CapÃtulo 1 – Não se diz ‘não’ para a melhor amiga
Jasmine dormia em sua cama no apartamento que ela e Ana Júlia haviam dividido na faculdade. Mesmo após tudo as duas se mantinham “dividindo” o lugar e Jas ainda tinha sua chave. A noite anterior havia sido de festa com um grupo de velhos amigos em uma boate no centro de São Paulo, mas nenhum deles era tão próximo quanto Ana Júlia. Após isso Jas havia passado toda a madrugada, o amanhecer e mais da metade da manhã andando pela cidade a fotografar; para ela não importava que essas fotos ficassem guardadas em seus cartões de memória para sempre, ela sentia a necessidade de fotografar e registrar toda e qualquer cena que julgasse merecer ser eternizada por suas lentes. O resultado disso foi que, após chegar em casa, comer qualquer coisa, tomar banho e deitar ela havia apagado e dormido mais de 12 horas seguidas até que, às 21:50pm, seu celular toca ao som de “Really don’t care” despertando-a.
- Oi Anjú – fala Jas com a voz rouca de sono e abafada pelo travesseiro ao atender a chamada que ela sabia ser da amiga por causa do toque.
- Por todos os santos Jasmine, me diz que você ainda tá no Brasil!! – pede a voz chorosa de Ana Júlia.
- Claro que estou mulher – responde Jas rindo e se deitando de costas – Prometi te esperar até você voltar daqui a três dias.
- Eu preciso de um favor Jas – disse Ana Júlia sendo direta e fazendo a amiga estreitar os olhos, mas Jasmine não teve tempo de dizer nada – Preciso que você venha ao Rio Grande do Sul fazer um ensaio fotográfico com 4 modelos em um casarão antigo pra a Actualites. Eu sei que você odeia ensaios e ter que fotografar modelos e seguir um roteiro e ter alguém mandando nas suas fotos, mas eu estou desesperada e se você me disser não eu não vou ter mais a quem mais recorrer! – disse Ana Júlia falando tudo de uma única vez sem respirar – Jas eu te imploro!! Me ajuda nessa!
Um suspiro pode ser ouvido por Ana Júlia, então ela escutou Jasmine soltar um som irritado, mas abafado por um travesseiro que ela havia colocado sobre o rosto. Após isso um novo suspiro e então a resposta:
- Vou ligar numa companhia aérea, até amanhã cedo eu chego ai – murmurou Jasmine com uma voz cansada e resignada.
Ana Júlia soltou um gritinho de felicidade e começou a pular no mesmo lugar de tanta felicidade.
- Eu te adoro, te adoro, te adoro muito – falava ela rindo alegre e fazendo Jasmine sorrir – Deus como te amo Jas! Deixa que eu cuido de tudo, eu compro a passagem e te mando tudo o que precisa pra embarcar. Vai ter alguém te esperando no aeroporto pra te trazer para cá.
- Hey, calma mulher! – falou Jas rindo – O que tenho que levar? Tem algum equipamento ai que eu possa usar??
- Ain, não tem nada – respondeu Ana Júlia fazendo uma careta de irritação – O fotógrafo babaca levou tudo. Jas, me diz que você ainda tem o velho equipamento do seu pai! Pelo bem do meu empreguinho querido você tem que ter ele.
- Tenho sim, Anjú – riu Jasmine se levantando para começar a arrumar suas coisas – Estão guardados aqui no fundo do closet do meu quarto, vou checar pra ver se está tudo funcionando, mas se precisar de algo terei que comprar quando chegar ai. Te aviso assim que terminar de ver tudo.
- Certo minha salvadora – brincou Ana Júlia sorrindo tranquila – Me liga avisando que eu preparo tudo aqui. E venha pronta pra ficar uns três ou quatro dias, ok? Beijinhos – disse ela desligando sem esperar a amiga responder para não correr o risco dela desistir.
Mas Jasmine não desistiria depois de dar sua palavra. Não se diz não para a melhor amiga e ela estava a tempo demais longe de Ana Júlia para perder a oportunidade de passar três dias com a amiga, mesmo que pra isso tivesse que tirar o tipo de foto que odiava ter de fotografar. Por causa disso Jasmine, às 3 da manhã, estava embarcando num avião para o estado mais ao sul do Brasil encontrar a velha amiga.
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Às 6 da manhã Jasmine terminava de comer e pegava um táxi até o centro de Porto Alegre onde já um velho amigo de seu pai abriria a loja dele apenas para que ela comprasse o que lhe faltava de equipamento. Quando ela terminava de guardar suas compras o motorista enviado por Ana Júlia parou em frente a loja para leva-la até a casa de campo que ficava numa cidade pequena à 6 horas de carro da capital. Jasmine passou a viagem toda dormindo dentro do carro por estar exausta da viajem de avião, o meio de transporte que ela mais odiava no mundo todo.
Ao chegar no tal casarão Jas estava com os cabelos bagunçados, os óculos tortos e um lado do rosto amassado com as marcas de onde ela tinha encostado a cabeça contra seu casaco para dormir. Ela desceu do carro com sua mochila com roupas e o que mais precisasse usar ali pendurada nos ombros e sua câmera nas mãos, já arrependida de ter dormido e perdido as paisagens da estrada.
- JAS! – gritou Ana Júlia enquanto corria para a amiga e pulava em cima da mesma que só teve tempo de erguer a câmera com uma das mãos acima da sua cabeça e rir enquanto era abraçada e apertada – Ain que bom que você veio, achei que acabaria perdendo meu lindo emprego dessa vez – ela disse ainda abraçando Jasmine que a abraçava com um braço só.
- Calma – pediu Jas rindo e elas se afastaram – Ok, vamos por partes, primeiro vamos entrar que pelo que você me falou tenho muito trabalho, me leva até o lugar em que as fotos serão feitas pra que eu comece a montar o equipamento – disse ela rindo e arrumando os óculos de armação preta no rosto.
- Antes preciso te apresentar à Fernanda, minha chefe – disse Ana Júlia suspirando – Ela só sabe que eu arrumei uma fotógrafa, mas não disse que era você. Vem – falou ela já puxando a amiga pela mão.
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- Hey! – chamou Jas quando elas entraram numa área aberta perto de uma piscina.
Ana Júlia se virou ainda caminhando e deu de cara com a lente de Jasmine que segurava a câmera com uma mão apenas, mas ainda foi capaz de tirar uma foto da amiga que a olhava sorrindo, mas ainda com um olhar confuso e surpreso.
- Eu não sou uma das modelos não dona fotógrafa – falou Ana Júlia rindo junto com Jasmine que puxou a amiga pela mão até estarem caminhando abraçadas.
- Senti sua falta Anjú – disse Jas encostando a cabeça no ombro da amiga.
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Elas foram chegando perto de uma área próxima à varanda que circundava todo o casarão; ali havia um pequeno deque, ele era inteiro recoberto por videiras de folhas muito verdes que formavam duas paredes ao redor da parte mais distante da piscina. As folhas verdes eram intercaladas com pequenas flores amarelas e mantinham o outro lado fora das vistas das duas amigas que caminhava pela beira de uma piscina naquela direção. Tudo o que se via era uma mesa redonda onde era servido um café da manhã. Logo antes de chegarem ao deck Ana Júlia se soltou de Jas e foi na frente com a amiga logo atrás.
A primeira coisa que os olhos de Jasmine notaram quando subiu naquele piso de madeira foi a mulher sentada atrás da mesa, com as pernas cruzadas, uma xícara de café sendo levada à boca e olhos escuros focados num conjunto de folhas. Num impulso Jas quase ergueu o braço para fotografá-la, mas sua mente logo registrou que aquela era sua contratante e não uma das modelos; por isso, mesmo se arrependendo, ela não registrou aquela cena.
Ela usava um conjunto branco de seda, calça e camisa sociais, um sapato num tom bege claro com um salto enorme podia ser visto por baixo da boca larga da calça; em seus pulsos apenas um relógio, nos dedos alguns anéis com pedras, no pescoço dois colares, um em prata e outro em ouro. Os cabelos soltos e lisos chegando até um pouco abaixo da altura dos ombros. Sua maquiagem era leve, os olhos negros ainda mais destacados e com uma sombra um tom mais escura do que a pele morena, nos lábios um batom rosa claro que parecia destacar a boca dela em contraste com a pele mais bronzeada. Tudo o que Jasmine mais queria naquela hora era registrar aquele momento com sua câmera, mas se controlou.
- Chefe? – chamou Ana Júlia chegando perto da mulher com que a olhou por sobre a xícara de café enquanto bebia um gole do líquido quente – A fotógrafa chegou, achei que fosse querer conhece-la.
Quando os olhos escuros entraram em contato com os castanhos, Jasmine sentiu uma pressão que nunca olhar nenhum havia colocado nela. A outra analisou a mulher parada na ponta do deque, cabelo ondulado nitidamente castanho apenas por conta da luz do sol que o iluminava, olhos por trás das lentes de um óculos, no corpo um jeans claro e um tanto velho, uma camisa com estampas do reino unido e um moletom azul, nos pés um all star branco e, pendurada em seu pescoço, uma câmera.
Fernanda a analisou e não soube dizer se gostou ou não do que viu. Por trás das lentes ela via olhos castanhos atentos a observando e sustentando seu olhar, o que era algo muito pouco comum. Ela solta os papéis e a xícara sobre a mesa antes de se levantar e caminhar a passos calmos na direção da fotógrafa buscando em sua memória quem ela era, mas não lhe veio nome nenhum.
- Fernanda Azevedo – disse ela estendendo a mão para a outra, em sua mente ela percebia os detalhes e ficava nervosa com o fato daquela fotógrafa parecer jovem demais.
- Jasmine Meirelles – respondeu ela com a voz calma enquanto apertava firmemente a mão da outra; aquela voz junto ao pequeno sorriso de lado que a fotógrafa lhe lançou provocou uma sensação estranha em Fernanda, mas ela soube esconder isso muito bem.
- É um prazer – diz Fernanda logo soltando a mão da fotógrafa que manteve o mesmo sorriso de canto – Por que não se senta e toma um café, eu preciso ter uma palavrinha com a minha assistente – completa ela se afastando e arrastando Ana Júlia por um cotovelo.
Quando finalmente se encontram um tanto afastadas Fernanda, dando uma ultima olhada para a fotógrafa, se dirige à sua assistente com uma irritação contida.
- Como você tem coragem de trazer uma completa desconhecida para ser a responsável pelas fotos da matéria mais importante que a Actualites já teve a oportunidade de redigir! – diz ela se controlando para manter o tom baixo e vê Ana Júlia encolher os ombros – Pelo amor de Deus, Ana Júlia! Eu nunca vi essa garota! Com tantos fotógrafos no Brasil, como você me trás uma menina desconhecida aqui???
- Calma Dona Fernanda – pediu Ana Júlia suspirando – Acredite em mim chefe, eu não tive outra escolha. Jas foi minha última esperança.
- Ana Júlia, existem dezenas de fotógrafos descentes no país, como nenhum deles pode aceitar esse trabalho? – questionou Fernanda quase perdendo o controle.
- Desculpe-me, mas, aparentemente, o idiota que foi despedido era o único com agenda vaga para esses dias em específico! – falou Ana Júlia de forma firme e direta, Fernanda adorava a forma com que a assistente, apesar de respeitá-la, não deixava de ser sincera e direta sempre, mas naquele instante isso a irritou profundamente – Eu liguei para mais de 100 fotógrafos, Chefe. Todos os que já passaram pela Actualites ou que tiveram apenas contratos passageiros, tudo! Depois fui atrás de todos os bons fotógrafos, então de todos que não tivessem uma má reputação. Nenhum deles estava disponível, nenhum tinha espaço na agenda pra tanto tempo. Chefe eu te juro que tentei de tudo, a Jas foi minha ultima opção! Mas eu não a traria até aqui se não tivesse certeza de que ela poderia fazer isso.
- Quem afinal é essa menina??? – perguntou Fernanda respirando fundo para se concentrar ao entender que Ana Júlia realmente tinha tentado de tudo.
- Antes de tudo, ela não é uma menina, tem a minha idade, aliás, é mais velha do que eu Dona Fernanda – respondeu Ana Júlia com um pequeno sorriso por conta da expressão surpresa da chefe – Nós estudamos juntas por alguns anos na faculdade, mas então ela saiu antes de terminarmos. Chefe, uma coisa eu posso garantir pra senhora; Jasmine tem mais fotos publicadas pelo mundo todo do que qualquer um dos fotógrafos com os quais a senhora já trabalhou.
- Quantidade não garante qualidade e o que eu quero, e preciso, é qualidade – disse Fernanda impassível – Eu nunca sequer ouvi falar no nome dessa sua amiga; por mais que exista amizade entre as duas, você não deveria ter trazido ela, minha revista não está aqui pra impulsionar a carreira de ninguém Ana Júlia.
Após essas palavras Fernanda viu a expressão de sua assistente mudar de uma cansada e esgotada para outra decidida e quase enfurecida.
- Jasmine não quer nem precisa de nenhum impulso na carreira – começou dizendo Ana Júlia com certa raiva, mas ainda assim com um tom muito baixo em respeito à mulher que pagava seu salário – Ela odeia esse tipo de trabalho e veio apenas porque eu pedi. Ela já rodou o mundo publicando suas fotos em revistas muito importantes de várias áreas e nunca foi contratada por nenhuma delas por recusar todas as ofertas. Se a senhora não confia no trabalho dela saiba que eu confio. Nesse um ano e meio em que trabalhei com você, Dona Fernanda, eu nunca lhe trouxe nada além do melhor que pudesse ser encontrado. Pois então saiba que, se é qualidade que a senhora procura, façamos assim: se ela não atender as suas necessidades então não tem que pagá-la por esse serviço e ainda pode me considerar demitida.
- Você está colocando seu emprego nas mãos dessa mulher? – perguntou Fernanda descrente ao ouvir as ultimas palavras da assistente, a melhor de todas com quem ela já havia trabalhado.
- Não Senhora – respondeu Ana Júlia firmemente – Estou colocando meu emprego nas lentes dessa fotógrafa e tenho certeza de que elas faram um trabalho exemplar.
Fernanda encarou sua assistente por alguns segundos digerindo aquelas palavras. Ana Júlia realmente confiava cegamente na qualidade do trabalho daquela fotógrafa desconhecida, que parecia uma menina, e carregava uma máquina relativamente ultrapassada. Para ela era inconcebível uma loucura dessas, mas então sua mente prática repassou todo o tempo em que Ana Júlia esteve trabalhando com ela. Nunca antes aquela mulher falhou com Fernanda e a realidade disso atingiu a editora chefe com força suficiente para desestabilizar seus argumentos. Fernanda passou a mão direita, que estava sem nenhum anel, pelos cabelos e soltou um suspiro; então se virou e voltou na direção de Jasmine que se encontrava, aparentemente, distraída tirando fotos de alguma coisa em volta da piscina.
- Espero que seus equipamentos estejam preparados – falou Fernanda se aproximando da fotógrafa que, calmamente bateu uma última foto de sua imagem misteriosa antes de abaixar a câmera e encarar a editora – Já estamos fora do prazo e há muito a ser feito.
- Se seus empregados são eficientes eles já estarão no lugar onde eu devo montá-los – responde Jasmine com um sorriso enigmático que faz Fernanda ficar sem saber como reagir – Primeiro, e antes de tudo, gostaria que você me explicasse, com detalhes, o que está pensando e o que já tem planejado a respeito desse ensaio.
- Posso te passar alguns pontos que estive preparando ontem – respondeu Fernanda voltando para a mesa e pegando os papéis que ela estava lendo quando as duas chegaram.
- Não – disse Jasmine acompanhando-a – Quero que me fale, vá falando tudo a respeito disso, dos modelos, dos locais, da temática envolvida na matéria, quero ouvir tudo. Não temos tempo para que eu pare para ler e eu também prefiro ouvir.
- Ahn..certo – respondeu Fernanda largando os papéis com certa confusão e liderando o caminho para o outro lado do casarão, onde os modelos já deveriam estar esperando.
Fim do capítulo
Primeiro capítulo de verdade agora hehe
Nos vemos no dia 18/04 pessoinhas
Bjs ;]
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lay colombo
Em: 06/04/2016
Vi q vc tinha postado outra história e como amo É o Fim ou só mais um recomeço decidi dar uma chance e pelo jeito vai valer muito a pena, ja curti bastante esse início e adoro a forma q vc escreve, estarei aguardando o próximo bjos.
Resposta do autor em 15/04/2016:
Comecei uma logo antes de terminar a outra hehe
Bem, espero que goste tando de "Pelas lentes dela" qnt gostou de " É o Fim ou só mais um recomeço"
Bjs ;]
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lia-andrade
Em: 04/04/2016
Perfeito. Adorando..que venha logo i próximo, já ansiosa aqui.rs
Beijos
Resposta do autor em 15/04/2016:
Já veio hehe, tentarei adiantar as atualizações, a história está fluindo bem
Bjs ;]
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