Capítulo 14

 

Rebecca tentava limpar a blusa, mas estava apenas piorando a situação. Não percebeu quando Daniela entrou e trancou a porta. A morena ficou um tempo observando a ruiva e foi aproximando-se aos poucos. 

 

-- Finalmente estou tendo a oportunidade de falar com você.

 

Rebecca levou um susto e encarou Daniela através do espelho. 

 

-- Oi Daniela - disse voltando a limpar a blusa. 

 

-- Isso não vai sair não adianta ficar tentando - a morena tentou tocar em Rebeca, mas essa se afastou delicadamente. 

 

-- Eu preciso tentar. Não posso assistir aula nessa estado... 

 

-- Você não vão conseguir muita coisa... 

 

Rebecca não disse nada. Não queria qualquer tipo de aproximação com morena. 

 

-- Por que você está me evitando? - perguntou se apoiando na pia e observando seriamente a ruiva.

 

-- Porque é melhor assim... - não encarava Daniela. 

 

-- Por que?! - tentava controlar o tom de voz - A vadia da Ana Luiza te proibiu de falar comigo?! - disse entre dentes.

 

Rebecca irritou-se profundamente. Encarou a morena. 

 

-- Não aceito que você fale assim da minha namorada! 

 

-- Ah então é isso... Vocês realmente estão juntas... Sabe-se lá quantos chifres eu não levei nas férias - irônica. 

 

-- Não seja tola... Eu não sou esse tipo de menina! 

 

-- Não mesmo?...  Você conheceu ela nas férias e depois já estava toda derretida por aquela piranha de quinta! 

 

-- Chega! - elevou o tom de voz - Esse é um dos motivos pelo quais a gente nem mesmo pode ser amiga. Você não tem respeito por ninguém! 

 

-- Rebecca... - Daniela disse carinhosa e tentando se aproximar novamente, mas Rebecca deu alguns passos para trás - Um dia você ainda vai se arrepender de ter escolhido aquela garota. Ela ainda vai fazer você sofrer muito... Lembre bem dessas minhas palavras.

 

-- Chega disso Daniela, por favor. 

 

-- Eu queria que você entendesse que eu te amo... - aproximou-se da ruiva. 

 

Rebecca bateu as costas na parede do banheiro e Daniela sorriu maliciosa aproximando-se cada vez mais.

 

-- Vou te provar que ao menos desejo você ainda sente por mim...

 

Rebecca já preparava toda a sua força para empurrar a morena. Daniela segurou os braços da ruiva, era bem mais forte. Rebecca se debateu tentando se soltar. 

 

-- Me solta, Daniela! Tá maluca?!! 

 

-- Sim, estou maluca! Maluca de amor por você. 

 

Quando Daniela pensou em fazer alguma coisas, alguém bateu na porta. 

 

-- Abram essa porta! O banheiro é público! - disse uma voz desconhecida para as duas. 

 

-- É mesmo! Nós queremos entrar... - disse outra voz de menina. 

 

Daniela bufou e soltou a ruivinha. Caminhou em direção a porta e encarou as duas meninas as fuzilando. 

 

-- Pronto suas estúpidas! 

 

As garotas se assustaram e arregalaram os olhos. Eram meninas da idade de Carol. Entraram no banheiro e observaram a ruiva, que ainda estava um pouco nervosa. Rebecca percebeu a presença das duas e as encarou. 

 

-- Desculpe pela forma grossa da Daniela - disse antes de sair.

 

Rebecca esbarrou sem querer em Luiza que estava indo procurá-la. Luiza reparou na roupa da namorada e em como ela parecia nervosa.

 

-- Rebecca você está bem? - sussurrou. 

 

Rebecca encarou a menina e a abraçou apertado. Luiza ficou surpresa, mas correspondeu. 

 

-- O que houve, meu amor? - Luiza perguntou próximo a orelha da ruiva.

 

-- Só a Daniela que resolveu me encher... 

 

Luiza olhou em volta e viu que muitos olhavam para elas de forma curiosa. Segurou delicadamente o braço da ruiva a levando o para um lugar isolado, onde havia algumas árvores. 

 

-- O que essa garota queria com você? 

 

-- Apenas falar algumas besteiras... Dizer que me amava... E bem é... - hesitou - Ela tentou me beijar - disse fazendo uma careta. 

 

-- Eu vou matá-la! - disse tentando caminhar em direção ao refeitório, mas foi impedida por Rebecca que segurou delicadamente sua mão. 

 

-- Não, amor... Imagina o escândalo. Deixa ela para lá... Não vale a pena. 

 

-- Se ela ficar te enchendo eu vou partir ela no meio! - disse irritada. 

 

"Como essa vaca, ousa tentar beijar a minha namorada. Sou muito controlada, mas ela tá pedindo pra apanhar!"

 

Luiza estava fervendo de raiva. 

 

-- Eu já deixei claro para ela, que é você que eu amo.. Que eu quero... Não importa o que ela fizer... - disse olhando em volta e roubando um selinho de Luiza.

 

Luiza arregalou os olhos. 

 

-- Ficou doida, ruiva! E se alguém ver! 

 

-- Relaxa, amor... Estamos sozinhas aqui - disse sorrindo. 

 

Luiza observou o lindo sorriso de sua namorada e acabou sorrindo também. 

 

-- Você é linda -  disse encantada. 

 

-- Você também é linda! - a ruiva disse tocando carinhosamente no rosto de Luiza. 

 

Se abraçaram e ficaram alguns minutos assim. Rebecca estava curtindo a quentura da namorada, até lembrar de algo importante. Afastou-se para encará-la.

 

-- Quem era aquele garoto que parou para falar com você e o que tinha naquele bilhete? - perguntou séria. 

 

Luiza ficou surpresa com a pergunta tão direta da ruiva, mas não gostava de mentir. Então decidiu falar a verdade. 

 

-- Ele é amigo de uma menina que eu fiquei... - respondeu temendo a reação da ruiva, pois já havia percebido que Rebecca era ciumenta. 

 

-- Hum... E o que ele queria com você? - Rebecca se controlava. 

 

-- Ele queria me dá um recado da garota... - fez um careta.

 

Rebecca bufou e mordeu os lábios tentando se conter. 

 

-- O que você disse?! - perguntou um pouco alterada. 

 

-- Calma, amor... Eu disse que não poderia rolar mais nada entre nós duas, porque eu estava namorando e amava minha namorada... Disse pra ele dar esse recado para ela... E foi isso... Depois a gente ficou conversando um pouco, mas nada demais, apenas coisa do colégio... Por isso eu demorei. 

 

-- Deixa eu ver o bilhete - disse estendendo a mão. 

 

-- Amor... É melhor não... - falou hesitante. 

 

-- Luiza deixa eu ver... Senão vou acabar pensando mal e não quero de forma alguma pensar certas coisas. 

 

-- Ok... Eu ia jogar fora... - disse pegando o papel que estava no seu bolso de trás e entregando a ruiva. 

 

Rebecca rapidamente abriu o papel e leu. 

 

"Luiza, sinto sua falta. Gostei tanto daquele dia que nós beijamos... Acho que comecei a ver o mundo com outros olhos. Tudo está tão mais colorido. Eu vivia fugindo dessa meu lado... De gostar de meninas, mas quando fiquei com você parece que foi algum tipo de libertação... Você me disse tantas coisas... E eu aprendi muito com você... Já fiquei com outras meninas e gostei, mas acho que sinto algo diferente por você... Nós poderíamos ficar de novo, não é? Quando você vem aqui novamente? Estou com saudade... Gosto muito de você. Beijos. M."

 

Luiza passava as mãos pelo cabelo visivelmente nervosa. Rebecca a encarou. 

 

-- M? - disse controlada. 

 

-- Mariana... - hesitou. 

 

-- Hum... Ela não é daqui? 

 

-- Não... Ela mora em outra cidade.

 

-- Entendi... Não quero você próxima dela - avisou seriamente.

 

-- Não vou me aproximar, amor. 

 

Rebecca sorriu. 

 

-- Terei sério problemas com você... 

 

-- Não... Nenhuma dessas meninas são importantes... Apenas você, amor... Só você Rebecca. 

 

-- Fico muito feliz em saber disso. Ainda sou nova nesse negócio de relação, mas estarei de olho nessas garotas que se aproximarem de você.

 

Foi a vez de Luiza sorrir. 

 

-- Só tenho olhos pra você...

 

-- Eu sei... Mas tem algumas garotas que não entendem isso... 

 

-- Daniela é uma - disse com tédio. 

 

-- Sim... Precisamos ficar longe delas. 

 

-- Verdade - Luiza observou a blusa da ruiva -  O que foi isso? 

 

Rebecca olhou para blusa e fez cara de nojo. 

 

-- Derramei suco sem querer. 

 

-- Vish... Tenho uma blusa reserva... Vou pegar pra você. 

 

-- Ai amor... Você é tão prevenida. 

 

-- Nunca se sabe quando posso jogar suco no meu uniforme né... - disse brincando. 

 

-- Chata! - Rebecca deu um leve tapa no braço da namorada. 

 

Luiza riu e foi pegar o uniforme para a ruiva. As duas eram exatamente do mesmo tamanho, mas Luiza tinha um pouco mais de corpo. A blusa ficou perfeita em Rebecca, que ficou agradecida. 

 

**********

 

O mês passou tranquilo para as meninas, menos o fato de Carol está passando mal por causa da quimioterapia. A baixinha tentava se forte, mas estava ficando complicado. 

 

Daniela não aproximou-se mais de Rebecca. A morena apenas observava a ruiva a distância. Percebia o quanto a ruiva estava feliz ao lado de Luiza, e isso a deixava furiosa. 

 

Rebecca andava boba e sorrindo de tudo. Nunca havia se sentindo assim, era a felicidade em pessoa. Não se sentia mais sozinha, ao contrário se sentia completa. Nada mais faltava para ela. O namoro estava perfeito. Luiza era perfeita. As duas se davam muito bem, apesar de terem suas diferenças. Rebecca percebeu rápido o quanto era ciumenta. Nunca imaginou que um dia se sentiria assim, mas era inevitável quando se tratava de Luiza. Às vezes achava engraçado, pois nunca se sentiu assim por Daniela. Luiza era uma menina muito paciente e compreensiva, doce e brincalhona. Rebecca era derretida pela garota de olhos verdes risonhos. 

 

Com Luiza não era diferente. Era louca pela ruivinha. Estava muito feliz. O amor era um sentimento esplêndido e maravilhoso. Só não estava mais feliz por causa da irmã e Rebecca percebia isso.

 

-- Amor... - a ruiva chamou a namorada. 

 

Luiza estava perdida em pensamentos. As duas estavam deitadas na cama da ruiva que fazia carinho nos cabelos ondulados de sua amada. Luiza estava deitada entre as pernas da ruivinha. 

 

-- Amor... 

 

Luiza não escutava a ruiva chamando. 

 

-- Luiza! - chamou um pouco mais alto. 

 

-- Oi amor... - finalmente a escutou. 

 

-- Você está bem? 

 

-- Sim... Só ando preocupada. 

 

-- Carol? 

 

-- Uhum... A quimio está deixando ela fraca e mal. Não suporto ver minha irmã assim. É horrível - disse com os olhos úmidos. 

 

-- Não fica assim, minha linda... - Rebecca a apertou e beijou sua testa - Estou aqui com você... Pra tudo.

 

-- Eu só não estou mais triste, porque tenho você aqui comigo - disse se sentando e encarando a ruiva - É muito bom saber que você está a meu lado... Vem aqui...

 

Luiza puxou a ruiva pela nuca e a beijou carinhosamente. A deitou na cama sem deixar de beijar, ficando por cima. A ruiva a segurou pela cintura. O beijo que inicialmente era calmo tornou-se cheio de desejo. As duas estavam quentes. Cabelos desalinhados. As línguas travavam um batalha deliciosa. Rebecca colocou as mãos por baixo da blusa da namorada a arranhando levemente. Luiza se arrepiou inteira e gem*u baixinho no meio do beijo, isso acendeu a ruiva que passou a acariciar a barriga de Luiza, que sorriu. 

 

As duas não tinham qualquer experiência sexual, eram virgens e novas. Muitas vezes sentiam o corpo aquecer com os beijos quentes que trocavam, mas não tinham pressa. Tudo seria no seu tempo e de forma especial. Luiza não queria pressionar Rebecca, e ainda não se sentia preparada, apesar de se sentir queimar algumas vezes. A ruiva também se sentia assim, quente, mas também não se sentia preparada. Elas saberiam a hora certa. 

 

Diminuíram a intensidade do beijo e Luiza terminou dando um selinho na ruiva e deitando-se ao seu lado. Ficaram um tempo em silêncio recuperando o oxigênio. 

 

-- Você sente a mesma coisa que eu? - Rebecca perguntou com um sorriso bobo olhando para o teto branco. 

 

-- Você está falando desse fogo? - perguntou sorrindo. 

 

-- Sim... Nunca me senti assim. 

 

-- Nem eu... 

 

-- Eu não tenho ideia de como... Como... - corou. 

 

Luiza riu.

 

-- Relaxa, amor. Nós iremos aprender juntas - disse segurando as mãos da ruiva. 

 

As duas ficaram de lado para ficarem se encarando. Rebecca estava vermelha e com os cabelos bagunçados, lábios mais vermelhos do que já eram. Luiza estava de igual forma. As duas riram disso. 

 

-- Você fica linda assim - Luiza falou tocando nos cabelos vermelhos. 

 

-- E você também...

 

-- A gente parece duas bobas. 

 

-- Mas é isso que os apaixonados são... - disse a ruiva sorrindo. 

 

-- Já pensou quando essa loucura de paixão acabar? 

 

-- E ela acaba? 

 

-- Acho que sim... Mas sobra o amor... E acho que é com ela que superamos cada obstáculos da nossa relação... O amor permanece em nós para  sempre. A paixão é apenas momentos - disse pensativa. 

 

-- Hum...  Por isso te amo e sou apaixonada - disse sorrindo.

 

-- Sério? - Luiza perguntou brincando. 

 

-- Muito! 

 

-- Quero provas disso. 

 

-- Ah é? Como posso provar, senhorita? 

 

-- Hum... - fingiu pensar - Pode começar com um beijo... 

 

-- Não seja por isso... - disse aproximando-se e a beijando de forma apaixonada. 

 

Namoraram o restante do dia entre beijos e carícias. Luiza conseguia esquecer os problemas quando estava ao lado da ruiva.  Ficava feliz e sorria o tempo todo. Rebecca fazia muito bem a ela. Ver sua amada era como um remédio para seu coração que sofria pela irmã. Rebecca era sua outra metade. Aquela que sempre a completava, que sofria e sorria, junto com ela. As duas eram o bem da outra. 

 

**************

 

Luiza voltou para casa sorrindo, mas quando viu o pai sentado no sofá de cabeça , o sorriso morreu. Aproximou-se sentado ao seu lado, preocupada. 

 

-- Pai, o que houve? Cadê a Carol? - perguntou aflita. 

 

-- Carol está no quarto com sua mãe.... - respondeu de uma maneira fraca. 

 

-- O que tá acontecendo? 

 

Pedro respirou de maneira profunda. 

 

-- Carol precisa dos melhores tratamentos... Ela tem um tipo de leucemia rara... Infelizmente não temos dinheiro para dar a ela as melhores coisas que a medicina pode oferecer... Ela precisa de um transplante de medula óssea... Sabe o quanto é difícil existir alguém compatível com ela no mundo?... É raro... Ainda mais para nós que não temos dinheiro... Estou perdido... Não sei o que fazer... A quimioterapia irá ajudar, mas não será o suficiente...

 

-- Pai, quem sabe um de nós não seja compatível com ela... 

 

-- Talvez, mas é muito raro... 

 

-- Mas somos da família - disse contrariada. 

 

-- Mesmo assim, meu amor 

 

-- Mas que... Isso é tão injusto! 

 

-- As coisas muitas vezes são assim... Estive conversando com muitos especialistas e eles sempre dizem a mesma coisa, que ela será melhor tratada fora daqui... Onde os médicos são mais preparados e tem mais recursos... O que é verdade. Eu trabalho tanto e nem ao menos tenho condições de fazer isso por minha filha! Muitas vezes me sinto um inútil. 

 

-- Não fala assim, pai. Nada do que está acontecendo é sua culpa. Não a culpados. 

 

Pedro abraçou Luiza e os ficaram um tempo assim. 

 

-- Farei tudo que estiver ao meu alcance pela sua irmã - sussurrou. 

 

-- Eu sei disso - Luiza sentia o coração apertado. 

 

O tempo havia se tornado o inimigo de toda aquela familia. Quanto mais ele passava pior Carol ficava. Talvez existisse uma pequena luz em meio aquela terrível doença que matava pouco a pouco a pequena Carol. 

 

Talvez o preço fosse alto demais, mas isso era o que menos importava naquele momento. 

 

 

Fim do capítulo