Durante aquele semestre Elise mudou completamente, abandonou as roupas masculinas, deixou o cabelo crescer e sempre, sempre estava colada em mim. Minhas amigas odiaram aquilo, e começaram a se afastar de mim, até Lucy me odiava por não ter mais tempo para ela. Elise era muito carente, não tinha amigos além de mim e nunca falava da sua família, e todos os dias ia pra minha casa, comprava roupas iguais às minhas e sempre me dava presentinhos. Um dia ela ficou furiosa quando me viu saindo com Ethan e rasgou com a tesoura o ursinho que ela tinha me dado, fiquei muito assustada, mas mesmo assim resolvi sair com ele, já estávamos saindo há algum tempo e ele finalmente pediu em namoro, não aceitei por ele, mas aceitei pra ter a desculpa pra me livrar de Elise. Nesse ponto minha vida já se resumia a fugir de Elise, mas a dó me impedia de enxotá-la de uma vez para longe de mim, naquela noite eu estava sem sono, pensando em como diria aquela notícia para Elise, tinha medo de sua reação, pois não seria a primeira vez que eu a veria dar uma taque de raiva. Estava ventando bastante lá fora, não demorou pra que a chuva começasse a cair, a arvore doo jardim batia freneticamente na janela do meu quarto, o que era assustador, olhei no relógio 2:45, droga, um trovão enorme me fez pular na cama, olhei pela janela e a árvore continuava a bater ritmicamente, o que era muito esquisito, os relâmpagos riscaram o céu e foram barrados por uma silhueta na janela, meu coração parou e durante um tempo que não consigo medir fiquei agarrada ao lençol e gélida. Novamente outro relâmpago iluminou o estranho rosto ensopado, reconheci as feições e fugiu o sangue do meu rosto,

-Elise!!!! – pulei da cama e abri a janela enquanto o vento frio e cortante invadia o quarto, agarrei seu braço – você está bem?

-Eu... Eu... – ela não conseguia formular a frase, a puxei para dentro e fechei a janela, ela se encolheu debaixo do peitoril super branca e fria, estava tremendo e pingando.

-Você tá louca?!? – eu gritei pra ela, ela não me olhou nos olhos, continuou encolhida tremendo, peguei meu roupão de banho limpo e a enrolei, ela ficou uns 5 minutos daquela forma, até parar de tremer. – Elise o que você está fazendo aqui? – dessa vez perguntei docemente tentando não ser rude, vê-la daquela forma me fazia entender sua fragilidade, Elise mais do que tudo precisava de atenção, precisava de mim.

-Eu vim pedir desculpas – ela me falou virando o rosto em direção ao meu, seus olhos estavam vermelhos e uma pequena lágrima caiu, ela suspirou com uma carinha de choro – você é minha amiga, eu não podia ter feito aquilo, me perdoa, por favor – Elise se agarrou em meus braços estava ensopada e toda gelada se não trocasse de roupa iria ficar muito resfriada.

-Tudo bem, Elise – falei dando um abraço carinhoso – vem, vou te emprestar uma roupa – a puxei pela mão, a levei ao closet e lhe entreguei um baby doll, ela me olhou extremamente confusa, aquela era a primeira vez que eu a via com aquela expressão que a fez parecer tão... Fofinha.

-Como vou embora nessa roupa? – ri imediatamente.

-Tá maluca? Você não vai embora nessa chuva, vai dormir aqui comigo – ela me olhou calidamente, mas era outro olhar completamente diferente, era um olhar de gratidão, transbordava sinceridade.

-Obrigada – ela disse baixinho e saí do closet

-Pode se trocar – falei já do quarto, comecei a arrumar o chão pra me deitar, peguei um cobertor bem grosso e joguei na cama pra ela e me deitei no chão, a porta do closet tava aberta, mas como a luz estava desligada estava um breu lá dentro, o chão estava duro e gelado, um raio brilhou forte lá fora iluminando o quarto por meio segundo, revelando Elise, de costas completamente nua, o corpo inteiramente branquinho... e macio, me senti esquisita, então de volta no escuro me bateu um medo do caralh*, dela sair de lá toda deformada e com uma faca... ok, eu estava louca, ou com sono, virei de lado e ela saiu toda sem jeito com o shortinho curto, ri internamente.

-Você não vai dormir no chão – ela disse em tom de ordem sorri debochada.

-Hei você é a visita aqui. – falei e já fechei os olhos pra dormir, senti a sua aproximação, mas continuei tranquila de olhos fechados ela se abaixou, eu podia sentir o vento de sua respiração então de repente ela me abraçou e me puxou pra cima me levantando!

-Hei!? O que tá fazendo??? – Abri os olhos e ela me colocava na cama sem esforço algum, eu juro, Elise era uns 10 centímetros mais baixa que eu, não tinha porte atlético, mas conseguiu me levantar, eu fiquei chocada vendo ela se deitar no chão.

-Você não vai dormir no chão – Ela se limitou a repetir, e virou de costas, fiquei uns minutos a observá-la, era inevitável a vontade de tocá-la. Eu sentia pena, não queria vê-la sofrer.

-Hei-falei baixinho

-Hum, - ela murmurou.

- Vem pra cá, ai tá ruim – toquei seu cabelo e ainda estava todo molhado, ela se virou e deu um sorriso tímido, se levantou e deitou de costas para mim, bem longe, me virei para seu lado, meu braço tocou acidentalmente sua pele ela ainda estava fria, peguei o cobertor e nos cobri, ela estremeceu, comecei a esquentá-la com minha mão, ela virou em minha direção e ficou a poucos centímetros de mim. Pegou em minhas mãos e levou aos seus lábios.

-Eu te amo Vic – falou baixinho dando um beijinho em minha mão, fechou os olhos e adormeceu, eu não consegui dormir o resto da noite, tá que a gente se conhecia há 3 meses,  mas algo que sempre me incomodou em Elise era sua intensidade, mas eu tinha medo de magoá-la. Apesar de tudo Elise era exatamente o que eu via agora, uma garota frágil e muito carente, mas também muito intensa, fui adormecer quase amanhecendo quando acordei, ela não estava lá, parecia que tudo tinha sido um sonho ruim. Levantei e olhei pela janela a paisagem molhada, senti algo gelado no meu pescoço, toque e puxei, era uma corrente dourada o pingente uma aliança prateada tinha uma pequena inscrição:

Meu coração é seu.

Fim do capítulo