• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Amor acima de tudo
  • Capítulo 18 - Marina -

Info

Membros ativos: 9524
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,491
Palavras: 51,957,181
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Thalita31

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell
  • 34
    34
    Por Luciane Ribeiro

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Amor
    Amor sempre vence?
    Por Esantos
  • A Detetive
    A Detetive
    Por Isis SM

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Amor acima de tudo por Little dream

Ver comentários: 1

Ver lista de capítulos

Palavras: 8760
Acessos: 2018   |  Postado em: 00/00/0000

Capítulo 18 - Marina -

- Marina –

Viajar para Brasília de maneira nenhuma fazia parte de meus planos, mas infelizmente diante dos compromissos de Pablo e Juliano que não podiam ser adiados, tive de ir. Reuniões nunca foram o meu forte, porém em algumas, realmente era necessário a minha presença, principalmente quando elas tratavam de contratos, onde apenas eu podia assinar.

Alguns encontros, alguns jantares com possíveis clientes, apresentações e mais reuniões fizeram parte de minha rotina por quase três dias. Me dividir entre meu advogado e os clientes estava me deixando um tanto quanto exausta, sem falar que não me sobrava muito tempo para mim. Alberto, meu advogado estava me acompanhando nessa viagem, eu precisaria e muito de sua assessoria, e ele, estava na companhia de sua leal e inseparável assistente, Érika. Os dois eram os maiores responsáveis pelo tempo escasso em minha agenda, pois um dos dois sempre batia à minha porta chamando-me para algum outro compromisso. Deixava-me irritada a falta de tempo, não conseguia nem mesmo dar atenção para Giulia, queria tanto ouvir a voz dela, perguntar como ela estava. A saudade me consumia cada dia mais.

Sempre que eu pensava que estava liberada para pegar o primeiro vôo de encontro a minha menina, aparecia mais uma coisa a se fazer e resolver. Apesar de meu esforço para resolver tudo o quanto antes, nem tudo andava como o planejado, alguns imprevistos, datas adiadas e protelações me impediram de fazer as coisas com mais precisão e rapidez. Porém, hoje havia encontrado uma brecha, e pedi à Érika para tentar conseguir um vôo para o Rio de Janeiro já que eu não dispunha de um notebook naquele momento. Queria encerrar tudo por ali e deixar a cargo de Alberto, minha presença já não era tão importante.

Ali estava eu, em uma enorme cama de hotel com os pensamentos totalmente voltados para o Rio de Janeiro. Eles me acompanhavam o dia inteiro, e estavam sempre naquele lindo sorriso.

Alcancei o celular na mesinha ao lado da cama, o desbloqueei e disquei o número tão conhecido pra mim. Chamou uma, duas vezes até que voltei a atenção para a porta. Ouvi batidinhas. Fui até à porta e abri, era Érika.

-- Pode entrar. – falei.

-- Desculpa interromper. – sussurrou ao ver que eu estava ao telefone.

Sorri pra ela e fiz um gesto com a cabeça pedindo para que ela sentasse em uma das poltronas e me encaminhei para uma das janelas do quarto. Chamou até cair. Liguei novamente, e como da primeira vez, acabou caindo na caixa postal. Estranhei, mas imaginei que talvez ela estivesse ocupada. Deixei o celular de lado por um momento e fui até Érika.

-- Prontinho. – falei referindo-me a ligação encerrada.

-- Desculpa vir aqui lhe incomodar, eu podia ter ligado, no entanto pensei que apenas um corredor nos separava, então vim aqui pessoalmente lhe dar a notícia. – falou sorridente.

-- De que notícia estamos falando? – perguntei sentando na poltrona à sua frente.

-- Falei com o Alberto hoje, e já marquei o seu vôo, ele sai daqui – olhou o relógio em seu pulso – há três horas.

-- Como assim?

-- Alberto disse que a partir de agora os trâmites serão apenas jurídicos, sendo assim nenhum compromisso lhe prende aqui, você já pode ir até o Rio. E como disse, seu vôo sai daqui a pouco, já acertei tudo. – falou entregando minha passagem.

-- Mas isso é uma ótima notícia! – sorri contente – Obrigada por tudo Érika!

-- Imagina Marina, não precisa me agradecer, fico honrada em ter conseguido lhe ajudar. Ainda soa estranho lhe chamar apenas pelo nome.

-- Acho que apenas Marina está ótimo.

-- Bom, preciso ir, vou deixá-la sozinha.

Érika levantou-se e dirigiu-se até a porta. Tive a impressão de que ela estava rebol*ndo propositalmente à minha frente. Sorri disfarçadamente e balancei a cabeça negativamente – aquilo, aquele balançar, a provocação velada em nada mexia comigo, não me balançava. Abri a porta para ela, e antes que ela saísse agradeci novamente.

-- Não precisa agradecer, foi um prazer.

Silêncio se fez durante alguns segundos, Érika não se movia, não mostrava indícios de que iria embora, e eu estava ficando verdadeiramente constrangida com o olhar que ela me lançava. Cocei a nuca em nervosismo, e parece que isso a fez sair do seu estado letárgico despedindo-se de maneira tímida.

Fechei a porta e sai em busca de minha mala. Guardei todos os meus pertences e decidi ligar novamente para Giulia. Dessa vez ouvi a velha mensagem indicando que o celular estava desligado ou fora de área. Frustrada, joguei o celular no meio da cama e decidi tomar um banho.

Tomei um banho relaxante e um pouco demorado. Durante o banho tentei pensar em alguma pequena surpresa para Giulia, queria surpreendê-la com algo simples, mas memorável. Sorri ao ter uma ideia. Não iria avisar que estava indo ao seu encontro, mas diante do tamanho da minha ansiedade eu queria ao menos ouvir a sua doce voz. Detive o ímpeto de mais uma vez ligar para ela.

Recolhi mais algumas coisas pelo quarto e as joguei na mala. Olhei o relógio e vi que ainda faltava algum tempo para o vôo, mas mesmo assim decidi ir de uma vez por todas para o aeroporto, não conseguiria ficar quieta dentro daquele quarto que agora havia se tornado bem pequeno diante de minha ansiedade e pressa.

Ante de sair do quarto para fazer o check out olhei novamente meu celular, não havia nada, nenhuma ligação e nenhuma mensagem. A pontinha de tristeza foi inevitável. “Será que ela não estava sentindo a minha falta assim como eu estava sentindo dela?”.

Despedi-me de Alberto e Érika e peguei um táxi em direção ao aeroporto. Assim que cheguei, o painel indicava que me vôo estava atrasado. Suspirei pesadamente. Resolvi usar o tempo em que aguardava a meu favor. Peguei o celular de dentro do meu bolso e fiz algumas ligações. A noite com Giulia seria maravilhosa. Estava tudo saindo como o planejado.

Desembarquei no Galeão o sol já havia sumido, era noite. Peguei o primeiro táxi em direção ao hotel. No meio do trajeto pedi ao taxista para fazer duas paradas.

O táxi estacionou em frente ao hotel em que havia feito reservas para mim e para Giulia. Ao colocar os pés para fora do carro respirei fundo, alguns tremores tentavam tomar conta de meu corpo. Cheguei à recepção. Falei com a educada moça do outro lado do balcão, expliquei a situação para ela e logo minha entrada foi liberada. Subi direto para o quarto. O sorriso não cabia em meu rosto, o coração já batia inquieto no peito. Bati na porta uma, duas, três vezes, esperei ouvir a voz de Giulia do outro lado antes de a porta ser aberta, mas nada disso aconteceu. Não ouvi sua voz, não ouvi barulhos e a porta não foi aberta. Nenhum movimento ali dentro.

Pensei em ligar para Fred, afinal se Giulia havia saído do hotel havia sido em companhia dele. Porém, não o fiz, não liguei, ela poderia estar perto dele e acabar ouvindo algo. Decidi esperá-la lá dentro. Abri a porta do quarto lentamente ainda esperançosa, ela poderia apenas ter adormecido e não ouviu as batidas na porta. Foi um pouco decepcionante andar por todo o espaço e me dar conta de que ela realmente havia saído.

Deixei minha mala e as outras coisas em um canto, propositalmente escondidos, para que Giulia não notasse minha presença assim que entrasse. Retirei minha roupa e dirigi-me para o banheiro. Um banho longo e gelado seria o melhor.

Sai do banho enrolada em uma toalha. Olhei para cama e sorri, sentindo a saudade em meu peito aumentar cada vez mais. Aspirei fundo e pude sentir o cheiro dela, estava por toda parte. O cheiro inebriante e inconfundível.

Em uma das paradas que fiz no caminho para o hotel, aproveitei e comprei uma roupa especialmente para esta noite.        Arrumei-me com esmero. Passei perfume em lugares estratégicos, onde ela gostava de sentí-lo. A cada segundo eu olhava na direção da porta, na esperança de que nesse exato segundo a figura sorridente entrasse num rompante, mas a cada instante, uma pequena decepção ao constatar que ela ainda não havia chego.

Pronta, sentei na cama e continuei a encarar a porta, esperando-a. Olhava o celular e nada ali. Dei uma conferida no relógio em meu pulso, passava-se das 19h e nenhum sinal de Giulia, eu começava a ficar aflita. Estava dividida entre ligar ou não. Estava faminta, mas não queria estragar a surpresa saindo do quarto, arriscando encontrá-la no caminho ou de que nos desencontrássemos.

Eu batia os pés impacientemente, enquanto tentava inibir, controlar os sinais que minha barriga emitia, quando ouvi o som da porta sendo aberta. Imediatamente me coloquei de pé, sentindo-me extremamente nervosa, as  mãos soando frio e o tão conhecido frio na barriga. Até parecia que era a primeira vez que nos encontrávamos, a primeira vez que eu desejava um beijo dela.

Estampei o meu melhor sorriso para recebê-la. Giulia adentrou o quarto e deteve seus passos junto à porta. Ficou me encarando por alguns segundos sem nada ser dito. Surpreendi-me quando notei que seus olhos estavam avermelhados assim como a pontinha de seu nariz. Indícios de que ela havia chorado.

Pensei em caminhar em sua direção, mas não foi preciso, nem mesmo tive tempo, ela correu em minha direção e logo senti o choque do corpo de Giulia de encontro ao meu. Podia ouvir os soluços, tremores acometiam-na, a fazendo tremer em meus braços.

Eu queria fazer-lhe uma surpresa, e no final eu que acabei sendo surpreendida por encontrá-la daquela maneira, não tinha a mínima ideia do que podia ter acontecido para deixá-la naquele estado. Senti o chão sair debaixo de meus pés, não suportava vê-la chorar, sempre me deixava abalada, sem ação. Um nó se formava em minha garganta por vê-la daquela maneira, tão frágil. Nesse momento não cabiam palavras, então apenas a abracei apertado.

O choro copioso aos poucos foi cessando, já não ouvia os soluços, mas ela permaneceu agarrada ao meu corpo. Eu estava com tanta saudade dela que se não fosse aquele choro dolorido, eu estaria sentindo-me plena, completa, ali com ela em meus braços.

-- O que você está fazendo aqui? – perguntou com a voz chorosa sem afastar-se de mim.

-- Não gostou?

-- É claro que eu gostei. – só então ela se afastou e olhou em meus olhos – Mas você só voltaria daqui a dois dias. Aconteceu algo? Você está bem? – Em seus olhos estavam preocupação, porém havia algo a mais, tinha algo por trás daquele olhar que simplesmente não consegui decifrar.

-- Está tudo bem, apenas adiantei as coisas para poder vir até você o quanto antes. – sorri na tentativa de animá-la.

-- Estava com tanta saudade de você. – falou voltando a me abraçar apertado. Um fungado denunciava um novo choro.

-- Ei. – a chamei – Também estava com muita saudade de você, mas agora eu estou aqui, e sou toda sua.

-- Toda?

-- Inteiramente! – sorri.

Giulia na ponta dos pés procurou meus lábios, e eu não tardei em sentí-los, seria um pecado!

O beijo foi doce, saudoso e com um gostinho salgado, ela havia voltado a chorar. Meu coração ficou pequeno, não havíamos conversado, mas percebi que algo estava magoando-a profundamente, talvez o que ela trazia no olhar fosse angústia, ela parecia perturbada com algo.

Quando o ar nos faltou Giulia segurou meu rosto entre as mãos, seus olhos novamente avermelhados e cheios d’água procuraram os meus. Como doía vê-la daquela maneira.

-- Você é tão linda. – algumas lágrimas ainda teimavam em rolar por seu delicado rosto - Incrivelmente linda Marina, e eu sou tão apaixonada por você, tão apaixonada que você não pode duvidar disso jamais!

-- Eu também sou apaixonada por você meu pequeno anjo. E eu não duvido, de maneira nenhuma. – respirei fundo e resolvi tomar a iniciativa – Não faço ideia do que aconteceu, mas não gosto de vê-la assim. – com a ponta dos dedos capturei mais algumas lágrimas – Quero que saiba que eu estou aqui com você, eu posso ser o que você precisar: uma colega, uma amiga, uma conselheira, sua chefe, uma protetora, uma irmã...o que você precisar, é só me dizer. – ela sorriu - Quando estiver pronta e sentir vontade de falar eu estarei aqui, bem perto. Só o que lhe peço é que não me esconda nada, me deixa te ajudar da maneira que eu puder. Me deixa cuidar de você.

-- Eu não sei como lhe falar, não sei como irá reagir...é algo tão...baixo. – quase não ouvi a última palavra.

Um milhão de coisas passou por minha cabeça, milhões de teorias e razões para que ela estivesse daquele jeito, entretanto nenhuma delas fazia o menor sentido. Até outra pessoa havia passado por minha cabeça, mas não, não podia ser isso, ela jamais seria capaz. Nada se encaixava. Não queria imaginar nada, queria ouvir tudo de sua boca.

-- Pode me contar, – comecei com a voz vacilante – seja o que for pode me falar, vamos conversar.

Giulia afastou-se completamente de mim e sentou na ponta da cama, com as mãos entre os joelhos, suspirando pesadamente e depois encarando o chão branco.

-- Acho que não vou conseguir falar agora. Desculpa.

-- Tudo bem, não precisa falar agora, podemos conversar sobre isso em outro momento.

Ela apenas balançou a cabeça em afirmativa enquanto o chão parecia mais atraente.

-- Tenho uma coisa pra você! – ela voltou a me olhar, mas não dei chance para que ela falasse, sai rapidamente para a sala ao lado. – Preciso que feche os olhos. – gritei de lá.

-- Por que? – perguntou também gritando.

-- Por favor, feche os olhos, não irá se arrepender, eu garanto.

-- Tudo bem! Já estou de olhos fechados.

-- Tem certeza?

-- Tenho, estou de olhos fechados.

-- Coloca as mãos sobre os olhos, só pra garantir.

Ouvi a sua risada.

-- Pronto!

Voltei ao quarto com os pacotes em mãos. Antes de me aproximar verifiquei se ela não estava de olhos abertos, tentando me enganar. Mas como ela havia dito, ela estava de olhos fechados e com as mãos sobre os olhos com um enorme sorriso nos lábios.

Aproximei-me da cama e fiquei de pé na frente de Giulia, deixando apenas uma pequena caixa retangular dentro de minha bolsa, ainda não era hora. Entregaria apenas no restaurante enquanto jantávamos.

-- Está demorando. Já posso abrir os olhos?

-- Pode, já pode abrir.

Giulia abriu os olhos e um enorme sorriso enfeitou seus delicados lábios. Em minhas mãos estavam uma caixa retangular na cor vermelha com detalhes em dourado, dentro dela estavam lindas tulipas vermelhas, a tampa da caixa era transparente, apenas as finas bordas tinham a mesma cor do restante da caixa. Em minha outra mão havia um pacote – era um vestido delicado, lindo, assim como ela.

-- Estive pensando em você o tempo inteiro, e mesmo que eu não tenha conseguido falar com você com a frequência que eu gostaria, não deixei de pensar em você nem um segundo sequer. – a timidez estava estampada na maneira que falei. – Pra você! – entreguei-lhe as tulipas e o pacote com o vestido.

Ela os pegou de minhas mãos com carinho.

-- São lindas!

-- Pode abrir o outro pacote. – disse ansiosa para saber se realmente ela gostaria da peça que eu escolhera.

Ela abriu e retirou o vestido o olhando com admiração.

-- Marina!

-- Quero que use está noite. Iremos a um lugar muito especial esta noite.

-- Marina ele é lindo.

-- Assim que o avistei na vitrine, foi como se estivesse vendo você bem a minha frente vestida nele. Combina com você.

-- Obrigada. – abraçou-me – Aonde irá me levar?

-- É surpresa!

-- Por isso está vestida assim?

-- Assim como? - perguntei olhando para as minhas roupas.

-- Você está linda Marina, além de incrivelmente sexy.

Giulia falou a última parte mordendo o cantinho da boca, e eu tive que me segurar para não estragar a noite, pois a minha vontade foi tirar toda a sua roupa a amá-la a noite inteira. Esquecer o mundo inteiro e me entregar a ela.

-- Quanto tempo temos antes de sair? – perguntou sem perceber o que me causara.

-- Mais ou menos uma hora e meia. – falei olhando para o relógio em meu pulso.

Diante de um olhar um pouco espantado, Giulia foi para o banho, não sem antes me convidar para acompanhá-la, o que neguei à grande custo. Era uma proposta tentadora e quase irresistível, mas eu ainda tinha planos, e não iria cair em tentação naquele momento, teríamos a noite inteirinha só para nós duas.

Assim que ouvi o barulho da água no banheiro, corri até a minha bolsa e dei uma última olhada na caixinha, sorri, a guardei na bolsa novamente e voltei para a sala.

Fiquei na sala ao lado esperando-a enquanto checava alguns e-mails em meu celular. E ela não demorou, logo ela apareceu para me deixar de boca aberta com tamanha beleza. Ela estava impressionantemente linda, mais do que o normal. O vestido ficou perfeito, parecia ter sido feito exclusivamente para ela. As palavras me faltavam naquele instante, não havia nada que eu dissesse que fosse capaz de descrever a imagem à minha frente. Jamais conheci ou conheceria pessoas que tivessem a capacidade de me desconcertar daquela maneira, somente ela, somente Giulia conseguia fazer meu mundo virar do avesso. Eu perdia a cabeça, meu foco era somente ela, as palavras eram sempre escassas, meu autocontrole quase nunca existia, minha razão era mínima. Sempre que estava perto dela as minhas ações eram orquestradas somente por meu coração, aquele que ficava cada vez mais louco pela mulher com cara de menina que me encarava com ar de dúvida.

Levantei deixando de lado meu celular, nenhum e-mail nenhum contrato prendia mais a minha atenção. Parei a sua frente e sem perceber desci meus olhos para seus lábios pintados de vermelho. Porém meu olhar não parou até admirar seu corpo por inteiro – com certeza eu teria problemas com olhares indesejados. Olhei em seus olhos e eles brilhavam intensamente. Giulia assumira uma postura tímida.

-- Gostou? – a primeira palavra foi dita, quebrando o silêncio.

-- Você está magnífica Giulia. Incrível como você sempre consegue ficar mais linda. Nossa!

-- Será que estou a sua altura?

-- Como assim? – estranhei a pergunta. – Você está linda, estou até revendo a minha roupa, acho que vou trocar. – brinquei.

-- De maneira nenhuma você precisa trocar de roupa, fiquei até sem ar quando lhe vestida assim.

-- Obrigada senhorita! – sorri – Então, podemos ir? – perguntei oferecendo meu braço.

-- Claro, podemos ir senhorita.

Logo ao chegarmos ao saguão do hotel percebi que realmente teria problemas com olhares nada discretos e inconvenientes para Giulia. Ela chamava atenção por onde passava, e isso estava me deixando levemente irritada.

Fred havia ido nos buscar, me cumprimentou sorridente como sempre. O tinha como um amigo, e não como um simples funcionário de meu pai. Saímos do hotel em um dos carros luxuosos que meu pai fazia questão de exibir pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Mesmo com as finanças consideravelmente reduzida, ele não perdia a pose, jamais se permitiria. Assim como minha mãe, meu pai amava tudo o que o dinheiro pudesse proporcionar. Luxo e poder, era o lema deles.

Levei Giulia ao um restaurante com vistas sobre Copacabana. O restaurante tinha um clima romântico, e tinha sido escolhido a dedo. A gastronomia francesa agradava o paladar de qualquer um, até mesmo daqueles que nunca haviam provado de tal culinária. Os pratos são assinados por um renomado chef, criador de doces irresistíveis. Reservei uma mesa um pouco mais reservada e com vista para a praia de Copacabana, que àquela hora estava belíssima com inúmeros reflexos de luzes.

Giulia elogiou o ambiente, disse que era belíssimo e muito requintado. Completou dizendo que jamais se imaginou em lugar como aquele. Parecia deslumbrada e um pouco comedida, tímida. Logo fizemos nossos pedidos.

Giulia olhava para a praia com um olhar bem distante, bem longe de onde realmente estávamos. Fiquei admirando-a, estudando cada traço, cada linha de seu rosto.

-- Ainda me parece tudo tão surreal! – falou sem me olhar.

-- O quê?

-- Você, eu, esse restaurante. Tenho medo de um dia acordar e me dar conta de que isso não passou de sonho, uma boba ilusão. – suspirou – Tenho medo.

-- Giulia? – a chamei e ela voltou a me olhar – Eu estou aqui, sou bem real, assim como os sentimentos que tenho aqui dentro – coloquei a mão sobre o peito – Nada do que tem aqui dentro é ilusão, é um sentimento puro. Não há motivo para ter medos.

-- Você é bem surreal Marina, nem nos meus melhores sonhos algo do tipo poderia acontecer.

-- O que me diz de esquecermos nossos medos, anseios e inseguranças e comemorarmos com um ótimo champanhe?

Giulia sorriu lindamente exibindo as covinhas que sempre me deixavam encantada.

-- Tudo bem. O que iremos comemorar?

-- Nós! – disse simplesmente.

Giulia concordou e eu chamei o garçom. Pedi que ele trouxesse um de seus melhores champanhes, ele sorriu e logo voltou com as taças e a garrafa em mãos. Agradeci e pedi para que o gentil garçom apenas deixasse a garrafa, eu mesma queria nos servir.

Servi primeiro a taça de Giulia e depois a minha. A olhei e ela tinha um pequeno sorriso nos lábios, a cada vez que eu a olhava mais eu tinha certeza de que me coração estava completamente certo, eu queria namorar com aquela mulher, eu a queria comigo, o que me faltava era apenas o momento, que diga-se de passagem eu já sabia qual era.

Ergui a taça e propus o brinde.

-- Um brinde a nós!

-- A nós Marina!

O tilintar das taças chamou a atenção de algumas pessoas à nossa volta, porém não me importei em nenhum momento, se o mundo queria ver a minha felicidade que assim fosse. Jamais me privaria de qualquer atitude por medo de ser julgada, isso não era de meu feitio, aliás, não era o feitio de nenhuma mulher que sabia bem o que queria.

-- Tenho mais uma coisa pra você. – falei assim que depositamos as taças sobre a mesa.

-- Mais uma?

Peguei a bolsa que estava de lado e retirei a caixinha retangular. A depositei sobre a mesa ainda fechada e comecei a falar sentindo um pequeno frio que desceu de minha nuca até o final de minhas costas.

-- Quando você usar, mesmo que eu esteja longe, estarei com você, bem pertinho de seu coração. Quando sentir saudade olhe pra ele e tenha a certeza de que também estarei com saudades, também estarei pensando em você. – terminei e empurrei a caixa na sua direção.

Giulia abriu a caixa e vi seus olhos encherem-se de água. Ela olhou-me de um jeito doce, muito meigo, aquecendo completamente meu coração.

-- Posso colocar?

-- Claro.

Levantei-me, peguei o delicado cordão banhado a ouro branco com um pequeno pingente de coração com pequenas pedrinhas brancas. Me posicionei atrás de sua cadeira e afastei delicadamente seus cabelos. Não resisti, acabei depositando um pequeno beijo em seu pescoço.

Giulia voltou a me agradecer e jantamos tranquilas, num clima de romance. Aquela nuvem negra que parecia pairar sobre os olhos dela havia sumido, agora eles exibiam apenas um grande e especial brilho.

Vez ou outra ela segurava o pequeno pingente entre os seus dedos e sorria.

Estava tudo perfeito, desde o ambiente tranquilo e incontestavelmente lindo até a divina comida.

Deixamos o restaurante já tarde da noite, Fred havia retornado para nos levar de volta ao hotel. No outro dia providenciaria um carro alugado, não me agradava a ideia de andar com motorista.

Durante todo o jantar desejei beijar os lábios de Giulia, e em certos momentos notei que seu olhar descia para meus lábios, ela também deseja me beijar. Quando entramos no carro e nos sentamos no banco detrás, pensei em beijá-la, mas sei que ela ficaria constrangida com a presença de Fred. Porém surpreendi-me quando ela recostou sua cabeça em meu ombro e suspirou baixinho, segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Virei o rosto para depositar um beijo em seus cabelos, porém ela acabou capturando meus lábios. Quando nos separamos olhei para Fred, sabia que ele tinha visto, mas fingia que nada tinha acontecido. Se não fosse o resquício do pequeno sorriso em seus lábios jamais perceberia tamanha descrição do homem ao volante.

Ao adentramos no quarto do hotel eu já não tinha mais calma, precisava dela. Tinha sede pelo corpo dela, já não me aguentava de saudades, queria sentí-la por inteiro.

Segurando em sua cintura a beijei com carinho, tentando deixar de lado a minha pressa, saboreando os lábios doces de minha menina. Nossos corpos tinham vontade própria, os beijos despertaram desejos. Roupas foram ficando espalhadas por todo o quarto, indícios e provas da verdadeira intenção de nossos corpos.

A amei a noite inteira sem nenhuma pressa, com a certeza de que a teria a noite inteira nos meus braços, e quando acordasse seria ela a primeira coisa que meus olhos encontrariam.

O sol já raiava quando enfim nossos corpos suados e saciados entregaram-se ao cansaço. Senti Giulia aconchegar-se ao meu corpo e relaxar, palavras ficaram presas em minha garganta, eu sabia que era o momento certo para falar, mas por outro lado eu sabia que ainda não era o momento certo para que ela as ouvisse. Sorri e falei somente pra mim, mentalmente para alimentar apenas minha alma. Beijei seus cabelos e percebi que ela havia adormecido.

Nesta noite acabei repassando em minha mente tudo desde o momento em que Giulia entrou em minha vida. Acabei adormecendo sentindo-me inundada por uma enorme felicidade.

 Meu sono foi repleto de sonhos bons, e todos eles uma linda moça me sorria feliz.

O dia tinha amanhecido preguiçoso pra mim, quer dizer, eu não tinha a mínima coragem nem intenção de levantar daquela cama. Tentei mover meu corpo e senti meu braço direito dormente. Olhei para o lado e vi Giulia que ainda dormia tranquilo, seu rosto era sereno. Passei a admirar cada pequeno traço daquele rosto com carinho, já nem sentia mais o pequeno incômodo de meu braço dormente.

Com cuidado, retirei algumas mechas de cabelo que caiam sobre seu rosto tentando não acordá-la.

De repente meu celular começou a tocar estridentemente, ecoando por todo o quarto. Sai de meu momento de admiração assustada, estiquei completamente meu corpo o mais rápido que pude na tentativa de alcançar o aparelho na pequena cômoda ao lado da cama para impedir que o toque insistente acordasse Giulia. Alcancei-o e voltei a encarar o rosto de Giulia, que apesar de ter se mexido e pronunciado algo que não consegui compreender ainda dormia.

Atendi deixando a pessoa na linha e só então me desvencilhei do corpo dela com cuidado indo atender o celular na sala ao lado.

-- Alô?

-- Porque me deixou esperando na linha?

-- Bom dia para você também Fernanda. – sorri – Desculpe, é que Giulia dormia ao meu lado, não queria acordá-la.

-- Nesse caso eu te perdôo, não tem problema. Eu não queria te ligar, é que aconteceram coisas por aqui que julguei serem estranhas. Acho que você precisa saber para se prevenir caso seja preciso.

-- Do que você está falando?

-- De Verônica, claro!

-- O que aconteceu desta vez?

-- Vou classificar para você. Ontem Verônica entrou em sua sala por diversas vezes, e após algum tempo saia novamente com uma cara que me pareceu no mínimo desconfiada. Também ontem, ela solicitou a ficha de Giulia lá no RH. E por último, mas não menos importante, ontem ela comprou passagem aérea em nome da JUMP para o Rio de Janeiro. Isso é muito esquisito não acha?

-- Ela está vindo para o Rio? – perguntei para confirmar se eu havia entendido certo.

-- Provavelmente ela já está em solo carioca.

-- Tinha alguma reunião ou algum outro assunto previsto para que ela precisasse vir até o Rio?

-- Sim.

-- E qual é?

-- Você está ai! Isso é motivo suficiente para que ela fosse parar aí, ela está indo atrás de você, isso é óbvio.

-- Não acredito que essa mulher esteja vindo atrás de mim. Não é possível! – sentei em uma das poltronas incrédula.

Eu não podia acreditar que aquela mulher estava vindo a outro Estado atrás de mim. Não dava para entender. Como ela podia ser assim? O que ela queria com isso?

-- Naquela cabeça louca tudo é possível meu bem.

-- Fernanda por favor, preciso que cheque para mim se Verônica fez reserva em algum hotel, qual foi e se ela comprou passagem de ida e volta. Toda informação que puder reunir será útil. Quero me manter o mais longe possível.

-- Pode deixar, tudo que eu descobrir eu lhe digo.

-- Preciso de outro favor.

-- Pode falar.

-- Tranque minha sala e fique com a chave. Ceda a chave somente quando ela lhe procurar e mesmo assim, só entregue quando achar necessário. Não quero ela entrando e saindo de minha sala a vontade.

-- Essa mulher não é de confiança Marina, toma cuidado com ela, fica bem atenta.

-- Tudo bem, pode deixar, tomarei cuidado. Obrigada por me avisar.

-- Não precisa me agradecer. E ah, eu quero saber como você se saiu naquela surpresa que você planejou com tanto afinco. Não me esconda nada ouviu?

-- Não irei esconder, quando a fizer lhe contarei tudo, afinal você me ajudou a preparar tudo.

-- Ok. Agora vou deixar você curtir a sua princesa ai.

--Tudo bem. Obrigada mais uma vez. Dá um beijo em João Pedro por mim, estou com saudades desse pequeno.

-- Aposto que ele também está com saudade de você, assim como eu estou. Se cuide viu? Não deixe de dar notícias.

-- Mando notícias. Se cuide!

-- Você também. Tchau.

-- Tchau.

Encerrei a ligação, mas permaneci sentada por mais algum tempo. Será que Verônica estava mesmo vindo atrás de mim? Não podia ser, aquilo era demais pra mim. Estava tudo tão tranquilo até o momento, ela havia me dado paz, não tinha mais me ligado ou mandado mensagens. E além disso sempre que a encontrava na agência ela não me dirigia a palavra. Por que isso agora? Suspirei pesadamente já sentindo uma pequena dor de cabeça.

-- Bom dia! – ouvi uma voz manhosa e sonolenta atrás de mim, logo em seguida senti braços me abraçando.

-- Bom dia meu anjo. - beijei seus lábios.

-- Algum problema?

-- Verônica está aqui no Rio. – falei e suspirei novamente.

-- O que disse? – perguntou parando à minha frente com os braços cruzados sobre o peito.

-- Fernanda me disse que ela veio pra cá, e segundo ela atrás de mim. Não havia nenhum motivo aparente para que ela deixasse a agência em minha ausência, é ela que está responsável pelo setor, nada justifica.

-- Com certeza ela veio atrás de você Marina! Será que ela não cansa? – perguntou em tom irritado.

-- Pode ser que estejamos enganadas, e que ela tenha vindo aqui por outro motivo. Talvez nem vejamos a cara dela enquanto estivermos aqui.

-- Isso seria perfeito! – falou passando as mãos sobre o rosto. – Eu sabia que ela estava quieta demais, ela estava aprontando.

O fato é que durante esse tempo em que Verônica havia “sumido” de minha vida de maneira tão impressionante, eu havia acreditado que finalmente ela havia entendido as coisas, e que por fim tudo estava resolvido, ela seguiria com a vida dela e eu com a minha. Eu quis muito acreditar nisso, mas minha razão por diversas vezes me alertou para o contrário.

Giulia não merecia alguém como Verônica entre nós duas, e era quase impossível não achar que tudo aquilo um dia a fizesse se cansar e simplesmente desistir de tudo. Era aceitável e até compreensível, uma situação como essa não era fácil para ninguém.

O medo e o receio às vezes me faziam cogitar não contar esses pequenos, mas incômodos detalhes. A repetição e a insistência cansaria qualquer pessoa, e claro, esse não era o meu desejo, não queria que isso afetasse Giulia de alguma maneira. Precisava reverter isso, encontrar uma maneira de pôr um ponto final de uma vez por todas.

-- Que tal um café? – essa foi a minha tentativa para desviar o foco da conversa.

-- Acho que a hora do café já passou, é bem provável que a essa hora estejam servindo almoço no restaurante do hotel.

-- Tem razão. Então o que acha de um banho? Podemos almoçar no restaurante do hotel mesmo, e depois podemos fazer mais uma visitinha a HR. Mas se preferir podemos ir a outro restaurante.

-- Aqui está ótimo. Mas será que dessa vez a senhorita aceitaria me acompanhar no banho? – perguntou parando à minha frente estendendo-me a mão.

-- Não passou por minha cabeça negar. – sorri aceitando a sua mão.

Nos amamos de todas as maneiras durante o banho. Mais um pouco e com certeza não almoçaríamos mais, pois as horas passaram praticamente voando. Já arrumadas acabamos mudando de ideia, optamos por um restaurante um pouco mais distante do hotel, mais aconchegante e de especialidade mineira.

Giulia adorou o restaurante e especialmente a comida, porém irritou-se com um homem da mesa ao lado. Segundo ela ele estava nitidamente babando por mim, não desviava nem por um segundo o olhar, e vez ou outra sorria para mim. Encarei como uma brincadeira, afinal nunca antes me envolvera com homens, e não seria justo agora que começaria. Até achei engraçada a sua carinha.

Meus olhos só eram capazes de enxergar uma única pessoa, e essa pessoa era ela, a mulher de olhos castanhos e misteriosos sentada à minha frente.

No meio do almoço meu celular começou a tocar em cima da mesa, pensei em não atender, mas atendi quando vi o nome de Fernanda no display.

-- Alguma notícia?

-- Descobri que...

De repente a ligação ficou muda, rapidamente retirei o celular do ouvido e constatei que o mesmo havia desligado.

-- Algum problema?

-- Nesse ritmo de viagem acabei esquecendo de carregar o meu celular. E agora ele descarregou...e justo na hora que Fernanda ia me passar algumas informações sobre essa vinda misteriosa de Verônica pra cá.

-- Pode usar o meu. – falou retirando o aparelho da pequena bolsa que trazia consigo.

-- Obrigada.

Ela sorriu em resposta. Disquei o número de Fernanda e o mesmo deu sinal de ocupado.

-- Está ocupado.

-- Preciso ir ao banheiro, enquanto isso você pode ficar com o meu celular, vai tentando falar com ela. Eu volto em um instante.

-- Tudo bem. 

-- Não demoro.

-- Eu espero! – falei sorrindo.

Giulia foi ao banheiro e deixou o seu celular comigo. Queria saber o que Fernanda havia descoberto, no entanto, fui interrompida quando o homem da mesa ao lado sentou à minha frente sem nenhum convite prévio.

-- Está acompanhada? – perguntou tentando manter um sorriso galante.

-- Sim, eu estou acompanhada, e por sinal, minha companhia acabou de levantar de onde o senhor agora está sentado, - falei um pouco séria.

-- Está acompanhada por uma mulher?

-- Sim, algum problema para o cavalheiro? – o olhei com os olhos semicerrados.

-- Não moça, nenhum problema. É que pensei que talvez quisesse se juntar à mim.

-- Muito obrigada pelo convite, mas como disse, estou acompanhada.

-- Se você quiser pode levar a sua amiga com você, não vou e importar, pelo contrário, vou adorar estar no meio de duas mulheres tão bonitas como vocês.

-- Eu não quero ser indelicada, mas será que o senhor poderia se retirar?

Olhei para o homem à minha frente sentindo raiva, de uma maneira que beirava à ira. Como ele ousa vir até a minha mesa falar uma coisa daquelas? Por qual motivo os homens fantasiavam tanto duas mulheres numa cama com eles? Senti nojo, repulsa! Ainda mais por ele falar daquela maneira referindo-se a Giulia. Meu corpo ficou tenso, minhas mãos fecharam-se chegando a doer, aquele sentimento não era algo comum, quase nunca sentia raiva como daquela maneira. Imaginar qualquer outra pessoa tocando em Giulia me tirava a razão.

Notando que o homem não fazia menção de se levantar voltei a convidá-lo para se retirar.

-- Saia por favor.

Ele me olho incrédulo, talvez compartilhando de raiva parecida com a minha diante do meu declínio ao seu convite. O homem bem vestido levantou-se bruscamente, quase derrubando a cadeira em que antes sentava-se.

Respirei fundo, tentei contar e pensar em qualquer outra coisa que não fosse o que acabara de acontecer. Fechei os olhos, e respirei fundo mais algumas vezes até sentir que meu coração aquietava-se no peito.

O celular de Giulia vibrou em cima da mesa, e o atendi sem olhar o visor por acreditar que era Fernanda que retornava a ligação.

-- Você me pediu um tempo para pensar, mas seu tempo esgotou-se, preciso preencher o cheque, e para isso quero saber qual a quantia que você quer para deixar a minha filha em paz.

A voz feminina disparou sem me dar a chance de ao menos pronunciar a palavra “alô”.

Não precisei de mais de dois segundos para que eu conseguisse reconhecer a voz do outro lado da linha, no entanto foi preciso muitos segundos para que eu processasse o que acabara de ouvir. Não conseguia acreditar no que ouvia.

Olhei para o visor do celular apenas para me certificar, e senti um aperto no peito ao reconhecer aquele número, desliguei sem pronunciar uma única palavra. Nem que eu quisesse conseguiria falar algo, aquele nó não me permitiria.  Meus olhos começaram a arder, lágrimas acumulavam-se sem que eu permitisse.

Como aquilo era possível? Como minha mãe tinha o número de Giulia?

Segundo o que acabara de ouvir, minha mãe estava oferecendo dinheiro para que Giulia saísse de minha vida. E segundo o que minha querida mãe falou, Giulia, havia ficado de dar uma resposta. Ela precisava mesmo de tempo para pensar? Ela tinha dúvidas sobre o que responder a minha mãe?

Minha cabeça fervilhava, não conseguia pensar em nada direito. Tudo o que formulava-se em minha cabeça girava em torno das palavras de minha mãe.  Era ela, eu tinha certeza disso, agora o que eu precisava saber era o que realmente estava acontecendo ali.

Uma lágrima ameaçou cair no momento em que vi Giulia caminhar sorridente em minha direção. Será que me enganei tanto assim? Não, não me enganei, ela tem uma explicação! – pensei comigo mesma.

-- Conseguiu falar com a Fernanda?

-- Não. – disse empurrando o celular de volta pra ela.

-- Liga de novo.

-- Falo com ela depois. Alguém ligou pra você. – falei olhando para o celular em suas mãos.

-- Quem? – perguntou com um olhar de confusão.

-- Dê uma olhadinha. – voltei a segurar outra lágrima que teimava em cair.

Seu olhar já não era mais de confusão, havia mudado para aflição. Ela olhou para o celular e quando viu o número me olhou já com lágrimas nos olhos, o nariz começando a ficar avermelhado. Ela ficou me olhando enquanto ainda segurava o aparelho entre as suas mãos.

-- Eu atendi...

-- Marina...

-- Vou pedir a conta. – falei lhe interrompendo sem lhe dar a chance de falar mais nada.

Pedi a conta e mantive-me em silêncio. Meus olhos não desviavam, fiquei olhando nos olhos de Giulia que nesse momento chorava silenciosamente a minha frente. A nuvem negra que na noite passada estava nítida em seu olhar agora estava ali novamente, eu podia ver. Ela se mantinha calada, mas seus olhos tentavam me dizer muita coisa dentro daquele silêncio.

A conta logo chegou, levantei-me depressa e fui em direção do estacionamento, Giulia vinha logo atrás de mim, e era audível os seus soluços. Ela nada dizia, apenas andava a alguns passos atrás de mim. Até preferi que ela não falasse nada naquele momento, eu precisava daquele silêncio momentâneo. E qualquer palavra que ela pronunciasse talvez fizesse com que eu desmoronasse na sua frente. Eu queria conversar, queria entender o que realmente estava acontecendo, eu precisava disso, e precisava cumprir o que prometemos quando dissemos que conversaríamos sempre antes de qualquer coisa.

No carro nenhuma palavra foi dita, seguimos em silêncio até o hotel. Meus olhos me traiam vez ou outra e eu acabava procurando o olhar dela, só que algo lá fora prendia a sua atenção, o olhar perdido vagava para fora da janela do meu carro. Podia ver as grossas lágrimas que rolavam por seu rosto, e sentia-me mal por vê-la daquela maneira.

Estava parada em um semáforo quando um soluço alto chamou minha atenção, olhei de soslaio para ela. Giulia segurava entre a mão direita o pingente que havia lhe dado na noite passada. Seu peito subia e descia freneticamente. O caminho foi longo.

Chegamos ao quarto e meu peito comprimiu, meu coração ficou pequenininho, o nó na garganta ameaçando voltar. Joguei-me em uma das poltronas sentindo meu corpo pesar. Giulia sentou na poltrona a minha frente.

-- Marina, não é nada disso que você está pensando. Eu não...

-- Eu só preciso que você me explique o que está acontecendo. – falei olhando em seus olhos. – Você e minha mãe estão mantendo contato?

-- Eu vou explicar tudo, tudo o que quiser e tudo o que for preciso, mas te peço que me ouça, que não me julgue antes.

-- Jamais faria isso sem lhe ouvir, não lhe julgarei. Só preciso que me conte, porque nada mais se encaixa.

-- Tudo bem. – ela suspirou e eu ajeitei-me na poltrona – Faz algum tempo que um número desconhecido vem me ligando de maneira insistente. Nenhuma das vezes cheguei a atender, apesar da curiosidade. Até havia dado uma pausa nessa insistência toda, mas quando cheguei ao Rio, a ligações voltaram a acontecer, eu estava decidida a não atender, no entanto por distração acabei atendendo. Não sabia de quem se tratava, porém logo se identificou como sua mãe, e nesse instante senti meu coração pular dentro do peito. Usando de um tom de ameaça ela pediu para que eu a encontrasse em um endereço que ela me passou, pediu para que eu não me atrevesse em não ir e muito menos falar com você. Fiquei sem saber o que fazer, uma hora pensava em ir, em outra o medo me acometia e já estava decidida a não ir. Acabei indo, no entanto me arrependo a cada instante. Ela me disse tantas coisas – ela chorava sem conseguir se conter. Ela disse que eu jamais seria uma mulher à sua altura, que eu não passava de uma garotinha pobre interessada em seu dinheiro, que você precisava de uma mulher de verdade ao seu lado. Me ofereceu dinheiro, a quantia que fosse para que eu lhe deixasse em paz. Eu me neguei, disse que não queria dinheiro nenhum, que eu não tinha interesse no seu dinheiro, e o que o que eu sentia por você era verdadeiro.

Giulia fez uma pausa diante de seus soluços, e eu sem conseguir me conter, acabei me levantando e indo até ela. Não disse nenhuma palavra, apenas a abracei. Era doloroso demais vê-la tão frágil e tão magoada daquela maneira.

-- Ela não se conformou com a minha resposta, disse que me queria longe, bem longe de você, e que se eu não aceitasse me distanciar de você, ela iria fazer de tudo para que você não fosse longe na loucura de ficar comigo. Eu sei que ela joga pesado, eu sei que ela é capaz de tudo para me separar de você, e eu não quero, não quero ficar longe de você, eu não posso...

Eu tinha consciência, eu sabia que minha mãe era realmente capaz de tudo aquilo que Giulia me falava. Minha mãe não era uma das melhores mães, me expulsou de casa por sentir-se contrariada. Afirmei com todas as palavras que eu jamais mudaria, que eu tinha nascido daquela maneira, enquanto ela jurou jamais aceitar a doença evidente da filha dela. No dia em que ela me expulsou de casa ela disse que usaria de todas as armas possíveis e impossíveis para me fazer desistir da loucura de me relacionar com mulheres.

Miriam era minha mãe, porém não era fácil entender que ela de maneira alguma sentia-se feliz por me ver feliz. Era dolorido saber que sua mãe lhe considerava uma doente que precisava de sérios tratamentos. Era duro ouvir a sua mãe dizer que preferia a sua morte.

Por ambição, imagem, egoísmo, egocentrismo e preconceito Miriam Amorim era capaz de tudo, nunca duvidei de sua capacidade desde o dia que ela me deu as costas me mandando ir embora de sua vida.

Sem sombra de dúvida, tudo o que Giulia foi obrigada a ouvir não foi fácil, minha mãe sabe ser amedrontadora quando é necessário, suas palavras nunca são medidas e muito menos suaves, pelo contrário, cada palavra que ela pronuncia é com o intuito de ferir e magoar. A cada novo encontro que tenho com ela mais me espanto. Se ela consegue atingir até a mim, que a conheço e sei da sua falta de limites, imagina o quanto ela atingiu e abalou Giulia, que é uma mulher doce e sensível. Não foi fácil.

Ainda me mantinha calada, tentando absorver e processar cada palavra.

-- Me perdoa Marina. Eu...eu jamais aceitaria dinheiro para ficar longe de você. Eu não quero dinheiro, não quero luxo...eu quero você.

Meu coração bateu acelerado ao ouvir aquilo. Eu sabia que Giulia não seria capaz de algo tão sórdido, eu sabia, reconhecia que ela sentia o mesmo que eu por ela. Quando ela estava entregue era sempre verdadeiro, quando seu coração batia descompassado junto ao meu era real.

-- Não precisa me pedir perdão meu anjo, eu que lhe peço perdão por ter feito você passar por isso. Não queria que isso tivesse acontecido, não com você. O seu coração não mente pra mim.

Giulia levantou-se fazendo-me levantar com ela, me abraçou apertado enquanto eu sentia suas lágrimas molharem meu ombro.

-- Eu acredito em você meu pequeno anjo. Minha mãe é covarde, ela não tinha o direito de fazer isso com você.

-- Ela vai tentar nos separar Marina. Ela jamais vai nos aceitar.

-- Miriam só irá conseguir se nós permitirmos, e eu não admito ficar sem você, nem por um segundo.

Ficamos abraçadas por um tempo em que não soubemos precisar. O coração de Giulia batia acelerado, seu choro ainda não havia cessado, suas mãos estavam excessivamente geladas. Me parecia muito abalada.

Tentei a todo custo acalmá-la, mas parecia que nada surtia efeito. A levei para a cama e a fiz descansar a cabeça em meu ombro enquanto eu passava meus braços por seus ombros a trazendo para perto de mim. Mas me assustei quando o corpo dela recostou-se ao meu e senti não só suas mãos gélidas, mas todo o corpo.

-- Você está bem princesa?

Ela balançou a cabeça em afirmativa, mas não me foi nada convincente. Ela não estava bem, ainda chorava silenciosamente e seu corpo não aquecia. Fiquei deveras preocupada.

Insisti um pouco até que consegui convencê-la a tomar um banho. Tirei sua roupa com toda delicadeza, admirando cada cantinho daquele corpo bronzeado. Tão meu! Depois do banho dei-lhe um calmante e a coloquei debaixo das cobertas. Não foi preciso muito tempo para que eu pudesse ouví-la ressonar.

-- Não vou deixar nada nos acontecer meu anjo. Me perdoe por não estar ao seu lado em um momento difícil, me perdoe por trazer tantos problemas para a sua vida. Mas a partir de agora eu estou do seu lado, e nada vai me tirar daqui. – sussurrei e beijei delicadamente os lábios rosados.

***

Com ameaças e dinheiro minha mãe tentou minar o que Giulia e eu tínhamos, mas o que ela não tinha conhecimento é que o efeito foi exatamente o contrário, ela nos uniu mais do que antes.

Além disso, a tentativa falha de minha mãe, me deixou mais alerta para o que ela podia fazer. Ignorei todo o tipo de tentativa de contato que minha mãe fez, eu não queria falar com ela. Minha mãe conseguia me decepcionar a todo instante, sempre uma decepção maior do que a outra, ela não cansava de me surpreender de uma maneira negativa.

Conversávamos sempre, sobre tudo e sobre nada, fazíamos questão de não deixar nenhuma brecha entre nós, nada que pudesse ser usado contra nós. Mesmo sem querer deixei ser atingida por minha mãe, estava sempre em constante vigilância, esperando que ela agisse a qualquer momento.

 

Verônica veio mesmo ao Rio, havia passado dois dias aqui, e para minha completa alegria e satisfação ela não tinha me procurado. Senti-me aliviada, não queria afetar Giulia outra vez.

Passado esse episódio, nos dedicamos integralmente e verdadeiramente em nosso trabalho. Pela manhã trabalhávamos, e a noite aproveitávamos a companhia uma da outra. Escolhia sempre lugares que pudessem surpreendê-la, que nos marcasse de alguma maneira. Conhecemos juntas, lugares lindos e incríveis, compartilhamos momentos especiais, que dividiam-se em bons momentos mas sem deixar os maus momentos de lado.

Nesse ritmo o tempo voou, já fazia mais de um mês que começamos com o trabalho e as viagens. Estávamos visitando a última filial, a do Estado da Bahia. Hoje era o nosso último dia no estado, e então retornaríamos para São Paulo, assim Giulia achava.

-- Cansada da rotina? – perguntei logo após chegarmos ao quarto depois de jantarmos.

-- Um pouco. – admitiu – Viajar de um lado para o outro não é tão fácil quanto parece. Ainda bem que você estava aqui comigo o tempo todo, tornou tudo bem melhor, com um sabor indescritível. – falou passando os braços por meu pescoço.

-- Eu digo o mesmo minha pequena, você tornou tudo mais fácil. – beijei seus lábios.

-- Estou tranquila, com a sensação de dever cumprido. Nos saímos muito bem não é mesmo?

-- Somos uma dupla infalível! – falei cheirando seu pescoço.

-- Hmm – suspirou quando mordi seu pescoço – Ainda bem que amanhã voltamos para casa.

-- Giulia?

-- Oi?

-- O que me diz de esticarmos um pouquinho mais essa nossa aventura?

-- Como assim? – me olhava confusa.

-- Que tal fazermos mais uma viagem?

-- Mais uma?

-- Essa é a última, eu prometo! Dessa vez nem iremos em um voo comercial, iremos em um jatinho particular.

-- Conte-me mais sobre os seus planos.

-- É surpresa, preciso apenas que me diga sim ou não.

-- Huuum. Deixe-me pensar um pouco. – falou colocando a mão no queixo enquanto fazia uma carinha divertida – Bom, se você for, eu vou para qualquer lugar.

-- Isso é um sim então?

-- Sim! – falou sorridente.

-- Então senhorita, arrume as suas malas, pois partiremos amanhã ao amanhecer.

Passamos o resto da noite arrumado as nossas malas. Eu estava cada vez mais ansiosa, com medo de que algo, algum detalhe fosse esquecido e algo desse errado. Mas não tinha como, eu havia planejado tudo nos mínimos detalhes. Daria tudo certo.

Mesmo Giulia reclamando lindamente de sono, partimos pela manhã bem cedinho. Ela dormiu boa parte do vôo, e eu apesar de sentir sono não conseguia relaxar. Queria ver a carinha dela quando descobrisse onde estávamos pousando. A olhava a todo instante, tentando imaginar a sua reação.

Pela parte da tarde pousamos no Aeroporto Internacional Pinto Martins. Suspirei fundo antes de acordá-la.

-- Acorda minha princesa. – beijei seu rosto.

-- Já chegamos? – perguntou ainda sonolenta.

-- Chegamos sim.

-- E onde estamos? – perguntou sorrindo em mais um de suas tentativas de me fazer falar para onde estávamos indo.

-- Venha ver você mesma.

Desembarcamos. Giulia olhava para os lados ainda sem reconhecer. Até que ela avistou uma edificação onde havia escrito o nome do aeroporto. Ela olhou para mim com os olhos levemente esbugalhados. A mão sobre a boca indicava a surpresa.

-- Eu não acredito Marina. – falou com lágrimas nos olhos.

-- Surpresa!

 

 

 

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 18 - Capítulo 18 - Marina - :
gleice
gleice

Em: 07/09/2015

Adorando a história, principalmente pela união das persornagens...lindo de se ler!!! 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web