Era 18:30 da tarde quando Júlia chegou no apartamento dos nossos pais. Eu já estava de banho tomado e faltava apenas escolher minha roupa. Estava separando alguns modelos quando ouvi batidas na porta do meu quarto.

                - Entra – respondi.

                - Oi – ela disse ao abrir a porta.

                - Oi – respondi virando meu rosto em sua direção – Estou quase pronta. O que acha desse vestido? – perguntei mostrando um pretinho básico que eu adorava.

                - É lindo! Comprou em New York?

                - Sim. Numa liquidação da Calvin Klein.

                - É estranho imaginar isso?

- O que? – perguntei

- Você... fazendo compras na Calvin Klein e outras marcas famosas...  você nunca foi muito ligada em usar roupas de marcas assim. Pelo visto mudou muito.

                - New York me mudou pouco Jú. Como eu trabalhava com muitas modelos lá eu precisava me vestir mais formalmente e claro mais elegante. O mundo da moda em New York te cobra muito isso.  Alias a cidade em sí te cobra muito isso. Viver lá é muito bom e também muito caro. Sem contar que tinha a Ashley também.

                - Quem é essa? -

- Ela era a garota que dividia apartamento comigo, era compulsiva por comprar roupas então ela enjoava das dela e eu acabava ficando com algumas.

                - Hum... e você e essa Ashley? – encarou-me com um sorrisinho no rosto - Rolava algo? – eu já imaginava que ela perguntaria isso. Júlia era bem curiosa.

                - Não – sorri – A Ashy é tão hetero quanto o Rick Martin é gay.

                - Mas você namorou alguém enquanto esteve lá?

                - Namorar não! Mais eu tive meus rolinhos. – coloquei o vestido e fiz uma maquiagem leve. Finalizei com uns brincos pratas e salto alto. – Que tal?

                - Linda! – respondeu sorrindo – se importa se passarmos no meu apê? Quero trocar de roupa!

                - Não, claro que não! – peguei minha bolsa e assim que chegamos na sala encontramos minha mãe sentada. Ela deu um sorriso contido ao nos ver, como se estivesse feliz pelo fato de ver suas duas filhas juntas novamente.

                - Oi mãe – Júlia disse.

                - Oi querida – respondeu – Pelo visto vão sair! – disse olhando-me.

                - Vamos jantar apenas. – ela completou.

                - Cuidado na rua. Você sabe como a cidade está perigosa a noite.

                - Pode deixar mãe.  – Permaneci calada atenta a conversa das duas, era novidade pra mim ver minha mãe dizer aquilo. Antigamente, quando saímos, ela nem sequer reparava e muito menos aconselhava-nos a ter cuidado e agora ela parecia realmente se importar.

                Saímos de lá e seguimos para o apartamento de minha irmã. Ela não morava muito longe dali, ficava bem próximo do aeroporto de Congonhas.  O lugar era lindo, grande e confortável. Estava impecavelmente decorado, tudo com muito bom gosto dando um ar agradável  e acolhedor ao lugar.

                - Seu apartamento é lindo! – elogiei assim que entrei na sala.

                - Obrigada. Você sabe como gosto das coisas mais simples né, e fica bem mais fácil manter ele limpo sem um monte de tranqueiras dentro dele. – riu.

- Vou tomar um banho rápido e já volto. Na geladeira tem cerveja se você quiser.  Ainda gosta de cerveja né? – balancei a cabeça confirmando - Sinta-se à vontade Ana.  – Seguiu em direção ao quarto dela.

                - Beleza! – Respondi baixo seguindo até a geladeira e pegando uma long neck. Abri a garrafinha e tomei um gole, sentindo o liquido gelado descer e o sabor agradável do malte. Eu estava acostumada com as cervejas estrangeiras, que possuem um malte mais forte, e até estranhei um pouco nos primeiros goles, mas logo me acostumei. Júlia gastou uns trinta minutos entre tomar banho e arrumar-se e estava linda quando adentrou à sala.

                - Ta bom assim? – deu uma volta e parou esperando minha resposta.

                - Tá uma gata. Desse jeito as mulheres nem vão olhar pra mim. – sorri para ela.

                - Até parece Ana. Você sempre chamou mais atenção do que eu. Vamos né? – disse pegando as chaves do carro.

                - Estou morrendo de fome! – caminhei até a porta e abri-a passando na frente dela.

                - Aonde quer ir? – Perguntou-me já no elevador.

                - Pode ser num japonês o que acha?

                - Por mim tá ótimo. Conheço um japonês excelente aqui perto.

                - Então será comida japonesa.

                Seguimos de carro até o restaurante, que tinha uma decoração bem no estilo oriental. Resolvemos nos sentar no tatame mesmo apesar de não achar muito confortável, principalmente por que eu estava de vestido. Fizemos nossos pedidos e não demorou muito para que nossa barca de sushis e sashimis chegasse a mesa.  Conversávamos enquanto comíamos.

                - Você não me contou nada sobre você. O que fez esses anos todos? – Perguntou-me.

                - Como você já deve saber eu estudei fotografia lá. – ela confirmou com a cabeça – Bom eu trabalhei um tempo com isso. Eu também passei muito tempo viajando, conheci muito lugares, vi muitas coisas boas e muitas coisas ruins também. Conheci muita gente nesse tempo e acabei fazendo muitas amizades.

                - E por onde você esteve?

                - Nossa estive em vários lugares. – peguei um sashimi e coloquei na boca, mastigando-o devagar - India, Londres, Tokio, Cingapura. Conheci muitos países.

                - Eu gostaria de ver suas fotos depois. Posso? – disse interessada e levou seu hashi até a barca pegando um sushi.

                - Claro eu mostro. Fiquei de mostrar pra Flávinha também.

                - Você falou com ela? –  levantou seus olhos em minha direção.  

                - Sim. Ela passou a noite comigo no hotel e conversamos muito.

                - Como ela está? – perguntou.

                - Bem. Vocês não tem se falado?

                - Na verdade não muito. Ela deu uma sumida de uns tempos pra cá por causa da namorada. Pensa numa garota ciumenta, tinha ciúmes até da Paty. – disse revirando os olhos, ver minha irmã chama-la pronunciar o nome dela carinhosamente me causava uma dor incrível. Mas eu precisava me acostumar com aquilo, só assim eu poderia superar o passado. – As vezes, quando saiamos as quatro, sempre acabava dando alguma briga entre elas.

                - Sério? – disfarcei meu incômodo procurando outra fatia de sashimi.

                - Muito sério. A garota é tão ciumenta que chega a ser paranoica. Me admira muito uma mulher como a Flá aguentar alguém como ela.  Ela merece alguém melhor. – disse pensativa.

                - A Flavinha é incrível mesmo. E tá ainda mais linda do que a última vez em que a vi.

                - Vamos concordar que ela sempre foi linda né! – sorriu.

                - Quem sabe agora ela não ache alguém melhor. Ela está solteira. Pelo que ela me disse já tem um tempo que elas terminaram.

                - Mesmo? – arqueou as sobrancelhas - Que pilantra nem pra avisar a gente!  

                - Não aguento mais – suspirei - Estou satisfeita – respondi. Eu havia comido demais.

                - Eu também. Que ir?

                - Pode ser.

                Pedimos a conta mas Júlia não me deixou dividir com ela. Saímos de lá e seguimos em direção a zona norte de São Paulo. O lugar onde era o prédio era muito bonito e ficava num ponto alto do bairro Jardim São Paulo, muito bem localizado e próximo ao metro.  Era amplo e tinha dois quartos, sendo um deles uma suíte, um banheiro, sala e cozinha americana e uma varanda gourmet com uma vista linda. Eu fiquei encantada quando entrei.

                - Gostou? – Júlia estava parada no centro da sala.

                - Se gostei? Eu amei! Vai ficar perfeito!

                - Então agora basta mobiliar – disse jogando as chaves no ar em minha direção e eu as peguei.

                - Nem acredito que o papai fez isso. – sorri encantada com o lugar.

                - Quando pretende vir pra cá? – caminhou em direção a varanda escorando seu corpo na grade, apreciando a vista da cidade a noite. Caminhei até ela encostando-me ao seu lado.

                - Bom amanhã mesmo vou começar as procurar os moveis que quero aqui.  E se tudo der certo em uma semana quero sair da casa da ma... – calei-me – dos nossos pais – corrigi-me.

                - Sabe que não precisa bancar a orgulhosa comigo né? Sei bem que ia falar da casa da mamãe.

                - Eu não tenho mais mãe Jú. Ela deixou isso bem claro anos atrás.

                - Por que não dá uma chance a ela de mostrar que ela mudou Ana? Todo mundo pode mudar. Você mudou não mudou?

                - Sim, eu mudei e estou tentando melhorar a cada dia.

                - Ela também está!

                - Assim do nada? O que aconteceu pra ela mudar tanto da noite pro dia?

                - Eu não sei... – calou-se - mas não foi bem da noite pro dia, começou um ano após você ir embora. Primeiro foram pequenos gestos,  como o de hoje na sala, depois ela começou a se aproximar mais de mim, a se inteirar mais da minha vida sabe... tornou-se mais aberta e afetuosa comigo e até mesmo com nossos empregados. Foi estranho no começo mais com o tempo eu comecei a gostar desse novo jeito dela. É muito bom tê-la assim,  você deveria experimentar. Não custa nada dar uma chance Ana. Se não der certo pelo menos você vai saber que tentou.

                - Vamos deixar as coisas rolarem ok! – disse querendo encerrar o assunto.

                - Claro! Escuta, tá afim de dormir lá em casa hoje?

                - Pode ser!

                - Então vamos!

                Saímos do prédio e levamos algum tempo até chegar na zona sul. Já no apartamento Júlia me emprestou uma toalha e uma roupa leve para dormir. Depois de prontas nos sentamos na sala, cada uma num canto do sofá com uma cerveja na mão.

                - Desde quando você gosta de cerveja? – perguntei a ela.

                - Má influência da Flavia! – riu. Só podia ser mesmo. Júlia nunca foi de tomar cerveja, ela gostava de vinhos e alguns destilados. As únicas bebidas alcoólicas que Patrícia bebia eram Keep Cooler e Smirnoff Ice e as únicas que bebiam cerveja era Flavia e eu.

                - Nesse caso você deveria passar mais tempo com ela – ri.

                - Estou curiosa! O que te fez voltar agora? – Perguntou-me  e expliquei a ela sobre minha viagem a África e tudo que aconteceu por lá e sobre minha decisão de consertar as coisas entre nós.

                - E foi mais ou menos isso! – respondi terminando a garrafinha e me levantando para buscar outra. Quando me sentei no sofá novamente Júlia me olhava com os olhos brilhando.

                - Serio mesmo? Pensou em mim?

                - Sim. Na verdade, eu fui muito injusta com você naquele dia que apareceu na minha casa em New York, as coisas que eu disse... – relembrei nossa briga.

                Já fazia 3 meses que eu estava morando em New York. Eu ainda mantinha  basante contato com Flávia até então, e ela foi a única pessoa a quem eu passei meu endereço. Então quando Júlia apareceu em minha porta eu já sabia como ela havia me encontrado. Foi depois disso que eu praticamente me afastei de todos, evitei contatos, telefonemas, qualquer coisa que viesse do Brasil.

- O que você ta fazendo aqui? – perguntei assim que abri a porta dando de cara com ela.

                - A gente precisa conversar!

                - Júlia, por favor? – pedi deixando transparecer que eu não queria ela ali, nem aquela conversa.

                - Por favor digo eu Ana. Já se passaram meses e nada justifica que você continue afastada desse jeito.

                - É, pra você! Pra você talvez... mas  não cabe a você  julgar o que eu sinto!

                - Eu não to julgando nada é você quem ta fazendo isso. Aliás você já está me condenando por um erro que eu cometi... – interrompi-a explodindo de raiva.

                - Um erro que destruiu a muita coisa Júlia! – gritei – como a confiança que eu tinha em você! – ela aproximou-se, ficando muito perto de mim.

                - Só se você quiser Ana! Se você não quiser ninguém é capaz de destruir isso. – afastei-me dela e desviei meus olhos - Olha pra mim – pediu – me deixa explicar tudo pra você... tem muita coisa que eu quero te contar, que você precisa saber! Tenta se por no meu lugar só um pouco!

- É impossível Júlia porque eu nunca, ouviu bem, eu nunca faria isso com você! – deixei minhas lágrimas correrem por meu rosto.

- Pelo amor de Deus Ana, você me julga como se eu tivesse matado! – gritou.

- E você matou mesmo, matou a amizade e o respeito que eu tinha por você até aquela noite. E pra que Júlia? Me responde pra que se você nem teve coragem de ficar com ela depois disso. Você a beijou e nem teve coragem de bancar a decisão que tomou. – atingi-a em cheio com minha palavras e ela retrucou-me.

- Quem é você pra me falar de coragem... você não teve coragem de perdoar o erro dela mesmo sabendo que você também errou. Não teve coragem de encarar o fatos e fugiu pra cá pra se esconder então não venha me falar de coragem.

- Pelo menos eu não beijei a namorada da minha irmã por um mero capricho meu! – nossos ânimos estavam alterados.

                - Não foi um capricho Ana! Eu amo ela! – confessou deixando-se chorar.

                - E você sabia que eu a amava com todo meu coração! Amava de um jeito que você  nem faz ideia, um jeito que você não vai entender nunca  Júlia! – rebati  - porque você não sabe o que é isso! Você não sabe o que é amor! – eu queria magoa-la tanto quanto eu estava magoada – Você foi egoísta e só pensou em você... Você destruiu meu relacionamento com ela...

                - Relacionamento? – riu com sarcasmo - Um relacionamento exige respeito mutuo e você só respeitou sua própria vontade... portanto não queira jogar toda a culpa pelo fim do seu namoro em cima de mim! – respirou fundo tentando se acalmar. - Você não sabe o que fala! – falou baixo sentando-se no sofá e colocando a cabeça entre as mãos  – eu não vou considerar o que você disse porque você está magoada...

                - Magoada... - suspirei -  magoada é pouco Júlia! Eu to destruída por dentro. To a meses tentando reconstruir a minha vida e você não tem o direito de vir aqui me dizer que o fato de eu ter me afastado de você é uma injustiça!

                - Eu sinto muito... – ela chorava muito – me diz o que posso fazer pra você me perdoar... – interrompi-a gritando.

                - Se afastar de mim Júlia! Me deixar em paz! – fui até a porta abrindo-a e permaneci parada ao lado dela. -  Eu não preciso de você na minha vida Júlia. Vai embora!

                - Ana por favor – eu podia ver medo e desespero nos olhos dela.

                - Vai embora Júlia. – ela levantou-se e caminhou devagar parando em minha frente.

                - Eu não vou desistir de acertar as coisas entre nós Ana. E eu vou conseguir! Eu juro que vou! – saiu e eu fechei a porta encostando meu corpo nela e deixando-me deslizar até o chão e chorar por muito tempo, até que não houvesse mais forças nem lágrimas.

- Eu não deveria ter dito que você era insignificante em minha vida.  Eu sinto muito mesmo... por ter jogado na sua cara que você não sabia o que era amar alguém eu... - baixei meus olhos, envergonhada  - Eu estava completamente fora de mim aquele dia, já tinha bebido um pouco quando você apareceu e acabei descontando tudo em cima de você. – voltei a olhar para ela - Eu gostaria muito que você me perdoasse por isso.

                - Eu também disse coisas desagradáveis. Eu nunca esperei que você fosse me receber com um abraço – deu um sorriso triste – Eu não merecia a sua confiança mesmo, não devia ter feito o que fiz... não devia ter me apaixonado por ela.

                - Você não pode controlar o que sente... e nem por quem sente! Ninguém pode!

                - Eu sei mas... – interrompi-a.

                - Não existe mas Júlia. Eu me lembro bem que você tentou de todas as maneiras abrir meus olhos em relação ao que eu sentia e ao que eu estava jogando fora, e não foi só uma vez. Eu tive a chance de escolher e escolhi errado. Eu deixei meu orgulho e minha raiva falar mais alto que o meu...  amor por ela. – confessei desconcertada por dizer aquilo para ela - Eu devia ter escolhido ela, devia ter escolhido as duas como você mesma me disse pra fazer mas eu não fiz, e não posso julgá-la por ter escolhido você, e nem você por ter se apaixonado por ela.

                - Eu também sinto muito. Por você ter visto aquele beijo.

                - Quando... – tentei controlar minha curiosidade mais eu precisava saber de tudo – quando começou? Quando foi que você se apaixonou por ela? – perguntei e ela olhou-me de forma doce. Assim como eu, ela sabia que não era fácil pra mim falar sobre aquilo.

                - Eu não sei... na verdade! Eu só me dei conta de que sentia algo por ela em uma noite em que eu estava em nossa casa e ela tinha ido dormir lá. Era madrugada do meu aniversário e eu estava na varanda, sem sono. Eu até me assustei quando ela apareceu do nada... – sorriu -  e nós conversamos por muito tempo. Eu estava muito deprimida e ela foi como um anjo de luz naquela noite. Fazia muito tempo que eu não me sentia tão bem ao lado de alguém. Pela primeira vez em anos eu comecei a sentir esperança dentro de mim, e quando ela me abraçou antes de voltar pro seu quarto eu senti uma enorme vontade de ser feliz outra vez... uns minutos depois eu passei pela porta do seu quarto e vi você abraçada a ela, na cama, e pela primeira vez eu senti inveja de você... inveja de ser você! – desviou seu olhar do  meu levando-os até um ponto qualquer da parede. Não era nada fácil falar sobre aquilo, assim como não foi nada fácil ouvir a verdade que minha irmã tinha exposto em minha cara no dia em que brigamos. Mas era fato. Eu havia traído Patrícia por vontade própria, joguei fora a minha felicidade por uma estupida noite de prazer, e ela por vingança me traiu também. 

                - Posso perguntar uma coisa?

                - Claro! – respondeu-me

                - Por que você demorou quase dois anos pra assumir uma relação com ela?

                - Depois que a beijei  nós duas conversamos e... ela deixou bem claro que ainda amava você,  então quando eu voltei pra casa e descobri que você tinha nos visto eu me culpei por destruir a chance de vocês ficarem juntas.  Eu me mantive afastada por você... no fundo eu sempre tive esperança de que você perceberia o erro que tinha cometido e que voltaria atrás dela. A gente manteve a amizade e eu a apoiei durante a gravidez dela, e isso acabou nos aproximando muito. Quando a pequena nasceu eu  ajudava a cuidar dela, cheguei a dormir muitas noites lá no começo até que um dia... bom a gente se beijou novamente. A partir daí as coisas foram acontecendo... ficou muito difícil pra mim resistir. – permaneci em silencio engolindo as palavras dela. Eu podia imaginar as cenas de Júlia presente nas ultrassons da Patrícia, cuidando da ruivinha nas noites em que Valentina ficou doente, acompanhando o crescimento dela, vendo os primeiros passinhos e ouvindo as primeiras palavras dela e me doía muito pensar que tudo aquilo era para ser meu, se eu não tivesse sido tão estupida. Agora era eu quem invejava minha irmã. A invejava profundamente.

                - Ela já sabe que voltei? – mais uma vez não contive minha curiosidade.

                - Sim. Valentina contou pra ela que agora ela tinha uma tia Ana que era irmã da tia Júlia – riu ao terminar de contar e eu ri junto dela. Valentina era uma figurinha mesmo. Fiquei em silencio mais por dentro eu me remoía de curiosidades de saber a reação dela. é claro que eu não iria perguntar isso pra Júlia. eu ainda tinha um pouco de senso de razão.

                - Espero não ter trazido problemas pra vocês – disse apenas. Ela se levantou e foi até a geladeira. 

                - Saideira? – perguntou mostrando outra garrafinha de cerveja.

                - Sempre – respondi sorrindo mas ao mesmo intrigada por ela não confirmado nem discordado do que disse. Achei melhor mudarmos de assunto e Júlia passou a me contar sobre a ex ciumenta da Flávia. Pelo que Júlia me dissera além de ciumenta ela também era antipática e pegajosa, daquelas que ligavam de cinco em cinco minutos pra controlar a Flá.

                - Graças a Deus ela se livrou desse peso morto! – ela disse e eu gargalhei.

                - Coitada da garota Júlia.

                - Coitada da Flávinha. – ela rebateu-me – Eu só não entendo por que ela se manteve longe e não contou isso pra nós. 

                - Não faço a menor ideia – respondi e um pensamento começou a surgir na minha cabecinha, e eu tratei de espanta-lo rapidamente. Isso seria impossível. Fomos dormir logo depois que acabamos a cerveja, quer dizer eu pelo menos fui dormir muito mais tarde, pois passei boa parte da madrugada repensando tudo que eu já conversado com Júlia nesses últimos dias.

Fim do capítulo