Capítulo 15

 

Carol estava sentada em uns dos bancos na praça da cidade. Estava pensativa e olhava fixamente para uma flor da cor amarela. Era tão linda e delicada. O vento estava forte naquela manhã e desalinhava todo o cabelo castanho meio loiro de Carol. Havia fugido do colégio não estava com vontade de assistir aula aquele dia. Só queria pensar um pouco. 

 

-- Mas olha só quem eu encontro aqui essa hora da manhã... - Julia disse sorrindo e sentando-se ao lado da baixinha - Tudo bem? - perguntou a encarando. 

 

Carol sorriu tristemente. 

 

-- Nesse momento tá...

 

Lia olhava qualquer coisas a sua frente.

 

-- A Bia me disse o que está acontecendo  com você. Eu não tenho palavras para lhe dizer qualquer coisa... Nada do que eu falar vai mudar o que você tá sentindo. 

 

-- Estou apenas morrendo - disse irônica e rindo. 

 

-- E quem não está, né? - disse com um leve sorriso. 

 

-- Verdade...  Quem não está! ... O problema é que eu tô morrendo de forma mais rápida - comentou dando de ombros. 

 

-- Infelizmente isso acontece com algumas pessoas. 

 

Carol riu. 

 

-- Alguém já te disse que tu é péssima para consolar os outros? 

 

Julia sorriu e encarou a baixinha.

 

-- A Bia me diz isso todos os dias, mas o problema daquela garota é apenas ressaca. 

 

-- Quem me dera fosse apenas esse o meu problema... - disse pensativa e encarou a menina - Tu é maconheira como ela? 

 

Lia encarou a baixinha seriamente por alguns segundos e depois gargalhou. 

 

-- Eu não... Isso é apenas com a Bia e seus amigos brisados - disse revirando os olhos. 

 

-- A Bia é tão legal, nunca entendi o porquê dela precisar usar o cachimbo. 

 

-- A Bia foi criada nesse mundo... Os pais eram hippes... Ela sempre teve essa liberdade. Nunca teve limites. 

 

-- Que loucura. 

 

-- Muitas vezes da vontade de bater nela... 

 

-- CAROL! 

 

A baixinha se virou para ver quem estava lhe chamando e reconheu a prima, que estava vermelha e um pouco descabelada. Victoria aproximou-se de Carol com uma cara nada amigável. 

 

-- Como você some assim?! - disse brava. 

 

-- Eu não sumi... Só estava sem vontade de assistir as aulas chatas... 

 

-- Eu preciso ir... -  Lia disse ficando de pé.

 

Vick percebeu a presença da menina e a encarou curiosa. Julia sorriu. 

 

-- Olá... 

 

-- Oi... 

 

-- Me chamo, Julia - disse estendendo a mão. 

 

-- Victoria - apertou a mão da garota. 

 

-- Vou indo... - Julia aproximou-se de Carol beijando seu rosto - Melhoras... Você ficará bem, gatinha - piscou se afastando - Tchau...

 

Carol sorriu e Victoria ficou observando a garota se afastar. Um dia as duas iriam compartilhar algo em comum e não demoraria a acontecer. Vick sentia isso. 

 

-- Como você conseguiu fugir do colégio? - Carol chamou a atenção da prima que ainda observava Lia se afastar. 

 

Vick a encarou. 

 

-- Foi complicado pular aquele muro. Quase torci meu pé... - falou fazendo uma careta - Me ralei toda. 

 

-- Quem diria a senhorita certinha matando aula... 

 

-- Eu tava pra ter um treco de preocupação com você... - disse se sentando ao lado da prima - Não faça mais isso... Imagina se acontece algo... 

 

Carol bufou. 

 

-- Não precisa ter pena. 

 

-- Isso não é pena! Para de achar que a gente sente pena de você! Acha que não dói em nós? - disse irritada. 

 

-- Desculpa - abaixou a cabeça - Eu só tô cansada de tudo isso... Queria respirar um pouco... 

 

Victoria a abraçou carinhosamente. 

 

-- Eu também peço desculpas por ser tão grudenta... Vou te deixar sozinha - disse tentando se afastar, mas Carol a apertou mais contra si. 

 

-- Não... Gosto desse seu jeito preocupado... Você não é tão chata quanto a Luiza - sorriu - Tu só fica do meu lado, mesmo que seja em silêncio... Eu gosto disso em você Vivi...  Ninguém consegue me compreender como você. 

 

Victoria sorriu.

 

-- Estou sempre ao seu lado... Nem que seja pra fazer alguma besteira, como essa de fugir do colégio - riu e Carol também. 

 

As duas ficaram em silêncio por longos minutos. Carol apoiava a cabeça no ombro da prima e essa segurava sua mão carinhosamente. 

 

-- Vick cê tem dinheiro? - a baixinha quebrou o silêncio ainda com a cabeça apoiada no ombro da prima. 

 

-- Tenho, por que? - perguntou desconfiada. 

 

-- Paga um sorvete pra mim - pediu docemente. 

 

-- Você é tão folgada, Carol... Só se for de chocolate! - disse sorrindo. 

 

Carol afastou-se da prima e a encarou horrorizada. 

 

-- Chocolate é  a treva! 

 

-- É uma delícia! 

 

-- Pior que tomar remédio! 

 

-- Você parece que flutua! 

 

-- troço ruim, cara! 

 

-- É tão bom que a gente sempre pede bis! 

 

-- Ai Vick, deixa de ser chata! Eu quero sorvete de morango! - disse fazendo bico. 

 

-- Você não sabe o que é bom, minha cara...  Ok, compro o seu sorvete de morango. 

 

Em troca Victoria ganhou o mais lindo sorriso. Carol beijou seu rosto. 

 

-- Obrigada, minha prima querida - disse animada. 

 

Vick ficou feliz por ver que Carol estava melhor. 

 

-- Vamos logo antes que eu desista - disse se levantado. Carol fez o mesmo. 

 

-- Vivi... -  a baixinha a chamou. 

 

-- Oi? 

 

-- Vem aqui... - disse se aproximando e arrumando o cabelo preto e liso de Victoria   - Pronto! Melhorou bastante... Só a cara que tá péssima, mas não dá pra fazer muita coisa... 

 

-- Você é tão engraçadinha... Haha... E olha que vou comprar sorvete hein... 

 

-- Ah, você sabe que te amo, priminha...

 

-- Sei... Vamos logo, antes que eu mude de ideia. 

 

As duas seguiram em direção a sorveteria. Carol sempre melhorava quando estava ao lado da prima, pois sempre acabam conversando sobre muitas coisas e viviam discutindo também. Victoria se sentia feliz em poder ajudar a baixinha nesses momentos tão difíceis. 

 

**************

 

Era aula de educação física e as meninas eram obrigadas a jogar futebol. Algumas gostavam, outras nem tanto, esse era o caso de Luiza que era um total desastre em qualquer tipo de esportes, mas era obrigatório, pois era a avaliação delas. 

 

Daniela observava a garota de longe e percebeu que Luiza não levava muito jeito. Sorriu jocosa. Virgínia percebeu o olhar da morena sobre Luiza.

 

-- Que cara essa de quem vai aprontar a qualquer momento, Daniela? Por que olha tanto para aquela doente hein? 

 

-- Hoje eu acabo com essa vadia! - disse sem deixar de encarar Luiza. 

 

-- O que você está pensando em fazer? - perguntou sorrindo. 

 

-- Apenas quebrar alguns ossos dela - disse com ódio.

 

-- Haha... Até que seria divertido tudo isso... Imagina... Vou adorar! - Virgínia também não suportava Luiza. 

 

-- Hoje teremos diversão minha cara... - disse caminhando em direção ao professor que chamava as alunas. 

 

Caíque dividiu as alunas em grupos de cinco. Luiza ficou no grupo oposto ao de Daniela que ficou junto com Virgínia. O professor sorteou os grupos que iriam começar. Para a sorte de Daniela, seu grupo enfrentaria o de Luiza na segunda rodada. A morena abriu um sorriso maléfico. 

 

A primeira rodada iniciou e Luiza prestava atenção nas meninas. Não tinha ideia do que a morena estava tramando contra ela. Às vezes ria das meninas que como ela não levavam nenhum jeito para jogar. 

 

Finalmente a rodada acabou a próxima seria elas. O grupo de Luiza era muito ruim e as meninas não gostaram nenhum pouco da ideia de fazer algo com aquela menina.  Luiza ignorava todas elas, só queria sua nota. 

 

Daniela era boa e Virgínia também, as duas sempre foram da seleção do colégio. Daniela não tirava os olhos de cima de Luiza que finalmente a encarou. A morena sorriu quando viu que sua rival a encarava. Um sorriso irônico. Luiza não se importou com esse gesto. Todas estavam prontas e em seus devidos lugares. Luiza seria a goleira. Nenhuma menina queria ela por perto e encostando nelas. Luiza não se importou. Era péssima mesmo. 

 

O jogo começou e todas corriam atrás da bola. O grupo de Luiza era realmente péssimo, pareciam um bando de galinhas loucas brigando pela bola. Virgínia conseguiu roubar a bola e tocou para Daniela, que facilmente passou por uma marcadora e as outras estavam mais perdidas que o patinho feio. 

 

A morena ficou frente a frente com Luiza que não sabia o que fazer. As pessoas em volta gritavam algo, mas Luiza não conseguia escutar. Daniela aproximou-se cada vez mais, Luiza se agachou para tentar pegar a bola, sua mão esticada. Era o momento certo. Daniela abriu um lindo sorriso e preparou o chute. A morena errou propositadamente a bola e acertou com toda a sua força a mão de Luiza que gritou  de dor. Todos arregalaram os olhos assustados. Alguns colocaram as mãos na boca. Virgínia prendeu o riso e Daniela fazia uma cara inocente. 

 

Caíque aproximou-se da aluna rapidamente. Luiza se contorcia no chão e segurava sua mão, sentia muita dor, seus olhos estavam cheios de lágrimas. O professor observou a mão da aluna e  ficou preocupado. Luiza sentia tanta dor que não conseguia ficar em pé. Caíque carregou ela até o carro e a levou para o hospital. Logo outro professor iria substituí-lo. 

 

Daniela e Virgínia afastaram-se da multidão e foram para um lugar isolado e finalmente riram de tudo que a morena havia feito. 

 

-- Acho que ela nunca mais vai conseguir usar os dedinhos - Virgínia debochou ainda rindo muito. 

 

-- Sorte dela que foi a mão esquerda... Uma pena ela não ter esticado a direita - disse secamente. 

 

-- Ai Daniela, imagina se ela não consegue mais mexer a mão?

 

-- Foda-se... Ninguém mandou ela ser uma idiota! - rosnou. 

 

-- Pelo visto você não gosta mesmo dela. 

 

-- Nenhum um pouco. 

 

-- Você é louca. O professor ainda vai te encher por causa disso.

 

-- Eu não me importo... Eu já fiz o que queria mesmo - sorriu triunfante. 

 

*************

 

Luiza teve três dedos quebrados. Sua mão foi completamente engessada, apenas os dedos anular e o mínimo não foram engessados. A menina não sentia mais dor gracas aos medicamentos. O pai que trabalhava ali, foi vê-la e ficou aliviado em saber que a filha estava bem. A mãe foi buscá-la e Luiza se sentia tonta por conta dos remédios. Chegou em casa e foi se deitar. Por sorte não havia acontecido algo de mais grave com sua mão. Ficou olhando para o teto pensativa. 

 

"Ela fez de propósito! Que garota sem escrúpulos! Isso é maldade demais, mas vindo dela até que não fico surpreendida.  Por sorte não aconteceu algo de mais grave com minha mão. Ela chutou com tanta força. Eu senti meus dedos quebrando. Que dor horrível... Quero distância dessa maluca, sem caráter!"

 

Luiza não demorou a pegar no sono por causa dos remédios. 

 

 

***********

 

Rebecca não sabia de nada que havia acontecido com Luiza, mas quando saiu para o intervalo esse era o assunto mais comentado do momento, por onde a ruiva passava estava falando disso. 

 

"Sabe aquela lésbica lá... Dizem que foi levada para o hospital, parece que uma garota acertou em cheio a mão dela"

 

Era o que mais se ouvia por ali.

 

Rebecca ficou preocupada com a namorada. Queria sair do colégio, mas não podia, estava agoniada. Escutou quando alguém disse o nome de Daniela e de repente tudo fez sentido para a ruivinha. A menina não pensou duas vezes e caminhou a passos duros em direção ao grupinho que ria descontraído em uma das mesas do refeitório. 

 

-- Como você foi capaz de fazer isso?! - Rebecca estava irada e nem se importou se estavam no colégio. 

 

Todos olharam para a ruiva assustados. 

 

-- Isso o que? - a morena se fez de desentendida. 

 

-- Machucar a Luiza! Como você pôde ser tão cruel! - gritou. 

 

Todos naquele momento prestavam atenção nas duas. 

 

-- Foi sem querer - fingiu inocência - Era um jogo... 

 

Rebecca a cortou.

 

-- Você não engana ninguém aqui! Todos sabem que que você não gosta dela! 

 

-- E não gosto mesmo! Aquela doente! 

 

-- A única doente que tem aqui é você, que tem coragem de machucar uma menina que nunca fez nada contra você! 

 

-- Ah, ela nunca fez né? - perguntou irônica. 

 

-- Não Daniela... - Rebecca olhou em volta e viu que todos prestavam atenção nas duas - Não vale a pena ficar discutindo com pessoas como você... 

 

A ruiva se afastou e seguiu para a sala torcendo para a aula passar rapidamente e ela poder ver como estava sua amada. 

 

-- Eita, o que deu nela? - Virgínia.

 

-- Nada,  ela é assim mesmo. 

 

-- Não entendo como ela pode defender aquela nojenta -  Adrian. 

 

-- A Rebecca é assim mesmo. Não suporta injustiça. 

 

Ficaram debatendo sobre a explosão da ruiva, mas Daniela conseguiu tirar a desconfiança deles. Não queria causar qualquer problema para Rebecca. Tudo que queria era separar as duas. 

 

"Isso foi só o começo, Ana Luiza"

 

****************

 

Carol chegou em sua casa junto de Victoria e logo as duas foram informados do que havia acontecido com a irmã. As duas correram para o quarto de Luiza. Carol abraçou a irmã apertado. Luiza acordou e sorriu a ver a baixinha. Passou a mão no cabelo da pequena. 

 

-- Carol relaxa, eu tô bem... 

 

-- O que aconteceu, Luh?

 

Luiza contou o que tinha acontecido a irmã e a prima. Carol bufava de raiva de Daniela. 

 

-- Aquela vaca, piranha! - disse trincando os dentes. 

 

-- Calma Carol. Não precisa ficar assim. Eu já estou melhor. Não aconteceu nada de grave. 

 

-- Não aconteceu nada de grave?! Aquela piranha maldita quebrou apenas três dedos seus... Dá vontade espancar aquela criatura dos infernos! 

 

Carol estava realmente revoltada com tudo que Daniela havia aprontando com a irmã. Demorou para Luiza conseguir acalmá-la e agradeceu por Vick está ali, pois foi a única que Carol escutou. A baixinha conseguiu ficar mais calma, mas ainda xingava mentalmente Daniela. 

 

Assim que bateu o sinal, Rebecca praticamente correu para a casa de Luiza. Rosana a atendeu e disse para menina subir para o quarto da filha e foi o que a ruiva fez. Rebecca estava nervosa e só conseguiu ficar um pouco mais calma quando viu Luiza deitada na cama. Carol e Victoria ainda estavam lá. 

 

Rebecca não se importou com mais nada,  correu em direção a cama da namorada e se ajoelhou, colocando a cabeça sobre a barriga de Luiza. A ruiva começou a chorar.  Carol e Vick saíram de fininho. 

 

-- Calma, amor... Eu tô bem - Luiza tentava acalmar a namorada. 

 

-- Eu quase enfartei quando fiquei sabendo, estava tão preocupada com você, meu pedaço de céu... Se tivesse acontecido algo com você... - disse chorando. 

 

-- Calma, meu anjo... - Luiza se levantou e puxou a ruiva a abraçando apertado - Eu tô bem... Não aconteceu nada demais, minha linda... - afastou-se um pouco e enxugou as lágrimas de sua amada - Não fica assim... 

 

 

Ficaram um tempo abraçadas até Rebeca ficar mais calma. 

 

-- Deixa eu ver isso - disse pegando delicadamente no braço de sua namorada e tocando suavemente sobre o gesso - Dói? 

 

-- Agora começou a doer um pouco... O efeito do remédio tá passando... 

 

-- Aquela idiota da Daniela! Como foi capaz de fazer isso com você... É apenas um linda e delicada princesa... - disse tocando suavemente o rosto de sua amada - A minha princesa... Aquela que eu sempre sonhei... Não suporto saber que alguém machucou você... Uma pessoa que merece apenas ser amada... Que merece ganhar as melhores coisas que alguém possa oferecer... Amo tanto você, Luiza... 

 

-- Também amo muito você, meu amor! - disse antes de beijá-la com carinho. 

 

Um beijo suave e repleto de amor. Quando se afastaram a ruiva seguro a mão engessada de Luiza e depositou um beijo. 

 

-- Vou cuidar de você, meu amor - disse a ruiva sorrindo suavemente. 

 

-- Vou amar se cuidada por você... 

 

Rebecca dengou a namorada o restante do dia. As duas não se desgrudaram e a ruivinha era toda cuidadosa e preocupada. Apesar da dor Luiza estava curtindo esses momentos ao lado do seu amor. Não tocaram mais no nome de Daniela para não estragar o restante do seu dia. 

 

Isso era apenas o começo da guerra que o amor das duas ainda enfrentaria. 

 

 

 

Fim do capítulo