Sua cabeça estava um pouco dolorida... Lembrou-se do sonho que tivera na noite anterior.
- Acho que estou começando a “inculcar” com as coisas, preciso fazer terapia. – De repente o choque: estava nua na cama – Meu Deus!!! – Foi somente isso que conseguiu exclamar após lembrar-se da noite que tivera. E do prazer que sentiu.

Levantou-se da cama e dirigiu-se ao banheiro, olhou-se no espelho e tentou identificar o que estava sentindo. Era inexplicável e surreal o que acontecera. Mas, seu sex* ainda estava sensível... O lençol bagunçado de uma maneira que sozinha ela não teria feito. Lembrou-se de Sarah segurando seu rosto e beijando-lhe... Provocando sensações em seu corpo que não imaginava ser possível. Já havia feito sex* com várias mulheres, mas apaixonada era a primeira vez e como era esplêndido sentir alguém que se ama. Lembrou-se do cheiro de Sarah, dos gemidos dela e como fora dominada por ela. Saiu do banheiro e mirou a cama... Quase consegui ver Sarah deitada nela... Aquele corpo, aquele sorriso de satisfação após o gozo. Passou as mãos pelos cabelos...

- Como pude? Quanto prazer... Eu a quero... Mas quanta insensatez! Deus... – Estava perplexa com a situação. Nunca em sua vida se imaginara passando por algo assim. Não conseguia admitir Sarah lésbica... – Será que ela veio falar comigo e eu tomei a iniciativa... Mas, foi ela quem me beijou... Eu tentei Pará-la.

Passou o dia no sofá, tentando digerir a noite anterior, de repente sentiu raiva afinal como pôde estar tão à mercê, tão entregue, tão disponível. Por outro lado não entendia a atitude de Sarah. Estava apaixonada pela amiga... Mas detestaria servir de brinquedo ou de experiência para ela.

- O que deu nela? – Um pensamento frustrante passou por sua cabeça – Provavelmente quis saber como é trans*r com uma mulher e me usou para isso, mas como pude ser tão cretina e me entregar dessa forma. – Lembrou-se do orgasmo e suspirou. Estava inquieta e agoniada tinha que vê-la e falar que não era por aí, que não podia satisfazer sua curiosidade usando outra pessoa... Mal sabia o que tinha que falar para Sarah o importante era vê-la e saber como ela estava.

Tocou a campanhia. Houve certa demora para atender, quase ia desistindo, quando abriu-se a porta e Clara viu Sarah de camisola e com uma cara sonolenta.

- Olá – Clara entrou antes que Sarah pudesse responder, pois talvez se arrependesse de estar ali – Precisamos conversar.
- Esperei-te a manhã inteira, pensei que não viria e acabei pegando no sono.

Ela estava tão linda de camisola. Que vontade de abraçá-la... No entanto, havia uma coisa que Sarah não sabia sobre a amiga... Sua completa falta de tato com as coisas do coração. Clara sentia-se totalmente perdida com as novas informações e sensações. Seu corpo não dava uma trégua... Sentia todas as regiões onde fora explorada com a língua pela deliciosa ruiva de camisola a sua frente, com uma linda cara de sono... Mas, ela era sua amiga. O que fazer com esta amizade, agora?

- Sei que talvez tenha ficado envolvida com o filme. – Era difícil iniciar aquela conversa. Na noite passada nem palavras haviam sido necessárias. - Que talvez quisesse ter sua primeira experiência homo, mas não tinha o direito de interferir na minha vida daquela forma, sem meu consentimento. O que deu em você? – disse com o tom de voz alterado. Seu semblante denotava o quanto perdida estava.
- Eu... – Sarah fora pega de surpresa. Até tentou argumentar, mas Clara a interrompeu e não a deixou concluir.
- Poxa, eu confiava tanto em você. Eu te contei coisas íntimas, partilhei a minha vida, e me usou daquela forma.
- Calma Clara. Sente-se – Mediante a recusa da outra que a olhava como se fosse uma criminosa, Sarah não se intimidou. - Eu não te usei e também não te obriguei a absolutamente nada. Você quis cada gesto, cada toque, cada beijo... – No fundo, Sarah temia o rumo da conversa, pois Clara se mostrava sem chão. Estava receosa.
- Você me violentou – Sarah ficou chocada com o termo usado por Clara, se sentiu ferida – Me traiu e eu não quero mais... – Sarah a interrompeu:
- Vá para casa Clara. – Sarah estava perplexa com o rumo da conversa. Com certeza não fora isso que imaginara ao deixar o apartamento de Clara no início da manhã. Sabia que iriam ter uma conversa... Que não seria fácil, afinal tinha plena consciência de que agira por impulso, mas nunca passaria por sua imaginação aquele diálogo que estava tendo com a amiga. - Não se preocupe que não a procurarei mais. Vá antes que me ofenda, vá antes que tente estragar o sentimento que tenho por você.
- Sentimento? – Clara riu com deboche.
- Por favor, vá para casa, prometo não tocar neste assunto, nunca mais. – Sarah não entendia a confusão de Clara. Esta parecia-lhe tão madura. Tão bem resolvida...

Clara saiu, Sarah tentou segurar as lágrimas.
- Tudo bem, eu sabia que isso poderia acontecer. Não chore – Tarde demais, o sofrimento foi grande e ela não conseguiu conter as lágrimas, nem a dor. – Que droga, por que todas menos eu, por quê? Ela nem me deixou dizer que a amo. – Sentou-se no sofá vencida. Arriscou tudo e perdera a amizade. Lembrou-se da noite que tivera e do quanto aquilo lhe dera a certeza que amava a amiga... Que podiam ser mais que amigas... Mas, nunca imaginara esta reação da outra.

No apartamento ao lado a situação não era muito diferente.
- Que droga de sentimento é este que estou sentindo, por que me usar? Por que comigo? Agora ela volta para o namorado e a vida continua. Ela nem se defendeu quando a acusei de ter meu usado. – lágrimas rolaram pelo rosto de Clara.

Ficaram sem se falar, sem ao menos se verem, a cena de amor se repetindo na cabeça de ambas com teimosia e insistência. Causando estragos no humor na medida que a dor da saudade, falta da conversa, a necessidade da cumplicidade faziam estragos nos corações e no humor delas.

Fim do capítulo