Capítulo 16.

 

Érika estava com os olhos fixos na mão engessada de Luiza. Todas estavam reunidas no quarto da menina. 

 

-- Cadê a Rebecca? - Perguntou Vick. 

 

-- Ela teve que sair com os pais não sei pra onde... Não queria me lagar de forma alguma, mas consegui convencê-la. 

 

-- Aquela ruivinha é doida por você - Victoria comentou sorridente. 

 

-- Shiii... Dá para ficarem caladas. Tô tentando ver o desenho - Carol disse olhando atenta a TV.

 

-- Oras, então vai pra sala né - Vick. 

 

-- Eu não... Tô bem aqui... Eu não consigo entender esse coyote... Fica gastando dinheiro fazendo essas porcarias de armadilhas pra pegar aquele pato doido do  papa-léguas... Devia comprar sorvete de morango pra ele que é milhões de vezes melhor - disse enquanto via mais uma vez o coyote se dando mal - Que burro!

 

-- Mas burra ainda é quem fica assistindo isso! Ainda mais uma menina de treze anos! - Érika disse irritada. 

 

-- Eu pedi sua opinião? 

 

A loira bufou, mas não disse nada. Carol estava deitada na cama da irmã, de bruços e com as mãos apoiando o queixo. Mexia suas pernas sem parar. Vick sentou-se ao seu lado e também fixou os olhos na TV. Érika aproximou-se de Luiza e tocou em sua mão engessada, já havia algumas assinaturas por ali. 

 

-- Ainda não consigo acreditar que a Daniela tenha sido capaz dessa maldade - sussurrou, apenas para Luiza escutar. 

 

-- Daniela não tem escrúpulos, Érika. 

 

-- Doeu muito? 

 

-- Demais! Não sei como não desmaiei. 

 

-- Você é forte. 

 

Observou as assinaturas de Carol, que fez um pikachu, muito do feio, logo a baixo a menina havia escrito algo. 

 

"Maninha amada, que seus dedinhos fiquem logo bons. E aquele projeto de demônio que fez isso com você, que morra "afolgada" no próprio veneno"

 

Érika sorriu e fixou os olhos no desenho de Vick. Era um lindo violino. Percebeu que a prima levava jeito com os desenhos. Vick também escreveu algo. 

 

"Não importa o quanto as pessoas sem caráter queiram lhe derrubar... Você tem a força de um leão e a doçura de uma música tocada pelo seu instrumento favorito. Espero que em breve eu posso te ouvir novamente... Minha priminha amada, eu sempre vejo você ficar de pé novamente. Te admiro muito"

 

É finalmente o desenho de Rebecca. Uma coroa, feita com perfeição e delicadeza. 

 

"Eu e você entendemos o signicado disso...  É o que importa. Você sempre será aquela que eu sempre esperei... "

 

Érika percebeu que a ruiva não havia assinado. Por precaução, talvez. A loira pegou uma caneta que estava na cabeceira da cama e também deixou sua presença ali. Luiza observava o que a prima estava fazendo e sorria. Era bom ter Érika novamente perto e si. 

 

A loira se afastou e Luiza olhou o que ela havia feito curiosa. O desenho era o símbolo do infinito.

 

"Eis que um dia nasce a mais bela rosa naquele jardim. Todos admiravam a mais bela formosura e doçura. Muitos a cobiçavam e poucos eram os escolhidos para desfrutar de sua tão amável presença. Um dia por inveja a rosa foi ferida, mas isso não a deixou menos bonita ao contrário. A rosa ficou ainda mais linda e perfeita aos olhos daqueles que realmente a amavam. A rosa sempre seria infinitamente linda, mesmo que o infinito durasse apenas uma vida inteira" Érika. 

 

Luiza encarou a prima e sorriu. A loirinha também sorriu. 

 

-- Ficou lindo. 

 

-- Linda é você bela rosa - sussurrou. 

 

Luiza corou e desviou o olhar. Érika sorriu, é claro que ela havia se declarado. 

 

-- Fiquei muito preocupada com você quando soube - disse mudando de assunto. 

 

-- Percebi, você aparecendo aquela hora da noite. 

 

-- Eu só queria ter certeza - Érika ainda passava a ponta do dedo indicador sobre o gesso da prima - E esses desenhos? 

 

-- Quem você acha que foi? - disse irônica.

 

-- Não sei como você deixou.

 

-- Ela estava se divertindo. Imagina a cara de felicidade dela com aquele monte de canetinhas de vários cores. Fez a festa, mas eu gostei. 

 

-- Ela fez uma caveira muito da ridícula... E que diabos, é isso aqui? - disse fazendo uma careta. 

 

Luiza olhou para onde a prima estava apontando e riu. 

 

-- Um coelho da Páscoa. 

 

-- Meus Deus, eu jurava que fosse algum tipo de gosma... Carol é péssima cruzes... E esses bonecos aqui... - disse observando uns bonecos de palitinhos. 

 

-- Somos nós. 

 

-- Hã? Isso é nós? 

 

-- Sim - respondeu rindo. 

 

-- Quem é esse aqui? - apontou para um boneco que estava com os olhos enormes. 

 

-- É o Felipe... - disse rindo -  Carol disse que ele precisa de um Olhão pra enxergar melhor. 

 

Érika se reconhece no mesmo instante, até   porque era a única loira ali e tinha vários doces nas mãos e pirulitos. Revirou os olhos. 

 

-- Onde a gente vai passar as férias? - Vick perguntou de repente. 

 

-- Casa da vovó, esqueceu... - respondeu Érika. 

 

-- Ah, é verdade...  Luiza você vai? 

 

-- Acho que sim. 

 

-- Tu devia convidar a ruivis, mana. 

 

Luiza abriu um lindo sorriso. 

 

-- Eu vou convidá-la. Não deixarei minha namorada sozinha por aqui. 

 

-- Cara,  eu adoro o sítio da vovó! Vamo abalar lá de novo... Os meninos vão querer ficar com cês duas novamente - a baixinha encarou Luiza e Érika, que fizeram cara de nojo. 

 

-- Esses idiotas que nem ousem se aproximar - resmungou a loira.

 

-- Concordo totalmente com você, Érika - disse Luiza. 

 

-- Espero que dessa vez eles queiram a Vick - Érika. 

 

-- Eu? 

 

-- Ela? 

 

Victoria e Carol falaram ao mesmo tempo. 

 

-- Lógico, a Vick está uma gatinha. Aposto que muitos garotos vão cair em cima - disse a loira. 

 

Victoria ficou muito vermelha. 

 

-- É claro que não! A Vick não vai dá bola pra esses caras babacas. 

 

-- Ué... Por que, não? - Érika perguntou arqueando uma sobrancelha. 

 

-- Oras, a gente é ainda muito nova - disse a baixinha bicuda. 

 

-- Se fosse você,  nem estaria pensando nisso de idade... - irônica. 

 

-- Ah Érika porque tu não vai plantar... 

 

-- Eu não vou ficar com ninguém! - Victoria falou cortando a discussão das duas - Ainda sou nova e nesse momento não penso nisso. 

 

-- Tá vendo! - Carol mostrou a língua para a prima que sorriu com deboche. 

 

Ainda rolou algumas discussões por ali, mas o resto do dia foi tranquilo para todas. 

 

************

 

Rebecca havia viajado com os pais para a capital. Estava contrariada, pois queria ter ficado com Luiza. Cuidando da namorada, dando comida na boca e enchendo de carinho e beijos, mas não. A ruiva estava ali, naquele jantar de negócio entediante. Não suportava as coisas que aquelas pessoas diziam, fingia escutar, mas a verdade era que estava com os pensamentos longe dali. 

 

"Luiza"

 

Novos convidados  chegaram e a ruiva reconheu a menina que estava acompanhada daquele jovem. Os dois pareciam um casal, na verdade, eles realmente eram um casal. Rebecca ficou surpresa e encarou a menina que também a olhava. Aqueles olhos azuis. 

 

"Gabriela"

 

A ruiva percebeu que a menina estava nervosa. Gabriela era não apenas namorada daquele rapaz, mas também era noiva. 

 

Rebecca não era burra, sabia que Gabriela gostava de meninas e principalmente havia gostado de sua namorada. Percebeu que o senhor que era dono da casa onde estavam, era o pai da menina. O senador Alberto Alencar. O noivo, Isaac Melo, era deputado.  Gabriela era uma menina muito importante. 

 

O jantar passou de forma tranquila. Gabriela ficou nervosa quando viu a ruiva. Ficou com medo que a menina fizesse qualquer comentário sobre a sua estadia na cidade onde atualmente morava, mas percebeu que Rebecca era uma menina reservada. E isso a deixou mais calma e acabou relaxando. As duas eram as únicas mulheres ali. A mãe de Gabriela, não era uma pessoa com a saúde muito boa, sendo assim não pôde comparecer ao jantar. Rosemary estava viajando e também não estava ali. 

 

Os homens decidiram tomar uísque no escritório de Alberto. Na certa iriam falar de mais negócios. Rebecca não entendia o pai, que já era tão rico e não precisaria de tudo aquilo. As duas acabaram ficando sozinhas e um sorriso constrangido surgiu na face branca de Gabriela.

 

-- Oi Rebecca. 

 

-- Olá Gabriela...

 

-- Tudo bem? 

 

-- Sim e com você? 

 

-- Estou bem... Gostaria de te agradecer por não ter comentando que a gente já se conhecia. 

 

 

-- Ah, não foi nada. 

 

-- Como está a Dani? - puxou assunto. 

 

-- Eu não sei... Faz tempo que não falo com ela. 

 

-- Ah uma pena. Então vocês terminaram? 

 

-- Sim. 

 

Gabriela ficou um tempo pensativa. 

 

-- E a Luiza? 

 

Rebecca fechou a cara. 

 

-- Ela está bem - disse seca. 

 

-- Às vezes eu falo com ela por telefone.  Ela me disse o que aconteceu com a mão dela. Fiquei tão preocupada, mas ela me disse que está bem e... 

 

-- Você fala com a Luiza? - Rebecca a cortou e tentou manter a calma. 

 

-- Sim, mas é muito raro... - hesitou antes de dizer -  Ela contou que vocês duas estão juntas... 

 

Rebecca a encarou de maneira avaliativa. 

 

-- Ao menos isso - disse superior. Quando a ruiva sentia ciúme sempre ficava assim. 

 

Gabriela sorriu do jeito dela. 

 

-- A Luiza te ama muito e fez questão de deixar claro isso para mim. Eu nunca tive grandes pretensões mesmo. Não posso largar esse mundo de aparências - disse amargamente. 

 

-- Então você não ama seu noivo? -  a ruiva perguntou interessada. 

 

-- O Isaac é legal, mas eu não o amo. 

 

-- E porque manter essa relação? 

 

-- Aparências, minha querida... 

 

-- Mas você não me parece feliz... 

 

-- Não sou completamente feliz, mas isso não importa. Jamais causaria esse decepção na minha família. Prefiro viver assim. 

 

-- Isso é ridículo. 

 

-- Quero só ver quando chegar o momento em que você terá que assumir a Luiza, porque esse momento uma hora vai chegar. Vai conseguir enfrentar tudo por ela? 

 

-- Claro que sim! Eu não me importo com nada que mais pais vão fazer. Eu amo a Luiza e eles vão ter que aceitar isso ou infelizmente terão que ficar sem a filha. 

 

-- Você será deserdada... 

 

-- Eu não me importo com o dinheiro. 

 

-- Diz isso porque nunca te fez falta. Você sempre teve de tudo. 

 

-- Eu nunca me importei com essas frescuras mesmo - disse dando de ombros - Ser deserdada é uma coisa da qual eu não sinto medo algum. 

 

-- Você é menor eles podem te afastar da Luiza. 

 

-- Se eles fizeram isso, podem esquecer que tem uma filha! Não irei perdoá-los! 

 

-- Você é tão decidida - disse admirada. 

 

-- Pela Luiza eu faço tudo! 

 

-- Nossa, você ama mesmo ela... 

 

-- Mais que qualquer coisa... - disse com um brilho no olhar. 

 

-- Espero que tudo fique bem entre vocês e que nada as separe - disse sincera. 

 

-- Eu também espero isso. 

 

-- Muitas felicidades. Vocês merecem. 

 

-- Obrigada. 

 

Não conversaram mais, pois os homens voltaram e Clark disse que precisava ir. Gabriela sorriu para a ruiva que devolveu o sorriso. Se despediram. 

 

Rebecca estava realmente determinada a fazer de tudo para ficar com Luiza, mesmo que para isso tivesse que enfrentar uma batalha com os próprios pais. Esperava sinceramente que isso não chegasse a acontecer e que os pais a aceitasse. Se eles tentassem afastá-la de Luiza. A ruivinha não os perdoaria. E de qualquer forma, assim que fosse maior de idade, iria atrás de Luiza. 

 

Nunca a ruiva se sentiu tão forte... Tudo por causa do seu amor, da sua princesa. Luiza havia despertado algo novo na ruiva. 

Rebecca queria ser dona da própria história de vida. Pela primeira vez, não pretendia fazer o que os pais dissessem. 

Ela iria segui seu coração que gritava feito um louco por uma única menina... Luiza. 

Seu grande amor. 

 

 

Fim do capítulo