Capítulo 37. O tempo passou.
Nos quase três anos em que esteve de licença prêmio, a coronel curtiu muito a família. Desde aquela viagem que fora marcada para Campos do Jordão as coisas haviam mudado. Depois que retornaram para São Paulo, logo na semana seguinte o batizado do pequeno Gabriel foi feito pelo coronel Marcondes que mais uma vez filaria uma comidinha de graça na casa da coronel. Ela conseguira mais uns dias com a família e por esse motivo, as suas férias se prolongaram.
Nicola e Antônia já contavam com a idade de cinco anos, Celina e André com seis e o pequeno Gabriel com dois. Tudo naquela casa continuava regido pelo amor, respeito, carinho, compreensão, diálogo e o principal: o amor. As crianças haviam mudado consideravelmente a fisionomia. Celina tinha os olhos verdes e cabelo claro igual ao de Andressa. O filho André era a cópia escrita da coronel com cabelos negros e os olhos azuis acinzentados, assim como Antônia que tinha os mesmos olhos, mas com os cabelos louros. Nicola era a mistura de gênio de Márcia e Andressa. Porém, era parecido demais com a esposa da coronel, tinha o jeito de olhar igual ao de Andressa. E Gabriel que era o ruivinho da turma moreno com olhos verdes acinzentados. Era o terror da casa e a sombra de Nicola. Onde o irmão estava ele ia atrás. Com André a coisa era diferente porque o irmão mais velho era igual a coronel, um pouco fechado.
Andressa e Márcia já estavam começando a pensar em colocar as crianças na escolinha. Mas ela assim como a esposa também estava esperando que eles manifestassem a vontade em estudar. O colégio escolhido era o da Polícia Militar. Uma porque era tradição os filhos de policiais de alta patente estudarem lá e a outra era porque o major Paiva Junior agora como diretor geral da instituição, havia feito algumas mudanças e essa tradição fora banida. Desde a sua administração os filhos de soldados, cabos e sargentos também poderiam estudar, é claro que deveriam assim como os outros prestar o vestibular para a vaga. O agora capitão Motta marido de Carmela era quem estava à frente da Força Tática a pedido da coronel. O filho deles nasceria dali a dois meses e a tia avó coruja já começava a fazer planos para a sobrinha e o bebê. A coronel ainda não havia voltado a trabalhar e com isso Andressa também não. A major Deise continuava no comando da cavalaria e tudo fluía bem. Um dia quando estavam na beira da piscina olhando as crianças brincarem Andressa perguntou:
-- Amor você já viu quanto tempo faz que estamos juntas?
A coronel olhou para a esposa e carinhosamente respondeu:
-- Sim meu amor! – E ainda me lembro do dia em que você entrou na minha sala. Cheia da razão e ainda achando que estava me testando. Você se lembra o que me disse quando já estava de saída?
-- Depende meu amor. Falamos tantas coisas naquele dia!
-- Pois então vou refrescar a sua memória.
Andressa ficou olhando para Márcia e não conseguiu decifrar em seus olhos o que ela queria dizer.
-- Foi mais ou menos assim: -- Sem problemas major, a propósito a senhora faz jus ao lema do regimento! – E eu ainda retruquei o seguinte: -- Não entendi a sua colocação em relação a esse comentário capitã. E você na maior cara de pau respondeu:
-- “Quando os Estribos se Chocam, está Feita a Camaradagem”.
Andressa começou a rir assim como Márcia. Os filhos também começaram a rir, pois eles haviam escutado a conversa das mães. Foi Gabriel quem perguntou:
-- Mamãe Márcia a senhora dava coice?
Márcia olhou para a simplicidade do filho e respondeu:
-- Não meu anjo. A sua mãe falou isso porque eu já tinha me apaixonado desde a primeira vez que ela apareceu no quartel. Mas eu não queria aceitar isso e, portanto a nossa primeira conversa não foi muito amigável, por isso que a mamãe Andressa disse essa frase hilária e engraçada.
-- Ah ta bom mamãe, desculpa! Respondeu o menino que falava pelos cotovelos. Ou seja, era o tagarela da turma.
Márcia riu do filho e logo os outros irmãos estavam enchendo as mães de perguntas. A coronel prometeu contar depois do jantar como ela havia realmente conhecido a esposa. Andressa também achava que já tinha passado da hora dos filhos conhecerem a sua origem.
Andressa se lembrou de falar que seu tio Manoel irmão caçula do finado sogro de Márcia, estaria de volta ao Brasil depois de vinte anos fora do país. Ele pretendia reabrir a padaria que fora dos avós da esposa da coronel e Andressa esperava que Márcia o ajudasse.
-- Mas é claro que ajudo meu amor. Você sabe que não sei recusar um pedido seu ou das crianças!
-- Eu sei meu anjo, mas sei também que o meu tio vai gastar muito.
Márcia ficou olhando para Andressa e perguntou:
-- Amor você já me falou dessa padaria que era dos seus avós. Onde ficava?
-- Ora amor, atrás do estádio da Portuguesa, no Canindé!
-- No Canindé? – Atrás do estádio? – Por acaso o nome dessa padaria não era...deixa eu me lembrar!!!! Depois de alguns minutos. – Lembrei, chamava-se Panificadora Flor do Canindé. Acertei?
-- Era esse nome mesmo amor. Eu me lembro que alguns policiais que faziam rondas por lá, sempre tomavam café, almoçavam ou comiam lanche. Meu avô fazia questão que os rapazes comecem lá. Porque ele ficava com dó dos meninos fazerem vaquinha, ou trabalhar com fome.
-- É, mas a mulher dele não gostava muito. Aquela velha ela terrível. Quando era ela que estava no balcão, não dava nem água. Ela só melhorou depois que assaltaram a padaria com ela lá dentro.
-- É? – Como assim? Perguntou?
A coronel começou a rir e Andressa não estava entendendo nada. Vendo que a esposa estava boiando, resolveu contar. Os filhos a essa altura do campeonato escutavam toda a conversa e riam a valer. Antônia disse:
-- Conta logo mamãe Márcia!
-- Calma filha eu vou contar, mas que tal tomarmos um suco e comer umas esfihas?
-- Obaaaaaaaaaa! Nicola gritou.
Depois de todos acomodados ao redor da piscina, a coronel começou a narrar o episódio.
-- Bom pessoal meus filhos amados e minha doce e amada esposa. Aconteceu que a padaria foi assaltada por dois marginais que ficaram por três dias observando o local. Com certeza eles sabiam o horário que os policiais estavam por lá e quando não estavam. Nesse dia do assalto, o seu Antônio não estava na padaria porque ele havia ido ao centro da cidade pagar algumas contas e a desgraça da velha ficou tomando conta de tudo. Quando os policiais chegaram para tomar café, ela se recusou e disse que eles eram pagos par trabalhar defendendo a sociedade e não para ficar comendo por lá. Taxou os rapazes de mendigos e eles claro, ficaram com raiva e foram embora fazer patrulhamento. Nesse meio tempo os meliantes apareceram e levaram além do dinheiro, cigarro e bebidas. Ai a filha da puta da velha, chamou a polícia e quando os rapazes viram de onde e de quem foi a chamada, levaram uma hora e meia para chegar à padaria. Mas foi sacanagem, porque eles viram toda a ação e não fizeram nada.
-- Mas e ai amor, o que aconteceu depois?
-- É mamãe o que aconteceu? Perguntou Celina.
-- Quando os policiais chegaram, a velha estava soltando fogo pelas ventas.
-- Agora que já fomos assaltados, vocês não precisam mais vir aqui! – Foi quando uma policial falou para ela: -- Olha dona Maria, a senhora devia agradecer, porque não são só vocês que tem estabelecimento comercial por aqui. Outras pessoas também. A e tem mais, nós fomos trabalhar, não foi isso que a senhora nos mandou fazer? – Bem feito velha rabugenta.
Andressa e os filhos ficaram olhando para a Márcia e então a esposa da coronel perguntou:
-- E qual foi o final da história?
-- Depois de muita conversa, ela viu que nós merecíamos ser mais bem tratados e resolveu mudar os hábitos. Até lanche de churrasco a gente passou a comer. Mas ela só não sabia que nós tínhamos contratado os caras para o assalto. Depois foi tudo devolvido, liberamos os ladrões e tudo seguiu seu curso natural.
Andressa ficou de boca aberta quando a coronel terminou de contar a história. Celina disse para a mãe:
-- Que coisa feia mamãe!
Márcia olhou para a filha e respondeu:
-- Minhas princesas e meus príncipes lembrem-se sempre que os fins justificam os meios. Nunca se esqueçam disso!
Um sino bateu na cabeça de Andressa e ela resolveu se pronunciar mais uma vez.
-- Amor você disse que vocês passaram a comer lanche de churrasco?
-- Sim amor porque o espanto? – Aquela padaria era maravilhosa e nós ficávamos fazendo ronda por lá e a viatura ficava parada na praça em frente dela. A única coisa chata lá era a velha.
Andressa mais espantada ainda saiu em direção à sala e voltou com uma foto antiga onde haviam alguns policiais com um senhor de cabelos grisalhos. Ao olhar a foto com atenção, viu que alguém conhecido estava nela. Olhou em direção a cozinha e vendo a coronel olhou novamente a foto. -- Não pode ser! – A vida inteira o seu caminho esteve cruzado com o meu! Pensou. Agora as coisas que Márcia contou faziam sentido. O casal de velhos eram os seus avós Antônio e Maria e realmente a velha era mesmo uma peste. Até com os netos ela era ruim. Voltou para a cozinha e sobre os olhares atentos dos filhos e de Márcia ela perguntou:
-- Amor você se lembra dessa foto e quando ela foi tirada?
Márcia pegou a foto e perguntou:
-- Onde você achou essa foto Andressa?
-- Ela estava nas coisas que pertenceram aos meus avós!
Dessa vez foi Márcia quem se espantou.
-- Andressa essa foto foi tirada em 1982, era um domingo a tarde e naquele dia nós iríamos trabalhar no jogo da Portuguesa com o Guarani pelo Campeonato Paulista daquele ano. E o seu Antônio fez questão de tirar essa foto. Eu tinha 19 anos nessa época e você pode ver que a farda ainda era marrom. Mas porque o espanto meu amor, faz tanto tempo, passaram-se tantos anos.
Andressa olhou para os filhos e depois de abraçar a coronel disse com os olhos rasos d’água:
-- Esse era o meu avô. Os donos dessa padaria eram o meus avós Antônio e Maria, eu me lembro bem dessa época. Eu tinha 13 anos e estudava no colégio da polícia militar e o André tinha 15. Nós ajudávamos na padaria na parte da manhã e íamos ao colégio à tarde. Agora sei que nossos caminhos sempre se cruzaram, só faltava o tempo certo para a gente se encontrar e viver esse amor que hoje temos.
Márcia beijou a esposa e respondeu:
-- O mundo é mesmo pequeno. Gira, gira e acaba no mesmo lugar. Quem diria que aquele Antônio era o seu avô. Agora já sei para quem o seu pai puxou. Foi para aquela peste da sua avó. Realmente eu me lembro de uma mocinha e um rapaz atrás do balcão, porém, jamais um dia eu imaginaria eram você e o André.
-- Agora vamos recordar tudo, por que a Flor do Canindé vai voltar.
--Isso vai ser ótimo e eu ajudarei seu tio no que ele precisar. Prometo.
Márcia, Andressa e os filhos se abraçaram. Foram para a sala e lá continuaram a conversar. A noite prometia e o fim de semana só estava começando. Logo seria a comemoração dos 60 anos de casados dos pais de Márcia e eles precisavam começar a preparar a festa.
Fim do capítulo
Voltei minhas lindas.
Desculpem a minha demora, mas andei com dengue, chicungunha, etc.
E ainda fiquei uns dias sem me mover por conta do meu nervo ciático que atacou. Ai como dói, não desejo para ninguém.
Mas estou voltando e prometo não demorar tanto. Vou começar a postar todos os domingos, pois a ideia é essa, assim vocês podem acompanhar a história sem ter que voltar a ler do começo.
Peço desculpas a todas, mas sempre que posso estou comentando uma ou outra história. Gostaria de comentar todas, mas é impossível.
Chegando ao final e agora avançamos no tempo. Os filhos estão crescendo rapidamente e logo terão as rédeas da própria vida. resta saber como a coronel irá reagir a isso.
Bjs a todas. E para a minha primeira dama patty_321, nem preciso falar que Te amo.
Comentar este capítulo:
Magnifico!!
bjs
darque
Resposta do autor em 15/05/2016:
olá querida.
Desculpe não responder antes, mas estou na correria. Afff...
Agradeço por comentar e espero que esteja curtindo. Se quiser trocar ideias estou com o seguinte email: cassiafunec23@xxx.
Bjs querida e um excelente domingo.
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