? – perguntei e ela me olhou, os olhos vermelhos, tão linda e tão sensível.

            - Esse filme é tão... – limpou o rosto com o dorso da mão – lindinho! – completou.

            - Own meu Deus! – eu disse olhando-a encantada – Até chorando você continua linda sabia – com cuidado retirei as perninhas da Vavá de cima de mim e abaixei-me pegando-a o colo com cautela para não acorda-la. Levei-a ate a cama e pouco tempo depois voltei até a sala onde Ana Cecília terminava de ver o filme. Sentei-me sobre seu colo envolvendo minhas mãos em seu rosto, desviando sua atenção para mim.

            - Se não me deixar ver o fim vou ter que assistir de novo amor – ela disse me olhando – e vou chorar outra vez. – completou com um sorriso envergonhado.

            - Eu te conto o fim – disse olhando-a profundamente – Todos do reino foram felizes para sempre! Assim como nós duas seremos! – disse num tom entregue a ela, completamente apaixonada.

            - Felizes para sempre! – repetiu abraçando meu corpo sobre o dela e me beijando tranquilamente.

             - Me leva pra cama – pedi encarando seus olhos verdes. – Me faz sua! Me ama como só você sabe amar Cecília.

            - Não sei se consigo esperar até chegarmos na cama – ela disse jogando meu corpo no sofá e mantendo o seu entre minhas pernas. Em segundos, minhas roupas estavam jogadas pela sala, e meu corpo nú estava se entregando a ela naquele sofá. Sua boca explorava meu corpo inteiro, suas mãos deslizavam pela minha pele em toques suaves e excitantes. Mordi seu ombro com força quando seus dedos me invadiram sem aviso, abafando os sons de minha garganta, e Cecília tomou minha boca em um beijo afogueado. Seus dedos continuavam a me explorar intimamente e meu corpo já dava sinais de rendição quando sua voz se fez ouvir num sussurro rouco e excitado.

            - Você é minha mulher! – disse autoritária, me olhando, enquanto sua mão puxava meus cabelos pela nunca, de um jeito provocante.

            - Toda sua! – respondi entregue – Me faz sua Cecília! – pedi, quase implorando – Isso amor... – gemi mordendo seu pescoço – mais forte... – pedia ofegando em seu ouvido – Ohh que delicia... mete mais fundo amor! – implorei com a voz rouca de excitação, eu quase não tinha mais forças para me segurar.

            - Minha gostosa! – disse com a voz baixa – Muito gostosa! – cedeu ao meu pedido e seus dedos me penetravam com mais força, cada vez mais fundo, cada vez mais gostoso.

            - Ahhhh Cecília...  – agarrei-me em seu corpo apertando-a mais contra mim. Ela voltou a encarar o fundo dos meus olhos, num olhar penetrante, que me desnudava a alma - assim eu... vou... – Não tive tempo de terminar de dizer nada pois meu corpo foi tomado por uma onda de espasmos e prazer, me proporcionando um orgasmo forte e delicioso. A boca dela aproximou-se da minha beijando apenas meu lábio inferior, terminando numa mordidinha leve. Eu ainda sentia meu corpo tremer levemente sob o dela, minha pela se queimava junto da dela.

            - Que delicia quando você goz* assim pra mim – sussurrou com a respiração ofegante, a voz rouca, o olhar safado e o sorriso satisfeito. Resmunguei baixo quando devagar, ela retirou seus dedos de mim, me causando um uma sensação gostosa. Não satisfeita, Ana levou os mesmos dedos até sua boca, e ch*pou-os provocantemente, sentindo meu gosto neles, enquanto mantinha em sua face uma expressão de deleite total. – Realmente deliciosa! – completou.

            - Você me enlouquece – confessei buscando sua boca para um beijo urgente, onde pude sentir meu próprio gosto em seus lábios quentes, macios. Arrastei Ana Cecília da sala para o meu quarto, com muita dificuldade confesso, pois em cada canto que esbarrávamos nossos corpos, era motivo pra uma exploração rápida e provocante, que nos atiçava ainda mais o desejo. E quando finalmente alcançamos meu quarto, nos amamos intensamente, muitas vezes, de muitas formas, mas sempre com muito amor em cada entrega.

 

 

            Era quarta-feira à noite e eu estava sem nada pra fazer em casa. Na verdade, naquele momento eu estava sentada em meu lindo sofázinho, ouvindo Maria Rita. É eu sei que parece estranho, eu, que sou uma sertanejo maníaca estar ouvindo MPB, mas isso é culpa da minha belíssima namorada. Não pude deixar de sorrir ao lembrar dela. Júlia sempre me fazia sorrir, era inevitável. Ouvi a campainha tocar e me dirigi até a porta e não fiquei surpresa ao abri-la e dar de cara com Aninha.

            - Posso entrar? – disse estendo para mim um engradado de Stela Artrois, minha cerveja favorita.

            - Trouxe o ingresso certinho – respondi rindo e pegando as cervejas. Segui a até a geladeira, guardando quatro garrafinhas e levei duas para nós até o sofá. Ana como sempre já estava com as pernas estendidas em cima da mesinha de centro, praticamente deitada em meu sofá. Entreguei uma das garrafinhas a ela, que abriu, e brindamos batendo as bocas das garrafas levemente, para em seguida tomarmos um gole da bebida.

            - Sabe quais as duas coisas que eu mais gosto? – eu disse sentando-me ao seu lado – uma boa cerveja e uma ótima companhia – disse e ela abriu um sorriso convencido.

            - Eu sempre soube que era uma ótima companhia – Ana disse.

            - Quem disse que eu tava falando de você? – disse irritando-a e ela fechou a cara me fazendo rir – To falando do meu novo porta retrato – disse apontando o objeto que continha uma foto minha e de Júlia, uma foto muito linda onde Júlia me abraçava pelas costas e mantinha seu queixo apoiado no meu ombro, ambas estávamos com um sorriso feliz e tinha uma paisagem muito bela ao fundo.

            - Prefere um porta retratos a mim? – ela disse como se estivesse magoada, fingindo uma carinha de coitada. Ri de seu jeito infantil. – Tô sem moral mesmo! – completou.

            - Deixa de ser boba Ana – eu disse bebendo mais da minha cerveja – Claro que amo sua companhia loira – ela abriu um sorriso largo e divertido.

            - Eu sei... só queria ouvir você dizer isso! – riu e joguei uma almofada sobre ela.

            - Palhaça! Achei que fosse estar com a Paty hoje! – disse olhando-a.

            - Não, hoje não!

            - E como sabia que eu estava em casa e sozinha? – perguntei curiosa – alías, será que algum dia você vai aprender a me ligar antes de aparecer na porta da minha casa! Eu podia estar nua sabia.

            - Uii! Você nunca abriu a porta nua pra mim. Mas se quiser eu saio pra você poder tirar a roupa – disse com um sorriso maroto. 

            - Tão engraçadinha! – eu disse revirando os olhos com sua gracinha.

            - Eu sabia que estaria sozinha porque falei com a Júlia mais cedo e ela me disse que tinha um relatório importante pra entregar amanhã, por isso não iria poder te ver hoje.

            - Falou com a Júlia? – eu disse completamente surpresa.

            - Almoçamos juntas na segunda. – respondeu. – e as coisas estão melhorando muito entre nós, dessa vez acho que acertamos todas as pontas soltas entre nós duas.

            - Ual! – levantei-me e caminhei ate ela colocando a mão sobre sua testa.

            - Que foi? – ela perguntou.

            - Nada! To só conferindo pra ver se você não está com febre! – eu disse rindo.

            - Você ta tão engraçadinha hoje! – retrucou. – Deve ter alguma coisa na sua cerveja! – ela disse me fazendo gargalhar.

            - Me conta como foi a conversa de vocês! – pedi a ela. Ana me contou tudo que tinha acontecido no almoço delas, que Júlia tinha perguntado se elas já tinham uma data, essas coisas. Contou também que ela falou muito de mim durante o almoço, o que me deixou muito feliz.

            - Bom mas não foi por isso que vim aqui.

            - E por que foi? – questionei levantando-me e indo buscar uma nova garrafinha, pois a minha já tinha secado. - Quer outra? – perguntei balançando minha garrafa na porta da geladeira

- Ainda tenho um pouco aqui. Você ta bebendo rápido demais - disse me olhando.

- Não sou eu... acho que a cerveja entrou em processo de evaporação. – respondi voltando a sala.

-  Vem cá toda essa sua felicidade é por que tá abusando do corpinho da minha irmã? – perguntou tentando me provocar.

- É tua irmã que abusa de mim loira... e olha que ela abusa direitinho! – disse fazendo-a corar. Era difícil deixar Ana envergonhada mas eu tinha conseguido.

- Tá me poupe dos detalhes sórdidos de vocês tá bom! – revirou os olhos - Não quero nem imaginar que minha irmã faz essas coisas.

- Você ainda não em disse por que veio me ver – cobrei sua explicação.

- Bom eu e Paty já decidimos uma data para o casamento – ela disse com um sorriso de orelha a orelha – Na verdade ela decidiu por nós duas né!

- Nossa agora sim eu to levando fé naquela ruiva!  - disse olhando sua felicidade estampada no rosto. – Isso merece uma comemoração sabia. Devíamos marcar alguma coisa. Quando será o grande dia?

- Sete de agosto! – respondeu. Levantou indo até a geladeira e pegou outra garrafa de cerveja para ela. – O que você tem de bom de pra comer? – perguntou e dei a ela um sorrisinho cafajeste.

- Écaaa Flá. -  disse fazendo uma careta – Vou contar isso pra minha irmã viu. – disse achando meu pacote de batata rufles e voltando até onde eu estava.

- Conta e eu conto pra Paty que você queria que eu abrisse a porta nua pra você! Aposto que ela vai adorar saber disso! – disse em tom de zuação.

- Você não teria coragem! – ela disse sorrindo.

- Quer pagar pra ver? – cutuquei a onça, ou melhor, a leoa com vara curta.

- Não! – disse com a voz mansinha. Uma verdadeira gatinha domada.

- O que o amor não faz com uma pessoa né! – eu disse rindo dela e Ana acabou sorrindo comigo. – Ana Cecília Medeiros de Carvalho foi domada pela ruiva. Na coleira que ela pôs em você tem pedrinhas de brilhante também? – provoquei.

- Olha só quem fala de mim né! – retrucou-me. – Você ta ai toda boba, rindo a toa só de falar no nome de Júlia, e vem dizer que eu estou domada! – gargalhou jogando a almofada de volta em mim. – E por falar em Júlia – disse ficando mais séria – Vocês ainda não conversaram sobre o nosso encontro de domingo? – perguntou-me.

- Ainda não. Depois que saímos de lá ela me deixou em casa, eu até pensei em puxar assunto com ela Ana, mas quero que ela se sinta segura pra falar comigo. Não quero forçar ela, quero que ela se abra comigo, que saiba que podemos conversar sobre tudo, inclusive sobre Patricia.

- Hum – ela resmungou me dando um sorriso acolhedor. Eu sabia que Ana me entendia perfeitamente – Acho que você fez bem. – Terminou de dizer.

Ana Cecília e eu continuamos a jogar conversa fora e a beber. Terminamos as garrafas que ela trouxe e ainda bebemos mais quatro garrafinhas que eu já tinha em casa. Ela terminou de me atualizar sobre como estavam as coisas em sua vida com Paty, sobre a pequena crise de ciúmes que teve ao achar a gargantilha de Júlia que ainda estava com ela e diferente de Ana, esse detalhe não me incomodou. Já era tarde quando ela decidiu ir embora.

- Por que não dorme aqui? – perguntei. – Não gosto quando você dirige depois de beber.

- Você precisa trabalhar amanhã e não quero te atrapalhar – ela disse levantando-se. Meu celular tocou e ao olhar o visor vi o nome de Júlia na tela. Fiz sinal com a mão para que ela ficasse parada ali.

- Oi minha linda! – Júlia disse ao celular.

- Oi princesa! – respondi – Tudo bem com você? – perguntei e olhei Ana que sorria baixo gesticulando algo que eu sabia que era uma zuação contra mim.

- Estou bem. Com saudades! – ela disse e eu sorri ainda mais, dando ainda mais fogo para as goz*ções de Ana. Ela virou-se seguindo até a porta. ]- Ana Cecília não ouse sair daqui! – falei alto detendo-a.

- Ana ta ai com você? – Júlia perguntou-me.

- Tá sim amor! – eu disse sem nem me dar conta de que havia chamado ela de amor pela primeira vez e Ana que estava parada abriu um sorriso diferente, leve e feliz.

- Sou seu amor? – Júlia perguntou após alguns segundos de silencio.

- Você é o meu amor! – Respondi um pouco envergonhada.

- Foi tão bom ouvir isso de você! – ela disse com uma voz apaixonada me fazendo sorrir bobamente.

- Amor será que você ter uma conversinha com a Ana... a gente tava bebendo e ela ta querendo dirigir agora – eu disse e Ana balançou a cabeça negando e me fuzilando com o olhar, coloquei o celular no viva voz dela e dei um sorriso irônico – sua irmã quer falar com você – disse sorrindo vitoriosa.

- Eu mato você – ela disse movendo os lábios – Oi Júlia.

- Que história é essa Ana? Você não vai dirigir assim né? – perguntou a ela com a voz demonstrando preocupação e um pouco de autoritarismo.

- Flávia ta exagerando Jú. Só bebemos 5 garrafinhas. Eu ainda to dentro do meu limite já dirigi com muito álcool que isso no corpo.

- Você não devia dirigir nem com uma Ana! – Júlia disse e eu ajudei-a.

- Eu disse isso pra ela amor! – Pus mais lenha na fogueira e Ana me lançou outro olhar fuzilante. Sorri por dentro, ela devia estar bem irritadinha.

- Eu disse a ela pra dormir aqui e amanhã eu acordo ela antes de sair pro trabalho – aumentei a pressão.

- Ana dorme ai por favor? – Júlia pediu – Eu vou ficar mais tranquila se souber que está segura ai.

- Vocês duas são duas exageradas sabiam? – Ana retrucou.

- Então escuta sua irmã exagerada e dorme ai na casa da Flávinha – Júlia. – Promete pra mim que vai ficar ai? – perguntou enquanto eu permanecia olhando Ana.

- Ta bom Júlia! – respondeu contrariada.

- Não prometeu! – Cobrei. Ela revirou os olhos e bufou de descontentamento.

- Eu prometo! Estão felizes – disse alto.

- Cuida da Flá pra mim já que não posso estar ai hoje – Júlia disse e Ana sorriu para mim de um jeito malvado.

- Posso dividir a cama com ela Jú? – Ana perguntou zombeteira.

- Nem pensar Ana! – disse e ouvimos um riso leve do outro lado da linha - Naquela cama só quem deita com ela sou eu! – completou.

- Nossa como você é possessiva Jú. – Ana disse fingindo decepção na voz.

- Só estou cuidando do que é meu Aninha – ela respondeu – Bom preciso desligar. – disse e voltei o celular em modo normal. – Se cuida minha linda!

- Você também Jú. Dorme com os anjos e tenha bons sonhos.

- Sonharei com você com toda certeza... – disse fazendo meu coração disparar – Beijo nessa boca linda!

- Outro pra você – Respondi e em seguida ela desligou o celular. Voltei a sentar no sofá e Ana sentou-se ao meu lado deitando sua cabeça em meu colo.

- Você é uma trapaceira – disse me fazendo rir – usar minha irmã foi golpe baixo! Você sabia que eu não diria não pra ela.

- Eu sabia mesmo! – respondi. – Cada um joga com as armas que tem... se Júlia não surtisse efeito eu ainda seria capaz de ligar pra Paty – disse olhando-a. – Eu tenho certeza absoluta que com ela você não sairia daqui assim – sorri.

            - Tá vendo Ana Cecília – resmungou sozinha – Isso que dá ter uma melhor amiga que te conhece como ninguém! – sorriu me olhando cumplice. Fomos dormir tarde pois ainda ficamos um bom tempo jogando conversa fora. Ana dormiu mesmo no quarto de hóspedes embora eu tenha insistido pra ela deixar de bobagem. Na manhã seguinte, acordei por volta das 05:00hd da manhã. Tomei meu banho e me arrumei pro trabalho. Passei no quarto onde Ana dormia e fiquei com dó de acorda-la. Deixei um recado na porta da geladeira e sai de casa. Bati meu ponto as 08:00hs da manhã e assim que coloquei minha bolsa sobre a mesa ouvi o som de mensagem de texto do meu celular. Peguei o aparelho e li o aviso de suas novas mensagens. Abri a primeira.

            “Bom dia minha linda. Estou com saudades de você! Vamos nos ver hoje? Beijos pra namorada mais linda do mundo!” – Sorri. Júlia era fofa demais. Respondi sua mensagem dizendo que também estava com saudades dela, e confirmando nosso encontro pra mais tarde. Em seguida, abri a segunda mensagem.

            “Bom dia Flá! Queria muito conversar com você. Podemos almoçar juntas amanhã? Como antigamente? Espero sua confirmação. Pode escolher o local se quiser. Bjos! Paty.” – estranhei um pouco a mensagem dela, mas respondi.

            “Bom dia Paty! Podemos sim. As 13:00hs no Kanji pode ser? Bjos.” – Kanji era restaurante japonês que eu adorava na região dos jardins, eles faziam um sushi de salmão flambado que era espetacular. Poucos segundos depois meu celular tocou novamente. Olhei o visor.

 

            “Combinado.” – Seja lá o que Paty quisesse comigo, eu descobria no dia seguinte. 

Fim do capítulo