Capítulo 12 - Entregas - Parte I
- Deixa de ser teimosa.
- Eu não preciso da sua ajuda.
Caroline tinha flagrado Azizah com o frasco de vidro da medicação, tentando preparar o anti-inflamatório para aplicar em si mesma. Seu ferimento ardia como fogo naquela manhã e ela se sentia febril, tinha medo de seu estado piorar. No entanto, não queria ter que falar com a outra e resolveu fazer tudo sozinha, até Carol aparecer e resolver se intrometer.
- Essa é intramuscular. Você não pode aplicar em artéria. Ta louca?
Felizmente não atraíram um número grande de zumbis para perto da casa e deram conta dos que apareceram. Um dia tinha se passado desde a invasão e ainda estavam abrigadas na casa de Mel e Rafa. Ele estava se sentindo melhor, ainda que sentisse dores, sua recuperação seria rápida. Elas conseguiram encontrar um Peugeot preto pela vizinhança em perfeito estado e completaram o tanque de combustível, com o que tinha sobrado no Palio, para o retorno que foi planejado para o dia seguinte.
As últimas noites tinham sido longas, Azizah tentava permanecer acordada, para não sonhar. Se antes era tomada por pesadelos, dessa vez seus sonhos tinham um teor mais... intenso.
- Eu não vou mostrar minha bunda pra você.
- Eu já vi muito mais... – Carol riu, fazendo Azizah corar.
A mais nova então virou de costas demonstrando irritação, mas por dentro era uma mistura de ansiedade, medo e… desejo. Abriu o zíper da calça, abaixando um pouco a parte de trás, junto com a calcinha. Logo sentiu a mão quente de Carol em sua lombar, abaixou a cabeça, fechando os olhos, afastando aqueles pensamentos. É só uma injeção. Não queria que aquele toque lhe causasse uma sensação tão prazerosa.
- Segure aqui, por favor.
Segurou sua camiseta e perguntou insegura:
- Vai doer?
Antes de obter a resposta, Caroline já tinha aplicado. E doeu. Puta merd* como doeu. Ela se apoiou na pia.
- Você vai sentir um incômodo na região durante alguns dias. Está tudo bem?
Azizah confirmou com a cabeça e subiu a calça, com uma careta de dor.
- Essa que é a intenção né? Enquanto meu traseiro estiver doendo eu não vou sentir a ferida.
O comentário provocou um riso divertido na outra, Azizah tentou manter sua feição fechada, mas fitar aquele sorriso e não exibir nenhuma reação era impossível. Percebendo uma brecha, Caroline tentou, com a voz suave, após jogar no lixo os materiais utilizados:
- Deixe-me ver como está? Trouxe pomadas pra cicatrização.
Mas Azizah levantou novamente seu muro.
- É só me entregar. Eu mesma posso passar.
- Eu quero fazer isso por você. - Disse em um tom baixo, como se estivesse se redimindo pelo ocorrido.
- Eu não preciso de você. - Vociferou.
- Por que está repetindo tanto essa frase? - Pra me convencer mentalmente. Pensou.- Acha que vai me machucar com isso?
Azizah riu de maneira sarcástica.
- Você tem algum problema de memória ou o que?
- Eu sei que você tá brava comigo. Eu sei que te tratei de uma maneira horrível.
- Que bom que sabe.
Azizah caminhou em direção à porta, colérica, furiosa, não tinha mais saco para aquilo. Carol barrou sua saída, entrando em sua frente.
- Eu não vou deixar você sair daqui até a gente conversar. Você só tem me ignorado.
- Você já me disse tudo o que eu precisava ouvir. – Elas estavam próximas. Olhos nos olhos. Azizah cuspia aquelas palavras com toda a dor que elas tinham-na causado. - Eu sou inconstante. Só sei ficar chorando o tempo todo, né? E além do mais você não confia em mim, não é verdade? Pra que perder seu tempo com alguém assim...
Tentou novamente passar por Carol, que mais uma vez não a deixou sair. Olhavam-se intensamente. Azizah desejou aquilo, mas não esperava que fosse acontecer. Sentia o olhar fixo da outra na sua boca e num ímpeto Carol diminuiu a distância entre as duas. Foi tomada por aquela sensação maravilhosa de prazer ao sentir aqueles lábios grossos e macios a beijando, aquelas mãos fortes segurando sua nuca, sua cintura. Como se pertencesse a ela. Como se sempre tivesse pertencido, mesmo antes de conhecê-la.
Retribuiu aquele beijo com uma sede voraz, segurando seu rosto. Precisava daquela mulher, por mais que tentasse se convencer do contrário, precisava daquele gosto, precisava daquele toque, daquele cheiro. Gem*u, sentindo uma mordida de leve em seus lábios, ela fez o mesmo, sentindo suas línguas se encontrando, provocando aquela pressão deliciosa entre suas pernas.
Puxou-a pela camiseta em direção ao beiral da porta, um desejo urgente lhe tomando por dentro. Gem*u novamente, puxando seu quadril mais pra perto. Ela precisava de mais. Só que da mesma forma como tinha começado, terminou. Carol se afastou segurando sua mão. Deu um passo para trás, rompendo a magia. O coração de Azizah ainda batia acelerado. Seu peito arfava. Não entendia o porquê de a outra parar. Ela quem tinha começado, não era?
- Nós precisamos conversar, A.
- Mudou de ideia de novo? – Azizah parecia sem entender o que estava acontecendo. - Você acha que pode brincar comigo desse jeito?
- Eu não estou brincando com você.
Carol levou as mãos à cabeça, perturbada. Deu às costas, caminhando até o quarto. Azizah a seguiu. A mais velha tinha uma feição cansada, triste, confusa. Sentou-se na beirada da cama e passou as duas mãos pelo ventre, pensativa. A outra olhou aquela cena sentindo seu peito doer. Por que aquilo mexia tanto com ela?
- O que você quer de mim? – Carol perguntou.
- O que eu quero de você?! - Azizah ficou incrédula com aquela pergunta. Riu desdenhosamente. - Eu que pergunto, o que você quer de mim? Você não tem ideia do quanto estou magoada com você, Caroline. De todas as pessoas que já passaram pela minha vida, você era a única que eu achava que não iria me machucar.
- Eu estava com medo! - A mais velha levantou o tom de voz. - Eu ainda estou! Eu já pedi desculpas, já te disse que agi errado. Eu me arrependo de cada palavra que disse pra você… Te machucar dói mais em mim do que em você…
Azizah ficou parada no meio do quarto olhando para aquela mulher que dias atrás não passava de uma desconhecida. Como em tão pouco tempo podia ter causado essa desordem de sentimentos dentro dela? Desarmada, caminhou até ela, ajoelhando-se entre suas pernas, apoiando as mãos nos joelhos da outra.
Olhou em seus olhos.
- Você acha que eu também não estou com medo? Eu nunca... gostei tanto de uma mulher antes... não desse jeito. Eu nunca…
Nunca tive esses pensamentos antes. Esses sonhos. Essa coisa que me deixa sem ar. Essa vontade louca de beijar alguém, de estar com alguém, de ser tocada e…
Respirou fundo, tentando centrar-se e continuou:
- Isso nunca se quer passou pela minha cabeça.
- Pela minha já.
- Você me disse que…
Carol a cortou.
- ...que nunca tinha beijado uma mulher, foi isso que te disse. Isso é novo pra mim também, embora seja algo que eu tinha uma leve consciência. Demorei muito tempo pra assumir que pudesse gostar. - Azizah sentiu uma mão indo em direção aos seus cabelos longos e cacheados, passando por sua nuca. A outra mão desceu com o indicador suavemente por sua clavícula, acompanhando as tatuagens perdidas por seu corpo. - Havia uma menina que morava na minha rua, ela se chamava Mariana. Eu tinha dez, ela devia ter uns dezessete, quase dezoito. Todos comentavam que ela saía com mulheres escondida dos pais, que eram evangélicos. Eu tinha uma paixão platônica por ela, agora consigo ver isso perfeitamente. - Fez uma pausa - Muitos anos se passaram, eu já estava com o Marco e eu a revi. Eu levei um susto, ela estava aos beijos com outra mulher na fila do cinema. Eu achei aquilo tão ousado... tão excitante. - Sorriu. - Eu tinha certeza que era ela, ela estava diferente, mais feliz, era nítida a leveza. Ela tinha raspado a cabeça e eu achei aquilo sensacional. Como se aquilo representasse exatamente o que senti, liberdade.
- Por isso fez o mesmo? – Azizah perguntou, tocada pelo relato. A outra confirmou com a cabeça. - Mas isso foi depois dos zumbis, não foi?
- Depois que meu marido morreu. - Era a primeira vez que Azizah ouvia Carol referir-se a ele daquela maneira. - Eu me casei com o Marco por achar que era a coisa certa a se fazer, eu não sabia se era aquilo que queria pra mim. Já te falei sobre isso. Mas agora… eu sei. Queria ter dito isso naquele dia, mas eu não pude. Eu não tive coragem. Eu quero você. Tenho certeza agora.
Aquelas últimas palavras provocaram uma corrente elétrica no interior de Azizah.
- Se tivesse tanta certeza, não teria falado pra gente se afastar. - Rebateu, com as palavras entrecortadas tamanha vontade de se entregar, de agarrar, de beijar, de continuar o que tinham parado há pouco... e Carol não tirava as mãos de sua nuca, tornando tudo mais difícil.
- Eu tenho certeza de mim, Azizah. De você não. E é disso que tenho medo. Eu não sei como você vai lidar com isso. E se você simplesmente virasse pra mim e falasse que não é isso que você quer pra você? Como você acha que eu ficaria?
Azizah sorriu, enlaçando-a pelo pescoço, passando as mãos por sua cabeça raspada. Carol ronronou com o toque. Ficaram ali, apenas se olhando por longos minutos, como se não precisassem de mais nada.
- Você não tem a menor noção do seu efeito sobre mim, Caroline. – Sussurrou, aproximando-se, beijando suavemente no queixo, subindo por seu rosto, grudando ainda mais seus quadris, seus seios.- Se tivesse, saberia...
Mirou novamente aqueles olhos castanhos. Eles estavam... diferentes. Aquelas mãos grandes percorriam suas costas agora de uma maneira mais firme, urgente. Olhou para seus lábios, passando seu indicador por eles, suavemente, acompanhando o sorriso encantador que se formou.
- O que foi? - Azizah indagou, também sorrindo.
- Desse jeito eu não vou conseguir me controlar…
Seu corpo inteiro reagiu aquela frase.
- E porque teria que se controlar? - Sussurrou provocando, descendo as mãos por seu pescoço, ombros, seus braços fortes, pousando em sua cintura.
- Porque não estou na minha casa.
- E o que ia fazer se estivesse?
Carol sorriu, desviando o olhar, sem graça. Azizah subiu as mãos novamente, agora pela cintura da outra, por dentro da camiseta, sentindo sua pele. Não acreditava que estava fazendo aquilo.
- Ia te levar pro meu quarto…
- E o que mais? - Perguntou divertida. Era loucura, mas queria mais. Queria ouvir. Queria saber. Subiu a mão lentamente pela lateral do corpo da outra, enquanto mordiscava seu queixo, seu lábio, procurando seu pescoço, passando a língua lentamente.
- Ia fazer amor com você... - Carol sussurrou, as duas estremeceram.
Levou a mão tímida de Azizah ao encontro de seu seio esquerdo. Puta que o pariu. Gem*ram. Encostou sua testa na dela. Suas respirações estavam descompassadas. Apertou de leve, fechando os olhos, era grande, macio... Roçou o polegar no mamilo, deixando-o rígido.
Beijaram-se.
- Você quer? – Carol provocou.
- Agora.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
lucy
Em: 28/10/2016
agora yes !!!! rs ...tem que se ter momentos de alegria nessa porr*
só zumbi num dá rs, adorei elas se acertarem , e acho que não vai dar
pra esperar chegar em casa não......kkkk capitulaaaaaaço, fiquei feliz que a Mel e o
namorado ficaram bem, pensei que tinham sido mortos....... nota mil , bjs
Resposta do autor:
tem que ter né? Mas eu adoro um draminha (acho que deu pra perceber) hahaha
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