Estava tão feliz tão revigorada, mais só olhar para aquele sofá, olhar para aquela casa as lembranças ruins voltaram em minha cabeça com agressividade.

Meu pai não estava em casa, dei graças a Deus por isso. Fui tomar um banho para me preparar para o trabalho.

Assim que chego no trabalho meu chefe me diz que despediu um funcionário, ou seja o trabalho será dobrado essa semana. Minha colega de trabalho também soube da novidade ela estava apavorada com medo de também perder o emprego.

-- eu estou com tanto medo Fernanda, e se o senhor Tarcísio também me demitir.- ela estava limpando o balcão com uma flanela, o nosso chefe a chamou, ela ficou apavorada e foi até ele.

Tentei ouvir a conversa mais não consegui, confesso que também fiquei com medo.

Ela voltou, não estava conseguindo decifrar a expressão do seu rosto, já estava ficando angustiada.

-- fala logo o que aconteceu Rafaela.

-- calma, ele só falou que hoje nos teremos que fazer hora extra.

-- nossa que susto Rafaela.- suspirei.-- mais e ai você sabe por que o Fábio foi despedido?

-- o senhor Tarcísio falou que não tinha condições de pagar todos os empregados, por isso optou em despedir o Fábio.

-- antes ele do que eu.

--  ninguém gostava dele acho que foi mais um motivo para ele ser o escolhido.

--  ainda bem que não vou ficar aqui por muito tempo, daqui a pouco tempo eu me formo na faculdade e sumo daqui, escreve o que eu estou te falando essa farmácia não vai durar por muito tempo, isso aqui vai acabar falindo você vai ver.

--  tomara que isso não aconteça eu preciso muito desse emprego, mais caso isso acontecer o jeito e arrumar outro.

--  pois é, já vai procurando algum trabalho por que daqui um tempo a coisa vai ficar feia.

Hoje o dia foi extremamente cansativo, não estava vendo a hora de ir pra casa e descansar, nossa e pensar que ainda tenho faculdade.

Assim que  cheguei em casa me deparei com o meu pai me encarando, sentado na mesma poltrona que ele e a Luciana estavam se  atracando, só de me lembrar daquela cena me causava arrepios.

Eu já estava achando aquilo muito estranho, ele não tirava  os olhos de mim, e não dizia nada.

-- que foi?- cruzei os braços aguardando a sua resposta.

-- por que você não dormiu em casa ontem?

-- eu não te devo satisfações.- me virei para ir para o  meu quarto mais fui surpreendida pelo os dizeres.

-- você estava com a Luciana não estava?

-- que?- me virei rapidamente, fiquei em estado de choque.

-- anda me responde Fernanda.

-- na-não, por que você está me perguntando isso?

-- não sei talvez por você não ter dormido em casa e Luciana também não.

-- só por que eu e a Luciana não dormimos aqui significa que a gente dormiu juntas?

-- não sei tão vez.

-- o que você está insinuando pai.

-- eu nada, por enquanto nada.

-- então tá ok.

-- por que está tão assustada?

-- engano seu.- Saí da sala rapidamente, entrei no quarto e fechei a porta, fiquei lá encostada naquela porta não sei por quando tempo, minha respiração estava ofegante, estava pensativa, como o meu pai descobriu? não tinha como ele descobrir, Mas quer saber, se ele descobriu ou não eu estou pouco me lixando.

Assim que terminei o meu banho fui tirar satisfações com o meu pai. Ele estava na sala assistindo televisão.

-- por que você achou que eu estava com a Luciana?

-- é por que ontem quando você chegou em casa e viu eu a Luciana nos beijando você fez uma cara como se fosse de ciúmes e saiu praticamente correndo, eu só juntei os fatos. você estava com ela não é mesmo?- ele me fuzilava com o olhar.

-- não, e o que você disse não significa nada.

-- espero que não mesmo.- ele se levantou do sofá e veio caminhando até mim.-- eu só vou  te dizer uma coisa, eu estou de olho em você, não vai ser você que vai tirar ela de mim.- ele se retirou da sala  indo para a cozinha.

-- aí.. que medo, tô morrendo de medo papai.- gritei para ele escutar.

Sai daquela casa não estava mais aguentado olhar pra cara do meu pai, fui mais cedo pra faculdade. Quando eu voltei já era tarde acabei jantando por lá mesmo. E agora tudo que eu mais desejo é minha cama, não estava aguentando ficar nem mais um minuto de pé.

****

A Luciana não deu notícias por semanas, eu já estava até ficando preocupada, ela não vinha mais aqui em casa não atendia as minhas ligações, eu estava completamente angustiada.

Até que em um sábado de manhã escutei uma gritaria vindo da sala, acordei assustada, reconheci a voz da Luciana, Sai correndo pra ver o que estava acontecendo.

Assim que cheguei na sala me deparei com a Luciana chorando e com o seu nariz cortado, estava sangrando muito, ela me olhava como se estivesse me pedindo ajuda.

Quando eu olhei pro meu pai me deu uma vontade de bater nele até ele perder todos os dentes.

-- quem você pensa que é pra bater nela! Já que você quer bater em todo mundo, sou eu que vou te mostrar como se bate em alguém.- a raiva tomou conta de mim, o empurrei fazendo-o cair.-- hoje foi a gota d'água, eu me segurei por muito      tempo, agora não da mais.- ele engatinhava pra trás enquanto eu o seguia com os meus Passos.

-- sai daqui Fernanda ninguém te chamou aqui.- o puxei pela gola da camisa o fazendo ficar de pé.- o encarei como se quisesse me aprofundar em sua alma.

-- não importa se alguém me chamou ou não.- dei um tapa  estalado em seu rosto.-- isso é pela minha mãe, que eu já até perdi as contas de quantas vezes você já bateu nela.- dei um soco com  toda a minha força no seu olho.- isso é  pra você lembrar daquela vez que você me deu a maior surra, ah.. Eu fiquei com o olho roxo por semanas.-- e isso aqui é pela Luciana.- dei um soco em seu nariz, entre poucos segundos o sangue tomou conta do seu rosto.

-- ah.. Fernanda agora você vai ver o que é apanhar de verdade.- Ele tentou me bater  mais eu me esquivei do soco, e dei mais um soco em seu estômago.-- você acha que é certo bater no seu pai? Quem te dá um teto pra você morar.

Nossa me deu uma vontade de rir, de gargalhar bem alto.

-- você está de brincadeira com a minha cara né, você pode bater em todo mundo que você vê pela frente, inclusive em mim e eu não posso te bater.- suspirei.-- você acha que eu gosto de bater no meu próprio pai? como você acha que eu me sinto.- fui até a Luciana que  estava com os olhos marejados.-- vem Luciana eu vou te levar pra casa, me espera na esquina que eu te encontro lá, eu só tenho que pegar algumas coisas.

-- ok.- sua voz saiu fraca.

-- e você pai despertou a verdadeira Fernanda que estava presa aqui dentro não sei por  quanto tempo, você nunca mais vai encostar um dedo em ninguém aqui nessa casa.

-- você é uma merdinha Fernanda, cala logo essa porr* de boca antes que eu te de uns bons tapas.

-- tenta, você pode até me bater, mais eu te garanto que você também apanha, agora são novos tempos, eu não sou mais aquela menina de antes que apanhava injustamente do pai.

-- bom você calar a boca e  me respeitar ou vai ficar sem teto.

-- ah.. é.. você esta me expulsando de casa? Pode deixar não precisa fazer esforço nenhum, pode deixar que eu saiu por conta própria.

-- aonde você vai morar Fernanda?

-- não importa eu me viro eu sempre me virei.- ele parecia estar surpreso  com a minha atitude, a expressão em seu rosto estava completamente angustiada.-- vai Luciana, faz o que eu te pedi.- ela assentiu e saiu pela porta da frente.

Fui até o meu quarto e troquei de roupa rapidamente.

Voltei pra sala, meu pai estava sentado no sofá com as mãos no rosto, era sempre assim quando ele batia em minha e na minha mãe, ele ficava arrependido jurava que iria mudar, mais essa promessa que ele propunha nunca era comprida, até que eu tenho pena dele eu sei que ele não é normal, ele é um alcoólatra doente.

Fui até a Luciana que estava encostada em um poste chorando baixinho.

-- não fica assim minha linda.- beijei seu rosto suavemente.-- como está o seu nariz?

-- está doendo um bocado.

-- eu não acredito que o meu pai fez isso com você, ele é um doente viciado.- coloquei uma mecha de cabelo atrás da sua orelha.--vem eu vou te levar para fazer um  curativo.

Fomos até a farmácia onde eu trabalho, Luciana se sentou em banquinho enquanto eu procura os matéria para fazer o curativo.

-- então é aqui que você trabalha?

-- sim, é um dos meu sacrifícios diários.- sorri.- eu limpei o sangue do seu nariz e desinfetei o machucado e coloquei um curativo logo em seguida.-- e ai meu anjo está melhor?

-- um pouco, muito obrigada Fernanda.

-- que isso não precisa agradecer.. e ai você já tomou café?

-- ainda não.

-- eu vou te levar em uma lanchonete  ótima.

-- acho melhor eu ir pra casa.

-- nada disso você vai tomar café da manhã comigo.- ela assentiu com a cabeça e fomos até a lanchonete.

****

-- achei você muito corajosa.- Luciana disse depois de beber um pouco de café.

-- eu não aguentei Luciana, eu sei que é errado bater nos nossos pais, mais eu não aceito isso, meu pai pode bater em mim em qualquer pessoa, exceto você é na minha mãe.. mais afinal por que o trápola do meu pai bateu em você.

-- ele está desconfiando da gente Fernanda.

-- é.. eu sei.

-- e agora Fernanda? O seu pai não pode descobrir.

-- por que você não termina com ele de uma vez por todas e fica comigo Luciana, olha o que ele fez com você.

-- eu não posso terminar com o seu pai.

-- por que não Luciana? Meu pai ele não te ama.

-- eu não posso Fernanda simplesmente eu não posso.

-- e simplesmente eu não consigo te entender. essa foi só foi uma das vezes que meu pai vai te bater, Mais afinal qual é o seu problema Luciana? O que você tem na cabeça? Por acaso você é retardada?

-- não fala assim comigo!

-- desculpa Luciana, mais eu não consigo entender você, por que você não termina com o meu pai e fica comigo? Se você não quiser ficar comigo ok tudo bem entendo, ou então fica com outra pessoa, mais não acaba com a sua vida você está cavando a sua própria cova.

-- eu tenho os meus motivos.

-- que motivos Luciana?

-- eu não posso dizer Fernanda.

-- ah.. é demais pra mim, por que você não me conta logo o que está acontecendo? Você não confia em mim, o tanto que eu demostrei que  te amo não foi o suficiente?

-- é coisa minha Fernanda.- ela se levantou e colocou sua bolça no ombro.-- eu tenho que ir.

-- tudo bem, eu te levo em casa.- retirei o celular do bolso depois de dar um suspiro, eu estava nervosa com aquela citação toda.--espera só  um  minuto eu chamar um táx..- fui interrompida por ela.

-- não precisa, você já fez muito por mim hoje, é melhor eu  pegar um ônibus.

-- não eu faço questão.

-- tudo bem muito obrigada Fernanda, você é um anjo.

-- sou um anjo que te ama e só quer te ver bem.- sorri.

***

Logo chegamos na casa da Luciana, ficamos no portão conversando um pouco mais.

-- muito obrigada Fernanda eu nem sei como te agradecer por tudo que você fez por mim hoje.

-- eu sei como.

-- como?

-- me dando um beijo.- ela se aproximou da minha boca, quando os nossos lábios quase se encontraram ela recuou.

-- a gente não pode mais fazer isso.- disse ainda com olhos  fechado.

-- como  assim Luciana?- eu já estava suando frio.

-- a gente não pode mais fazer isso que a gente está fazendo, me desculpa de verdade Fernanda mais não da mais pra continuar com isso.

-- Q-que! Ela entrou em casa correndo me deixando completamente sem ação.

Com toda certeza hoje é o pior sábado que eu já vivi até hoje.

Fim do capítulo