Capítulo 17.

 

As férias finalmente chegaram e Carol estava super feliz. 

 

Demorou, mas Rebecca conseguiu convencer os pais a deixá-la viajar com Luiza. A ruiva estava muito feliz, era a primeira vez que estava viajando por vontade própria. Cansou de perguntar para Luiza, Carol e Vick, o que era para levar na mala, quais tipos de roupas, como era o sítio da avó delas, o que tinha por lá. Todas perceberam a animação da menina e ficavam rindo do jeito dela. 

 

Vovó Henriqueta era mãe de Júlio, Pedro e Rafael. Todos os anos as netas iam passar as férias com ela e era uma felicidade só. A senhora era viúva e vivia sozinha no sítio, recusava-se de todas as formas a ir morar com um dos filhos. Ela gostava da calmaria de sua velha e aconchegante casa. 

 

Henriqueta amava cada uma de suas netas. Sempre quis ter uma menina, mas a vida havia dado apenas filhos homens a ela, mas amava muito cada um deles. E o sonho de ter uma menina foi todo para suas netas. Luiza, a primeira neta que teve o prazer de carregar no colo, aqueles olhos verdes, lembravam tanto o seu amado filho, Pedro. Depois foi a vez de Érika era uma criancinha linda de quase três anos. Apesar de não ter uma gota de seu sangue a velha senhora a amou no mesmo momento. Aquela menina loirinha e com um olhar sofrido, aquele olhinho verde que demostrava estar perdido, impossível não amar aquela linda menina. Sentia uma revolta enorme por Júlio não aceitar a menina como sua filha. Érika era muito mais parecida com ele que seus próprios filhos, os gêmeos. Os dois eram loiros de olhos verdes. Não conseguia entender porque seu filho não gostava daquela criança adorável, muitas vezes havia brigado com ele, mas Júlio era um homem teimoso ao extremo. Ao menos amor de avó a menina iria ter. Depois nasceu Victoria, a menina mais branquinha de todas, parecia uma folha de papel e aqueles cabelos pretos e lisos, os olhos da mesma cor, tão delicada. A boca vermelha o sorriso suave, parecia muito com a mãe, Susana. E por último a pequenina e prematura Carol. Nasceu loirinha, mas o tempo encarregou de escurecer seus cabelos e a menina nunca deixou de ser a mais pequenina delas e a mais levada também. 

 

***********

 

-- Ai, cadê o boi do Murilo que não vem? aff! - Carol resmungou. 

 

-- Ele disse que já está chegando - disse Luiza olhando para seu relógio. 

 

-- Por isso eu disse que era para ter falado com o tio, Rafael - Érika falou entediada -  O Murilo é tão lerdo quanto a Carol. 

 

-- Ei! Eu não sou lerda - defendeu-se. 

 

-- Aham, e papai noel existe também - irônica.

 

-- Aff, cê é chata demais. 

 

Rebecca estava encostada no muro da casa de Luiza, ao lado de Victoria, que estava bastante vermelha. Érika estava de braços cruzados e com cara entediada olhava para todos os lados. Luiza também olhava para todos os lados, estava ao lado de Érika. Carol havia sentado na própria mala, usava um boné para se proteger do sol e brincava com algumas pedrinhas.  Murilo finalmente chegou para o alívio de todas. 

 

O caminho até o sítio foi feito tranquilamente. Todos estavam em silêncio. Henriqueta já esperava pelas netas na varando de sua casa. Quando viu o carro aproximando-se se levantou e caminhou na direção dele.

 

Érika foi a primeira a sair e abraçou a avó apertado. Henriqueta deu vários beijinhos no rosto da menina e passou as mãos também. 

 

-- Como está a cada dia mais linda essa minha loirinha favorita! 

 

-- Vovó que saudade da senhora - Érika amava aquela velhinha. Pensou muitas vezes em morar com ela, mas tinha sua mãe e a menina nunca conseguiria se acostumar no sítio. 

 

-- Também estava com saudade, minha querida. 

 

-- Vó! - Vick gritou e correu para abraçar a senhora. 

 

-- Carolzinha, mas como você está branquela, minha linda - disse em meio ao abraço. 

 

Victoria se afastou. 

 

-- Vó, não é a Carol. Sou eu a Victoria. 

 

A velhinha apertou os olhos e sorriu. 

 

-- Ah sim. Bem que estranhei que a Carol estava mais alta - disse com um sorriso torto. 

 

-- Vozinha, sua linda e maravilhosa! 

 

-- Essa sim é  a Carol - Henriqueta sussurrou para Vick e Érika que riram. 

 

A baixinha correu e apertou a avó. 

 

-- Aii menina. Desse jeito você mata essa velha aqui. 

 

-- Mato nada. A senhora é quase uma pedra. 

 

-- Pedra... Você já vai sentir o peso da mão dessa pedra - ameaçou brincando. 

 

Carol correu para trás de Victoria. 

 

-- Vivi.. Me protege. 

 

-- Eu não! 

 

Luiza aproximou-se da avó e a abraçou carinhosamente. 

 

-- Vó, a senhora está a cada dia mais bela - beijou o rosto da velhinha. 

 

-- Ah, mais como é linda essa minha morena de olhos verdes - apertou Luiza ainda mais, os olhos da senhora pousaram em Rebecca que estava atrás de Luiza. A ruiva corou -  Minha visão está tão ruim assim ou tem uma ruiva ali? - apontou na direção da menina se afastando da neta. 

 

Luiza sorriu, segurou na mão da ruiva. 

 

-- Vó, essa aqui é a Rebecca a amiga nosso que eu disse que vinha... 

 

-- Ah sim... Olá mocinha - disse abraçando a ruiva. 

 

Rebecca corou. 

 

-- Olá senhora - disse nervosa. 

 

Henriqueta se afastou e observou a menina.

 

-- Minha visão não está lá essas coisas, mas você é uma menina linda. 

 

-- Obrigada - disse corando mais ainda. 

 

-- A ruiva vai ter um troço a qualquer momento - Carol disse divertida. 

 

-- Ei, venham pegar as coisas de vocês que eu tenho que ir embora. Ainda vou encontrar com uma gatinha aí... - Murilo disse malicioso. 

 

-- Olá Murilo, como você está, meu filho? 

 

-- Tô ótimo, vovó! Senhora tá uma caroa enxuta hein... 

 

-- Me respeite moleque! 

 

Murilo riu. As meninas foram pegar suas malas e Murilo foi embora. Havia três quartos sobrando na casa de Henriqueta. A senhora pediu para as meninas se dividirem do jeito que ficassem mais acomodadas. 

 

-- Eu vou ficar sozinha em um - Érika não esperou Nenhuma resposta, seguiu para um dos quartos e trancou a porta. 

 

-- Mais que folgada -  Resmungou a baixinha. 

 

-- Vamos, amor... - Luiza disse segurando na mão da ruiva - Você ficará no mesmo quarto que eu. 

 

-- Deixa só a vovó saber disso... -  Carol. 

 

A baixinha foi ignorada pela irmã que conduziu a ruiva para um dos quartos e fechou a porta. Vick e Carol ficaram sozinhas. 

 

-- Vamos ter que dividi o quarto - disse a baixinha. 

 

Victoria revirou os olhos. 

 

-- Carol se você pintar meu rosto com creme dental novamente, eu te esgano! - avisou. 

 

-- Oxi, não vou fazer isso - disse inocentemente. 

 

"Vou usar batom dessa vez"

 

A baixinha riu dos seus pensamentos. 

 

-- Sei... Vamos logo... - Vick disse pegando sua mala e caminhando em direção ao quarto que sobrou para elas. Carol a seguiu. 

 

 

****************

 

 

Luiza estava sentada na cama que iria dividi com Rebecca. Ela observava a namorada que estava mexendo em algo na mala. 

 

As duas estavam quase para fazer cinco meses de namoro. A cada dia que se passava elas estavam cada vez mais apaixonadas. A mão de Luiza já estava completamente recuperada, afinal já haviam se passado dois meses. 

 

Rebecca percebeu que estava sendo observada e encarou a namorada, que sorriu. 

 

-- O que foi, amor? Por que me olha tanto? 

 

-- Estou apenas admirando a namorada maravilhosa que eu tenho - disse sorrindo. 

 

 

Rebecca se levantou a olhando fixamente. 

 

-- Sou maravilhosa é? - disse aproximando-se. 

 

-- Muito - Luiza estava encantada. 

 

Rebecca sorriu e sentou no colo de Luiza, enlaçando seu pescoço. 

 

-- Você também é muito maravilhosa - sussurrou - E muito gata também... E toda minha - colocou os lábios nos de Luiza - Como eu sou sua - disse antes de  beijá-la. 

 

O beijo começou carinhoso e suave, mas depois começou a esquentar. Rebecca segurou a nuca da namorada e aprofundou o beijo. Ch*pava os lábios de Luiza com desespero, e a garota amava aquilo. Amava quando Rebecca ficava desse jeito. Era uma disputa por espaço. Luiza ch*pou a língua de Rebecca que a apertou mais contra si. O fogo já dominava as duas, que estavam quentes. Luiza apertava a cintura da ruiva. Era um beijo repleto de desejo.

 

De repente a porta do quarto foi aberta de maneira brusca. Rebecca levantou-se assustada, acabou tropeçando e caindo de bunda no chão. Luiza também havia se assustado. As duas olharam em direção a porta e viram uma baixinha vermelha de tanto rir. 

 

Rebecca que já estava vermelha por causa do beijo, ficou da cor do arco-íris todo. Luiza encarou a irmã e ficou menos nervosa, pelo menos não era a avó, pois se fosse com toda certeza mandaria as duas ficarem em quartos separados. Henriqueta sabia que a neta gostava de meninas, mas não ia gostar de saber que a neta dividia o quarto com a namorada, pois ainda a considerava muito nova para dormir com qualquer namoradinha. Palavras da própria senhora. 

 

-- Carol que susto! Não sabe bater antes? - Luiza disse censurando a irmã. 

 

-- Oras, tu sabe que sempre faço isso. Eu nunca imaginei que as duas estariam no maior amasso, foi mal - disse ainda rindo. 

 

Luiza se levantou e ajudou a namorada a ficar de pé novamente. Rebecca estava tão envergonhada que não conseguia encarar a baixinha. 

 

-- Você está bem, amor? - Luiza ficou preocupada com a namorada. 

 

Rebecca apenas balançou a cabeça, não conseguia falar. 

 

-- Ih, minha nossa. Eu traumatizei a ruivis, putz! 

 

-- Carol diz logo o que você quer? 

 

A baixinha ainda queria zombar mais das duas, mas percebeu que Rebecca poderia desmaiar a qualquer momento. Decidiu se controlar. 

 

-- Vim perguntar se você não trouxe meu remédio. Eu esqueci sem querer e não tô mais aguentando a Vick buzinando no meu ouvido - fez uma careta. 

 

-- Você é lerda mesmo hein - Luiza falou pegando uma maleta que estava em cima da mala e entregando a irmã - Ai tem todos os seus remédios. Sabia que você ia acabar esquecendo.

 

-- Só não esqueci das calcinhas porque mamãe colocou nas malas. 

 

Luiza revirou os olhos e empurrou a irmã em direção a porta. 

 

-- Já pode ir e toma direitinho todo os seus remédios hein. Vou pedi pra Vick ficar de olho em você. 

 

Carol bufou. 

 

-- Mais do que ela fica é impossível - aproximou-se da irmã e sussurrou baixinha -  Que beijo hein Luh... Tu não é fraca - piscou. 

 

Luiza ficou envergonhada. 

 

-- Ah, Tchau Carol - disse fechando a porta e a tracando.

 

Luiza observou a ruiva que estava sentada na cama e olhava para um canto qualquer perdida em pensamentos. Aproximou-se sentando ao seu lado e tocando em seus cabelos, fazendo uma leve carícia. 

 

-- Amor... 

 

-- Eu quase morri de vergonha. Imagina se é sua avó... Nossa... - disse colocando as mãos sobre o rosto.

 

-- Relaxa, minha linda... Isso não vai mais acontecer, agora sempre irei trancar a porta. Não precisa ficar tão envergonhada.

 

-- Ai amor... - disse apoiando a cabeça no ombro da namorada -  Eu quase enfartei - disse de uma maneira engraçada, fazendo Luiza rir - Ei, não tem graça - deu um leve tapa no braço  da garota. 

 

-- Desculpa, minha linda. Foi  engraçado o jeito que você falou...  Vem aqui... Quero outro beijo - disse se aproximando. 

 

-- Mas Lu... 

 

-- Shiii... Eu tranquei a porta - disse sorrindo maliciosa

 

Rebecca não resistiu ao charme de sua garota de olhos verdes e voltou a beijá-la com paixão. Ficaram assim o restante da dia, até a avó chamá-las para o almoço. 

 

Não sairam durante o dia, ficaram matando a saudade da avó, que contava para a ruiva algumas travessuras de suas netas. Rebecca se divertia com tudo. A noite as garotas decidiram caminhar um pouco pela pequena cidade, que não ficava muito longe. Érika apesar de ainda se menor foi quem dirigiu o carro da avó, a menina era muito boa nisso, havia aprendido há algum tempo com seu falecido avô. 

 

As garotas conversavam besteiras e haviam parado para comer um lanche. Estava tudo na tranquilidade. Até escutarem uma voz que era conhecida por todas, menos por Rebecca. 

 

Luiza ficou nervosa. Carol, Vick e Érika fizeram uma careta e Rebecca era a inocente ali. 

 

-- Oi meninas... Não sabia que vocês estavam por aqui - Mariana disse sorridente e olhando para Luiza. 

 

Luiza respirou profundamente. Havia esquecido que Mariana morava ali. 

 

-- Olá... - todas as meninas responderam simpáticas, menos Luiza que já estava prevendo o ataque de sua ruivinha. 

 

-- Por que não me avisou, Luiza? - a menina perguntou encarando Luiza -  Eu estava com saudade, poderia ter ido te ver... 

 

Rebecca apertou os olhos e ficou desconfiada. 

 

-- Vick, Vamos ver as estrelas bem dali - Carol disse apontando para um canto qualquer. 

 

-- Agora mesmo! 

 

As duas se levantaram e praticamente correram dali. Queriam mesmo era fugirem. Deixando Luiza numa enrascada. 

 

"Quem é essa?"

 

A ruiva se perguntava. 

 

-- Mariana, é que não deu tempo e... 

 

-- Mariana? - Rebecca perguntou. 

 

-- Tchau -  Érika disse se levantando e sumindo dali, Luiza que se virasse com a ruiva. 

 

"Mariana... Marina... Ahhhh, a garota do bilhete"

 

Rebecca encarou a menina a sua frente de modo arrogante e depois olhou para Luiza pedindo uma explicação. 

 

"Ai nossa, e aquelas coisas me abandonaram, justo agora. Espero que minha ruivinha não tenha um ataque"

 

Rebecca a encarava seriamente, esperando uma explicação. Mariana observava tudo sem entender nada do que estava acontecendo e Luiza estava nervosa com toda aquela situação. 

 

O clima estava tenso ali. 

 

 

 

Fim do capítulo