Capítulo 8 - Como le encanta la gasolina
Caroline desligou o rádio, ainda repetindo ininterruptamente a mesma mensagem, e o silêncio pairou no carro. Ficaram ouvindo seus próprios pensamentos e o barulho do motor, absortas, até Azizah resolve suspender.
- O que você acha? - Perguntou insegura.
- Eu não sei. O que você acha?
- Só de ouvir falar em "Centro de Refugiados" toda a minha herança genética já me faz querer fugir. Mas e se for um bom lugar? E se tiver pessoas boas por lá?
- Eu não sei, Azizah. Eu não sinto vontade de ir pra esse lugar.
- Por que não?
- Eu preciso pensar sobre isso. Eu não sei se quero ter essa criança em outro lugar que não a minha casa. - Ficou em silêncio - Mas depois que terminarmos essa missão, ao voltarmos pra lá, se você quiser ir, você pode ir.
Azizah fechou o rosto nesse mesmo momento, olhando para frente, pensativa, sentindo uma pontada em seu peito. Mil e uma coisas começaram a passar por sua mente. Carol não faz a mínima questão que eu fique. Ela queria que decidissem juntas, queria que ficassem juntas, independentemente do lugar. Queria que Carol quisesse sua presença, tanto quanto ela queria a dela. Queria que a outra se importasse. Queria que ela não tivesse dado aquela opção.
Os zumbis seguiam o barulho do motor e a movimentação do carro como programado. Continuaram em silêncio até a outra cidade, 15 km afastada. Azizah então passou a pensar que precisava focar no presente, depois pensaria no que faria em relação a isso.
Logo ao saírem da rodovia e adentraram na cidade foram rápidas a procura de uma farmácia. Como Carol conhecia as redondezas foi fácil guiar a motorista pelas ruas. Ao chegarem, desceram do carro e correram para o estabelecimento. Não havia zumbis lá dentro e teriam algum tempo até que fossem alcançadas. Carol procurava nas prateleiras pelo anti-inflamatório. Azizah foi para trás do balcão, também vasculhando e enfiando na mochila o que achava que seria ou que poderia vir a ser necessário em um futuro próximo.
Pegou todo o estoque de absorventes que encontrou e colocou dentro de uma caixa. Voltou para as prateleiras a procura de algo mais e acabou caindo na sessão infantil. Aquilo apertou seu coração. Olhou para Carol que estava de costas, lendo a caixa de um medicamento compenetrada.
Pensamentos inarráveis passaram por sua mente, envolvendo aquele bebê e Carol e a possibilidade remota de... Não. Ela mal conseguia colocar em palavras seu desejo. Seu rosto corou. Era loucura. Ela não devia ser uma pessoa tão emocional desse jeito. Não devia ter se envolvido tanto e em tão pouco tempo. Não fazia o menor sentido. Ela nunca tinha se atraído por nenhuma mulher e além do mais, nunca tinha sido assim, tão intenso, com ninguém.
Viu uma mamadeira com o desenho de um porquinho e sorriu. Como seria depois que essa criança nascesse? Crianças choravam, faziam barulho. Como se manteriam em silêncio longe dos zumbis com ela por perto? A pegou da prateleira e guardou na mochila. Pegou mais alguns itens infantis como ch*petas, brinquedos, mordedores e lembrou-se do principal. Abraçou o maior número de pacotes de fraldas que conseguiu e saiu da farmácia em direção ao carro. Sua espinha gelou ao ver aquele bando há menos de 30 metros. Tacou todos os pacotes no banco traseiro e gritou, já ligando o carro:
- Eles estão aqui! Carol! Vem logo!
Buzinou, mas Carol não saía lá de dentro. O toque da buzina pareceu deixá-los mais furiosos.
- CAROLINE! VEM LOGO! - Urrou.
Os zumbis começaram a bater na lataria do carro, Azizah precisou agir rápido, engatou a primeira se afastando. Seu coração batia desenfreado. Sentiu uma mão nojenta em seu braço, havia um pendurado na porta, com as mandíbulas arreganhadas, o cabelo comprido e gosmento. Ela sacou a arma e atirou, vendo-o se desgrudar.
Olhava pelo retrovisor, garantindo que nenhum entraria na farmácia. Eles a seguiam e ela continuou dirigindo com o desespero dominando. Suas mãos tremiam e lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Havia um buraco em seu peito. Não podia estragar tudo de novo, ela precisava fazer alguma coisa. Rezava mentalmente para que Carol conseguisse se virar até ela voltar para buscá-la.
Seguiu em frente por cerca de 3km até ver um posto de gasolina. Teve uma ideia. Era loucura, mas precisava tentar. Era seu último recurso. O posto estava na avenida principal do centro da cidade. Estudou aquela reta onde facilmente alcançaria três dígitos no velocímetro. Empeçou a acelerar no sentindo contrário ao posto. Colocou o cano da arma para fora e começou a atirar várias vezes, dividida entre desviar dos zumbis desgarrados e acertar seu alvo.
Até que ouviu aquele estampido ensurdecedor.
O carro todo vibrou pela explosão de uma das bombas e pelo retrovisor viu os zumbis caindo ao chão pegando fogo. Sua respiração estava ofegante. Sua pressão arterial devia estar nas alturas. As coisas que a seguiram agora caminhavam em direção ao fogo.
Perfeito.
Fez o caminho de volta, mas as ruas pareciam iguais, estava perdida. Precisava encontrar Caroline. Tinha prometido a si mesma que iria protegê-la, não podia deixar que nada acontecesse com ela. Estava andando em círculos. Era tudo muito parecido. Cadê a merd* da farmácia? Ouviu outra explosão, assustado-se, quase perdendo o controle do volante e batendo em um poste.
Freou. Respirou fundo, contando até dez, tentando trazer a calma que tanto precisava para encontrar a outra. Então ouviu tiros. Era ela! Voltou a colocar o carro em movimento, guiada por eles, derrapando nas curvas, sentindo-se a Michelle Rodriguez em Velozes e Furiosos. Seu coração parou de bater por alguns segundos ao ver aquela mulher segurado duas armas, uma em cada mão. Ela estava encurralada, em cima do capô de um fox vermelho, atirava loucamente a sua volta.
Precisava agir rápido. Azizah colocou novamente a arma para fora da janela do carro, derrubando um por um, limpando o caminho. Ouviu outra explosão, novamente se assustou. Os zumbis olharam em direção ao barulho, parte deles seguiram esse destino, outra parte começou a focar na buzina do carro, que soava em alto e bom som para afastá-los de qualquer jeito de Caroline.
Ao se aproximar mais desceu do carro, eles começaram a vir em sua direção e os ia exterminando com tiros precisos e certeiros na cabeça, recarregando a arma, lembrando-se de todo o tempo que passou sozinha.
Carol então correu em direção a ela e a Azizha a enlaçou fortemente, sentindo também as mãos da outra em suas costas, a apertando, como se sua vida dependesse disso. E dependia. Quase a tinha perdido. Afastou-se, olhou para seu corpo, para cada extremidade, querendo conferir se estava tudo bem.
- Você tá bem?
- Eu pensei que você tinha me deixado…
Azizah até aquele momento nunca tinha visto Carol usar aquele tom tão frágil. Tomada pelo ímpeto buscou seus lábios apaixonadamente. Grudada ainda nela, disse entre beijos:
- Eu jamais faria isso… - Aqueles grunhidos estavam próximos. - Temos que sair daqui, vem!
Correram de mãos dadas até o carro e ouviram outra explosão, Carol se abaixou no reflexo, segurando sua barriga. A fumaça cinza alcançava os céus, o fogo consumia a cidade.
- O que você fez? - Perguntou entrando no carro.
- Posto de gasolina.
- Você podia ter morrido com a explosão! Você é louca? - Azizah deu partida a encarando, sem saber o que dizer. O sentimento de alívio e gratidão dentro dela a dominava que mal conseguia formular uma frase. E então, sem que esperasse, Carol abriu um sorriso enorme. - Foi genial!
O sentimento de surpresa não durou muito tempo, Azizah a mediu e perguntou:
- Cadê sua mochila?
- Precisamos voltar pra farmácia. Eu deixei tudo lá.
- Maldita farmácia!
- Vire na próxima à direita. Agora a esquerda. Direita novamente.
Azizah não tinha entendido porque tinha dado tantas voltas. Talvez tenha sido o desespero. Outra explosão. Ambas se contorceram no banco. Em menos de um minuto estavam estacionando em frente à farmácia novamente, descarregando a munição nos zumbis mais próximos. Entraram, pegaram tudo que precisavam e saíram dali o mais rápido que podiam cantando pneus.
Dirigiam pela rodovia principal. Caroline olhava pensativa para o céu cinza.
- Isso vai atraí-los por algum tempo.
Azizah permanecia em silêncio, compenetrada, com as emoções voltando ao normal. Percebeu pelo canto do olho que estava sendo observada pela outra, que se esticou no banco do passageiro, fazendo novamente aquele carinho delicado em sua barriga.
- O que houve?
- Você já tinha feito isso antes? - Perguntou, com um sorriso furtivo.
- Explodir um posto de gasolina? Era minha diversão favorita aos finais de semana.
Carol riu, balançando a cabeça.
- Beijar uma mulher.
- Ahhh. - Ela desviou o olhar, sem graça, fingindo que estava se concentrando na estrada.
- Você fica linda com vergonha.
E então Azizah ficou mais envergonhada ainda.
- Já? - Perguntou novamente.
- Com tantas coisas acontecendo ao redor da gente, essa é sua maior preocupação? - Tentou mudar de assunto.
- Eu chuto que já. Acertei?
- Não. Nunca. - Olhou-a de canto. - E você?
- Também não.
Elas sorriram consigo mesmas. Ficaram em silêncio novamente, até Carol retomar:
- Eu realmente pensei que você tinha me deixado. Que ia direto pro centro de refugiados.
- Eu jamais faria isso... - Buscou seu olhar. - Não acredito que tenha pensado isso de mim. - A outra ficou em silêncio, incomodada. - E além do mais, você que sugeriu que eu fosse pro centro de refugiados sozinha, que te deixassem em paz.
Carol mudou de feição nesse mesmo momento.
- Eu não falei nada disso, você tá louca? - Levantou o tom de voz. - Quando foi que eu disse pra você me deixar em paz? Eu só disse que se você quisesse ir, você podia ir. Eu não ia te obrigar a ficar comigo. E eu ainda quero pensar melhor sobre isso, não está nada decidido. Só não queria te deixar presa a mim.
A última frase ficou ecoando na mente barulhenta de Azizah.
Eu quero ficar presa a você.
- Eu quero ficar presa a você.
Seus pensamentos saíram altos demais. Carol a encarou em silêncio. Mordeu o lábio inferior.
- Encosta o carro.- Ordenou.
- O que?
- Encosta.
Azizah parou o carro, obedecendo o pedido, sem conseguir tirar seus olhos negros dos dela. Carol aproximou-se rapidamente após tirar o cinto, tocando seu rosto, trazendo-a para perto de si. Correu os dedos por seu cabelo, pousando em seu pescoço, causando calafrios na outra que se deixou beijar de uma maneira deliciosa, entorpecente. Só conseguiu retribuir, sentindo aquelas mãos fortes e habilidosas tocando sua cintura, buscando a pele desnuda por baixo da camiseta. Gem*u em seu ouvido, com aqueles lábios grossos em seu pescoço, as mãos em seus joelhos, subindo pela parte interna de suas coxas.
- CUIDADO! - Carol gritou, vendo aquela figura esquelética e desfigurada invadir o carro pela janela ao lado de Azizah, puxou-a para perto, pegando a arma no cós traseiro da calça da outra e atirou na cabeça do zumbi, que ficou pendido na porta. Aquele líquido preto escorria pelo banco.
De que merd* de lugar eles tinham surgido? Olharam em volta e constataram que estavam cercadas. Seria impossível seguir a viagem de volta. Talvez o barulho das explosões tenham atraído outros que estavam por perto. Azizah empurrou a criatura para fora, enquanto Carol atirava nos mais próximos. Buscou a chave no contato e engatou a ré o mais rápido que pode, afastando-se da manada.
- Bando de filhos da puta! - Xingou.
- Vira! Vira! - Carol a orientava.
Manobrou no meio da rua, pegando o sentindo contrário da estrada, afastando-se cada vez mais de seu destino e da segurança de sua casa.
Fim do capítulo
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Dainah
Em: 15/03/2016
Nossa, esse capítulo fui frenético. Muito bom!
Mas agora que elas se afastaram de casa.
Realmente a Azizah está amadurecendo aos poucos... nesse cap ela estava mas atenta, não deixando que o medo paralisasse suas ações.
Bjos, até mais!
Resposta do autor em 19/03/2016:
Acho a Azizah apaixonante! Obrigada por estar acompanhando! Bjs
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Ana Carolina 02
Em: 14/03/2016
UI , gente que capítulo movimentado ! Essas duas já já se pegam de jeito ! 😋 ótimo capítulo ! Maldade esse zumbi ai do final 😑! Até ...
Resposta do autor em 19/03/2016:
Não vejo a hora que elas se peguem, Ana! Hahah obrigada! Bjs
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thays_ Em: 11/04/2023 Autora da história
Kkkkkkkk