Capítulo 5
Nem em seu pior pesadelo, Sarah poderia imaginar que aquela cena estivesse realmente acontecendo.
Quando finalmente reconheceu Afonso em cima de Cristina, sentiu seu sangue ferver. Sua cabeça doía, seu corpo todo tremia, tomado por um ódio que até então, nunca sentiu.
- Ora ora, se não é a minha queria vizinha! – falava com ironia, então seu rosto tomou uma feição de ódio - Acho bom você sair daqui, sua preta imunda, isso é conversa entre marido e mulher, não há lugar pra uma sapatãozinha nojenta como você.
- Eu não vou a lugar algum, Afonso. Acho melhor VOCÊ sair daqui, antes que se arrependa.
O homem riu e se aproximou da juíza. Ela segurava firmemente a arma em suas mãos. Havia recebido treinamento de tiro e defesa pessoal, sempre foi uma ótima aluna, não cometia erros, mas até aquele momento nunca pensou que poderia precisar por em prática tudo o que havia.
- Não se preocupe, gatinha. Quando eu terminar o que vim fazer com minha linda esposinha, eu dou conta de você. Quem sabe assim você não toma jeito. Só um homem mesmo pra te fazer aprender o que é bom pra tosse...
Avançou sobre Sarah. Ela não queria atirar, nunca havia atirado em ninguém, e a possibilidade de tirar a vida de uma pessoa, estava fora de cogitação.
Desviou-se do soco e aproveitou que o homem lhe deu as costas com a força do seu próprio movimento, e deu-lhe uma coronhada na nuca. Afonso caiu de joelhos e quando viu que receberia outro golpe, conseguiu segurar a mão de Sarah no ar.
- Você não vai conseguir escapar dessa, pretinha. Eu estava pensando em ser bondoso com você, mas vi que merece ter o mesmo fim que aquela vagabunda.
Golpeou Sarah no rosto e em seguida a chutou. Com o impacto, a arma que estava na mão da juíza, voou para perto do veículo de Cristina. Sarah tentou olhar para onde a arma tinha caído, enquanto tentava segurar a força daquele homem. Então, viu o corpo de Cristina desfalecido no banco de trás do carro. As pernas abertas, algumas manchas de sangue. Sentiu uma dor em seu coração, e quando empurrou o homem de cima dela, pode ver o rosto da chef com um corte e sua boca amordaçada.
O resquício de piedade que ainda tinha em sua alma deu lugar ao ódio. Em um movimento rápido, empurrou o homem, que se desequilibrou e caiu no chão. Subiu em cima dele e desferia golpes e mais golpes. Seu rosto machucado, agora estava banhado de lágrimas. Sarah chorava enquanto golpeava o rosto do homem, seu tórax, seu pescoço. Queria que ele sentisse todo o ódio que ela guardava dentro de si.
O homem pareceu desmaiar, e Sarah, completamente esgotada, saiu de cima do corpo dele e seguiu para ajudar Cristina. Puxou o corpo dela delicadamente pra fora do veículo. Ela estava suja, tinha manchas de sangue em todo seu rosto e suas roupas estavam rasgadas.
- Cris! Meu amor, acorde!
Enquanto tentava acordar a namorada, Sarah pegou o celular no bolso da calça e ligou para a polícia, identificou-se e fez o chamado. Abandonou o aparelho no chão e abraçou a chef.
- Cristina! Cristina! Acorde, por favor.
Aflita e com medo, não percebeu que Afonso havia se levantado. Ele não viu pra onde a arma da juíza havia ido, então retirou o próprio cinto, que já estava aberto e foi na direção das duas mulheres.
Antes que Sarah pudesse fazer algo, já sentia o ar lhe faltar. Afonso a enforcava com seu sinto enquanto via a juíza soltando o corpo de Cristina, e lhe dando socos fracos, pois estava de costas pra ele.
A mulher se debatia, esperneava. Estava cada vez mais difícil respirar. Tentou ficar de pé e arranhava as mãos de Afonso.
“Meu Deus, eu não posso morrer! Me ajude!”
Afonso fazia ainda mais pressão com o cinto no pescoço da juíza. Sua visão já estava ficando turva, e todas as veias do seu rosto e pescoço, se faziam visíveis. Saltariam de sua cabeça a qualquer momento.
Faltava muito pouco para que ela perdesse os sentidos, havia conseguido ficar de joelhos, mas ainda se debatia quando escutou um estampido. Pode sentir a pressão em seu pescoço diminuindo e então ouviu uma sequência de tiros.
Sentiu o peso do corpo do homem caindo sobre suas costas e caiu junto com ele.
Cristina recobrou os sentidos segundos após ser largada no chão por Sarah. Tentou assimilar o ambiente e entender o que estava acontecendo quando viu Afonso estrangulando Sarah com um cinto.
Não soube o que fazer, olhou para os lados e viu o enorme estacionamento completamente vazio. Aguçou mais a visão e pode observar uma arma no chão, atrás de seu carro. Não pensou duas vezes.
Correu e pegou a arma. Olhou para o homem e para Sarah, quase desmaiada.
Fechou os olhos e atirou. O tiro havia pegue em seu ombro, e mesmo assim ele não soltou a mulher, olhou diretamente nos olhos de Cristina e sorriu.
Aquele sorriso encheu o peito da chef de raiva, e sem pestaneja, puxou o gatilho uma, duas, três vezes e mesmo depois que a arma descarregou, continuava puxando o gatilho.
O homem tombou por cima de Sarah.
Cris soltou a arma e correu até ela. Pegou sua mão e a puxou de perto do corpo de Afonso.
Abraçou Sarah e chorou.
- Eu fiquei com tanto medo. – Sarah sussurrava de forma fraca. Sua cabeça parecia explodir.
- Fica quietinha amor, tá tudo bem. Acabou.
Ouviu a juíza chorar baixinho e mais ao longe, o som de algumas sirenes. Ficou com Sarah em seu colo, sentadas no chão frio do estacionamento.
Fechou os olhos e apertou a namorada em seus braços. Tremiam.
Olhou para o corpo sem vida.
Acabou.
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“Tão linda... meu Deus, como pode uma mulher ser tão linda e me fazer tão feliz?”
Cristina pensava enquanto, sorrindo, observava a juíza dormir. Se amaram a noite inteira e só dormiram quando já era dia.
Admirava aquele corpo negro, forte, claramente musculoso. Pernas grossas, barriga bem definida e aquele par de seios que subiam e desciam, ritmados com a respiração leve da juíza. Admirou sua boca e seu rosto de traços finos, delicados e ao mesmo tempo forte. Queria gravar cada detalhe daquele rosto. Queria Sarah pra sempre.
Olhou a cicatriz abaixo do olho da juíza e um nó se fez na sua garganta. Temeu por sua vida. Não poderia imaginar sua vida sem aquela mulher.
Lembrou-se do ocorrido. Depois de conseguir tirar Sarah de perto de Afonso, ficaram abraçadas enquanto as viaturas tomavam conta da frente do restaurante e vários policiais corriam até os fundos do estabelecimento.
As ambulâncias tiveram acesso ao estacionamento e os socorristas prontamente atenderam as duas. Enquanto verificavam sua integridade física, Cristina contou rapidamente o que havia acontecido, depois Sarah fez o mesmo.
Ainda passaram uma noite no hospital. Sarah sentia uma forte dor de cabeça. Lembrou-se que a mulher, apesar de mostrar-se sempre forte e decidida, era sensível, e vez ou outra quando se encontrava em situações de alto estresse, sentia dores de cabeça.
Sarah salvou sua vida e ela salvou a de Sarah.
Estava com o pensamento longe, quando percebeu que era observada.
- Hei! Tá distante... pensando na vida?
Trocaram um beijo rápido e Cristina abraçou a juíza, deixando-a de costas pra si, afundando seu rosto na curva do pescoço dela, sentindo aquele cheiro delicioso.
- Só pensando em como a vida apronta com a gente.
Sarah estava de olhos fechados, recebendo o carinho que lhe era oferecido.
- É? E o que ela aprontou com você? – perguntou curiosa.
- Apesar das dificuldades, a vida me deu a chance de renascer. Me deu um filho lindo, o dom divino de cozinhar e ainda foi super generosa comigo quando me uma mulata estonteante, de olhos verdes e dona da beleza mais linda que já vi. Hoje eu posso dizer que sou plenamente feliz.
Um sorriso de orelha a orelha se fez presente no rosto de Sarah.
- Eu te amo, Cris! Eu te amo muito!
A chef intensificou o abraço, sentindo o corpo de Sarah todo grudado ao seu.
- Eu te amo, Sarah!
Então, a porta do quarto se abriu, revelando aquela figura minúscula, de cabelos dourados.
- Mãe, posso ficar aqui um pouquinho?
O menino de grandes olhos azuis estava na beirada da cama, segurando um edredom e um cachorrinho de pelúcia. Estava com cara de pidão, difícil resistir.
Sarah riu. “Desconheço pessoinha mais fofa”. Se ajeitaram na cama e a juíza chamou o menino, que rapidamente se ajeitou em sua frente, abraçando seu cachorrinho de pelúcia e se cobrindo com o edredom. Sarah fazia carinho nos cabelos loiros do garoto, enquanto estava de olhos fechados, recebendo os carinhos de sua namorada.
- Tia Sarah, eu não quero mais que a senhora seja minha tia. – Vinícius falou com uma voz manhosa, quase dormindo.
- Ah é? E eu posso saber porque? – Perguntou ainda de olhos fechados. Pela respiração funda de Cristina em seu pescoço, deduziu que ela já dormia.
- Porque a senhora é namorada mamãe. E se ela é minha mãe, você também tem que ser minha mãe. – Falava de uma forma quase inaudível, mas sonora o suficiente para fazer Sarah prender a respiração.
“Mãe?”
Sentiu uma lágrima deslizando na lateral de seu rosto. Sorriu abertamente.
- Eu ficaria muito feliz em ser sua mãe também.
Aconchegada atrás da juíza, Cristina sentiu o coração palpitar. Estava começando a cochilar quando ouviu Sarah conversando com o garoto.
“Depois de muitas lutas, de tantas batalhas e tantas feridas, Deus me deu esse presente. E eu não poderia estar mais feliz”
Apertou os olhos e abraçou ainda mais a mulata.
Os três adormeceram, cada um dominado por seus sonhos, maravilhosos.
Fim do capítulo
Meninas, me perdoem por não ter postado o capítulo ontem. Além de ter que resolver alguns probleminhas pessoais, eu ainda enfrento resquícios da bendita febre Chicungunya. E no final do dia, eu estava quebrada, muito mole. Daí preferi postar o capítulo hoje.
Não haverão mais atrasos, prometo.
Um xeiro em todas! <3 Adoro vocês.
PS.: Um abraço gigantesco nas meninas que estão me dando uma super força com os comentários. Iniciei essa história com muito, MUITO medo, e confesso que vocês estão me dando tanta coragem kkkk Obrigada a todas!
Até amanhã
<3
Pérola.
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wood
Em: 21/05/2016
Melhoras autora!E parabéns estou amando a sua estória achei ela hoje e não consegui parar de ler,até o próximo capítulo 😚😘🌹🌹
Resposta do autor em 22/05/2016:
Wood!! Obrigadaaaa!! Fico muito feliz que tenha gostado. E realmente, a história é bem parecida com a da sua amiga, mas infelizmente esse é um caso muito mais comum do que imaginamos. Quantas e quantas mulheres sofrem, dia após dias, com seus maridos? É maravilhoso quando elas conseguem quebrar as correntes e se libertam. Mas e quando isso não acontece?
Lamentável.
Bom, eu adorei seus comentários e te agradeço de coração por ter gostado da minha história. Um grande abraço!
Até breve.
Pérola.
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Lekanto
Em: 19/05/2016
Uma pena que Afonso morreu. Ele deveria ter sofrido um pouco mais na cadeia. Mas tudo bem quando acaba bem e agora o amor delas pode ser vivido sem a preocupação da volta de idiota.
Bom, parece que a história se encaminha para seu final. Vamos ver agora o que nos aguarda.
Fique bem.
Resposta do autor em 22/05/2016:
Espero que tenha gostado, flor!
Muitíssimo obrigada pela leitura.
Até breve.
Gratidão.
Pérola.
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Mille
Em: 19/05/2016
Ainda bem que deu tudo certo agora é vida nova e quem sabe um novo integrante na família kkkk
A juíza foi sensacional e não se deixou perder por Afonso esse só a morte para deixar o caminho das duas livres e com paz.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor em 22/05/2016:
Afonso foi acertar suas contas com o tinhoso kkkkkkkkkk
E é isso aí, tem que resistir, lutar contra os inimigos da vida e jamais desistir.
Obrigada por acompanhar a história.
Abraços
Pérola.
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line7
Em: 19/05/2016
O cretino morreu! A mulata coitada, qualse morrer mas Sarah como uma heroína atirar e felizmente tudo acabou bem, cada detalhe da narração é um espetáculo de amor, a sintonia entre o casal é apaixonante e envolvente, até que fim tudo parecer certo, a família completa😊 e melhoras linda e ficar na Paz, um abração e até 😙
Resposta do autor em 22/05/2016:
Sarah é uma mulher de força, mas Cris não fica pra trás. A união dessas duas causa uma força espetacular, uma sintonia sem tamanho.
Muito obrigada!
Até breve.
Pérola.
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Anandinhaly
Em: 19/05/2016
Que lindoooooooooooooooooo! *-*~
coisa mais linda essa história!
elas tem muito mais felicidades pela frente, sendo uma familia linda! ;D~
ainda bem que amanhã tem mais!
espero anciosaa! ;****** <3
Resposta do autor em 22/05/2016:
Você é uma linda <3
E a felicidade nunca tem fim. Assim como o amor.
Pérola.
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