Capítulo 63. A morte do major Clóvis.
Quando foram para o quarto, depois de colocarem as crianças para dormir e de Andressa ter dado de mamar aos pequenos, Márcia se aproximou da esposa e a enlaçou fortemente em seus braços. A coronel sentia que algo poderia acontecer e no fundo ela não estava errada porque ainda teria que enfrentar Harold, pois Renata praticamente era carta fora do baralho. Andressa percebeu e perguntou:
– O que foi amor, você está tão pensativa? Está tudo bem com você?
– Sim minha linda, está tudo bem. Na realidade eu estou preocupada com o sumiço da Virgínia e com o Harold. Creio que eu e aquele moleque não entraremos em acordo algum.
– E porque você me diz isso Márcia?
– Porque Andressa, eu vejo isso nos olhos dele e sinto o ódio que ele tem de mim. Os homens lá do batalhão já se acostumaram com a rotina de lá e com as mudanças que fiz, afinal de contas já faz quase um ano que estou no comando. Muita coisa mudou e agora eu autorizei o major Clóvis a dar um churrasco no aniversário da Força Tática que será na quinta-feira da próxima semana.
– Nossa amor, então teremos festa para ir?
– Sim minha primeira dama e eu quero você e as crianças lá. Você vai estar na festa comigo?
– Mas é lógico e eu tenho acompanhado os seus progressos lá na unidade. Sei que você mandou consertar todas as viaturas que estavam quebradas, fez uma licitação para comprar fardamento novo aos rapazes, mandou que pintassem o quartel inteiro e além de mandar trocar os portões e os móveis, ainda pagou as contas que estavam todas atrasadas. Eu me orgulho muito de você meu amor.
– É amor, mas eu tive que ir conversar várias vezes com o secretário e com o nosso comandante geral. Mais no final, deu tudo certo e agora aquilo lá parece mesmo um quartel. Os rapazes são ótimos soldados, eles só estavam sendo esquecidos e tratados como lixo, mas agora tudo está bem.
– Hum e agora para mudar o nosso assunto, que tal fazermos amor?
– Agora, já, nesse instante?
– Sim Márcia eu estou louca de saudades dos seus beijos, das suas mãos, dos carinhos e principalmente do seu corpo colado ao meu.
– Então querida, seu pedido é uma ordem. Venha cá, falou puxando Andressa para junto de si.
Márcia deitou Andressa na cama e calmamente a acariciou. Ela fazia com cuidado, pois a esposa havia ganho os bebês há poucos dias e com isso, a coronel tinha medo que ela se machucasse.
– Que saudade desses beijos meu amor. Ai Márcia vem e me possui que estou pegando fogo, hummmmm delícia de boca.
– Vamos com calma meu amor, afinal nós temos todo o tempo do mundo para nos amar.
Elas se amaram a noite inteira com muita intensidade. Ambas estavam sedentas de amor e o tempo só fazia com que esse amor crescesse cada vez mais. E os frutos dele estavam dormindo no quarto ao lado. Depois de muito se amarem, Márcia dormiu abraçada a Andressa ou pelo menos tentou dormir, mas a sensação de algo ruim não saia de sua cabeça.
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A coronel chegou como sempre, cedo ao batalhão. Logo em seguida o major Clóvis entrou em sua sala dizendo que precisava muito falar com ela e que o assunto era muito sério.
– O que houve major?
– Coronel nesses dias em que a senhora ficou afastada, alguns bandidos estiveram rondando o quartel e eu creio que foram uns meliantes que o tenente Severo, os sargentos Vasques e Irineu juntamente e os soldados Monteiro, Deogenes e Carla prenderam na semana passada.
– E o que aconteceu nessa ocorrência major? Alguém dos nossos se feriu?
– Não coronel, felizmente não. Mas eu acho que o subtenente está envolvido em alguma coisa
-- E porque o senhor está me dizendo isso?
– Ele tem estado muito estranho e depois que a senhora deu quinze dias de detenção a ele praticamente mudou o comportamento. E tem mais, quando ele está no patrulhamento, geralmente nossos homens não conseguem nenhuma apreensão e depois da semana passada com o que ocorreu, eu tenho certeza de que ele está com ligações com esses bandidos.
– Mas isso não faz sentido major! Vamos fazer o seguinte, como está o patrulhamento diurno?
– Esse até que vai bem coronel, mas o problema é com o patrulhamento noturno. Eu tenho ficado até tarde da noite aqui no quartel e às vezes em que eu fui junto com os rapazes, até que deu certo e nós fizemos algumas apreensões, inclusive na favela do Pela Porco.
– Então major eu e o senhor teremos que sair a noite juntamente com os rapazes. Avise aos comandantes da viaturas noturnas que eu quero uma reunião com eles daqui há uma hora no meu gabinete.
– Sim coronel, vou providenciar isso agora mesmo.
Na hora do almoço a coronel recebeu a visita da coronel Monteiro e do coronel Tavares.
– Coronel Mantovanni, gostei de ver amiga que mudança você fez aqui. Agora parece um quartel de verdade.
– É mesmo coronel Monteiro, eu mudei mesmo isso aqui e pretendo mudar ainda mais, isso é, se não me matarem antes.
-- Credo Márcia que comentário mais sem graça, falou o coronel Tavares.
-- Mas é fato pessoal, vou contar para vocês o que o major Clóvis acabou de me contar há pouco.
-- O que foi Márcia, algo sério?
Márcia afirmou positivamente com a cabeça e contou aos dois amigos o que estava acontecendo. Tanto Cláudia como Henrique ficaram boquiabertos com as revelações feitas por Márcia.
-- Mas é uma coisa absurda, e como você vai resolver essa questão?
-- Ainda não sei, mas estou com uma reunião marcada com os responsáveis pelas guarnições e eu gostaria muito que vocês ficassem.
-- A Andressa já sabe que você vai fazer patrulhamento noturno?
-- Ainda não, é que eu e o major decidimos isso hoje. Mas mudando de pato para ganso, e o meu genro lindo como está?
-- Vai bem e cada dia mais safadinho e as crianças está tudo bem?
-- Sim estão, e a Celina nem te falo. Você acredita que ela vive querendo pegar o Nicola no colo! Ela fala ou pelo menos tenta falar que ele é lindo.
-- Márcia você colocou o nome do seu irmão no menino? E a menina como vai se chamar?
-- Bom eu e a minha esposa estivemos conversando e ela decidiu pelos nomes. Eu disse que tudo bem e assim ficou sendo Nicola Pires Paiva Mantovanni e Antônia Pires Paiva Mantovanni.
-- Mas e o seu pai, você acha que ele vai pensar o quê disso?
-- Ele não tem que pensar nada, o filho é meu e tanto eu como a mãe dele colocamos os nomes que quisermos e assim de acordo com o desejo da minha esposa, foi feito
Logo depois chegaram os oficiais responsáveis pelos patrulhamentos tanto o diurno, quanto o noturno. A coronel reuniu a todos e assim começaram a traçar o plano para prender os meliantes e o subtenente Hainz. Foi quando o tenente Clodoaldo falou:
-- Coronel Mantovanni, segundo nos consta tem um tal de Barbatana que é conhecido do Hainz e eu já vi esse cara rondando por aqui.
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– Coronel desculpe eu tomar a palavra, sei que eu sou de outra unidade, mas eu já ouvi falar desse sujeito, falou a coronel Monteiro.
– E o que a senhora ouviu coronel Monteiro? Perguntou Márcia.
– Ele é perigoso e já feriu dois soldados meus e a preferência dele é matar policiais. E se o subtenente estiver envolvido com ele, a situação de vocês aqui será insustentável. Ele é muito astuto e você terá que colocar a raposa do deserto para pegá-lo.
Depois de traçarem as estratégias para pegar Barbatana e seu bando, todos se retiraram. A coronel ficou pensativa e deixou para a segunda-feira a atuação da sua unidade, pois no domingo eles iriam escoltar a torcida do flamengo até o estádio do Pacaembu, onde haveria o jogo contra o palmeiras. O regimento de cavalaria, o batalhão de choque, o canil e o gate estariam também por lá para dar apoio.
Logo após a saída de Cláudia e Henrique, a coronel recebeu um telefonema de Virgínia e ficou espantada com a ligação.
– Virgínia tudo bem, onde você anda mulher?
– Márcia eu preciso conversar com você, pode ser na sua casa hoje a noite?
– Sim pode ser, mas o que está acontecendo? Você sumiu e o seu marido como está?
– É justamente sobre isso que precisamos conversar. Ele está acamado e não pode falar muito.
– Mas o que aconteceu com ele?
– Ele foi assaltado no dia em que eu estive ai falando com você e eu creio, que o Harold está envolvido nisso porque o Maldonado tem certeza de tê-lo visto junto com os meliantes. Quase que eles matam o meu marido Márcia. Eu preciso da sua ajuda.
– Tudo bem Virgínia, mas como o seu filho poderia estar lá, se eu o coloquei detido por quinze dias aqui no quartel?
– Eu não sei coronel, mas acho melhor a senhora olhar com quem está trabalhando. Eu acho que alguém ai está recebendo muito bem para fazer o que não deve.
– Tudo bem Virgínia, eu tomarei providências e te espero a noite em casa.
– Está bem coronel por volta das oito horas estarei lá e obrigada por me atender.
A coronel mandou chamar o major Clóvis e esse imediatamente adentrou em sua sala.
– Algo errado coronel, a senhora mandou me chamar?
– Major me diga sinceramente, a algo aqui que eu ainda não descobri?
– Porque a pergunta coronel? O que houve agora?
– Você se lembra quando eu mandei deixar o subtenente Hainz detido por quinze dias?
– Sim coronel e o que tem isso?
– Acontece que o marido de uma conhecida minha foi assaltado, deram-lhe uma boa surra que deixaram o coitado acamado e sem quase falar porque quebraram-lhe quase todos os dentes e ele tem certeza que o subtenente estava com os bandidos. Como o senhor me explica isso major, sendo que o senhor é subcomandante daqui e que na minha ausência estava comandando a unidade e não viu isso?
– Coronel por favor, eu não estou entendendo aonde a senhora quer chegar com isso?
– Major eu não o estou acusando de nada, eu só quero saber como isso aconteceu! É difícil para o senhor averiguar? Eu quero saber na terça-feira da semana em que teve aquele feriado do dia das crianças, quem estava de guarda aqui no quartel. É somente isso que eu quero, porque passar pela parede o subtenente não passou se é que ele estava no meio desse assalto.
– Eu vou providenciar coronel e entrego ainda hoje para a senhora.
Antes do major sair a coronel disse:
– Major Clóvis!
– Sim coronel o que deseja?
– Espero não me decepcionar com o senhor assim como aconteceu com o tenente coronel Cardoso. Eu não gostaria de mandá-lo para o presídio militar, falo olhando seriamente para o subcomandante.
– Eu sei coronel, a senhora não precisa se preocupar com isso. Eu não sou o tenente coronel.
Quando ele saiu Márcia ficou em sua sala andando de um lado para outro. Não conseguia entender o que estava acontecendo e teria que tomar muito cuidado dentro daquela unidade. Somente pensava que o major sabia de algo e isso ela mesma teria que descobrir. Será que ele estava sendo ameaçado? Será que também era mancomunado com o subtenente Hainz? O que Virgínia quer falar de tão importante com ela? E sobre fazer o patrulhamento noturno, o que Andressa irá dizer? Eram respostas que ela naquele momento não tinha para dar.
Meia hora depois o sargento Vasques entrou na sala da coronel assustado.
– O que houve sargento?
– Desculpe coronel, mas o major Clóvis acabou de se suicidar!
– O que você está me dizendo sargento?
– Isso mesmo que a senhora ouviu coronel. Ele está morto em sua sala.
A coronel correu até a sala do major e o viu caído com a cabeça em cima da mesa e o revólver na mão. Ao examinar sua pulsação, esta constatou que a morte foi instantânea.
– Chamem a perícia agora e você tenente Silveira ligue para o IML.
– Sim coronel, agora mesmo.
Na mesa do major, a coronel Mantovanni viu alguns papéis e constatou que eram os que ela queria analisar. Pediu para que não tocassem no corpo e em nada na sala do major, foi para o seu gabinete e pediu que a chamassem assim que os peritos chegassem.
Telefonou para o coronel Gutierrez e relatou o ocorrido com o marido da sobrinha.
– Mas como isso aconteceu coronel Mantovanni?
– Eu não sei coronel Gutierrez, mas eu preciso conversar com o senhor e mostrar-lhe alguns documentos que estavam na mesa do Clóvis e agora estão aqui comigo no meu gabinete.
– Estarei chegando ai por volta de meia hora e então veremos como está a situação.
Logo depois a coronel recebeu a ligação da esposa.
– Oi amor boa tarde, como estão as coisas meu anjo?
– Oi minha primeira dama. Aqui não está nada bem, respondeu para Andressa.
– O que houve amor, você não está bem? O que você está sentindo?
– Eu estou bem amor. Acontece que o major Clóvis acabou de se suicidar na sala dele.
– O que? O seu subcomandante? Mas como foi isso amor?
– Querida quando eu chegar em casa, te conto tudo timtim por timtim. Mas pelo que eu vi da cena, acho que foi assassinado.
– E ninguém viu ou ouviu nada meu amor?
– Nada Andressa, e o pior de tudo é que a última pessoa com quem ele conversou fui eu.
– Mas e agora amor, como fica a sua situação?
– Fica do jeito que está. Eu estou fazendo a minha parte que é de mandar investigar e saber o que aconteceu. Mas logo estarei em casa e conversaremos. A propósito amor a Virgínia vai ai em casa hoje. Diga a ela que demorarei um pouco, mas que ela pode adiantar para você o assunto que ela quer tanto falar comigo.
A coronel Mantovanni sabia que iria ter problemas com a morte do major e isso não estava em seus planos. Uma das respostas para a sua pergunta já havia sido respondida, provavelmente o major sabia de algo e isso custara-lhe a própria vida, ou seja, um dos arquivos já estava queimado. Mas e o restante das respostas?
Fim do capítulo
E agora?
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