Capítulo 18 - Desesperança
Azizah olhava para o retrovisor com a adrenalina a mil, com medo de que alguém as estivesse seguindo, já tinham ganhado uma distância segura, mas o medo ainda lhe dominava.
- Não podemos ir pra casa, Carol. – Disse num impulso, como um estalo que veio a sua mente.
- Como assim? É claro que vamos pra lá, eu preciso dar um jeito no seu rosto, nossas coisas estão todas lá.
- Não, você ta louca? Ainda mais que você conhecia aquele cara! Ele sabe aonde você mora?
- Sabe, mas ele nos ajudou, A. Eu me formei com ele, ele jamais nos entregaria.
- Eu que jamais te entregaria! – Porque eu te amo. Pensou deixando as palavras travarem em sua garganta. – Por que você acha que eu to assim? Eu tava tentando te proteger! Você realmente acha que ele faria o mesmo que eu fiz por você?!
- Você não precisava ter feito isso, A... Você devia ter dito onde eu estava...
Azizah a cortou, furiosa, ainda gritando.
- Eu preferia morrer a deixar alguma coisa acontecer com você! Você não enxerga isso? Você ainda não percebeu o quão importante você é pra mim? – Sua voz falhou e ela desviou o olhar, sentida, com as lágrimas novamente travando seu peito. Carol a olhava sem palavras. Azizah limpou a garganta e continuou – Me dói demais você achar que ele faria isso por você.
- Eu só disse que achava que ele estava do nosso lado, só isso... Me desculpa...
- Você não sabe do que aquela mulher é capaz... Você é muito ingênua, Caroline.
- Ela quem fez isso com você?! – Carol bateu com os punhos fechados no volante do carro. – Eu pensei que fosse aquele primeiro cara. Um tiro foi pouco, eu devia ter conferido que matei aquela... – Nem conseguiu terminar a frase, sendo cortada por Azizah.
- Siga à esquerda. Nós vamos pra casa da Mel e do Rafa.
Carol diminuiu a velocidade, incrédula.
- Você ta falando sério?
- Estou, pegue a rodovia. – A tatuada debruçou-se sobre o painel. - Nós temos combustível o suficiente. E aquela louca vai vir atrás de nós, eu tenho certeza.
- Você precisa descansar, não podemos ir ate lá agora, é perigoso.
- Não podemos é ir pra casa. Eu sei o que estou dizendo. Ela iria até o inferno pra conseguir o que quer.
- Existe a possibilidade dela ter morrido, deles terem perdido tudo com o fogo... – Carol rebatia.
- Siga à esquerda. – Azizah mandou e Carol acabou tomando o caminho sugerido, pegando a rodovia, afastando-se da cidade.
- Isso é loucura... – Ela sussurrou balançando a cabeça negativamente. – Se por algum acaso ela sobreviver...
- Já ouviu aquele ditado de que vaso ruim não quebra?
Carol continuou seu raciocínio, ignorando o comentário da outra.
- ...E se Alfredo nos entregar, ela não pode roubar nossas coisas. Não seria mais sábio estarmos lá pra impedir?
- O que acha que vale mais? Nossas vidas ou comida?
- Se nos planejássemos poderíamos acabar com todos eles. Nossa casa é segura.
- O que acha que vale mais? A vida do seu bebê ou comida?
Carol deu uma risada mordaz, mas havia muita dor por trás daquele sorriso.
- Eu nem sei mais se essa criança vai nascer! – Ela gritou com os olhos cheios de lágrimas, mas elas não caíram. – E se eu estiver gerando um demônio? Uma coisa sem vida dentro de mim? Eu não ia agüentar se isso acontecesse... E se ele me comer por dentro? – Sua voz falhou, segurando as emoções. Azizah segurou a mão direita da enfermeira que estava pousada sobre o câmbio, trazendo-a para si, beijando-a com carinho.
- Ela falou aquilo só pra te machucar, isso é impossível. – Ela afirmou, mas não tinha tanta certeza assim. Tentava acalmar Caroline e ao mesmo tempo a si mesma, pois aquelas palavras de Roberta também a tinham aterrorizado.
- Eu também achava que era impossível os mortos voltarem à vida.
- Sua barriga vem crescendo ao longo dos meses, se ele estivesse morto dentro de você isso não estaria acontecendo.
- Todos nós estamos infectados, não precisamos ser mordidos pra virar um deles.
- Mas precisamos morrer pra nos transformar. Seu bebê está vivo e saudável dentro de você.
Permaneceram em silêncio, pensativas. Azizah olhava compenetrada para a outra com a cabeça encostada no banco. Mal podia acreditar que tinha escapado, que ela a tinha salvado de novo. Já tinha perdido a conta de quantas vezes isso tinha acontecido. Carol então começou a fazer um carinho suave com o polegar nas costas de sua mão.
- Como você me achou afinal? Eu mal acreditei quando te vi...
Carol amenizou sua feição fechada com a pergunta de Azizah. Ela respirou fundo, como se organizasse suas palavras e pensamentos.
- Eu fiquei te esperando até tarde da noite. Eu fiquei desesperada, pensei que tinha te perdido... Que aquilo estava acontecendo de novo comigo... Que você tinha sido atacada por zumbis, que nunca mais iria te ver... – Fez uma pausa – Nem dormi naquela noite. Na manhã seguinte fui atrás de você no supermercado, vi a Ranger batida e tinha tinta branca na lataria. Logo pensei no furgão deles, liguei uma coisa com a outra e tentei a sorte, que talvez pudesse estar no esconderijo que vimos aquele dia no cemitério. Elaborei um plano, esperei até a noite para ir quando todos estivessem dormindo. – Fez outra pausa, respirando fundo. - Graças a Deus eu te encontrei. Eu demorei muito pra te achar na casa, o fogo já estava alto, pensei até que não estava lá, que meu palpite estava errado. Precisei matar quatro caras, um deles me disse que você tava no porão, eu corri até lá e... Quando eu te vi... Você não tem idéia do alívio que senti... – Olhou de relance para a tatuada – Eu não sei o que faria sem você, Azizah... Você também não faz idéia do que sinto por você... do quão importante você é na minha vida... E você nunca mais vai sair de perto de mim, você ta ouvindo? Nunca mais vou te deixar ir sozinha a lugar nenhum...
- Eu fiquei com tanto medo...
- Eu também fiquei, mas o que importa é que estamos aqui agora, juntas.
Dentro de algum tempo Carol parou o carro em frente àquela mansão conhecida e nostálgica.
- Acho que aprenderam a se esconder. – Carol comentou ao verem a casa completamente escura e silenciosa.
- Vou abrir o portão, não podemos deixar o carro à vista. – Azizah desceu com dificuldade da caminhonete. Sentia-se fraca e seu corpo doía. Seu estômago roncou e lembrou-se do macarrão que Rafael tinha cozinhado naquele dia e desejou ardentemente que tivesse algo parecido na geladeira. Sorriu consigo mesma ao ver o carro adentrando na garagem dos dois, seu coração batia forte na ansiedade de reencontrá-los.
Carol estacionou próximo ao muro do lado de dentro e cobriram o carro com um plástico preto que havia na garagem, só o veriam se entrassem ali. O Audi estava no mesmo local, no entanto, suas rodas ainda estavam murchas pelos tiros daquele dia.
- Está silencioso demais. – Carol comentou apreensiva, causando uma sensação incômoda no peito de Azizah.
- Devem estar dormindo. – Tentou encontrar uma explicação plausível.
- Eles já deviam ter aparecido, A.
Caminharam até a porta de entrada com a lanterna em mãos – não ligariam as luzes para não chamar atenção – e perceberam que ela estava entreaberta. A mais nova a escancarou rapidamente, sentindo o medo lhe corroer as veias. A sala estava completamente revirada.
- Melissa! – Ela gritou olhando para o andar superior na esperança que a amiga aparecesse. Correu escadaria à cima. – Rafael! – Gritou novamente.
- Espera! – Caroline foi logo atrás, com a arma em punhos.
Silêncio.
Não podia ser verdade.
Todos os quartos estavam bagunçados como se um furacão tivesse passado pela casa. Azizah parou em frente ao que costumava ser o do casal e havia uma mancha vermelha enorme no tapete. Ela caiu de joelhos no chão, chorando.
Não, não, não.
- A., isso não significa que seja sangue deles.
- Está no quarto deles!
- Eles podem ter matado alguém e fugiram. Pode ser que eles não estejam mortos, mas por ai. Não há corpo algum além do mais.
- Pode ser que o corpo esteja vagando pela casa.
- Pelo barulho que fizemos, se houvesse algum zumbi, já teria aparecido. O corpo pode ter sido retirado. Olhe. – Caroline apontou a lanterna para o chão, aumentando a visibilidade que antes vinha apenas da lua, mostrando um rastro de sangue que saia do quarto, entrando no corredor, indo até as escadas. – Seja quem for que morreu: ou se arrastou, ou foi arrastado para fora daqui.
- O que vamos fazer? – Disse com a voz embargada, desesperada, assustada, cansada. – Eles eram minha última esperança.
- Vamos fazer o que sempre fizemos. – Carol lhe estendeu a mão, reerguendo-a do chão e a trouxe para um abraço gostoso junto a seu peito, sussurrou em seu ouvido. – Vamos cuidar uma da outra. – Azizah retribuiu o abraço, sentindo como se todas as suas energias fossem recarregadas a cada vez que ficava perto daquela mulher. Afastaram-se gentilmente. – Eles devem estar bem, A. Aquela Melissa é foda, pra alguém pegar ela vai sofrer muito. E ela não deixaria que nada acontecesse com o Rafael também.
- O que vamos fazer agora?
- Vem, você precisa de um banho quente antes de tudo.
Carol pegou algumas roupas no armário dos antigos moradores e de mãos dadas foram até o quarto onde tinham passado aquelas noites. O banheiro não tinha janelas que pudessem lhe entregar, então se trancaram dentro dele e acenderam as luzes. Carol foi em direção ao chuveiro abrindo a água. Azizah parou em frente ao espelho, quebrado por ela mesma, lembrando-se daquela noite, da briga, da invasão, de Rafa sendo baleado, do medo que sentiu dentro do guarda roupa ao lado de Carol... Tudo passou como um filme por sua mente. Lembrou-se então da primeira vez em que fizeram amor. Naquela época ela já estava tão, mas tão apaixonada por Carol que não imaginava que aquele sentimento pudesse aumentar tanto quanto tinha aumentado.
Pegou um dos cacos de vidro, vendo seu reflexo e assustou-se. Seu rosto estava completamente desfigurado, já apresentava hematomas terríveis, com sangue por todo o lado.
- Eu estou horrível... – Sussurrou com as lágrimas escorrendo. – E eu não agüento mais chorar, devo estar até desidratada.
- Sua pele é muito clara, por isso essas marcas estão tão escuras. Esse inchaço vai embora, não se preocupe. E pra mim você é linda de qualquer jeito, se essa for sua preocupação.
- Deixa de ser burra, Caroline. Olha o meu estado, não tem como isso ser bonito. É abominável.
Tirou cuidadosamente a camiseta de Azizah e olhou com atenção as marcas roxas também na região de suas costelas.
- Abominável foi eu não ter matado aquela desgraçada que fez isso com você. – Disse entre dentes com um ódio quase palpável.
- Eu não quero mais pensar nela. Nem em nada disso. Eu estou tão... cansada.
Azizah correu as mãos pelo colo de Carol, subindo as mãos por seus ombros, sua nuca, sua cabeça raspada, descendo cuidadosamente por suas orelhas. A enfermeira depositou um beijo suave em sua testa e depois em seu nariz, seus lábios.
- Toma banho comigo. – Azizah sussurrou. – Eu preciso tanto de você.
Carol confirmou com a cabeça e as duas terminaram de se despir. Entraram de baixo do chuveiro quente. A tatuada sentia o conforto da água fumegante em seu corpo cansado e do abraço carinhoso da agora sua, oficialmente, namorada. Carol então pegou o shampoo da embalagem que estava quase no fim, levando em direção aos cabelos de Azizah, lavando-os atenciosamente. Esta se virou de costas, aproveitando o momento durante longos e relaxantes minutos, deixando-se apenas sentir.
- Eu adorei aquilo que você falou mais cedo. – Cortou o silêncio com um sorriso tímido no rosto.
- O que eu disse?
- Que eu era sua namorada.
- Ahhh... – Carol ficou envergonhada, repassando os cabelos, tirando toda a espuma.
- E que só você podia me chamar de A. – Fez uma pausa, com um sorriso bobo enquanto olhava para o azulejo branco a sua frente, sentindo as mãos da outra em sua cabeça. – E eu não imaginava que você pudesse ser uma pessoa ciumenta.
- Eu não estava com ciúmes. – Rebateu sem graça, se justificando - Eu só...
- O que?
- Estava cuidando do que é meu.
O sorriso de Azizah aumentou ainda mais nesse momento.
- Eu sou sua então?
- Minha. – Sentiu os braços de Carol a envolverem por trás. - Só minha.
- Como se existisse muita concorrência...
Carol beijou seu pescoço delicadamente.
- Você quer? – Perguntou com aquele tom rouco e gostoso em seu ouvido.
- O que?
- Ser minha namorada?
- Pensei que estava propondo outra coisa com essa voz.
Carol riu.
- Você só pensa nisso?
- É meu ascendente em escorpião, não tem o que fazer.
- Qual seu signo? – Carol perguntou divertida.
- Câncer e o seu?
- Ahhh.... ta explicado!
- O que?
- Você ser tão temperamental, sensível, emotiva. – Disse com ar brincalhão. Azizah revirou os olhos. – Eu sou de Áries, ascendente em Capricórnio.
- Ta explicada então essa sua chatice toda. – Fingiu aborrecimento fazendo Carol rir, beijando novamente seu pescoço, virando-a de frente para si, buscando seu olhar. Azizah amava aqueles olhos, aquela forma como ela a olhava, mesmo estando completamente estraçalhada, por fora e por dentro, Carol ainda a fazia se sentir especial.
- Mas... você quer?
- Fazer amor com você aqui no chuveiro? – Correu as mãos pela cintura de Carol, trazendo-a mais pra perto. Carol quem revirou os olhos nesse momento. – Ei, nervosinha, eu to brincando... Quer dizer, não tão brincando assim... – Correu as mãos por suas costas, daquele jeito que a outra adorava. – É claro que quero ser sua namorada – Sorriu, beijando seu nariz, subiu as mãos por seus ombros, indo em direção a seu rosto. – Na verdade, pra mim eu já era sua namorada, mesmo sem termos falado nada sobre isso. Eu já sentia como se fosse... sua.
Carol lhe encostou contra a parede com urgência.
- Tá gelado! - Azizah riu em meio à sua respiração falha, devido aos beijos ágeis e certeiros em seu pescoço.
- Precisamos comemorar.
- Depois sou eu que só penso nisso.
- Pelo menos não jogo a culpa no meu mapa astral, eu penso mesmo. - Disse correndo as mãos por sua cintura de maneira delicada, com medo de machucá-la.
- Mas você sabe que Áries é do elemento fogo, o que... – E nem conseguiu terminar a frase, sentindo aqueles lábios a beijando daquela forma entorpecente. Seus ferimentos ardiam, mas o prazer que aquela boca lhe proporcionava era maior.
- Eu senti tanto a sua falta... – Sussurrou.
- Eu também senti...
- E to morrendo de fome. – Ela riu.
- Eu também to morrendo de fome, mas de outra coisa.
E desceu a mão direita por entre as pernas de Azizah, sem cerimônias, causando-lhe arrepios pelo corpo inteiro. A mais nova grudou em seu pescoço, bem perto dela, adorava tê-la assim, com os corpos grudados. E de repente era como se o mundo não existisse mais, como se não estivessem em meio a um apocalipse zumbi, como se não tivesse quase morrido há poucas horas e como se seus amigos não tivessem desaparecido – e estivessem possivelmente mortos. Tudo na verdade tinha se tornado desfocado, só conseguindo ver, estar e sentir aquelas sensações provocadas por Carol, a tirando totalmente da realidade dura e cruel que se encontravam.
No entanto, ao abrirem a porta do banheiro aquela mágica evanesceu no ar, sentindo novamente o peso da realidade pesando em seus ombros. Qual seria o futuro delas? Vestiram-se novamente com as roupas encontradas por Carol, que ficaram grandes, parecendo serem de Rafa, mas que ao menos estavam limpas.
Saíram do quarto com a lanterna em mãos, o corredor agora sombrio e sem vida, com aquela mancha de sangue pelo chão. De quem seria aquele sangue? Azizah teve medo, como se sombras as seguissem pelo local amplo, antes tão acolhedor. Foram à procura de algo que pudessem comer, mas não havia nada, exceto uma lata de milho cozido e um pacote de bolachas água e sal.
Voltaram para o quarto e se enfiaram de baixo das cobertas, intercalando a lata e o pacote.
- O que vamos fazer? - Carol perguntou.
- Eu não queria pensar em nada disso hoje.
- Eu sei que não, mas não podemos também ficar aqui. Eu acho que devíamos voltar pra casa amanhã. Se eles vierem atrás de nós, nós damos um jeito neles.
- Carol, você não ouviu nada do que te falei? Ia ser super arriscado voltarmos pra lá. Aquela mulher é louca.
- Eu to louca pra trombar com ela, você não tem ideia.
- Não. Eu não passei por tudo isso à toa pra você querer travar uma guerra com aquelas pessoas.
- Não temos pra onde ir. Você tem uma ideia melhor?
Azizah ficou em silêncio. Tinha, mas tinha medo de falar.
- O cara que você matou, que estava nos perseguindo, o Gustavo, ele morava em ilhabela.
- Pra você ver, se até ele saiu de lá...
- Não, a Roberta disse algo brega e sem sentido como “ilha dos ursinhos carinhosos”.
- O que?
- Será que lá não era um lugar bom, com pessoas boas...? Porque ela ia falar isso?
- Porque ela é louca, você já falou. E não faz sentido ele fugir de lá, mesmo a pior pessoa do mundo iria querer ficar lá.
- E se fossemos pra lá? – Perguntou de maneira rápida, tentando a sorte.
- Não, nem pensar.
- Do que tem medo?
- De várias coisas, A. Não conhecemos o lugar, nem ninguém.
- Lá é seguro, os militares vão atrás de mantimentos, parece ser organizado.
- E você acha seguro confiar em um lugar com militares e que ainda por cima é chamado "centro de refugiados"?
- Eu to pensando no bebê, Carol. Iríamos ter ajuda quando ele nascesse. Estamos completamente perdidas.
- Eu não sei. Eu preciso pensar melhor sobre isso, mas amanhã precisamos voltar pra casa. Eu preciso te medicar.
Terminaram de comer em silêncio, Carol colocou a lanterna para carregar na parede e se ajeitaram para dormir. Já devia passar das três da manhã.
- Pensa sobre isso, por favor. - Azizah sussurrou.
- Eu vou pensar. É melhor descansarmos agora, ok?
Azizah virou-se de frente para ela.
- Eu pensei que eu fosse morrer. - Ela sussurrou. - Eu realmente pensei que fosse morrer ali, trancada naquele porão, sem nunca mais poder te ver...
- Mas eu te achei.
- Sim, você me achou.
Beijaram-se levemente. Carol abriu os braços, Azizah encaixou-se em seu colo e correu a mão direita suavemente por sua barriga, fazendo carinho. Não via a hora que aquela criança nascesse, não via a hora de pegá-la em seus braços. Mesmo antes de conhecê-la, já a amava. Isso que era o mais incrível. Roberta não podia ter falado a verdade, sobre Carol estar criando uma coisa, um morto vivo dentro de si, era impossível.
Sentiu o bebê se mexer. Sorriu. Agora nos últimos meses ele se movimentava muito mais. Desceu sua cabeça, encostando o ouvido na barriga de Carol.
- Oi bebê. - Azizah disse baixinho, fazendo uma cabaninha com a mão, como se assim ele fosse ouvir melhor. - Sou eu. Eu to muito ansiosa pra te conhecer, mas você precisa esperar um pouquinho mais pra nascer, ta bom? As coisas estão um pouco complicadas, mas logo tudo vai se acertar... - Beijou a barriga de Carol e sentiu uma das mãos dela em sua cabeça, fazendo carinho.
- Vem aqui. - Carol pediu.
- To batendo um papo aqui. – Riu.
- Vem.
Azizah subiu, sentindo aqueles lábios nos seus, um beijo lento, afetuoso, cheio de significados implícitos.
- Promete que nunca mais vai sair de perto de mim? – Carol perguntou.
- Prometo.
E logo foram vencidas pelo cansaço, adormecidas uma nos braços da outra.
Azizah acordou primeiro que Carol na manhã seguinte. As dores estavam ainda mais fortes por seu corpo. Os raios de sol adentravam no quarto de maneira poética. Olhou para Carol que ainda dormia profundamente e levantou-se da cama. Teve um insight e lembrou-se que Melissa tinha lhe falado sobre um estoque no porão onde guardavam mais mantimentos. Levantou-se devagar, calçando os sapatos e em seguida pegou a pistola em suas mãos.
Desceu as escadas. Na luz do dia, ironicamente, tudo parecia pior ainda. Desviou das manchas de sangue que levavam para a porta de entrada e foi até a cozinha. Abriu a porta que levava ao porão, insegura, acionando o interruptor de luz. Desceu as escadas, temerosa, mas logo relaxou ao ver algumas caixas de papelão empilhadas, apoiadas em um canto. Caminhou até elas rapidamente, com a felicidade invadindo seu peito. Precisava muito de uma refeição completa. Faria um almoço delicioso para Carol e tudo ficaria bem.
E então ouviu um grunhido e todos os pêlos de seu braço se arrepiaram, sentiu um frio na sua espinha. Virou-se rapidamente para trás, para o som e... naquele momento, teve certeza absoluta que por mais que o tempo passasse, aquela imagem nefasta e sinistra jamais sairia de sua cabeça. Havia um homem, na verdade um daqueles monstros, ele estava pendurado no teto do porão com uma corda amarrada em seu pescoço.
PUTA QUE O PARIU.
Ele tinha se enforcado.
Ela olhou melhor, mais atentamente e as lágrimas começaram a escorrer como um rio por seu rosto. Ela gritou aterrorizada.
Não pode ser verdade, não pode, não, não o Rafa.
Não o seu amigo Rafa.
Aquilo não podia estar acontecendo.
Fim do capítulo
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lucy
Em: 29/10/2016
que pena que Betão não morreu e acho que vai voltar a encontrar as meninas , espero que desta vez ela se lasque de vez.....mulher malvada kkkkk , Gustavo teve o que mereceu, otário rs....concordo com A. de não confiar no amigo da Carol, pois ele teme Roberta e ela dando uns apertões eu acredito que ele solte a língua confessando até o que não existe.....ele ajudou elas, que bacana uma atitude muito boa, mas ele não saiu dali deve achar errado as atitudes da ruiva mas sem forças pra sair dali.então acredito que é bem possivel abrir a boca....me senti aliviada da Carol ir atráz e ajudar Azizah, pois tava difícil pra moça.....foi prudente irem pra Casa da Mel e Rafa, uma dó o que houve com Rafa, mas e Melissa ? será que fugiu sozinha, ou pegaram ela também.....muitas perguntas néh ? então vou la ler pra ter minhas respostas rs, moça eu sempre repito que foi ótimo capítulo, nota mil sim Perfect , amando este conto e afirmo que vou sentir falta, se tivesse a lãmpada do Aladin, pedia umas temporadas completas dessas duas o nascimento do baby delas, e uma maneira melhor em que elas estivessem aí melhor estabelecidas bem alimentadas, rs pq não ? torcendo pra Mel estar bem...quem sabe elas formama um grupo bacana ....bjs chega de blá blá blá e mais ação boa , que vc manda muito bem !!! fuiiiiiiiiiiiiii
Resposta do autor:
obrigada pelo carinho, Lucy <33
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Penelope
Em: 19/05/2016
Que bom que a A. Foi resgatada mas esse final foi tenso de novo.
Ps: elas já se amam, que bom!
Resposta do autor em 23/05/2016:
Bem tenso mesmo né, Penelope? Mas a vida segue, apesar de todas as adversidades que elas encontram pelo caminho. O amor delas é lindo <3 Beeijo
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Nikita
Em: 19/05/2016
Caraca... Thays, minha linda... Sem cometários...
Eu simplesmente me amarro nessa história! Vc escreve muito bem... As vezes eu passo direto e esqueço de deixar um comentário, mas saiba que eu to aqui ligadinha nas atualizações.
Com toda certeza essa está sendo a melhor história que li até hj... Continue!
Parabens gata!!! ;)
Resposta do autor em 23/05/2016:
Ai Nikita, fiquei emocionada com suas palavras :') Você não tem ideia do quanto fico feliz em ouvir isso! Muito obrigada pelo apoio e pelo carinho, de verdade <3<3<3 Beeijo
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