Era uma manhã comum, em alguns meses Jodie e Charlie fariam 5 anos juntas; há muito Jodie havia assumido o posto de lutadora principal e nunca tinha chegado nem perto de perder uma luta sequer. Os desafios diminuíam constantemente conforme Jeremy aumentava as vilas sob seu comando. Christopher já estava na cidade a quase dois anos, ele e Max tinham quase a mesma idade e haviam se tornado muito próximos. 

Charlie, Jodie, Max e Sam estavam na rua principal da vila; todos sabiam quem elas eram, a maioria dos que tinham algum produto para troca ofereciam suas mercadorias à elas para que levassem se quisessem. Charlie ainda era incrivelmente respeitada e, assim como os outros lutadores de Jeremy, ela recebia comida e alguns outros mantimentos de graça. Nenhum dos produtores achava isso ruim, pelo contrário, quando elas passavam eles iam levar o que tinham para dar a elas.

Jeremy tinha 20 lutadores e mais vários homens fortes que ‘trabalhavam’ para ele. Entretanto, apenas os lutadores não exerciam nenhuma outra função além de treinar. Por estarem sempre tendo que se manter preparados esses homens não tinham tempo de produzir algo para trocar, por isso cada agricultor destinava uma pequena porção de sua produção para dar aos lutadores garantindo a alimentação dos mesmos e de suas famílias, que quase todos possuíam. Claro que o resto da família produzia algo, ou vendia seus serviços, mas para garantir a sobrevivência dos lutadores Jeremy tinha feito esse acordo com os agricultores. O que não era ruim, porque esses homens e mulheres que produziam alimentos sabiam que, sem essas pessoas que lutassem por eles, não haveria lugar para eles plantassem e colhessem e vivessem bem.

E por conta da estabilidade que esses lutadores traziam a todos, era impossível que alguém não quisesse saber que a grande Charlie havia consumido algo cultivado por eles. Jodie também era tão reconhecida quanto a namorada, mas ela sabia que aquelas pessoas, principalmente os mais velhos que viram por mais tempo as coisas ruins que surgiram, idolatravam Charllote Hams.

Naquela manhã em particular elas tinham ido atrás de frutas, caminhavam pela rua conversando coisas bobas; Max ia com Sam mais a frente e Charlie vinha mais atrás com Jodie que tinha o braço direito por sobre os ombros da mais velha. Os dedos das mãos direitas das duas estavam entrelaçados e Jodie caminhava muito perto de Charlie falando coisas idiotas para a mais velha que ria das bobagens que a namorada dizia, elas estavam num ótimo dia.

Pararam na barraca de uma senhora e Max começou a conversar, Jodie parou atrás de Charlie abraçando a mais velha pela cintura e deixando o rosto no pescoço da médica que sorriu e fez um carinho nos cabelos loiros. Logo que Max pegou algumas frutas elas voltaram a andar com Jodie ainda tentando ficar com o rosto no pescoço de Charlie o que fez as três rirem e a mais velha reclamar que não conseguia caminhar. Jodie voltou para seu lugar ao lado da médica e elas trocaram um beijo antes de Jodie tirar o braço dos ombros e coloca-lo na cintura da mais velha que continuou sorrindo.

Alguns segundos depois disso, quando Jodie voltou a olhar para frente, ela simplesmente parou completamente estática encarando algum ponto à sua frente. Charlie, sem entender, parou de frente para a mais nova e, vendo que ela encarava algo, olhou na mesma direção. O que ela viu foi uma figura mais a frente na rua principal, com um sobretudo empoeirado por sobre uma calça jeans e uma camisa marrom; mesmo de longe ela ainda era capaz de reconhecer aquela figura parada encarando-as com olhos arregalados e a boca aberta numa expressão clara de surpresa.

Jodie voltou a reagir quando viu que Charlie havia visto Izzy também, um medo surgiu dentro dela, uma angústia que a loira nunca tinha sentido antes; e junto com isso veio uma tristeza e um desânimo que fez o sorriso que ela colocou no rosto ser completamente falso. De um jeito desajeitado a loira puxou seu braço para longe da cintura da médica e se afastou um pouco dela.

- Posso ir lá falar com ela – disse Jodie forçando o sorriso a continuar no lugar – Se você não quiser...não quiser falar com ela...eu posso ir lá...posso passar seu recado.

Charlie notou a mudança da mais nova, logo ela percebeu o motivo. A médica encarou a expressão da namorada com um olhar calmo tentando passar tranquilidade à Jodie, então se aproximou mais dela segurando a mão da mesma.

- Porque não fazemos assim – disse Charlie entrelaçando os dedos das duas – Você vai lá falar com ela, enquanto isso Max, Sam e eu voltamos pra casa preparar um almoço pra nós todas. Chame ela pra comer com a gente.

- O que?!? – perguntou Max indignada com a ideia; ela nunca havia visto Izzy, mas Jodie já havia lhe feito várias descrições e ela tinha entendido rápido quem era aquela mulher parada lá encarando Charlie e a loira – Tá maluca Charlie? Pra que chamar essa mulher pra comer??? Devia ignorar ela completamente, mandar sumir de novo.

Charlie riu baixo da reação da garota, mas voltou a olhar para Jodie que parecia confusa com aquela decisão.

- Ela é sua amiga, vocês devem estar querendo conversar – disse a médica tocando o rosto da loira – Eu não me incomodo com ela, por isso acho que você devia fazer isso.

- Tá – respondeu Jodie respirando fundo sem saber o que mais fazer ou responder – Vou lá fazer isso.

- Te espero em casa – falou Charlie puxando o rosto da loira para perto e dando um beijo delicado nos lábios da mais alta – Não demore.

Jodie sorriu com aquele beijo e viu Charlie sorrir discretamente também. Ela queria puxar a mais velha e beijá-la mais, mas se controlou. Pela primeira vez desde que reencontrou a médica ela estava realmente insegura. Não sabia o que aconteceria com a presença de Izzy ali, mas Charlie não parecia se incomodar, nem tinha mudado sua forma de agir, então a loira tentou não se deixar abalar.

------xxx------

Quando ficaram frente a frente Jodie não soube o que dizer, apenas encarou a velha amiga que a olhava de volta com um olhar sério.

- Nunca imaginei que veria você de novo – falou Jodie tentando dar um sorriso – É bom te ver Izzy, e saber que você está bem.

Izzy respirou fundo e deu um abraço na amiga antes de dizer qualquer coisa. Jodie a abraçou de volta tentando não se sentir triste ou desanimada. Quando se separaram Izzy pegou a mochila que estava no chão e a colocou nos ombros.

- É bom saber que você a encontrou como tinha dito que faria – falou Izzy sorrindo de um jeito desajeitado.

POV Jodie

Eu não sabia o que fazer, eu não sabia lidar com aquela situação. Izzy ainda era minha melhor amiga, mas eu amava Charlie de um jeito que nunca vi ela amando, e mesmo assim, eu estava aqui, com a ex da minha melhor  amiga. O que eu tinha direito de dizer ou não? Eu não sabia se nossa amizade ainda se manteria nessa situação. Mas meu medo maior nem era esse, meu medo maior era a presença dela afetar Charlie de uma forma ruim pra ela. O que é algo idiota, porque se isso acontecer eu estarei aqui pra cuidar dela, mas que ainda existe a possibilidade disso ser ruim pra mim, de Charlie descobrir que não havia esquecido ela ainda, e se fosse assim e ela terminasse comigo eu não saberia o que fazer da minha vida.

Acordei dos meus pensamentos quando vi Izzy acenar dizendo que iria embora.

- Espera – falei tocando o ombro dela, quando ela me olhou eu respirei fundo, faria a vontade da Charlie, independente das consequências que isso poderia ter pra mim – Charlie pediu pra chamar você pra comer com a gente.

Ela arregalou os olhos, nem ela acreditava que Charlie tinha mesmo pedido isso, eu ainda não acreditava também.

- Não acho que seja uma boa ideia – ela falou encarando o chão – Eu não quero causar desconforto a ninguém.

- Foi ela quem quis, Izzy – respondi dando um mínimo sorriso – Porque só não tenta?

Ela acabou aceitando e então começamos a caminhar na direção do galpão. Ficamos caladas, apenas andando lado a lado, até sairmos de perto das casas habitadas. Quando entramos no pequeno bosque que ficava em volta do galpão Izzy resolveu iniciar a conversa.

- Porque não me contou que estava apaixonada pela Charlie? – ela perguntou me fazendo travar e até parar de caminhar; Izzy parou também e se virou ficando de frente pra mim, a expressão dela era calma, mas pensativa – Você poderia ter me contado, sabe. Eu não ficaria brava nem nada. Podia ter me dito quando perguntei o que sentia por ela.

- Eu acho que não teria dito nem se soubesse na época – falei dando um sorriso sem jeito – Me perguntou o que eu sentia por ela quando vocês duas ainda estavam juntas. Na época, o que eu te disse era a verdade, era o que eu sentia. Mas se eu já soubesse que eu estava apaixonada por ela naquela época não teria dito, Izzy. Vocês namoravam e eu era sua amiga, não poderia ter falado algo. Mas eu não menti pra você, na época eu achava mesmo que só sentia admiração pela Charlie.

- Quando entendeu que gostava dela? – perguntou Izzy sem me encarar e voltando a caminhar me fazendo segui-la.

- Depois que ela foi embora eu comecei a perceber que não era só admiração – disse caminhando ao lado dela – Quando te pedi pra me ensinar a lutar eu já sabia o que realmente sentia, mas só fui aceitar realmente isso quando decidi sair daquele vilarejo onde tínhamos nos instalado.

- Vocês pareciam felizes lá na rua, andando juntas – Izzy comentou ainda sem me olhar.

- Eu...acho que posso dizer que somos felizes juntas – digo sem jeito, sem querer cutucar velhas feridas, porque não sei o que se passa pela cabeça dela.

- Fico feliz por isso – Izzy diz me olhando com um sorriso que, não parece tão feliz, mas ainda é completamente sincero. 

Fim do capítulo