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Palavras ao Mar por Dy Elbe

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Palavras: 5056
Acessos: 2411   |  Postado em: 00/00/0000

Capítulo 8

Capítulo 16: O caderno

 

 

 

Encontrei a Neide na porta do apartamento e ela me recebeu com um forte abraço:

- Estou tão feliz que esteja bem! – ela falou animada.

- Obrigada Neide, devo isso a você também.

- Oh não! O mérito é todo da Julia.

- Sim, o que ela fez por mim e pelo Lucas jamais saberei como agradecer.

- E o mais impressionante é que ela fez tudo de coração. Você precisava ver a preocupação que ela tinha com você e o cuidado que ela tem com o Lucas, sempre atenciosa e prestativa. Notou como o Lucas está mais animado?

- Claro que notei. Ele parece não ter reservas com ela, os dois se dão muito bem.

- Agora vamos deixar de papo que eu tenho que levar a senhorita até o hospital, senão a Julia tem um troço. Ela já me ligou duas vezes, me lembrando de levar você ao médico. – ela disse rindo.

 - Então vamos logo, mas quero que me conte tudo, como a Julia nos achou e tudo que aconteceu desde então.

 

 

 

**********

 

 

 

Depois de deixar o Lucas na escola, para minha surpresa ainda em tempo, segui direto para o NAP, ainda tinha que passar lá antes da audiência. No caminho fiquei me lembrando do episódio da padaria, do sorriso da Lívia, da minha própria alegria em compartilhar um momento tão feliz com duas pessoas que mal conhecia, mas que já me faziam muito bem. E era por isso que eu estava decidida a fazer com que compartilhássemos o máximo de momentos como aquele, pois eu sabia que aquilo era um tanto raro para todos nós.

 

Eu sempre estive rodeada de pessoas, tenho amigos muito bons, com os quais sei que posso contar para me divertir, chorar, fazer planos, traçar metas, eles sempre estarão do meu lado para me dar força, mas mesmo assim não consigo parar de pensar que falta algo. Não consigo evitar me sentir só, de sentir que gostaria de estar em outro lugar,  um lugar que ainda não sei onde é.

 

Quanto a Lucas e Lívia, ainda não sei tanto a respeito da vida deles, mas pelo pouco que a Neide me falou, eles não devem ter tantos momentos bons, já que a Lívia trabalha bastante e o garoto tem que ficar o dia inteiro quieto para não incomodar a avó. Vai ver as pessoas se encontram por algum motivo, vai ver eu preciso desses momentos com o Lucas para me lembrar de uma coisa que há muito tento esquecer... família, vai ver a Lívia seja tão sozinha quanto eu e no final das contas podemos fazer bem uma à outra... Vai ver eu preciso parar de pensar um pouco e deixar as coisas acontecerem.

 

 

 

*********

 

 

 

No hospital, apesar de toda a correria de sempre, o Dr. Vasconcelos achou um tempinho para me atender. Segundo ele, eu estava ótima, como ele já havia diagnosticado, mas precisava me alimentar bem e ficar o mais longe possível de situações tensas. Imediatamente pensei na Julia e que talvez enquanto ela continuasse por perto eu não precisasse me preocupar com situações tensas ou estressantes. Mas por outro lado, também não podia abusar de sua boa vontade e logo teria de procurar um lugar meu e do Lucas, mas para isso precisaria voltar a trabalhar.

 

- Não vejo problemas em você recomeçar na segunda-feira, mas é melhor que comece aos poucos. – recomendou o Dr. Vasconcelos.

- Isso vou ter que conversar com a Célia, nossa supervisora. – informei.

- Acho que não vai ter problemas, todos estavam torcendo para que você voltasse logo. – ele falou me entregando um atestado. – Entregue isso a ela e, desde já, seja bem vinda ao trabalho.

 

Como o Dr. Vasconcelos havia dito, parecia que todos no hospital sabiam do meu estado e realmente torceram por mim. Companheiros de trabalho que jamais imaginei que pudessem se preocupar comigo paravam para me cumprimentar nos corredores, perguntavam como eu estava e até perguntavam pela Julia. A Neide me contou que eles se revezaram para cuidar de mim, enquanto eu estava dormindo e a Julia sempre os recebia muito bem, deixando com que eles ficassem bastante à vontade para me tratar.

 

- Mas tem uma coisa que preciso contar a você. – disse a Neide, meio sem jeito.

- É sobre o que? Está me assustando.

- Acalme-se, foi apenas um mal entendido que tomou proporções maiores do que as que imaginamos, mas acabamos deixando tudo como estava. – disse ela, desconcertada.

- Não estou entendendo nada. – falei, confusa.

 

Antes que ela pudesse abrir a boca para continuar, a Márcia, uma companheira do trabalho que eu tinha como a mais próxima, veio até mim e me cumprimentou com um abraço.

 

- Bem que a Fernanda disse que você ia estar ótima hoje. – ela falou animada.

- Fernanda? – perguntei confusa.

- É, amiga da Julia, você deve conhecer, se bem que ela estava viajando pela África. Mas por que você nunca me contou sobre você e Julia?

- Eu e a Julia? – perguntei confusa olhando dela para Neide, que sussurrou: Era isso.

- Exato, mas eu entendo que você quis ser discreta. Mas você tem muita sorte, a Julia é uma pessoa muito boa, você tinha que ver o cuidado e a preocupação que ela tinha com você, confesso que dava até um pouco de inveja, mas inveja boa. – ela falou sorrindo.

- Oh – eu mal sabia o que dizer, estava totalmente confusa com aquela história.

- Bom, só vim aqui rápido para te dar um oi. A gente se fala depois. – ela disse, se despedindo.

- Até – consegui falar.

- Era exatamente sobre isso que eu queria falar. – falou a Neide, gesticulando.

- O hospital inteiro pensa que a Julia e eu somos um casal!? – Falei exaltada.

- Sim, mas...

- Mas que loucura é essa!?

- Foi um mal entendido. Quando a Julia trouxe você para cá, eles perguntaram o que ela era sua, não queriam dizer nada a não ser se ela fosse da família. Ela já estava a ponto de dizer a verdade quando a Márcia entendeu tudo errado, e não ela não desmentiu porque só assim soube do seu estado.

- E porque não desmentiu depois?

- Como você acha que você poderia ir para casa dela, com todo o apoio do hospital, se eles realmente não pensassem que vocês eram próximas? Além disso, ela me contou que encontrou vários hematomas no Lucas, e se não fosse a Julia, com toda certeza a assistência social teria colocado ele em algum abrigo ou algo assim, além de você ter que dar boas explicações.

- Ela viu os hematomas? – perguntei triste, relembrando aqueles momentos de dor.

- Claro, viu e cuidou de tudo. Ela disse que se fosse por ela teria denunciado, mas só você poderia dizer o que era melhor para ele.

- Foi horrível, tudo que aconteceu... – falei, já com vontade de chorar.

- Mas já passou. Vocês estão longe de lá, agora. – ela falou me abraçando. – Não se zangue com a Julia, ela só quis ajudar.

- Estou vendo, mas ainda assim temos que conversar.

 

Depois de me acalmar, fomos resolver os detalhes para que eu voltasse a trabalhar na segunda-feira, agora mais que nunca precisava voltar a trabalhar e começar a procurar um lugar onde eu e o Lucas pudéssemos ficar. Não que eu tivesse dado tanta importância ao fato de todos estarem pensando que eu era lésbica, mas não podia mais abusar da hospitalidade da Julia.

 

Ficou tudo acertado para que eu recomeçasse na segunda-feira e pelo menos nessa primeira semana não precisaria fazer plantão, para que eu pudesse me recuperar totalmente. Depois fomos comprar algumas coisas na rua, a Neide me contou que de vez em quando fazia o jantar para a Julia e o Lucas, então resolvi que aquela noite o jantar seria por minha conta.

 

Depois passamos na escola para buscar o Lucas, mas, para minha surpresa, a Julia já o havia levado, pelo que me informaram na escola. A Neide voltou para casa depois de pegar o filho na escola e eu voltei para o apartamento da Julia para começar os preparativos para o jantar.

 

Já estava muito preocupada, pois já era noite e nem sinal da Julia com o Lucas. Essa era uma situação completamente nova para mim: confiar em alguém, o que eu tinha de mais valioso. Os minutos iam passando e meu nervosismo aumentando. Incrível que nessas horas a gente só pensa coisa ruim. Assim que peguei o telefone para ligar para a Neide pela quinta vez, a porta se abriu e eu vi os dois chegando animados.

 

- Posso saber onde estavam!? – perguntei à Julia, dessa vez sem brincadeira.

 

Os dois se entreolharam, como se tivessem acabado de fazer alguma bobagem, então a Julia respondeu meio sem jeito:

- Desculpa, fomos ao shopping e acabamos perdendo a hora.

- Perdendo a hora!? Fui até a escola e você tinha levado o Lucas, volto para cá para esperar vocês e só depois de horas aparecem! – eu estava alterada mesmo.

- A culpa foi minha, devia ter avisado a você que iríamos sair – se desculpou a Julia.

- Lucas, para o banho. – falei como se não tivesse ouvido.

- Não briga com a Julia. – ele pediu, triste.

 

Vê-lo triste depois de muito tempo, me fez voltar um pouco à realidade, afinal de contas eu estive desacordada por dias e os dois deviam ter uma rotina da qual eu é que não estava habituada. Além do mais, os dois só foram dar uma volta. O Lucas entregou uma sacola pequena à Julia e foi para o quarto, cabisbaixo. Ela parecia tensa e também triste, seus olhos pareciam ter um brilho diferente. Também estava vestida diferente, mais elegante, de roupa social, blazer, salto alto, diferente da Julia despojada que vi das outras duas vezes.

 

- Mais uma vez peço que me desculpe, Lívia. – ela pediu, séria.

- Temos que conversar. – falei apontando o sofá, no qual ela imediatamente sentou. Eu a acompanhei e continuei: - Como eu já lhe disse, nunca vou poder agradecê-la pelo que fez por mim e pelo meu irmão, mas agora que estou bem acho que precisamos ir.

- Mas... – ela tentou dizer, mas logo a interrompi.

- Você tem a sua vida e creio que eu e o Lucas já mudamos muito sua rotina.

- Mudaram minha vida. – ela falou como se falasse para si mesma, de cabeça baixa.

- Eu volto a trabalhar na segunda-feira. Vou aproveitar o fim de semana para procurar um lugar para nós, não podemos voltar para casa da vovó, como deve saber. Então até no máximo segunda-feira estamos indo embora.

- A Neide deve ter lhe contado o que acho a respeito da agressão que o Lucas sofreu.

- Contou sim, mas prefiro deixar as coisas como estão, não quero expor o Lucas.

- Entendo. Mas vocês não precisam ir embora tão rápido, eu não estou incomodada com vocês, na verdade eu gosto de ter vocês por perto.

- Mas eu estou, não é justo bagunçarmos sua vida desse jeito.

- Eu... – a Julia começou a dizer, mas parou. Foi até a varanda e ficou lá por um tempo olhando para o mar, os cabelos sendo bagunçados pelo vento. Depois descalçou as sandálias de salto e as trocou por um par de havaianas que estava por ali, tirando também o blazer e enrolando as mangas da camisa social que vestia. Voltou para sala com as mãos no bolso e falou com o semblante triste:

- Só você sabe o que é melhor para você, nesse caso, para vocês.

 

Aquela Julia estava tão diferente da Julia decidida que pediu que eu ficasse, na madrugada passada. Aquela Julia estava triste, derrotada, seus olhos azuis não tinham brilho algum, apenas uma sombra, e aquilo fez com que meu coração se retorcesse no meu peito.

 

- Vou dar uma volta. Fiquem à vontade. – ela disse indo em direção a porta, mas parou antes de abri-la e de costas para mim, apontou a sacola que o Lucas havia dado a ela e que agora estava no sofá, onde ela estava até a pouco.

- É para você, o Lucas ajudou a escolher. Era para ser um presente de boas vidas, mas agora é de despedida. Enfim, não faz diferença.

 

Ela se foi e meu coração continuava apertado, nunca pensei que seria tão difícil dizer adeus, afinal eu de fato estava naquela casa há apenas um dia, pelo menos um dia acordada. Fui até o quarto onde o Lucas estava sentado na cama, ainda de cabeça baixa. O quarto parecia ser dele há muito tempo, havia desenhos espalhados pela parede, alguns brinquedos e até a pipa que vi os dois tentando fazer voar logo que acordei.

 

- Desculpa por ter falado daquele jeito, eu estava nervosa. – pedi abraçando ele.

 

Ele apenas balançou a cabeça.

 

- Não fica triste, por favor.

- Não queria ir embora. – ele respondeu cabisbaixo.

- Mas Lucas, essa é a casa da Julia.

- Mas ela não se importa de dividir com a gente. Ela disse que ia convencer você a ficar mais um pouco, disse que gosta de ter a gente aqui, que sente quase como se tivesse uma família. Não quero ficar longe dela.

- Podemos vir visitá-la, de vez em quando. – tentei consolá-lo.

- Vou para o banho. – ele disse pegando suas coisas e indo para o banheiro.

- Não vai precisar de ajuda?

- Não. – disse ele batendo a porta do banheiro.

 

Voltei para a sala e aquela casa estava no mais absoluto silêncio. Lembrei da algazarra que fizemos hoje pela manhã, bem diferente de agora. Será que eu estava sendo injusta? Ou precipitada? Sentei no sofá que a Julia usava para dormir e logo senti seu cheiro, era o mesmo cheiro que tinha o quarto dela. Onde ela estaria agora? Saiu de um jeito tão desolador.

A sacola a que ela se referiu ainda estava ali, nela havia uma caixinha pequena e dentro dela um colar dourado bastante delicado com um pingente que parecia uma gota, cor de âmbar. Era lindo. Fiquei admirando aquele que seria um ótimo presente, se não fossem as circunstâncias. Não sei como deixei as coisas tomarem proporções tão grandes, o que era para ser uma simples conversa sobre quando eu e o Lucas iríamos embora acabou se tornando algo muito triste para todos nós. Mas a minha preocupação com o Lucas, os sentimentos tão contraditórios que vinham a tona todas as vezes em que eu estava perto da Julia, porque em um minuto eu olhava dentro daqueles olhos azuis e tinha certeza absoluta de que poderia confiar minha vida àquela mulher que tudo estaria bem, mas ao mesmo tempo não estava acostumada a confiar nas pessoas, depender delas para o que quer que fosse, tudo isso fazia com que eu acabasse metendo os pés pelas mãos. Eu estava confusa.

 

- A Julia disse que combinaria com seus olhos. – disse o Lucas vindo na minha direção.

- É lindo, querido, obrigada. – falei abraçando-o.

- Você brigou com a Julia? – ele perguntou preocupado.

- Não, apenas conversamos.

- E onde ela está?

- Não sei, foi dar uma volta.

- Mas assim não vamos nem nos despedir dela. – constatou triste.

- Meu amor, não vamos embora hoje.

- E quando vamos?

- Esse fim de semana, amanhã vou procurar um lugar pra gente, não quer vir junto?

- Posso aproveitar para me despedir da Julia? Nós convidamos o Josh para jogar bola amanhã, tudo bem?

- Tudo bem. Eu vou sozinha, então.

 

Convidei o Lucas para jantar, mas ele não quis, disse que havia comido no shopping com a Julia e que queria dormir. Eu também perdi o apetite. Aquele era para ser um jantar para três, tudo que eu queria era que a Julia e o Lucas pudessem estar agora mesmo na mesa discutindo sobre desenho animado ou qualquer coisa assim. Mas meu irmão havia ido deitar triste e a Julia ainda nem havia voltado para casa.

 

Tentei dormir, mas sem sucesso algum. A todo momento tinha impressão de ouvir a porta abrindo, mas não passava de impressão, pois mesmo passando da meia-noite a Julia não havia voltado ainda. Mas o que eu tinha a ver com isso? Ela podia chegar a hora que bem entendesse que eu não tinha nada a ver com isso.

 

Cansada de ficar deitada sem conseguir dormir, passei a caminhar pelo quarto, observar os móveis, os detalhes daquele quarto que realmente parecia ter a cara da Julia, com as coisas desordenadas o bastante para que ela pudesse achá-las. Tudo naquela casa lembrava ela, mas por mais que eu quisesse eu não consegui me achar uma intrusa, como eu mesma me acusava, porque de alguma forma inexplicável tudo me parecia familiar.

 

Quando pensei em parar de pensar, uma coisa me chamou atenção, entre todos aqueles papéis e livros, havia um caderno, o mesmo caderno que eu usava para me comunicar com alguém, que me fazia sentir bem. Abri o caderno para ter certeza de que se tratava do mesmo e não havia dúvidas quanto a isso, mas como ele foi parar ali? Bom, a Julia deve ter achado ele quando nos achou. Mas porque ela simplesmente não o deixou para trás, afinal aquilo era só um caderno velho? Talvez porque ela achasse que ele fosse importante para mim, ou talvez também fosse importante para ela.

 

 

 

******

 

 

 

A tarde que passei com o Lucas foi, como sempre, divertida. Estar com ele sempre me fazia lembrar do meu pai, da relação de cumplicidade que tinha com ele quando criança, mas que foi se perdendo quanto mais eu crescia e desapareceu totalmente quando minha mãe morreu e meu pai descobriu sobre a minha sexualidade. Foi como se todo o carinho que ele tivesse comigo houvesse se dissipado.

 

- Se eu for embora você vai esquecer de mim? – o Lucas perguntou chamando minha atenção.

- Claro que não. Você não vai nem querer me visitar?

- Sim! Mas a Lívia tem que deixar.

- E você acha que ela não deixaria? – perguntei interessada.

- Ela pode ser bem esquentadinha, às vezes. – ele disse coçando a cabeça.

- É mesmo!? – perguntei, me lembrando da quase discussão que tivemos na madrugada.

- Você também pode ir me visitar, não é?

- Claro. Mas vamos deixar de falar disso e vamos ao que interessa: escolher um presente para sua irmã.

 

A escolha não foi tão feliz como imaginei, o Lucas tinha menos ideia que eu, para presentes e acabamos a tarde toda procurando por algo que de verdade, nem sabíamos o que era, quando enfim o Lucas deu a grande ideia de comprarmos uma jóia. Foi então que achei algo perfeito, um pingente cor de âmbar que combinaria perfeitamente com os olhos da Lívia e para completar uma corrente bem simples e bonita.

 

Voltamos para casa satisfeitos com a nossa escolha. Chegamos felizes comentando sobre os jogos que vimos no shopping, mas antes que a Lívia pudesse falar algo, logo percebi que ela não estava muito contente.

 

- Posso saber onde estavam!? – ela perguntou, ríspida.

 

Eu e Lucas nos entreolhamos e pensei: um daqueles momentos “esquentadinha”.

 

- Desculpa, fomos ao shopping e acabamos perdendo a hora. – respondi tentando acabar com aquele princípio de discussão.

- Perdendo a hora!? Fui até a escola e você tinha levado o Lucas, volto para cá para esperar vocês e só depois de horas aparecem! – ela falou, nervosa.

- A culpa foi minha, devia ter avisado a você que iríamos sair – falei séria, pensando que cometi uma gafe terrível, ela deveria estar preocupada com o irmão.

- Lucas, para o banho. – ela falou com o irmão, ignorando totalmente meu pedido de desculpas.

- Não briga com a Julia. – pediu o Lucas com o semblante triste, antes de ir na direção do quarto.

 

O Lucas estava triste, a Lívia preocupada e nervosa e tudo por culpa minha. Eu já começava a me sentir mal com aquela situação, pois não havia sido bem isso que imaginava para aquela noite.

 

- Mais uma vez peço que me desculpe, Lívia. – falei tentando contornar as coisas.

- Temos que conversar. – ela falou fria, apontando o sofá, onde sentei quase que imediatamente e continuou:

- Como eu já lhe disse, nunca vou poder agradecê-la pelo que fez por mim e pelo meu irmão, mas agora que estou bem acho que temos precisamos ir.

- Mas... – comecei a falar.

- Você tem a sua vida e creio que eu e o Lucas já mudamos muito sua rotina. – ela me interrompeu no mesmo tom frio.

- Mudaram minha vida. – falei mais para mim mesma do que para ela.

- Eu volto a trabalhar na segunda-feira. Vou aproveitar o fim de semana para procurar um lugar para nós, não podemos voltar para casa da vovó, como deve saber. Então até no máximo segunda-feira estamos indo embora. – ela apenas informou.

- A Neide deve ter lhe contado o que acho a respeito da agressão que o Lucas sofreu. – não era bem daquele jeito que imaginei conversar sobre aquele assunto.

- Contou sim, mas prefiro deixar as coisas como estão, não quero expor o Lucas. – ela respondeu o que eu já imaginava.

- Entendo. Mas vocês não precisam ir embora tão rápido, eu não estou incomodada com vocês, na verdade eu gosto de ter vocês por perto. – falei, sinceramente.

 

A verdade é que eu não queria de jeito nenhum que os dois fossem embora e mal sabia explicar o porquê.

 

- Mas eu estou, não é justo bagunçarmos sua vida desse jeito.

 

Aquelas palavras foram como um soco no estômago. Era ela que não queria ficar ali, era ela que não confiava em mim e o que eu podia fazer contra isso? Ainda tentei falar alguma coisa, mas desisti. Não havia nada que eu pudesse dizer para convencê-la ou lhe explicar porque precisava dos dois por perto. Uma onda de tristeza começava a se espalhar dentro de mim, bem devagar. Enquanto eu olhava para o mar, pensava que a minha sina era mesmo ficar sozinha e que eu não tinha nada que ter apostado minhas poucas fichas em duas pessoas que eu mal conhecia. Tive vontade de chorar, mas não ia fazer isso na frente dela, por isso depois de tirar o blazer e calçar minhas sandálias preferidas resolvi sair dali.

 

- Só você sabe o que é melhor para você, nesse caso, para vocês. – falei olhando para ela, que permanecia no mesmo lugar. -  Vou dar uma volta. Fiquem à vontade.

 

Mas antes de sair me lembrei do presente que lhe compramos aquela tarde, e que agora não parecia ter sentido algum. Lembrar daquilo me deixava ainda pior e por isso falei de costas para ela:

- É para você, o Lucas ajudou a escolher, era para ser um presente de boas vidas, mas agora é de despedida, agora não faz diferença. – falei apontando para a sacola.

 

Saí dali e fui para praia pensar em como eu depositava minha confiança nas pessoas e acabava quebrando a cara, exatamente como a Cátia havia alertado outro dia. Mas também, o que eu imaginava, que a Lívia iria acordar cheia de amores por mim e que ia simplesmente aceitar brincar de casinha comigo? Claro que não! Além do mais, não que eu sentisse algo por ela, na verdade eu me preocupava com ela e o Lucas, apenas isso. Queria que os dois ficassem bem e se ela achava que o melhor para eles estava fora da minha casa, o que eu poderia fazer?

 

Ainda fiquei muito tempo passeando pela praia e pensando em bobagens como essas. Na verdade, tudo que eu queria era não precisar encarar a Lívia por hoje, não queria ter que encarar aqueles olhos que me impressionam, nem queria ter que lidar com sua beleza insistente. Mas assim que abri a porta do apartamento, várias horas depois, a primeira coisa que vi foi ela, sentada no mesmo lugar onde eu a havia deixado ainda mais cedo, e se não fosse o fato dela ter mudado de roupa e ela ter algo nas mãos, eu imaginaria que ela esteve ali desde que saí.

 

Não sei se foi impressão minha, mas assim que nosso olhos se encontraram, tive a impressão que seu corpo estremeceu, se contraindo mais em direção ao encosto do sofá. Esse movimento quase imperceptível fez com que eu visse o que ela tinha na mão, o que fez com que eu parasse no mesmo lugar onde estava, com as costas quase grudadas na porta.

 

- Reconhece isso? – ela perguntou num tom indecifrável erguendo o caderno para que eu pudesse vê-lo por completo.

- Sim. – me limitei a responder.

- Onde o achou?

- Ele estava com você na manhã em que os encontrei.

- Foi a única vez que o viu?

- O que você quer saber afinal? – perguntei impaciente.

- Você não cuidou de mim só porque me achou desacordada naquela praia. – ela afirmou.

- Não. Já disse, cuidei de vocês porque vocês precisavam. Mas ainda não entendo onde você quer chegar.

- O que esse caderno significa para você?

 

Aquela era a pergunta mais difícil que alguém tinha me feito em anos. O que aquele caderno significa para mim? Eu podia dizer a ela que só depois daquelas palavras voltei a escrever. Poderia lhe contar que todos os dias eu voltava lá para ver se tinha algo mais escrito e que aquilo passou a ser uma necessidade. E que pela primeira vez na vida eu sentia que poderia ser compreendida. Mas como iria lhe dizer aquilo tudo?

 

- Esperança.

 

Ficamos nos olhando o que pra mim pareceu uma eternidade. Eu gostaria de saber o que passava pela cabeça dela naquele instante, na verdade eu também gostaria de saber o que aquilo tudo havia significado para ela, mas quando comecei a abrir a boca para lhe perguntar ela se levantou e veio em minha direção sem tirar aqueles olhos brilhantes dos meus, parou por instante diante de mim, mas logo me envolveu num abraço reconfortante.

 

Eu apenas fechei os olhos e senti seu corpo se encaixar no meu, o cheiro do seus cabelos, a maciez dos seus braços, do seu corpo acomodado no meu. Quando meu coração começou a bater depressa, logo imaginei que não seria difícil que ela ouvisse como ele batia como um louco, mas o contato não durou muito mais e ela se soltou de mim, dizendo que precisava dormir. E foi para o quarto.

 

Eu continuei no mesmo lugar, sem mexer um músculo, sem entender, mas com o cheiro dela ainda em mim.

 

 

 

**********

 

 

 

Ver a Julia entrando por aquela porta foi como vê-la pela primeira vez. Assim que nossos olhos se encontraram foi como se algo me atingisse tão forte que meu corpo se contraiu involuntariamente. Ela, por sua vez, parou ali mesmo, olhando de mim para o caderno, que estava no meu colo. Eu precisava saber o que ele significava para ela, precisava saber se ela era pessoa que havia enchido meus dias de alegria e esperança. Então reuni toda coragem que não tinha e falei tentando parecer firme:

- Reconhece isso?

- Sim. – foi tudo que ela respondeu, ainda olhando para o caderno.

- Onde o achou?

- Ele estava com você na manhã em que os encontrei.

- Foi a única vez que o viu? – insisti.

- O que você quer saber afinal? – ela perguntou com uma voz cansada, dessa vez olhando nos meus olhos.

- Você não cuidou de mim só porque me achou desacordada naquela praia. – ela não precisava me dizer mais nada, aqueles olhos me confirmaram o que eu já havia sentindo no momento em que achei aquele caderno entre as coisas dela.

- Não. Já disse, cuidei de vocês porque vocês precisavam. Mas ainda não entendo aonde você quer chegar. – ela falou um pouco nervosa.

- O que esse caderno significa para você? – fui direta.

 

Ela baixou a cabeça por um instante, parecia pensar. O apartamento estaria completamente escuro se não fosse a claridade que entrava através da janela, iluminando os traços daquela mulher que naquele momento parecia travar uma batalha interna. Quando ela levantou o rosto, eu podia distinguir o azul dos seus olhos, mesmo naquela escuridão, e eles se fixaram nos meus quando ela respondeu:

- Esperança. – resumindo numa única palavra o que todas aquelas palavras, atenção e compreensão que trocamos através daquele caderno representava.

 

Então era por isso que me sentia bem ao seu lado, por isso que ela me passava tanta confiança através de um olhar, por isso me sentia tão protegida naquela casa, eu apenas sentia que ela era alguém especial.

 

 

Havia tantas coisas que queria lhe dizer, sobre o quantos aquelas palavras me faziam bem, o quanto eu estava dependente delas e que mesmo sem conhecê-la eu já sabia que ela seria uma pessoa incrível. Levantei e fui até ela, eu queria apenas vê-la mais de perto, queria apenas constatar que o que eu havia pedido naquela noite havia se realizado. Ela estava por perto, bem perto, eu podia vê-la e queria senti-la, por isso cheguei ainda mais perto e a envolvi num abraço que ela prontamente correspondeu. Nunca tinha me sentido tão feliz só em ter o corpo de alguém tão próximo ao meu e aquilo me assustou a ponto de desfazer aquele abraço e fugir para o quarto, mas não sem antes me despedir daqueles olhos mais uma vez.

Fim do capítulo

Notas finais:

Agora falta só um capítulo para os inéditos! Mas para isso o pessoal tem que sair da moita e me dizer o que fazer com essas duas, para pararem de perder tempo!


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Comentários para 8 - Capítulo 8:
Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 09/04/2016

Comecei ler aqui assim que você começou a postar, mas minha curiosidade falou mais alto e fui procurar no outro site...kkkkk e agora estou aqui ansiosíssima pelo capítulo pós o próximo, que ainda não é o inédito.

Amo seu romance. Gosto muito mesmo.

Como dizem suas leitoras antigas: que bom que você continuou. Obrigada!

Tenha um bom final de semana.

Beijos procê!

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Lu Carvalho
Lu Carvalho

Em: 07/04/2016

Moça, estou em cólicas por essa continuação, ô tortura hahahaha. 

Responder

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juju952
juju952

Em: 07/04/2016

Poxa ate q enfim achei essa historia ela e linda , tinha lido antes em algum lugar mais so ia ate esse cap. Aguardo anciosa pelo próximo cap. Bjo.

Responder

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juju952
juju952

Em: 07/04/2016

Poxa ate q enfim achei essa historia ela e linda , tinha lido antes em algum lugar mais so ia ate esse cap. Aguardo anciosa pelo próximo cap. Bjo.

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beija-flor
beija-flor

Em: 06/04/2016

Querida autora esta história foi uma das primeiras que li quando descobri meu interesse por esse tipo de escrita,e isso já tem algum tempo,feliz por vc ter voltado e ainda mais aqui nesse site,amo essa narrativa e sempre tentei imaginar a continuação dela, mas só cabe a você o destino de Julia,Lívia e do Lucas.

Parabéns por tanta sensibilidade e poesia.Aguardo ansiosa os próximos capítulos.

PS.Sai da moita só pra comentar aqui.😂😂😂

Beijos da beija-flor 😘

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bia32
bia32

Em: 06/04/2016

Que história linda, surpreendente e poética! Amei! Já é minha preferida!.
O amor da Júlia e da Livia é algo q vem outras vidas!

Ansiosa! Muito ansiosa mesmo pelo próximo capítulo! Bjos autora!

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preguicella
preguicella

Em: 06/04/2016

Meu bem seja lá o que vc quiser fazer faça! A Lívia ceder e ficar na casa pra se entenderem depois, ela só não pode ir embora assim, pq depois do que as duas escreveram no caderno, do tanto que a Júlia cuidou dela e do Lucas ela merece uma chance!

E eu mais ainda pq sou do tempo que essa história tava parada lá no outro site e entrava toda semana pra saber se tinha capítulo novo! Até e-mail pra vc eu mandei! hahaah

Vc só não pode mais nos deixar órfãs de capitulos, de resto pode tudo! hahaha

Ah não pode matar ninguem tb não viu! Gosto de finais felizes! 

Bjãooooo 

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Mille
Mille

Em: 06/04/2016

Lívia vc encontrou seu barquinho então nada de fugir dele, além do mais o Lucas se dá tão bem com a Júlia seria uma maldade separa-las ansiosa pelo próximo capítulo.

Bjus

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josi08
josi08

Em: 06/04/2016

Ai a Julia eh linda demais...a Lívia tem que começar a acreditar na Julia....poxa tem que parar de perder tempo...pelo menos pra começo. A livia tem que reconsiderar e nao sair do ap da julia....amando muito a historia....como torci pra saber o final dessa historia que agora qase nem acredito que finalmente vou ler....;-) ;-) ;-) ;-) ;-) 

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sofiagayer
sofiagayer

Em: 06/04/2016

Geeeente, to adorando essa história... não demora muito, por favooooooor... kkkk to agoniada, dificil saber o que a livia realmente ta sentindo, elas tem que ficar juntas... ;) muito fofas!!! 

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mtereza
mtereza

Em: 06/04/2016

Amo a delicadeza com que vc desenvolve a sua história como está construindo o amor entre esses três  me enleva ansiosa pelo próximo capítulo 

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Nehw
Nehw

Em: 06/04/2016

Aguardando próximos capítulos!!!
O Lúcas é um Lindo! E essas duas então... ! =]

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