Música do capítulo: Complicated - Rihanna
Capítulo 10 - Quem diabos você pensa que é?
Eu só de lembro de abrir a porta. Depois disso tudo ficou meio confuso. Uma Luiza quase babando de raiva segurou meu pescoço e me arrastou para o quarto. Eu me debati e derrubei algumas coisas pelo caminho, inclusive um porta retrato com uma foto de Pierre recebendo algum prêmio. Se eu não estivesse tão ocupada tentando respirar, ficaria feliz por não olhar mais para a cara dele. Entrei no meu quarto de costas com minha namorada tentando me matar? Não sei, eu mal a enxergava, só tinha ódio na minha frente. Maria Luiza era uma espécie de massa disforme de ódio. Segurei em seu braço e surpreendentemente não disse nada. As lágrimas que desciam com o susto e a dor foram cessando. Luiza apertou mais forte. Eu percebi tudo a minha volta rapidamente, eu estava com as costas numa parede do meu quarto. Luiza apertou ainda mais forte. Ela estava com a mesma camisa branca de mais cedo. Minha visão foi embaçando, tudo mais estava da cor da camisa dela. Lembrei de Matheus e do pouco tempo entre a saída dele e sua chegada. Tudo fez sentido, mas podia ser tarde. Reuni todas as minhas forças e disse esgasgada:
-- Me solta agora! -- Mesmo sem esperança, proferi essas palavras com segurança. E não sei bem porque, funcionou. Meu pescoço estava livre. Caí sentada enquanto sentia meu sangue voltar a circular. Eu respirei tão forte que doeu, minha cabeça estava explodindo. Ficamos longos minutos em silêncio onde só se escutava a respiração raivosa de Luiza. Eu estava com uma das mãos no pescoço dolorido. Ela sibilou entre dentes:
-- Você pôs esse filho da puta dentro de casa? Na cama onde eu durmo com você também? -- Disse olhando para o chão.
-- Claro, Maria Luiza. Depois coloquei exatamente a mesma roupa. E fiz a mesma maquiagem. Tudo isso no tempo entre ele sair daqui e você chegar porque além de vagabunda que dá pra ele pelas suas costas, eu sou vidente. -- Consegui dizer e senti seus olhos avaliando minha aparência. -- Ele apareceu de surpresa, lembrou do meu aniversário e veio me dar os parabéns. Foi só isso, eu não tenho nada com ele. Ele é apenas um amigo. -- Completei olhando em seus olhos.
-- Eu... eu o vi saindo daqui... Pensei que... -- Ela voltou a si lentamente.
-- E obviamente deduziu que eu fiz sex* selvagem com ele no quarto que durmo contigo todo dia! Olha, Luiza, eu nunca fui santa, mas isso é baixaria até pra mim. Mesmo antes de te conhecer. -- Fiquei com muita raiva de Luiza, eu nunca havia sentido tanta necessidade de me afastar dela como agora. Senti cansaço, muito cansaço de tudo isso. -- Você queria me matar! -- Gritei de repente.
-- Não! Desculpa, amor, eu perdi a cabeça. Não quis te machucar, muito menos te matar! -- Ela argumentou.
-- Então apertou meu pescoço até quase me fazer perder os sentidos porque? Queria me fazer carinho? -- Vociferei e Luiza ameaçou começar a chorar como sempre, dessa vez isso não me comoveu. Muito pelo contrário. -- NÃO CHORA! Você não tem esse direito, eu que tenho. Nao chora, não aconteceu nada com você. Não ouse se transformar na vítima. Não dessa vez, Maria Luiza! Não, não e não!
Luiza ficou quieta me olhando claramente segurando o choro. Olhar para ela me deixou enfurecida. O único objeto que identificar antes de atirar nela foi o primeiro, um porta canetas do Shrek que ficava na mesa do computador. Depois deles vieram outros, perfume, maquiagem, porta-retratos, sei lá. Só sei que eu gritei muitas coisas das quais me lembro de fragmentos. Ela se encolhia enquanto alguns objetos a acertavam. Felizmente, para Maria Luiza, nunca fui boa de mira.
-- Quem diabos você pensa que é, Maria Luiza? Pra entrar aqui assim e tentar me matar? Vai pro inferno! Some daqui, sai da minha frente! -- Gritei atirando as coisas. Ela só encarava o chão e me pedia calma. -- Calma é a puta que pariu! Você queria me matar, eu vi! -- Disse ofegante, não tinha mais nada para atirar e eu estava exausta.
Só quando parei de gritar reparei nas batidas na porta. Fátima parecia desesperada pra saber o que estava acontecendo. Atravessei o quarto passando perto de Luiza, mas me esquivei quando ela esticou a mão para me alcançar. Fui me acalmando. Meu pescoço estava dolorido o que não deixava a mágoa ir embora. Respirei fundo e abri a porta. Eu estava descabelada, a maquiagem se desfazendo, não imaginei ter que usar rímel a prova d'água hoje. Não conseguia deixar de passar a mão no pescoço, algo ainda parecia bloquear minha respiração. Ele devia ter alguma marca porque de uma forma surpreendente, quando não parecia possível, Fátima arregalou ainda mais os olhos. Eles já estavam arregalados devido a minha aparência.
-- Desculpa o barulho, Fá. Vai ficar tudo bem. -- Minha namorada quase me matou porque achou que transei com o Matheus no dia do meu aniversário pouco depois da saída dela daqui. Não, nada ia ficar bem.
-- Minha menina, o que aconteceu? -- Ela perguntou preocupada. Ouvir sua voz me fez bem, como se eu fosse humana de novo. Dissipou um pouco da raiva.
-- Maria Luiza. -- Respondi simplesmente e uma vontade de chorar no colo de Fátima me dominou. Foi difícil segurar as pontas. Depois completei. -- Maria Luiza está indo embora. Você se incomoda de a acompanhar até a porta? Eu não vou jantar, já vou deitar. Se mais alguém ligar agradeça por ter lembrado de mim e explica que estou indisposta. Obrigada, Fátima. -- Abri caminho e Luiza passou. Bati a porta.
Não tinha vontade de chorar mais. A inércia, minha companheira antes de Luiza estava de volta. Foram alguns segundos só. Como se aquilo fosse necessário só naqueles segundos. Entrei no chuveiro e fiquei parada enquanto a água super quente queimava minha pele. Lembrei do olhar de Luiza, mas não me encolhi. A inércia foi se afastando e eu senti uma sensação idêntica a da água na minha pele, mas por dentro. A raiva se espalhava e queimava cada detalhe do meu interior. A deixei vir e a aceitei como parte de mim. Eu odiava Luiza. Odiava por fazer isso com a gente. Odiava por não me deixar ajudar e por me achar capaz de algo tão baixo. A raiva abrandou, mas continuou ali. Ocupou seu cantinho. Aí então veio a tristeza. Eu quis toda inércia de volta, mas abri mão dela quando escolhi Maria Luiza. Então eu chorei. Chorei de ficar de pernas bamba. Fiquei triste por Luiza e por mim. Fiquei triste porque não sabia recuperar o que foi perdido. Saí do banho mais de uma hora depois e me sequei olhando para o espelho. Não me reconheci de imediato. Acho que Luiza conseguiu o que queria, ela me matou. Pelo menos uma parte de mim. A Alice que me transformei por ela. Eu me entreguei, baixei a guarda, eu a deixei entrar. E o que eu ganhei em troca? Acusações e agressões. Ah e amor. Mais do que achei merecer. No momento não posso dizer se valeu a pena.
Vesti só uma blusa grande e peguei o computador. Pesquisei sobre violência doméstica entre casais homossexuais e sobre relacionamento abusivo. Encontrei trabalhos de faculdade, relatos e artigos sobre o tema. Me senti ridícula pelo meu preconceito em achar que essas coisas só aconteciam entre homem e mulher. Li alguns relatos que me chocaram. Passei o resto da noite pensando nisso. Luiza precisava de ajuda. Eu sabia que ela não era má pessoa, nem mesmo uma pessoa agressiva mas precisava lidar com seus traumas e inseguranças. Algum tempo depois o desgaste emocional me venceu e peguei no sono. Sem Luiza e sem música pela primeira vez em muito tempo. Não tive pesadelo. Minha mente deve ter considerado a realidade assustadora o suficiente.
Acordei sem despertador pouco antes das 6. Minha cabeça rodava como se eu estivesse de ressaca. Levantei devagar e tomei um banho rápido para despertar. Vesti um roupão para ir a cozinha comer algo. Não comia desde o almoço de ontem. Abri a porta do quarto e quando passei pela sala, vi Luiza dormindo toda desajeitada no sofá. Ela estava com um braço pra fora e a cabeça pendendo pro mesmo lado. Meu coração amoleceu na hora. A cena me fez sorrir um pouco. A próxima coisa que me lembro é de estar acariciando os cabelos dela. Não fazia ideia de como cheguei até ali. Luiza estava me olhando sonolenta.
-- Por que não foi pra casa? -- Perguntei séria.
-- Nós não vamos embora, lembra? Te fiz uma promessa. -- Assenti.
-- Vai tomar um banho, vou ver o tem pra comer enquanto isso. Já perdemos aula ontem. Hoje nós vamos. -- Não deixei margens para contestações. Ela levantou e entrou no meu quarto esfregando os olhos. Suspirei e fui pra cozinha. Comi uma salada de frutas que improvisei e tirei da geladeira tudo pra Luiza fazer um sanduíche. Tirei suco de laranja também ou ela tomaria refrigerante. Quando eu estava terminando ela chegou. E se sentou e pôs se a preparar o sanduíche. Quando acabou deu uma mordida e olhou pro suco. Colocando a tigela na pia lhe lancei o olhar que ela entendeu. Bebeu sem pestanejar.
Me vesti com uma legging, sneakers e o uniforme customizado, sem mangas. Maquiagem leve, só base, pó compacto e rímel. Soltei e penteei o cabelo rapidamente e peguei meus óculos escuros. Olhei pra bagunça no meu quarto e não encontrei minha mochila. Sem pensar muito fiz uma coisa que já fazia tão naturalmente que não pensei. Luiza sempre me ajudava a achar minhas coisas.
-- LUIZAAAAA! CADÊ MINHA MOCHILA? -- Essa nossa mania enlouquecia Fátima. Ela nos julgava mais pela preguiça que pela gritaria em si. Luiza pareceu responder também no automático.
-- TERÇA VOCÊ JOGOU DENTRO DO ARMÁRIO, AMOR. -- Respondeu com a boca cheia. Encontrei a mochila, pus o óculos e sai do quarto. Ela vinha da cozinha com um pacote de biscoito recheado nas mãos. Revirei os olhos.
Me dirigi a saída, mas quando passei por Luiza ela me puxou pra um abraço.
-- Vem cá. -- Sussurrou. Me deixei abraçar. Aquilo não apagava nada do ocorrido, mas eu senti saudade do seu corpo à noite. Como não impus resistência, ela me apertou mais. E de repente o abraço começou a me lembrar de suas mãos em meu pescoço, faltou ar. Minha vontade era repelir o contato, mas me controlei. Me concentrei no seu cheiro, a sensação ruim passou. Beijei seu pescoço. -- Estraguei tudo? -- O medo era latente. Tão forte que me estapeou no rosto.
-- Precisamos conversar. -- Respondi.
-- Depois, preta. Agora temos aula, lembra? -- Beijou minha testa. -- Acho que mesmo se eclodisse a terceira guerra mundial você continuaria impecável. Você está linda. -- Pegou minha mão e deixamos o apartamento.
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As aulas transcorreram sem problemas ou novidades. Não falei nada com Luiza ou com mais ninguém fora perguntas que me foram feitas ou os parabéns de Eduarda. Quando o último professor liberou, Luiza foi ao banheiro. Aproveitei para liberar Eduarda do compromisso de sábado. Não estava com clima de festa e não queria simplesmente dar o bolo nela no dia. Eu disse que se me animasse ligaria para ela, mas não podia dar certeza. Ressaltei que Luiza tocaria lá e que o bar era muito maneiro caso ela quisesse ir com os amigos. Ela concordou e como sempre não perdeu a animação. Quando Luiza voltou nos despedimos de Eduarda e fomos para o carro. Fizemos esse caminho em silêncio, é um caminho bem curto de todo modo. Quando estacionou antes que Luiza falasse qualquer coisa eu lhe disse:
-- Ainda preciso passar um tempo sozinha. -- Eu estava olhando pela para rua através da janela. Pensei um pouco e tive uma ideia. -- Vou na galeria da minha família, não vou lá há muito tempo. E você vai pra casa dormir. Você está horrível. -- Disse olhando pra ela e a vi sorrir.
-- Nossa, obrigada. Sempre gentil. E quando nos vemos? -- Brincou tentando esconder sua ansiedade.
-- Avise a sua mãe que vou lá hoje no fim da tarde. Dirija com cuidado. -- A beijei de leve no rosto e saí do carro.
Tomei um banho rápido e troquei de roupa. Coloquei uma calça jeans justa, um scarpin azul e uma blusa social, mas num estilo mais despojado, salmão. Fiz uma maquiagem leve e prendi o cabelo num rabo de cavalo. Decidi almoçar no Bistrô da galeria mesmo. Peguei uma bolsa azul passei minha carteira e maguiagem de bolsa pra ela e desci quando o porteiro interfonou pra avisar que o táxi que pedi pra chamar estava ali.
Cheguei lá e fui almoçar logo. O maître me conhecia e foi bastante simpático. Comi uma salada árabe que não sei o nome e fui para a galeria. Tinha algumas novidades. Confesso que tenho uma certa resistência a arte contemporânea, mas os quadros que chegaram até que eram interessantes ao modo deles. Me demorei mais no impressionismo e no cubismo como sempre. Passei a tarde lá observando as obras e isso me trouxe uma paz que não sei explicar. Saí renovada e já passava das 17hrs. Não foi difícil achar um táxi, cheguei rápido a casa de Luiza. Fernanda me esperava na sala como sempre.
-- Olá, querida! Como está? -- Perguntou gentil.
-- Oi, Fernanda. Passei a tarde lá na galeria. É difícil pra mim aceitar a arte contemporânea. Estou aprendendo a lidar com ela. -- Comentei jogando a bolsa no sofá.
-- Não gosto também, acho bem intragável -- Comentou -- Você levou a sério isso de fazer aniversário, não é? Parece uns 10 anos mais velha. -- Completou. -- O que aconteceu entre você e Maria Luiza? Ela chegou com uma cara e a sua também não está boa.
-- Está difícil... -- Respondi vagamente. Eu não sei porque me sentia tão à vontade com ela. E também não sabia porquê não me odiava como Pierre. Resolvi perguntar. -- Por que você não me odeia como Pierre?
-- Ora, minha querida, porque não sou tola como seu pai. Nem covarde. Eu escolhi me afastar e ele escolheu se envolver com sua mãe. Bobagem ficar culpando você. Entre nós todos é a única isenta de qualquer culpa. Ah e agora tudo faz sentido. Aconteceu o que tinha que acontecer.
-- Como assim? -- Perguntei confusa.
-- Imagina que escandâlo você e Luiza sendo criadas como irmãs e tendo um caso? -- Riu -- E sim! Vocês teriam um caso de qualquer forma. Estão uma no destino da outra.
-- Não entendo porquê você e Luiza não se dão bem. -- Comentei divagando. -- Fernanda, eu a odeio. A amo muito mais, mas ela me fez odiá-la também. -- Confessei baixinho.
-- Todo amor real traz um pouco de ódio, Alice. Amor é muita expectativa, muita esperança, confiança... Invariavelmente um desses aspectos é destruído e aí vem o ódio. Temos que saber lidar com ele também. -- Disse olhando para o nada. Notei que não estava bebendo, senti falta do tilintar do gelo no copo. -- Ela te olha do mesmo jeito que seu pai sempre me olhou, Alice. Isso só acontece uma vez, não esquece.
-- Vou lá em cima falar com ela. -- Levantei, peguei minha bolsa e ia saindo quando a ouvi dizer.
-- Não nos damos bem porque sou uma péssima mãe. Sempre fui. Mal consigo me amar e me cuidar. É difícil fazer isso por mais duas pessoas. Não me vem naturalmente. Entende? -- Eu entendia.
Entrei no quarto de Luiza e ela estava dormindo. O som estava ligado baixinho tocava uma música de jazz muito boa, mas que eu não conhecia até então. Coloquei a bolsa no chão e me deitei ao seu lado. Depois de um tempo ela instintivamente me abraçou. Depois se surpreendeu com minha presença ali. Viramos de frente uma pra outra como era nossa hábito.
-- O que aconteceu? -- Ela entendeu.
-- Uma garota, a primeira. Todos os garotos da banda que eu formei no primeiro ano... Um vídeo rolou na escola. Ela e mais três ao mesmo tempo, um deles escondeu uma câmera... A maior humilhação da minha vida. Por isso fiquei tanto tempo sem banda. Eu... gostava dela. Foi a primeira, achava que era amor até te conhecer. Estavámos namorando e aí -- Ela falou tudo muito rápido-- Eu sei que você não tem nada a ver com isso, com você a dor seria insuportável. -- A voz embargou.
-- Você precisa resolver isso. Não posso mais brincar de o médico e o monstro com você. Você não pode me agredir, me fazer te odiar. -- Eu lhe disse firme, mas carinhosa.
-- Tudo bem, eu sei. Como você está? -- Perguntou.
-- Tentando achar um jeito de lidar com os novos sentimentos que surgiram em mim. Pode levar um tempo. -- Respondi sincera.
-- Você tem todo tempo do mundo.
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Era sábado de manhã e Luiza estava lá em casa. No dia anterior só nos vimos na escola e ela ensaiou o resto do dia. Às coisas iriam se arrumar aos poucos eu estava consciente disso. Luiza estava carinhosa, mas incrivelmente calada. Incomodada por ter se exposto ao me contar do ocorrido em seu passado. Eu precisava voltar a confiar nela. Nessa Luiza que eu conhecia e ter certeza que a outra foi embora. Passamos a tarde vendo filmes e comendo besteira. Vimos só filmes bobos, precisavámos rir. Já tinha avisado que não iria hoje no show, estava sem clima pra agitação. Ela afirmou que depois do show viria dormir comigo. A tarde passou correndo e Luiza se despediu pra ir tocar.
Fiz uns trabalhos da escola, li mais um pouco sobre relacionamentos na internet e ouvi música. As 21hrs a hora que a banda começa a tocar eu já estava morrendo tédio e me sentindo idiota por não ter ido com ela. Resolvi fazer uma surpresa e ir vê-la tocar. Tomei um banho e me vesti com cuidado, apesar de rápido. Vestido colado e salto alto, sabia que Luiza gostava. Caprichei na maquiagem já que estava a noite e soltei o cabelo. Chamei um táxi e fui para lá. Apesar da minha pressa cheguei lá depois das 22 e a banda estava no intervalo. Falei com os meninos, mas não achei Luiza. Ninguém sabia do seu paradeiro. Achei estranho e depois de dar uma volta me ocorreu que ela podia estar no banheiro. Fui até lá e ele estava razoavelmente vazio. O banheiro maior destinado a deficientes estava há mais tempo ocupado e escutei uns sons vindos de lá. Eu sabia o que estava acontecendo, mas não podia acreditar. A porta nem estava trancada só encostada. Enquanto a porta permanecesse assim eu ainda tinha uma esperança de não ser ela e uma grande parte de mim me achava meio imbecil por achar que ela faria algo assim. A outra parte tinha total certeza que ela faria. Todos aqueles avisos em seus olhos antes de namorarmos, as estacas, aquela mania de tentar me afastar sem dizer nada. Parei de divagar e finalmente empurrei a porta.
Acho pouco provável que isso aconteça, mas espero um dia esquecer essa cena. Luíza sentada no sanitário com uma garota em seu colo de frentre pra ela. O vestido da menina estava embolado na cintura. Os dedos da minha namorada estavam dentro da desconhecida que tinha um seio pra fora do vestido e, no momento, pra dentro da boca de Luiza. Ela nem notou que abri a porta tão entertida estava. Eu senti meu coração despedaçar, nada foi mais físico que isso. Nada foi mais literal, a dor for incrível. O bolo no meu estômago foi tão real como a cena na minha frente. Naquele momento me transformei na pessoa que sou hoje. Meu ódio pela única pessoa que já amei tomou conta de mim.
-- Ora, ora. Parece que realmente velhos hábitos nunca morrem. -- Eu falei tão claramente e sem vacilar que ninguém diria que a frase foi dita por alguém destruída por dentro. Um ouvinte mais atento até notaria um pequeno sorriso na voz. As estacas se focaram em mim por segundos antes que eu me virasse. Escutei um barulho que acho ter sido a menina caindo no chão.
Saí do banheiro e não vi nenhum rosto ou escutei nenhuma voz. Tudo estava em um silêncio absoluto para mim. Nem mesmo a música que o DJ tocava me chamou atenção. Cheguei a porta do bar e olhei para trás. Uma Luiza visivelmente muito bêbada tentava me encontrar quando de repente nossos olhares se cruzaram. Algo no meu a fez dar dois passos para trás. Luiza não sabia mais ali começamos um jogo. Ela deu a partida e estava na dianteira, mas eu a alcançaria. Sorri pra ela e saí do bar.
Achei um táxi, entrei e percebi que tocava no rádio uma música antiga da Rihanna me perdi na letra por uns instante.
You're not easy to love
You're not easy to love, no
You're not easy to love
You're not easy to love, no
Why is everything with you
So complicated?
Why do you make it hard to love you
Oh, I hate it
Cause if you really wanna be alone
I
Will throw my hands up
Cause baby I tried
Everything with you
Is so complicated
Oh why?
Sometimes I get you
Sometimes I don't understand
Sometimes I love you
Sometimes it's you
I can't stand
Sometimes I wanna hug you
Sometimes I wanna push you away
Most times I wanna kiss you
Other times
Punch you in the face
Cause every minute you
Start switching up
And you say things like
You don't give a fuck
Then I say I'm through with you
Take my heart from you
And you come running after me
And baby I'm back with you
Oh
You're not easy to love
You're not easy to love, no
You're not easy to love
You're not easy to love, no
Why is everything with you
So complicated?
Why do you make it hard to love you
Oh, I hate it
Cause if you really wanna be alone
I
Will throw my hands up
Cause baby I tried
Everything with you
Is so complicated
Oh why?
Sometimes I catch you
Sometimes you get away
Sometimes I read you
Other times I'm like
Where are you on the page
Sometimes I feel like we
Will be together forever
But you're so complicated
My heart knows better
Why is everything with you
So complicated?
Why do you make it hard to love
Oh, I hate it
Cause if you really wanna be alone
I
Will throw my hands up
Cause baby I tried
Everything with you
Is so complicated
Oh why?
I'mma stick around
Just a little while longer
Just to make sure
That you're really sure
You like sleeping alone
I'mma stick around
Just a little while longer
Just to make sure
That you're really sure
You like sleeping alone
Why is everything with you
So complicated?
Why do you make it hard to love
Oh, I hate it
Cause if you really wanna be alone
I
Will throw my hands up
Cause baby I tried
Everything with you
Is so complicated
Oh why?
You're not easy to love
You're not easy to love, no
You're not easy to love
You're not easy to love, no
Pouco tempo depois, peguei meu celular e disquei o único número possível. Fui atendida no terceiro toque.
-- Math, onde você está? Preciso de você!
Fim do capítulo
Cadê as fãs da Maria Luíza agora? :x
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