Em Safira...

Amanheceram entrelaçadas, parecia um sonho. Tomaram banho juntas... Fizeram tudo juntas, ao passo que naquela ala do castelo onde se encontrava, não fazia parte dos interesses de Guilherme, que não conseguira se nomear com rei, porque o povo sabia que em algum lugar Mariana ainda respirava, todo o povo conhecia a fama de Cristina, e não acreditavam que estavam mortas como ele pronunciara.

-Quando poderei conhecer Rosana?
-Ela saiu a sua procura...
-Como?
-Guilherme marcou o torneio que haverá na cidade para daqui a três semanas, e eu pedi que fosse a seu encontro para que aprendesse a duelar.
-E agora?
-O destino se cumpre, ela encontrou ontem com uma grande mulher e com ela aprenderá muitas coisas...
-Tem certeza?
-Tenho! Temo agora por ti, pois não ficará escondida por muito tempo... És uma lenda por aqui.

Dia após dia Mariana ensinava à Rosana a arte da espada, e como manuseá-la, se aproximaram muito e estavam gostando muito uma da outra...

-Você é uma companhia muito agradável, Mariana
-Você também, Rosana... Que pena que temos pouco tempo, mas você aprende muito rápido, estou orgulhosa. Poderá lutar de igual pra igual como qualquer pessoa.
-Obrigada, você ensina muito bem.

Ambas não entendiam muito bem o que estava acontecendo, era como se precisassem uma da outra de repente não mais do que de repente, não haviam identificado isso ainda.

Duas Semanas depois:

-Faltam dois dias para o duelo;
-Estou sem sono... Estou ansiosa... A noite está muito bonita acho que darei uma volta.

Ambas estavam deitadas uma ao lado da outra, Mariana se levantou e foi caminhar em meio ao deserto onde estavam, o céu estava esplendorosamente estrelado...

- Eu me apaixonei por ela, como pude me deixar levar por esta mulher? Ajude-me a saber dizer adeus... E se ela se ferir em combate? Como poderei protegê-la?
- Está falando sozinha? – Aproximou-se com ar carinhoso.
- Como? Você ouviu alguma coisa?
- Não, sua boba!! Acabei de chegar aqui, vim caminhar contigo... E agradecer tudo o que fez por mim;
- Imagina, só exijo uma coisa, faça bonito lá; Não quero te ver ferida;

Rosana puxou Mariana e a abraçou:

- Obrigada por tudo, mesmo! Você é uma das melhores coisas que já me aconteceu e prometo não decepcioná-la.

Mariana tremeu, mas correspondeu ao abraço, como olhar para Rosana e enxergar nela uma amiga, se a queria de outra maneira?

- Nossa, que abraço bom!
- Aprendi a te amar, sabia? - Rosana beijou a face de Mariana e foi dormir, deixando Mariana no inferno de sentimentos confusos. Quando voltou para a tenda observou Rosana por um bom tempo e só depois de muito insistir conseguiu adormecer.

No dia seguinte chegaram à Safira, às escondidas. O reino estava uma bagunça com as festividades do local, como havia muitos desconhecidos, Mariana passou sem chamar a atenção. Procurava a tia em meio à multidão.

Cristina e Selena:

- Vejo-te no torneio?
- Sim, estarei esperando por Rosana que já chegou à cidade.
- Nossa, tem um elo muito forte com ela, isso é ótimo. Também preciso procurar por Mariana, marquei com ela na grande pedra atrás da taberna que espero que ainda exista. Estou com medo, mas o destino terá que se cumprir.
- Espero que elas duelem no final, para que tenhamos tempo de interferir.

Porém o que dificultava era o fator de Selena não conhecer Mariana e Cristina não conhecer Rosana. O plano delas era perfeito, somente não permitia falha.

- Adeus Mariana;
- Adorei você sabia, tome cuidado para não se ferir. Espero não duelar contigo.

Abraçaram-se e silenciosamente demonstraram o quão forte era o sentimento que as unia;

Guilherme era esperto e mudara a programação do duelo, o primeiro seria entre Mariana e Rosana, ele precisava acabar com as duas para que seu reinado fosse completo. E esperava ao final ter as cabeças da linhagem de César e Selena. Embora esta ainda fosse muito respeitada no reino. Não tinha muito escrúpulo e nem temia a morte da própria filha. Já havia se casado e tinha um herdeiro para seu trono, quando finalmente se coroasse rei. Primeiro, precisaria destruir a lenda.

Cristina se encontrou com a sobrinha. Porém mal tiveram tempo de se falar... Foi anunciada pela numeração de inscrição, assim como Rosana.

A cena era mágica, de repente o povo se calou... As duas combatentes estavam postas em seus cavalos... Cristina estranhou por não ver Selena perto de Guilherme, algo estava errado, pois esperava que Selena falasse com Rosana, e pusessem o plano em pratica antes que as duas tivessem que duelar.

Embora Cristina estivesse disfarçada, Guilherme sorriu e piscou pra ela. Foi a confirmação de que algo estava errado.

- Minha filha, lembre-se de tudo o que sabe. Mantenha-se viva, já volto.
- Está tudo bem tia? – estranhou o nervosismo da tia.
- Sim.

Cristina correu o quanto conseguiu. Algo parecia errado, o medo que a abateu quando não viu Selena a fez quase entrar em desespero. Ainda mais quando Guilherme a mirou, sabia que era ela... Por que a deixara livre para agir contra ele?

Cristina entrou no quarto de Selena, a mesma estava amordaçada e amarrada na cama.

- Selena, o que houve?
- Ele inverteu tudo, elas duelarão agora.
- Precisamos impedir.
- Se não chegarmos a tempo o destino se cumprirá com interferência de Guilherme.
- Corramos.

O desespero tomou conta das duas mulheres, as duas amazonas a postos estavam dispostas a defender seus objetivos e como usavam seus elmos não sabiam que brigaria por suas vidas, uma contra a outra. Somente os visores levantados não era o suficiente para que se reconhecessem.

Para a platéia do cinema a cena era mágica, o filme superava as expectativas, pois mostrava uma amazona em cada extremidade da telona e o céu se transformando em berço para tempestade, o fundo musical era “The final Countdown” do grupo Europe, a platéia vibrou, com a cena.

Saíram uma em busca da outra, Selena e Cristina não conseguiram chegar a tempo, ao primeiro contato uma conseguiu desviar do ataque da outra, porém da vez seguinte Mariana feriu o braço da oponente. Guilherme gritou que a partir daquele momento seria sem a proteção da cabeça. Para que olhassem nos olhos do inimigo na hora de matá-lo, ambas sabiam que uma delas não sairia com vida. Selena e Cristina também descobriram que não se tratava de um torneio e sim um único combate relacionado aos interesses do impostor.

- Pelos deuses, como pudemos ter sido tão ingênuas, nossas crianças vão se matar.
- Cristina, deixe o destino se cumprir, a partir de agora ... É desesperador mas não poderemos interferir.
- Matarei este homem, elas irão se matar.

Mariana e Rosana tiraram a proteção da cabeça, e quando se olharam não acreditaram. O braço de Rosana sangrava pouco, pois fora pega de raspão. Mariana estava chocada se achava traída, pois ensinara tudo à Rosana e a mesma soubera lhe armar uma emboscada. O duelo não poderia parar, um das duas teria que sair morta, caso contrário Guilherme executaria as duas;

Não tinham mais vontade de duelar, Rosana pensou em Selena... Mariana estava desolada, estava ferida por dentro, nunca havia amado alguém e amara justamente a pessoa que lhe traíra, preferiria a morte, não iria ter coragem de ferir Rosana.

Cristina não entendeu o que houve:

- O que está acontecendo?
- É isso! Os deuses ainda sopram a nosso favor, lembra que eu disse que ela estaria em boas mãos? Elas já se conhecem, naquele dia não havia ficado muito claro, mas agora é óbvio. Foi Mariana quem ensinara tudo à Rosana.
- Ela me disse que conhecera alguém especial. – Disse lembrando-se da fala da sobrinha.
- Alguém especial... Seus corações estão entrelaçados por um sentimento que ainda não me é muito claro.

Voltaram-se para a cena.

As duas mulheres saíram uma em direção a outra, numa cena espetacular, mas Mariana cometeu um ato quase suicida, não levantou sua espada para golpear a oponente, e pior nem se desviou do golpe que Rosana lhe destinara, acertou-lhe o a região da cintura, fazendo-a cair do cavalo.

- Está ficando louca? Lute comigo! – Esbravejou Rosana.
- Não posso. Você me traiu.
- Eu não te traí!!! – Gritou descendo de seu cavalo.

Guilherme se levantou com um sorriso de ponta a ponta, e fez sinal para que Rosana matasse Mariana.

- Vá em frente!!! Uma de nós terá que morrer para que a outra viva.
- Levante-se daí agora, Mariana! – Gritou em desespero.

Mariana estava completamente atordoada.

Enquanto Selena assistia à cena, Cristina percebeu que seu grupo de guerreiras e mais os aliados que conquistara durante o passar dos ano – desafetos de Guilherme – chegaram. Era o momento de agir. Saíra correndo em direção a Guilherme... O duelo iniciou-se na guarda do impostor. Lutou com metade de seus guardas com a ajuda de seus amigos. E tudo virou uma bagunça, ao término estava ela com a espada no pescoço dele... O povo não sabia para qual dos dois espetáculos olhava. E Cristina gritou:

- Sou Cristina Adamo, irmã da rainha Lúcia  e cunhada do único rei legítimo de Safira: César I.
O povo a olhou surpresa, inclusive Rosana.

- Esta a lutar com a filha de Selena é única herdeira do trono de César: Mariana Adamo, Guilherme, este impostor, arranjou este combate para lhes roubar o trono, para obrigar o povo de César a viver como escravo.

O povo finalmente via a lenda viva da cidade. Todos olharam para Guilherme, que deu ordens para matar Mariana.

Rosana a puxou pelo braço, a pôs no cavalo e saiu dali, ao mesmo tempo em que o povo revoltado impedia os soldados de chegarem até Rosana.

- Eu disse que te pegava um dia, Guilherme. – Sentia o sabor da vingança. Via o povo se rebelar e seus amigos contendo a guarda do impostor.
- A desafio a um duelo. – Disse com o orgulho ferido.

E duelaram, perante o reino inteiro, ele caiu aos pés de Cristina que fora posta no lugar de Guilherme até o retorno de Mariana.

Durante a noite:

- Meu Deus que mudança, em tão pouco tempo...
- Nem eu acredito, como será que está Mariana?
- Se não estivesse bem, com certeza Rosana já teria voltado.

Elas se abraçaram... Cansadas... Havia chegado ao fim... Finalmente cumprira a promessa que fizera a César, assim que voltasse Mariana seria rainha de Safira.

Na tenda de Mariana:

- Você está bem? Ainda bem que te peguei de raspão.
Mariana estava em silencio, estava magoada demais para falar qualquer coisa com Rosana.

Foi para perto da fogueira, Rosana foi atrás:

- Eu não te traí.
- Do que chama aquilo então? Foi tudo sordidamente planejado por você, apareceu aqui do nada, te ensinei tudo o que sabia, para você me matar. – Estava incrédula.
- Acredita em mim. – O olhar de Rosana era suplicante.
- Porque não terminou o serviço? Porque não me matou, assim acabaria com tudo...
- Você também mentiu pra mim, que história é essa de ser filha de César?
- Eu fui reivindicar um trono que é meu.
- Você é sobrinha de Cristina Adamo?
- Sou... – Gritou.

As duas estavam cansadas, Mariana já não sabia se queria esmurrar ou beijar Rosana;

- Você é filha de Selena?
- Sou!
- Cresci ouvindo falar de você, só não associei. O que deu em você para trair sua mãe e me matar?
- Eu não te traí;

Ambas estavam perto da fogueira, ficaram em pé quase berravam uma com a outra:

- Você me enganou durante três semanas para me matar, não teria sido mais fácil me matar aqui?
- Olha pra mim! Eu não sabia que era você, acredita em mim.
- Eu não sei mais em que acreditar... – Disse num sussurro. Estava cansada e muito confusa.

Elas se olharam apaixonadamente:

- Não se trai a quem se ama! – Declarou Rosana.
- Como?
- Eu te amo!
- Eu não quero seu amor, eu não quero ser sua irmã, eu não quero ser sua amiga...
- Eu também não quero! Eu quero que você fique comigo!
- O que te faz pensar...
- O que você sussurrou há algumas noites atrás, aqui neste mesmo lugar, debaixo de um céu como este. Mas não teve coragem de falar pra mim. – Disse entre um sorriso tímido ao perceber o rubor da outra.

Mariana estava sem fala, Rosana se aproximou e a beijou

Fizeram amor ali mesmo, perto da fogueira, debaixo do céu estrelado.

- Acredite em mim eu não a traí.
- Eu acredito em você. Eu também te amo!
- Estaremos separadas no seu reinado, isso me angustia;
- Se o nosso povo me aceitar terá que ser com você, caso contrário iremos para outro lugar.
- Amo você.
- Eu também!!!

O filme acabou, todos estavam maravilhados com tudo, principalmente Sarah.

- Uau, que tudo!!!
- É sério, você gostou? – Perguntou surpresa e curiosa.
- Muito, é o filme mais bonito que já assisti. – Respondeu verdadeiramente encantada.

Clara estava curiosa pra saber o que se passava dentro da mente de Sarah, mas tentou se conter.

Na volta pra casa, estavam dentro do carro extasiadas, sem muito assunto e não se importavam com isso, pois a mente estava ancorada no filme. Que as deixara emocionadas.
- Nossa eu estou surpresa contigo, devo confessar.
- Por quê? Somente porque gostei do filme?
- Também, mas em nenhum momento preferiu não olhar, e olha que ele teve cenas detalhadas e fortes, hein?
- Excitantes também!
- Excitantes? – Iria infartar.
- Foi lindo, principalmente o reencontro da Selena com a Cristina, foi mágico!!!
- Você me surpreende...

As duas estavam sob um clima induzido pela emoção do filme. Ao entrarem no apartamento de Sarah, Clara quase não falava. Sua mente estava submersa num mundo fantasioso. Olhou para Sarah com o coração apertado. “Como falar a ela o que estou sentindo? O que ela acharia?”.

- Você está bem Clara? Estou te achando estranha desde a hora em que saímos do cinema.
- Está tudo bem comigo. – Disse um pouco confusa, sentia-se um pouco fora de seu controle;
- Vamos tomar um café?
- Não, preciso ir pra casa. “Antes que faça uma besteira”.
- Você vai sair mais tarde? - Perguntou temendo ouvir um sim.
- Não sei ainda. Talvez eu dê uma volta.
- Ok. Nos vemos amanhã então.

Sarah beijou o rosto de Clara e abriu a porta. Ambas estavam envoltas num sentimento novo. É como se de repente sentissem falta de algo mais entre elas.
Guardaram tal sentimento pra si, ao fechar a porta Sarah pensou com pesar: “Ela está apaixonada por alguém”.

Enquanto remoía seus sentimentos após a saída da amiga, Sarah tomou a decisão que mudaria a noite delas...

Fim do capítulo