Era Abril, eu e minhas amigas estávamos no recreio, Jojo fez uma cara horripilante pra mim.

-Ai meu Deus! A horrenda tá te encarando – ela  me disse me puxando pro lado, estávamos indo sentar à mesa, virei meu rosto e procurei de quem ela estava falando – não olha amiga! – ela continuou.

-Então fala quem é!- disse eu ainda olhando em volta quando meus olhos bateram naqueles olhos castanhos cravados em mim, eu não sabia seu nome, mas já a tinha visto por ali.

- A Elise está a dias a te comer com os olhos – falou Kate incisiva como sempre.

-Quê?! Fiz algo de errado com ela? – disse ainda não levando a sério.

-Sim, chamou atenção demais – continuou Kate.

-Credo!!! E o que tem isso? – falei rindo

-Quando se é uma sapata esquisitona tem muito – disse Jojo exagerada, dei uma risada sonora.

-que nada, meninas, deixem de loucura – olhei pra Elise e desviei o olhar que era direto e muito intenso – Até que ela é gatinha – Jojo riu, Kate me restringiu com o olhar.

-É sério, cuidado, ela é meio imprevisível. – disse Kate bem baixinho.

Depois da aula fui deixar meus livros no armário, quando rodei o cadeado senti sua presença, eu sabia por causa da atmosfera que ela carregava, me virei e ela estava lá realmente, meu coração pulou, ela era quase um menininho de 17 anos, cabelo curtinho castanho com boné estampado, roupas bem folgadas e masculinas, ela era bonita, mas algo em seus olhos me davam muito medo, talvez aquele desejo me engolia com os olhos... o piercing na sobrancelha.

-Olá! - Começou ela, percebendo meu sobressalto – te assustei?

-Não, eu só não esperava...

-Me desculpe, eu não queria...

-Tudo bem – disse a ela arrumando os livros nos braços para poder me livrar da presença pesada dela.

-Meu nome é Elise, prazer – disse me estendendo a mão, olhei-a com receio, rearrumei os livros e apertei sua mão, senti um leve choque que voltei a estremecer, eu estava com... medo.

-Eu sei, meu nome é Vic...

-Eu sei – ela me interrompeu – comecei a andar e ela me acompanhou.

-Que bom – me limitei a dizer.

-Sabe, eu estava pensando - gelei com as possibilidades daquela frase – por que a gente não é amiga? – dei um sorriso sem graça.

-Não sei, a gente é da mesma turma?

-Agora somos – Ela disse com um sorriso enorme e assustador – Pedi pro diretor voltar um ano – minha cabeça explodiu, ela estaria me perseguindo? – Eu estava com muita dificuldade e resolvi rever os assuntos.

-Ah – exclamei tentando soar interessada

-Você parece ser uma garota inteligente, além de linda – ela disse e olhou para o chão e corou, por um segundo ficou... Fofinha parecendo uma menininha com vergonha, mas ai levantou  o rosto. Olhos de loba faminta. – Eu preciso de sua ajuda.

-Olha Lizie... – Comecei

-Do que você me chamou? – me interrompeu novamente com um sorriso no rosto.

-Lizie, eu não sei se é uma boa ideia – completei, ela parecia encantada com meu apelido forçado.

-E por que não, Vic? – ela disse já se sentindo à vontade o que me deixou incomodada.

-Acho que não sou boa em nenhuma matéria

-Ah... deixa de modéstia, Vic, você é das garotas cult legais, por favor diga que vai pensar – ela arrumou a alça da mochila e juntou as mãos num gesto de solicitude – Eu faço o  que você quiser – me disse aquilo num duplo sentido tão carregado que era impossível não notar a direta.

-Certo, vou pensar – falei cortando o clima estranho, enquanto ela comemorava Lucy chegou.

-Então até logo – falou isso e saiu. Lucy a olhou de cima a baixo.

-Desde quando anda com esse tipo de garota? – disse Lucy.

-Eu não ando, ela grudou em mim – Lucy fez uma careta e voltou a olhar Elise ir embora.

A semana passou e eu fugia de Elise como o diabo foge da cruz, Ethan me convidou pra sair e eu aceitei. Ele não é muito inteligente, mas é bem popular e divertido, na terça era educação física no último horário e não seria fácil fugir de Elise, com a tática de sair junto com os professores. Fiquei enrolando com as meninas na quadra, mas ela não apareceu e respirei aliviada, fomos ao vestiário, as meninas se arrumaram feito balas de canhão, e foram para a lanchonete da esquina.

-Me esperem! – gritei inutilmente ainda com xampu no cabelo, eu admito, demoro muito no banho, na verdade é por que gosto de relaxar com a agua quentinha caindo no meu corpo do alto da cabeça, eu estava de biquíni, não gostava de ficar nua na frente das pessoas, já que estava sozinha resolvi tirar a parte de cima, virei as costas para a porta pra evitar que se entrassem me vissem seminua, continuei massageando meu cabelo e comecei a cantar uma música lírica.

-Oi! – disse longamente a voz rouca e feminina – não sabia que gostava de O Fantasma da ópera – me virei rapidamente assustada e agarrei a tolha que estava pendurada e cobri meu corpo.

-Elise! Que susto! Você quase me matou.

-Desculpe – disse rindo e se aproximando de mim, recuei e dei de costas no azulejo e ela não parava de se aproximar, ficou a 20 centímetros de mim, eu estava ofegante, e o olhar dela era desconcertante, me faltou o ar umas 3 vezes. Ela riu com um sorriso safado e maquiavélico, desviou o olhar e estendeu a mão para a torneira do chuveiro... E o desligou.

-você tá gastando água – olhou pra baixo e saiu contente, fiquei imediatamente vermelha de vergonha, eu vi no espelho. Ela se sentou no banco de costas para mim, eu podia ver sua expressão pelo reflexo do espelho, mas ela não me via, ou ao menos não aparentava me ver. – Já pensou na minha proposta? – falou olhando atentamente os azulejos, fiquei sem resposta, apesar de todo aquele clima pesado que Elise carregava, eu era daquelas que odiava magoar alguém, mesmo assim relutei dizer:

-Certo, mas com uma condição.

-Qual? – perguntou dando meio sorriso.

-Eu vou te ajudar, mas é do meu jeito – Elise olhou diretamente nos meus olhos pelo reflexo do espelho.

-Você não vai se arrepender – Disse num olhar reto, senti um calafrio.

Fim do capítulo