Não havia sido uma noite muito produtiva. De fato, sua intenção era somente sair de casa para não se ver com a mente presa no apartamento ao lado. A frieza de Clara, a loira ao lado dela, a promessa velada de um sex* intenso... Tudo isso mexia demais com a cabeça de Sarah.

 “Não adianta, eu fiz uma escolha. Tenho que segurar a barra, a onda, sabe-se lá. Acho que preciso me mudar de lá, não suportarei vê-la com outras”

Voltou para casa já estava amanhecendo, passou pela porta de Clara e não ouviu nenhum ruído “Devem estar exaustas” pensou com raiva. Entrou no apartamento não quis comer nada, tomou um banho rápido, já não tinha forças para pensar. Caiu na cama lembrou-se do olhar de Clara, chorou extravasando a dor que sentia e dormiu.

Desencontraram-se durante uma semana e meia, pois todo o tempo livre de Sarah era dedicado a cursos, palestras, eventos e a procura de um apartamento. Haveria, em dois dias, um grande congresso de profissionais de diversos ramos que estariam conhecendo o Observatório Astronômico de Piedade, em Minas Gerais  sua temática era voltada aos aspectos da astronomia que pudessem ajudar em seus trabalhos. Sarah era uma das expositoras e passou os dois dias se preparando, nos últimos tempos entrou numa espécie de trabalho compulsivo, não pensava em outra coisa, ou tentava não pensar, sem ser trabalho. Sentia-se muito só. Não tinha nem pique para sair com os colegas do instituto onde trabalhava. Sua válvula de escape era, realmente, o trabalho.

O local da conferencia era muito bonito e Sarah quase se sentia feliz por estar ali. Alta tecnologia, pessoas bonitas e que compartilhavam do mesmo assunto que o seu. A pousada onde ficaria hospedada, se encontrava num lindo espaço arborizado, cercado de bangalôs, era o mesmo onde haveria a conferência que ficava no salão de eventos, onde também se servia café da manhã e almoço.

Entrou em seu dormitório, precisava tomar um banho e relaxar, o evento começaria em aproximadamente uma hora.

Percebeu que o fundo do seu bangalô dava acesso ao fundo de outro outro, mas entre eles havia uma saleta com carpete, muito confortável e macio, sofás brancos e um aparelho de som e vídeo. Ficou maravilhada quando olhou pra cima e percebeu que havia um teto de vidro, com uma vista espetacular do céu que se encontrava ensolarado. “Era tudo o que eu precisava, agora”. Se sentiu quase feliz por desfrutar daquele lindo espaço e ainda fazendo aquilo que gostava.

Mas, a mente teimava em vadiar por lugares perigosos para o seu coração... “Adoraria desfrutar isso aqui com ela! Chega de pensar nesta mulher... Estou cansada de sentir falta dela”.

Uma batida na porta. E se vê desperta de seu duelo mental. Era cansativo demais se podar de querer Clara.

- Srta Sarah, a conferência começa em uma hora. – Um rapaz simpático lhe informou.
- Muito obrigada, já estou descendo.
- Ok!

“Dois dias desfrutando deste paraíso é mais do que suficiente para restaurar minhas forças e renovar meus sentidos”

A conferência começou com a apresentação de Sarah, que se sentia extasiada por estar ali. Falando para pessoas que se demonstravam super interessadas no tema. Bem a sua frente havia um lugar reservado que ainda não havia sido ocupado. O que lhe chamara a atenção foi nome exibido numa pequena placa de identificação C. Toledo “Clara Toledo” Seu coração deu um salto, disparou e ela pensou que talvez pudesse dar na vista, tentou recuperar o senso e lembrou-se da ultima vez em que vira Clara, aquele olhar frio, repugnante

“Acorde, pode ser César Toledo, Camila, Cláudio enfim, pode ser qualquer um. Por que ela viria aqui atrás de você? Se morando ao seu lado não fora te procurar uma única vez.” Tentou se concentrar no expositor. André fora seu colega de faculdade. Haviam se cumprimentado rapidamente na chegada e depois jantariam juntos.

Estava começando a tirar o foco da placa. Começava a tentar racionalizar a situação e entender o estado de euforia que seu coração entrou ao avistar a placa, quando observou a mulher que povoava seus sentidos entrar e sentar-se no espaço reservado a ela. Os corações dispararam ao toque dos olhares.

 “Ah coração bandido, cadê o orgulho Sarah? Ela te desprezou lembre-se disso”

Com isso Sarah se conteve, mas os olhares de Clara eram persistentes e pareciam penetrar e dissolver o orgulho de Sarah. Que fez tudo que pode para evitá-lo, se policiou até à exaustão.

Os trabalhos prosseguiram até as 17 horas. Onde houve uma pausa para descanso e depois o jantar para os convidados. Sarah aproveitou o momento para fugir. Não se sentia forte o suficiente para encarar Clara. Voltou para seu quarto, inquieta.

 “Meu Deus não a deixe ficar perto de mim”

Foi em vão a sua tentativa de descansar. Estava uma pilha de nervos e ansiedade. Tudo o que mais queria era ter a amizade daquela teimosa de volta. Mas, não podia passar por cima de seu orgulho com um rolo compressor. A amiga lhe dissera coisas graves e nem ao menos quis ouvi-la.

“Mas que diabos ela veio fazer aqui?”

Caminhou entre os bangalôs até o salão central, para o jantar, não quisera ir com o veículo enviado para buscá-la pois precisava de ar... Ganhar tempo e pensar em como seria sua reação se por acaso a morena viesse até ela.

Pouco antes de subir, desmarca o jantar com André, quando lera a programação inteira observara que a primeira noite se trataria de um jantar de boas vindas aos conferencistas. Adentrou o refeitório, um pouco ansiosa, observou que aas mesas tinham lugares demarcados. Para sua maior surpresa o C. Toledo estava novamente ali, desta vez, ao seu lado esquerdo. Sentou-se e viu, logo em seguida, Clara sentar-se ao seu lado.sentaram-se lado.

 “Faz tanto tempo que não a vejo, coração bandido não era mais para sentir desta forma”.

O jantar transcorreu. Sarah puxou assunto com a senhora do seu lado direito tentando evitar qualquer iniciativa de diálogo entre elas.
Clara a observava, quieta. Tentava planejar o bote e quebrar a defesa de Sarah

“Ela está linda, como poderei conquistar uma hetero?”.

Por um gesto involuntário de Clara, ao pegar o cálice de licor regional que lhe era oferecido, roçaram os braços. Num instante impulsivo Sarah fechou os olhos, suspirou e tentou disfarçar o impacto daquele simples contato lhe causou. Clara percebeu e tentou aproveitar o ensejo:
- Senti muito a sua falta. – Se encararam. Para qualquer um que observasse atentamente veriam quanto sentimento estava sendo demonstrado naqueles olhares. – Vamos sair daqui, vamos conversar?
- Não, agora não tenho nada pra conversar contigo. Fica para uma próxima vez.

André apareceu e interrompeu aquele que talvez pudesse ser o único momento delas. Separaram-se a noite inteira. Sarah subiu para o quarto e Clara sem saber ficou lá embaixo a sua procura:

“Com certeza o lado hetero dela deve ter atacado e ela sumiu com o rapaz que a chamou” – brigou consigo mesma depois de perceber o absurdo que esta pensando sobre Sarah – Meu Deus o que estou pensando sobre minha amiga. O ciúme faz a gente pensar cada bobagem. Eu a quero para mim”.

Sarah adentrou a saleta, apagou as luzes e com o CD da Enya de fundo se permitiu relaxar. Observava o céu estrelado. A lua que aparecia no cantinho da visão do quarto. Por volta das 23horas, quando ela se encontrava sentada no tapete seu pensamento era totalmente dominado por Clara.

“Ela está linda”

Um toque na porta que dava acesso ao outro bangalô, a porta se abriu e Sarah não conseguiu acreditar em quem adentrava aquele espaço naquele momento.

 - Procurei-te por todo o salão. – Sua voz denotava ansiedade.
- Clara? O que faz aqui? – Estava surpresa.

Fim do capítulo