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Amor acima de tudo por Little dream

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Palavras: 10538
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Capítulo 17 - Giulia -

- Giulia –

 

Os dias se passavam rapidamente, Marina e eu estávamos cada vez mais unidas, mais próximas e íntimas. Não tinha como não dizer que o que eu nutria por ela crescia cada vez mais. Me preenchia totalmente.

Com os dias passando-se rapidamente, mais se aproximava a data em que viajaríamos para cumprir a exigência do Senhor Henrique em nossa nova campanha publicitária. Sempre fui ansiosa, acho que essa era a palavra, não precisava de um bom motivo, viajar com Marina era motivo suficiente para que eu me tornasse uma pilha de nervos. A ansiedade era tamanha que todas as minhas coisas estavam prontas, as malas estavam prontas e separadas num canto do quarto.

Além do fato de ter de viajar sozinha com Marina, tinha o lance deste ser o meu primeiro grande trabalho. Era muita responsabilidade, e apesar de me sentir pronta e preparada, aquele receio era sempre inevitável. Porém, eu agarraria aquela oportunidade com unhas e dentes. Mostraria para quem quisesse ver que eu era capaz.

Todas as noites, sempre que eu deitava para dormir Marina invadia meus pensamentos sem pedir licença. Toda noite uma pergunta martelava em minha cabeça: “Porque ainda não aceitei um relacionamento sério com ela?”. Eu não tinha essa resposta, quer dizer, até tinha, mas não sabia como dá-la ainda. A minha vontade era de estar sempre com ela, eu me sentia tão bem, tão completa e feliz quando estava perto dela. Às vezes nem precisava estar perto, era só pensar nela que um sentimento bom me invadia de maneira ímpar. Eu não queria estar com outra pessoa que não fosse ela, eu não desejava outro beijo que não fossem os dela, eu não queria sentir outro cheiro que não fosse aquele tão característico dela, outro abraço que não fosse o dela, não seria tão gostoso e acolhedor, outro sorriso não me encantaria tanto se não fosse o dela. Eu só precisava dela! Não precisava mais pensar, eu a queria, eu queria um relacionamento com ela, e, não queria prazo de validade.

Marina era a pessoa mais carinhosa e atenciosa que eu já tivera o prazer de conhecer. Ela era tão doce e gentil! Amava ouvir a risada gostosa dela, fazia meu corpo inteiro vibrar. Todas as manhãs ela me acordava com uma mensagem carinhosa. Minha mesa de trabalho sempre tinha uma rosa ou uma flor. Ela adorava me levar para o Ibirapuera, sempre tomávamos um sorvete enquanto admirávamos a lua. Foram quase duas semanas, as mais incríveis da minha vida!

Vick e Marina se davam super bem, assim como eu me dava bem com Fernanda. Chegava a ser hilário como Vick e eu encontramos pessoas tão especiais e importantes ao mesmo tempo, como elas chegaram à nossas vidas nos fazendo bem. Até parecia mentira quando pensávamos no que tinha nos acontecido. Eu apaixonei-me pela minha chefe, a mesma pessoa para quem Vick sempre chamava minha atenção lembrando que nossos mundos eram bem diferentes e distantes. E Vick, estava interessada na melhor amiga da mulher que ela dizia ser inalcançável. Como o destino nos prega peças!

Desde minha primeira faculdade sonhava em trabalhar em uma agência como a JUMP que naquela época ainda estava crescendo e se firmando no mercado. Sempre admirei aquela mulher que com sagacidade conseguiu o sucesso ainda tão jovem. E quem poderia dizer que um dia eu estaria na JUMP e mais, necessariamente nos braços daquela incrível mulher.

-- Terra chamando Giulia. Olá. – disse Natália balançando as mãos à minha frente.

-- Oi. – disse saindo de meu mundo particular.

-- Está no mundo da lua não é?! Ou melhor, no mundo de...Marina. – sussurrou o nome dela e depois sorriu.

Sorri também. Natália havia se mostrado uma pessoa confiável. Há quem diga que uma semana e meia é pouquíssimo tempo para conhecer alguém, mas Natália era diferente, ela era transparente, não escondia nada, nem mesmo o fato de gostar de Alice. Isso mesmo! Natália nutria uma paixão por Alice, porém sempre fora segredo, nunca tivera coragem de contar isso a ela. Pois é, ela era tão transparente que eu havia percebido os olhares e suspiros vindos de Natália quando Alice estava no mesmo ambiente.

-- Estava pensando na forma como as coisas aconteceram, em como a minha vida mudou de umas semanas pra cá. Nunca imaginei que o que me aconteceu agora, fosse possível. – sorri bobamente – É meio que um sonho. Parece que eu tenho sonhado esse tempo todo. Como ela pode olhar pra mim?

-- Não seja modesta Giulia, você é linda e muita gente aqui já admitiu isso. Por falar nisso, até o babaca alí do Ramon. – disse apontando com o polegar – Já reparou que ele não para de olhar pra você?

-- Não, não percebi.

-- Ele te encara, fica igual uma estátua olhando pra você. Deixa só saberem disso que vai acabar em demissão por justa causa. – brincou.

-- Tocamos “neste” – fiz aspas no ar – assunto e me bateu uma saudadezinha.

-- Ain que fofo! – ela sorriu e logo depois o sorriso morreu em seu rosto.

-- O que houve Natália?

-- Queria ter coragem o suficiente...

Não precisou dizer mais nada, eu sabia do que ela estava falando. Alice!

-- Sabe o que eu penso sobre isso, você deveria se abrir logo com ela. Você mesma não me disse que pareceu rolar um clima bom entre vocês no dia do luau?

-- E rolou, quer dizer, eu acho que não estou ficando louca, se o idiota do meu querido amigo não tivesse nos interrompido, ela teria me beijado.

-- E então? Por qual motivo você ainda não contou pra ela que é apaixonada por ela?

-- Apesar de termos nos aproximado bastante, de estarmos conversando bem mais do que o normal e até almoçando juntas, ainda sinto que tem algo nos impedindo. Não sei, talvez seja apenas o meu medo. Medo de que as coisas mudem de vez, que ela volte a fugir de mim.

-- Você precisa fazer algo Natália, conversa direitinho com ela, não pode acontecer algo tão grave assim em contar pra ela. E se naquele luau ela quis lhe beijar, isso significa que as coisas não vão mudar, significa que ela também quer algo com você. Apenas converse, seja sincera com ela e com você mesma.

-- Tudo bem. Você tem razão, preciso conversar com ela.

-- E que dessa vez seja definitivo! Conte tudo.

-- Contarei, na primeira oportunidade contarei. Chega de segredos!

-- Isso mesmo.

Alice merecia ao menos saber dos sentimentos de Natália, chegava até a suspeitar que ela talvez ela soubesse dos sentimentos que ela nutria, mas assim como Natália tinha medo de algo. O que acontece é que as duas estavam deixando o tempo passar, não se permitindo viver algo por simples e puro medo. Eu queria fazer algo por elas.

Natália e eu voltamos ao trabalho, quer dizer, parte de mim havia voltado, porque a outra parte estava lá na sala de Marina. Estava morrendo de saudade dos beijos dela. Com um tempo tentando me concentrar no que estava fazendo na tela à minha frente, senti uma leve dor em meu pescoço, sentei ereta e espreguicei-me. Sem querer meu olhar foi na direção da mesa de Ramon. Ele estava me olhando, fixamente e inconvenientemente. Não sorria, não desviava a atenção, apenas me olhava. Senti um enorme incômodo. Ele não havia percebido o quanto eu estava incomodada e constrangida com aquilo? Natália tinha razão. Levantei e resolvi ir ao banheiro.

No meio do caminho de volta para a minha sala, a vontade de ir até a sala de Marina começou a falar mais alto. Olhei o relógio. Estava perto do horário do almoço. Cheguei bem perto e acabei desistindo, dando meia volta e indo na direção contrária. “Ai.Chega! Eu vou lá!Só uma passadinha rápida não vai ferir ninguém.”. Cheguei até a recepção da sala de Marina e encontrei Fernanda com uma cara estranha. Aproximei-me.

-- Aconteceu algo?

-- Ainda não, mas vai acontecer.

Estranhei o modo como ela falou, havia preocupação em sua voz, ela dividia o olhar, olhava em minha direção e às vezes olhava para a porta da sala de Marina.

-- Marina está na sala? Aconteceu algo com ela? – preocupei-me.

-- Está sim Giulia, e a mãe dela acabou de entrar. Tudo o que eu posso dizer é quando essa mulher sair daí, Marina vai precisar muito de você. Ela sempre a deixa mal, chorosa e magoada.

Instintivamente olhei para a porta. Ela já havia me contado um pouco sobre a sua mãe, sobre a frieza e falta de amor para com ela. Era até difícil de acreditar, como uma mãe poderia tratar uma filha da maneira ela tratava Marina. Era incompreensível! Como uma mãe tinha a capacidade de abandonar um filho a própria sorte? Marina não era merecedora de carinho e amor somente pelo fato de gostar de mulheres? Isso a tornava menos humana ou diminuía o seu caráter?

-- O que essa mulher veio fazer aqui? – perguntei assumindo o meu lado defensor.

-- Não sei, mas coisa boa é que não foi. Ela nunca procura Marina à toa, sempre existe um interesse por trás. Ai tem algo! Sem falar que sempre que essa mulher aparece deixa Marina completamente abalada.

Não era pra menos! Fernanda nem precisava me dizer isso, com o pouco que eu conhecia de Marina sabia que ela ficaria abalada com a visita da mãe que há algum tempo atrás lhe deu as costas. Abandono não era tragável para ninguém. O tempo que passei com ela foi suficiente pra conhecer o lado frágil dela quando o assunto era a sua família. Ela ainda guardava em seu peito lembranças e palavras que sempre que vinham à tona magoavam e machucavam. Não deve ter sido nada fácil enfrentar o mundo, completamente sozinha e ainda ter que manter a cabeça erguida, pronta pra se defender.

Fernanda eu ficamos atentas à porta, não conseguíamos para de encará-la. Eu estava aflita, com o coração na mão. A minha vontade era de entrar naquela sala e pedir educadamente para que aquela senhora se retirasse, porém eu não podia fazer isso, óbvio. Mesmo que tentasse esconder toda a tristeza e decepção era claro que Marina amava os pais.

As vozes dentro da sala já não eram mais baixas, ambas falavam um pouco mais alto, e na voz de Marina eu reconheci o ressentimento e a irritação.

-- Ela não é uma mulherzinha qualquer! Você não tem o mínimo de direito de falar dela. E se veio até aqui para me fazer qualquer tipo de julgamento ou crítica obrigada, mas não preciso, pode ir embora!

A única voz que era possível escutar perfeitamente era a de Marina. Fernanda e eu nos olhamos ao ouvir parte daquela conversa, e mesmo que meu nome não tenha sido citado naquela sala, eu tinha a impressão de que a referida “mulherzinha” era eu. Era um pressentimento, algo me dizia isso.

-- [...] e não é da parte dela, é da sua!

A minha preocupação aumentava cada vez mais, eu temia que ao entrar naquela sala depois que aquela mulher saísse e eu já não encontrasse mais aquele lindo sorriso e aquele olhar cheio de brilho dedicado a mim. Não entendia o teor da conversa, entretanto estava claro que os ânimos ali dentro estavam exaltados, e não importava o que estava realmente acontecendo, tudo o que eu sei é que eu estaria do lado de Marina, eu a acalentaria se fosse preciso, não largaria dela, faria de tudo para que ela ficasse bem outra vez.

Continuamos a encarar aquela porta, e alguns segundos depois ela abriu. Saiu daquela sala uma mulher fisicamente muito parecida com Marina, o tom de pele a cor dos cabelos, altura e olhos. Tudo muito parecido, mas não conseguia enxergar nada além do físico que lembrasse Marina, nada!

A mulher me encarou com desdém, parou a poucos metros de mim parecendo ter medo de se aproximar, mas apesar dessa falta de proximidade ela me encarou por algum tempo que eu não soube precisar. Ela tinha aquele mesmo olhar de Verônica, que parecia avaliar dos pés à cabeça. Se é que é possível, ela empinou ainda mais o nariz afilado, e retirou-se sem pronunciar nenhuma palavra. Senti-me incomodada com aquilo.

-- Vai lá! – Fernanda falou.

Não precisei  que Fernanda falasse outra vez, para fazer o que eu tinha vontade desde o momento em que soube que a mãe de Marina estava em sua sala. Abri a porta lentamente, estava dominada por um sentimento que me enchia de receio, preocupação e cuidado. Tinha receio de como ia encontrá-la, e tinha receio de não ser bem recebida, de não ser o momento certo para estar alí, porém eu tinha o desejo de cuidar dela, de estar com ela. Sei que seria um momento ruim, difícil pra ela.

No momento que entrei, ela me olhou. Seus olhos estavam levemente avermelhados, brilhavam, mas não era o seu brilho natural, eram as lágrimas que ela tentava segurar. Sua expressão era triste, não havia o habitual sorriso estampado em seus lábios. Senti-me mal por vê-la frágil e tão vulnerável daquela maneira, não parecia a minha Marina. A mulher forte, inteligente, sagaz, feliz e determinada, parecia uma menina desolada naquele momento, uma menina que precisava de colo e carinho.

Não pronunciei nenhuma palavra, seria vago, ela não precisava daquilo. Aproximei-me dela ficando ao seu lado. Ainda sentada ela passou os braços em volta de minha cintura e eu a abracei. Abracei apertado, tentando passar conforto a ela. Senti vontade de chorar quando ela começou a chorar. Não havia nada pior do que ver uma pessoa importante pra você sofrer e você não poder fazer nada. Queria que tudo o que ela sentia naquele momento passasse para mim, só pra não vê-la triste. Isso me doía.

Ficamos um tempo daquela maneira até o momento em que seu choro cessou. Ela parecia mais calma.

Com delicadeza - característica tão marcante dela - ela puxou-me para sentar em seu colo, o que eu fiz sem culpa. Marina olhou em meus olhos e sorriu fraco, a tristeza ainda estava estampada alí em seu rosto. O sorriso não era o mesmo.

-- Me desculpe por isso.

-- Por que está me pedindo desculpas?

-- Eu acho que acabei lhe arrastando para um turbilhão de problemas e situações complicadas. Indiretamente acabei te aproximando de pessoas ruins.

-- Está pensando em desistir de mim?

Ela olhou com uma expressão aflita, seus olhos voltaram a ficar úmidos. Arrependi-me de ter perguntado.

-- Claro que não Giulia, jamais desistiria de você. Não existe essa possibilidade, não há como. Só tenho medo de que você acabe desistindo da gente justamente por isso. – baixou o olhar ao terminar.

-- Marina? – a chamei levantando seu rosto – Eu também já não posso desistir de nós. Não vamos desistir.

Seu sorriso desta vez foi maior, lembrou-me aquele todo especial. Ela selou nossos lábios em um beijo delicado, cheio de ternura e afeto.

-- Você é a mulher mais incrível deste mundo! – disse sorrindo.

-- Acho que você está errada então. Não sou a mulher mais incrível do mundo, esse lugar é seu! – voltei a beijá-la.

Quando nossos lábios quebraram o contato eu tornei a abraçá-la apoiando meu queixo no alto de sua cabeça enquanto ela recostava-se em meu peito. Ela suspirou suavemente e apertou-me com mais força. Sorri sentindo o seu abraço e o cheiro que seus cabelos ruivos exalavam.

-- Almoça comigo? – perguntou ainda agarrada em meu corpo.

-- Claro! Só preciso pegar minha bolsa.

-- Tudo bem. Vou ao banheiro tentar me recompor e lhe espero no estacionamento. Certo?

-- Certo. – dei-lhe um selinho e levantei de seu colo – Até já já.

-- Até. – sorriu.

Sai da sala de Marina com o coração um pouco mais tranqüilo e contente. Seu estado emocional estava voltando ao normal, era ótimo vê-la sorrir, mesmo que ainda não fosse daquele jeitinho que eu amava.

Cheguei à recepção e encontrei com Fernanda. Ela me encarava provavelmente apreensiva, curiosa pra saber como Marina estava. Eu não torturaria, contaria a ela. Sorri timidamente, como um sinal de que as coisas não estavam tão mal assim. Fui em sua direção.

-- Como ela está? – perguntou assim que cheguei em frente de sua mesa.

-- Um pouco abatida, mas já está sorrindo. Vamos sair pra almoçar agora, vou tentar animá-la mais um pouco, fazê-la esquecer tudo o que foi dito dentro daquela sala agora há pouco.

-- Faz bem! – sorriu – Acho que Marina teve sorte ao conhecer uma mulher como você Giulia. Digo isso de coração porque sei que ela encontrou uma mulher capaz de cuidar e de zelar por ela, que se preocupa e faz qualquer coisa por ela. Eu vejo em seus olhos muito mais do que você acha que sente por ela.

-- Como assim? – perguntei sem entender bem o que suas palavras queriam dizer.

-- Com o tempo você vai saber Giulia, o tempo vai te trazer essa resposta.

-- Não gosto quando você fica enigmática assim. – brinquei.

-- Posso lhe dar uma dica. – sorriu.

-- E qual seria a dica que a senhorita teria para me dar? – perguntei entrando na onda.

-- Abra a sua mente e o seu coração.

Abri a boca com a intenção de perguntar algo a mais, porém ela acabou me interrompendo.

-- Já dei a dica, não posso falar mais nada, o resto é você que tem que se dar conta. Não é difícil, afinal até os meninos já perceberam.

-- Mas o que...

-- Vai acabar se atrasando para o seu almoço Giulia. – voltou a sorrir.

Ela estava amando me provocar. Fernanda tinha esses momentos enigmáticos, mas ela nunca se aprofundava no assunto, gostava de deixar a gente com essa pulguinha atrás da orelha. Ela adorava fazer isso comigo por saber da minha enorme curiosidade.

-- Isso não vai ficar assim. – falei apontando com dois dedos dos meus olhos para ela.

Dei as costas e sai em direção ao elevador, porém ainda pude ouvir o som da gargalhada de Fernanda. Como ela gostava de me torturar com essa minha curiosidade. Ah eu ainda ia dar o troco. Oh se ia!

O elevador parou no andar de minha sala. Sai completamente distraída, meu pensamento circulava basicamente em uma única pessoa: Marina. Pensava no que Fernanda havia me dito, sobre ver em meus olhos mais do que eu pensava sentir por Marina. Além disso pensava no emocional dela, tentava imaginar o que aquela mulher poderia ter dito pra deixá-la daquela maneira. Mas segundo Fernanda, bastava ela aparecer para deixá-la abatida.

Entrei na enorme sala sem me dar conta da hora. A sala estava vazia, não havia mais ninguém ali, nem mesmo Natália. Cheguei a minha mesa e sentei-me para pegar alguns objetos que estavam na gaveta. Distrai-me na procura desses objetos e não vi quando uma pessoa aproximou-se de mim.

-- Não vai almoçar?

Dei um pequeno salto e sufoquei o grito que veio até minha garganta. Meu corpo chegou a tremer, senti um leve calafrio e uma sensação estranha.

-- Que susto Ramon! – disse virando a cadeira e olhando para o homem parado atrás de mim.

-- Não quis lhe assustar linda. Desculpe.

-- Tudo bem. – disse voltando minha atenção para a bolsa em cima de minha mesa a procura de meu celular.

-- Não vai almoçar?

-- Estou saindo agora, vim só pegar a minha bolsa.

-- Não quer almoçar comigo?

Gelei ao sentir as mãos firmes de Ramon tocando meus ombros com intimidade. Senti-me incomodada. Levantei depressa de minha cadeira tentando quebrar o contato.

-- Ah desculpa, é que eu já tenho compromisso.

-- Já vai?

-- Sim, já estou indo.

-- Espera um minuto quero falar com você. Nunca conversamos direito, sempre um “oi” ou um “tchau”. Que tal um jantar comigo? – falou segurando meu braço.

O nervosismo tomava conta de mim. Eu tinha pressa, me sentia incomodada, me sentia acuada, presa. Queria sair dali, queria correr dali. O olhar que ele me lançava me assustava.

-- Ramon...

-- Não seja dura comigo, vamos nos conhecer melhor. Eu sou um cara legal.

Ela me olhava de maneira diferente, um olhar descarado e ousado. Olhava para o meu corpo sem pudor. Seu olhar se fixou em meus lábios, e eu os mordi por instinto, como se aquilo fosse fazê-lo parar de olhar daquela maneira. Havia ficado claro naquele momento que Ramon tinha outras intenções comigo, não sabia quais eram exatamente as daquele momento, mas sabia que Natália tinha razão sobre o que falou de Ramon hoje mais cedo.

-- Olha Ramon, desculpe, mas eu preciso mesmo ir. – falei tentando me afastar mesmo ele segurando meu braço.

-- Calma...

-- Algum problema por aqui?

Aquela voz invadiu a enorme sala fazendo meu coração palpitar e de repente se acalmar. Era Marina. Sua voz pareceu mais firme e mais dura. Olhei em sua direção, ela permanecia na porta, olhava para a mão de Ramon que ainda permanecia segurando meu braço. Minha voz havia sumido. Não consegui respondê-la.

-- Não senhora, só estava conversando com a Giulia. – disse como se nada tivesse acontecido.

-- Creio que para isso não precisamos de contato físico não é mesmo Ramon?

A feição de Marina mudou repentinamente, ela parecia estar irritada, com raiva ou algo parecido. Acho que nunca tinha visto aquele olhar, ela estava o desafiando com o olhar, e eu parecia nem estar presente naquela sala. Os dois travavam uma batalha com os olhos.

-- Não.

Ramon soltou meu braço, mas ainda continuou encarando Marina. Eu podia sentir a tensão ali dentro, e não queria ver onde aquilo iria dar. Peguei minha bolsa e fui até Marina.

-- Vamos. – falei tocando seu braço.

Marina olhou pra mim e no mesmo instante a sua postura e seu olhar mudaram. Estava de volta, bem alí estampado em seu rosto aquele olhar doce.

-- Vamos. – falou suave.

Saímos daquela sala caladas, caminhando lado a lado. Marina ainda me parecia tensa, como se estivesse pronta para se defender de algo que pudesse atacá-la desprevenida.

Entramos no elevador e só então ela tornou a olhar pra mim.

-- Está tudo bem meu anjo? – perguntou tocando meu rosto.

Derretia-me por inteiro quando ela me tratava dessa maneira, com apelidos carinhosos. Ainda não a chamava dessa maneira, acho que por timidez, não sei explicar, mas ainda não me sentia pronta pra falar tão abertamente assim sendo tudo tão novo pra mim. A primeira vez foi fácil, mas agora nem tanto assim.

-- Tudo bem sim, não foi nada. – a abracei aconchegando-me em seus braços.

-- Ele está interessado em você Giulia.

Senti seu corpo ficar tenso de novo. Peguei em sua mão tentando acalmá-la.

-- O que importa é que estou interessada apenas em você Marina.

-- É muito bom saber disso! – seu corpo voltou a relaxar – Mas não se trata apenas disso, eu confio no que sente por mim, mas não consigo confiar nele. Não quero que fique perto dele.

-- E eu não ficarei. Não se preocupe com isso, esqueça o que aconteceu agora pouco sim?

-- Tudo bem.

Nos separamos quando o elevador abriu suas portas. Nos direcionamos até o carro de Marina e saímos do estacionamento. Íamos ao Veneza, adorava almoçar por lá, só não me agradava o fato de lá ter sempre muita gente da JUMP, e isso ocasionava alguns olhares e cochichos quando Marina e eu entrávamos juntas no restaurante. Não me incomodava a ideia de que algumas pessoas me recriminassem por cogitar que eu era homossexual e que provavelmente teria um caso com Marina, o que me incomodava de verdade eram as especulações sobre minha capacidade. Isso estava sendo colocada à prova, afinal muita gente diria que eu estava sendo privilegiada.

Entramos e fomos para o piso superior, para a nossa mesa cativa. Era o melhor lugar, tínhamos a visão de todo o restaurante, quem entrava e quem saia. Lá do alto pude ver Natália e Alice sentadas em uma mesa. Pareciam estar em uma conversa muito agradável e divertida, as duas sorriam. Sorri junto, queria que as duas se dessem bem, se acertassem de uma vez.

Marina e eu fizemos nossos pedidos, não demoraram a chegar, mas notei que ela quase não havia tocado em sua comida, apenas mexia de um lado para o outro no prato.

-- Está sem fome?

-- Estou sem apetite, não sinto nem um pouquinho de fome. – disse largando os talheres de lado.

-- Coma só um pouquinho.

-- Acho que não vai descer nada Giulia, minha garganta parece estar fechada, tem um nó.

-- Tudo bem, eu peço alguma coisa pra você comer mais tarde.

-- Obrigada. – sorriu.

-- Quer conversar?

-- Acho que agora não, preciso pensar um pouco, colocar as ideias no lugar. Está tudo meio louco aqui dentro. – disse apontando para a cabeça.

-- Quando estiver pronta eu estarei aqui. – falei pegando a sua mão em cima da mesa.

-- Obrigada por estar comigo.

-- Jamais terá que me agradecer por isso Marina! Não é por obrigação, apenas sinto necessidade de estar com você. Quero estar com você o tempo todo, quero seus beijos o tempo todo, quero seus abraços ou apenas te olhar.

Meu coração palpitou, senti necessidade de falar mais do que aquilo que eu falava, mas não sabia ao certo quais eram as palavras que minha boca queria pronunciar. Pensei no que Fernanda havia me dito antes de sair da agência, mas ainda não conseguia compreender, eu tinha que pensar.

A olhei e vi que seus olhos estavam marejados.

-- Tão pouco tempo e você já é tão importante pra mim.

Ficamos nos olhando em silêncio, a minha vontade era de ultrapassar aquele limite que a mesa nos impunha. Separando-nos. Queria seus lábios nos meus, queria dar colo e carinho a ela, mas naquele momento me contive.

-- Está preparada para dar início as nossas viagens?

-- Estou um pouco nervosa Marina, com medo de fazer algo errado nessa campanha. Mas ao mesmo tempo estou contando os minutos para pegarmos o primeiro avião.

-- Falando com os olhos de uma publicitária, sinceramente, eu não vejo motivos para se preocupar com isso. Você tem talento Giulia, você é muito talentosa. Lhe chamei justamente porque eu sei do que você é capaz, vi prova disso no seu portfólio. Aposto todas as minhas fichas em você.

-- Isso me deixa mais nervosa. Saber que você aposta tanto assim em mim me deixa mais receosa quanto a erros. E se eu lhe decepcionar?

-- Não fique! De qualquer maneira eu estarei lá com você, estarei ao seu lado para o que precisar. E eu sei, sinto que você não irá me decepcionar.

Suspirei.

-- Tudo bem.

-- Não pense nisso, apenas coloque na sua cabeça que você é capaz.

-- Prometo que não irei lhe decepcionar.

Ela sorriu lindamente.

-- Iremos nos divertir bastante nesta jornada. Estou me sentindo lisonjeada por ter você comigo.

-- Eu que me sinto lisonjeada. E, que tal comer um pouquinho agora?

-- Não vai desistir de tentar me fazer comer não é? – perguntou sorrindo.

Balancei a cabeça em negativa.

-- Só um pouquinho vai. Se preferir eu peço pra preparar algo e você pode até comer lá na agência, mas não fica sem comer.

-- Até que tá com uma cara bonitinha não é? – perguntou olhando para o seu prato.

-- Unhum!

Sorri ao vê-la levar o talher à boca. Ela começou a comer, no início até me senti desconfortável por achar que ela estava comendo somente por minha causa. Mas depois pensei que era para o bem dela, ela não podia ficar sem comer.

Quando ela terminou, sorri quase satisfeita. Ainda consegui convencê-la de comer uma sobremesa.

-- Estou satisfeita!

-- E eu mais ainda agora que você se alimentou.

-- Sabe o que estou com vontade de comer há dias?

-- O quê?

-- Sua torta de prestígio. – sua carinha foi engraçada, como se pensasse na torta.

-- Posso fazê-la hoje se quiser.

-- Sério?

-- Claro!

-- Não vou negar, eu aceito a sua proposta.

-- Quer ir lá pra casa então? Eu faço um jantar pra gente e de sobremesa eu faço a torta.

-- Não quero abusar de você meu anjo.

-- Não será abuso nenhum! Podemos fazer assim: quando sairmos da agência você passa em casa e depois vai para a minha, eu já vou ter começado o jantar. Se quiser chamar a Fernanda também...

-- Combinado então.

Ocupamos por mais algum tempo aquela mesa enquanto conversávamos sobre os mais diversos assuntos. Fiquei contente por ver que a alegria e o entusiasmo contagiavam Marina novamente. Ela sorria mais, conversava mais e eu já não conseguia ver a sombra de tristeza em seu olhar.

Senti-me bem por saber que de alguma forma eu consegui fazer com que pelo menos ela esquecesse a visita da mãe. Não era falta de modéstia, foi só uma observação. Não sei de que maneira, mas eu tinha conseguido animá-la.

Tê-la convidado para ir à minha casa a noite digamos que foi algo pensado, seria bom ocupar a mente dela, se ela estivesse comigo e ouvindo as piadas bobas de Vick aposto que não lembraria de quem esteve em seu escritório hoje. Mas claro, o convite não foi apenas por este motivo, eu adorava a companhia dela, e não perderia a oportunidade de ficar um tempo a mais.

Há um tempinho atrás eu havia descoberto que amava cozinhar, sempre cozinhei para Vick e para mim, mas cozinhar para Marina era melhor ainda, tinha um “gostinho” mais especial. Vê-la sorrir ao experimentar uma comida que eu tenha feito era gratificante.

Sem sombra de dúvidas seria uma noite agradável.

Saímos do restaurante faltava pouco tempo para o início do segundo expediente. Assim que entramos no estacionamento da JUMP avistamos Verônica saindo de seu carro. Ela nos viu, mas pareceu fingir que não tinha visto. Verônica já tinha nos visto algumas vezes juntas, porém sempre fingia não nos ver. Ela estava bem quieta. As ligações para Marina haviam cessado. As mensagens também já não insistiam mais e as entradas rompantes em sua sala também haviam parado.

Era tudo muito estranho. Verônica ter esquecido Marina de uma hora para outra, era muito estranho. Não conseguia não me manter em vigilância com ela. Não dava pra entender como uma pessoa tão possessiva deixava alguém de lado de uma hora para outra. Parece coisa de filme, quando o vilão fica quieto demais é porque ele está aprontando algo. Essa ideia estava fixa em minha cabeça.

Marina e eu nos separamos e fomos cada uma para a sua sala, não sem antes trocarmos um pequeno beijo no elevador. Era incansável.

Assim que pus os pés em minha sala olhei para os lados a procura de Ramon. Senti-me aliviada por não vê-lo em sua mesa. Preferi guardar para mim o que havia acontecido, não queria falar daquilo para ninguém, até evitei esse assunto com Marina durante o almoço, primeiro porque não queria vê-la tensa como ela ficou quando viu Ramon me segurando, e segundo porque ela havia sofrido emoções demais para um único dia. Sua mãe com certeza tinha esgotado a cota equivalente por um dia inteiro.

Sentei em minha cadeira, respirei fundo e mergulhei em mais um projeto. Esvaziei a mente e dediquei-me somente a tela do computador à minha frente.

Como de costume precisei ser retirada de meu mundo ao final do expediente. Natália tocou o meu ombro chamando a minha atenção.

-- Você gosta mesmo de trabalhar aqui não é?

Sorri em resposta.

-- Amo!

-- Eu sei bem quem você ama viu dona Giulia!

Sorrimos juntas. Organizamos nossos pertences, desligamos os computadores e saímos da sala. Ainda bem que Natália havia me esperado, não queria ter ficado sozinha e talvez encontrar novamente com Ramon, que por estranho que pareça não havia retornado do almoço.

Quando chegamos ao estacionamento foi inevitável não sorrir, a primeira visão que tive quando o elevador abriu a porta foi Marina recostada em seu carro. Parecia distraída, com a cabeça baixa, mas pareceu sentir minha presença e logo olhou em minha direção. Sorrindo!

-- Deixa eu ir que não quero atrapalhar nada. – falou em tom de brincadeira Natália.

-- Não vai querer carona? – perguntei sem desgrudar os olhos de Marina enquanto nos aproximávamos.

-- Já tenho carona hoje.

-- Você me trocou! – falei em tom de mágoa.

Olhei para Natália e vi um enorme sorriso em seu rosto. Havia notado que depois do almoço ela estava mais sorridente, mais alegre do que o normal. Natália olhou-me sugestivamente, e no mesmo instante entendi quem tinha lhe oferecido carona.

-- Mentira! – parei no meio do caminho.

-- Resolvi seguir o que me disse, deixei ela saber...

-- Natália! – a abracei – Espero que dê tudo certo pra vocês, eu torço muito por isso.

-- Obrigada. – suas bochechas estavam rosadas denunciando-a – Amanhã te conto direitinho como as coisas estão acontecendo. Te mantenho informada.

Despedimos-nos, e só então voltei a andar, Natália foi em direção contrária a minha, ainda a vi entrando no carro de Alice. Sorri contente. Estava tudo conspirando em torno da felicidade.

Ainda sorri quando finalmente parei na frente de Marina.

-- Elas se acertaram?

-- Tenho certeza de que isso não demorará para acontecer.

Marina olhou em meus olhos, nos seus lábios nasceu um sorriso de lado, eu sabia o que aquilo significava.

-- Não! Aqui não Marina, qualquer pessoa pode nos ver.

-- Só um! – fez cara de pidona.

-- Não.

-- Só umzinho. – falou aproximando-se de mim com os braços estendidos prontos para fixarem-se em minha cintura. Desviei-me para o lado.

-- Daqui a pouco vamos nos ver, ai eu dou quantos você quiser.

-- Mas eu estou com saudades.

-- Eu também estou – sorri e revirei os olhos ao mesmo tempo – Tá, entra no carro vai. – falei vencida.

Ela só faltou pular quando pedi para que entrasse no carro, ela sabia o que significava, sabia que eu tinha cedido ao seu pedido. Eu também estava com saudade dos lábios dela, também queria um beijo dela mesmo que faltasse pouco tempo para nos vermos novamente em minha casa. A minha vontade da Marina, era quase incontrolável.

Marina entrou e acomodou-se ao volante, eu entrei logo atrás fechando a porta, ela sorria dentro do carro, e foi impossível não sorrir em resposta. Como aquela mulher era linda! Ela conseguia me fascinar cada vez mais e mais. Eu conseguiria desenhar e recordar cada detalhe do seu rosto perfeito. Cada sorriso e cada olhar que ela me lançava, não importava o momento, sempre conseguia me balançar. Me deixava feliz, me deixava boba e cada vez mais apaixonada por ela.

Tomei a atitude de beijá-la. Ela ainda sorria quando nossos lábios encontraram-se. Mesmo com o pequeno susto, ela correspondeu. Nosso beijo foi suave, foi calmo, passando toda a paixão e carinho que sentíamos uma pela a outra. Beijar Marina sempre me deixava nervosa, eu sentia uma emoção tão grande que ainda não sabia com o que podia comparar, ou melhor, se tinha como comparar a qualquer outra sensação ou emoção que experimentei em minha vida. Era algo tão sublime que tinha a certeza que jamais me cansaria.

Ficamos no carro por mais algum tempo. Estávamos agindo como se não fossemos nos ver mais hoje, era como se quiséssemos sanar uma saudade futura. Voltei a falar que estaria esperando-a em meu apartamento, e só então conseguimos nos separar. Ela disse que havia convidado Fernanda e ela tinha aceitado o convite.

Despedimos-nos com mais alguns beijos. Marina esperou que eu saísse do estacionamento e saiu logo atrás. Assim que ganhei as ruas liguei o som do carro e passei a cantar a música que invadia o ambiente. Um sorriso teimoso estampava meu rosto. O cheiro de Marina estava em mim, o gosto dos lábios dela ainda estava nos meus. Eu estava tão feliz que faltava bem pouco para que eu voasse. Nunca em toda a minha vida havia me sentido tão completa assim. Eu poderia fazer uma lista com as 10 melhores coisas que me aconteceram, o nome de Marina sempre ocuparia o primeiro lugar!

Passei no supermercado e comprei algumas coisas para o jantar. Comprei tudo apressadamente, queria chegar a casa o quanto antes, preparar tudo para no final me sobrar mais tempo para aproveitar com Marina, Vick e Fernanda. Era sempre um grande acontecimento quando nos reuníamos lá em casa.

Estava saindo do supermercado com as mãos completamente ocupadas com sacolas. Senti meu celular vibrar dentro da bolsa, porém não me importei, não faria o esforço de atendê-lo naquele momento. Deixaria para atender em outro momento. Poderia retornar se fosse o caso. Guardei as numerosas sacolas no porta malas, voltei a ligar o som do carro e sai do estacionamento coberto em direção a minha casa.

Fui recebida por Mel que balançava a cauda contente. Enquanto guardava as compras na cozinha vi Vick passar pela sala vestida apenas de roupas íntimas.

-- Ta querendo impressionar alguém com essas vestes? – perguntei chegando à sala.

-- Giulia porque não me avisou que a Fernanda vinha jantar aqui em casa hoje? – perguntou enquanto procurava algo em cima do sofá.

-- Eu pensei que ela fosse lhe avisar.

-- E ela avisou, e isso tem 10 minutos. Acabei de chegar do trabalho e agora estou correndo pra tentar ficar pronta antes de ela chegar aqui.

Vick andava de um lado para o outro, procurava embaixo das almofadas do sofá, embaixo do sofá, olhava nervosamente par os lados.

-- O que você está procurando?

-- A droga do meu celular.

-- Está aqui. – disse pegando de cima da mesa de centro e entregando a ela.

-- Obrigada.

-- Vai lá se arrumar, dá tempo. Eu vou começar o jantar eu vou tomar um banho também. Acalma-se!

-- Tudo bem. Vou lá.

Balancei a cabeça negativamente enquanto via Vick sumir no corredor. Ela sempre ficava nervosa com a visita de Fernanda. Preocupava-se sempre em causar uma boa impressão.

Vick acabou me fazendo lembrar de meu celular. Fui até a minha bolsa e o peguei para dar uma checada, queria saber quem estava me ligando na hora em que saí do supermercado. Havia cinco ligações em meu celular, quatro delas de um número desconhecido, e a outra era de Vanessa. Estranhei. Normalmente eu não recebia muitas ligações de números desconhecidos. E aquele número tinha um DDD diferente, era do Rio de Janeiro.

Deixei o celular de lado, depois retornaria para aquele número estranho. Fui para a cozinha e comecei a preparar o jantar. Decidi preparar um dos pratos que descobrira ser um dos favoritos de Marina, risotto de camarão. Algumas vezes Fernanda e eu havíamos conversado sobre Marina e Vick, eu falava dos costumes, gostos e manias da minha amiga, e Fernanda da sua amiga.

O jantar estava quase pronto, a torta já estava na geladeira. Olhei para o relógio na parede da cozinha e espantei-me com o adiantar das horas. O relógio marcava mais de 20h30, nem Marina e nem Fernanda haviam chego ainda. Apressei-me e corri para o banheiro.

Durante o meio do banho ouvi a campainha soar. Eram elas! Só podia ser elas. Apressei-me ainda mais. Terminei meu banho, escolhi uma roupa confortável e apresentável. Sequei os cabelos e os amarrei em um rabo de cavalo. Passei perfume em lugares estratégicos, eu sabia que Marina apreciava a fragrância dele. Olhei no espelho e optei por uma maquiagem leve.

Cheguei à sala e encontrei as três conversando animadamente. Sempre que avistava Marina sentia meu coração palpitar, e sempre ficava surpresa com o tamanho da beleza dela. O sorriso dela era tão estonteante. Deixava-me sempre fascinada, completamente fascinada e encantada.

-- Boa noite!  - disse cumprimentando as três.

-- Boa noite. – as três responderam juntas.

-- Desculpa pela demora no banho. – falei olhando diretamente para ela.

Marina levantou-se, dando a volta no sofá. Suas mãos pousaram suavemente em minha cintura, e depois selou nossos lábios em um selinho delicado, sem importar-se com a presença Vick e Fernanda.

-- Você não demorou. – falou sorridente.

-- Podemos jantar? Estou com fome.

-- Sim Vick, podemos! – respondi sorrindo.

Servi o jantar e nos sentamos à mesa. Fernanda ao lado de Vick e eu ao lado de Marina. Nossas mãos sempre se encontravam debaixo da mesa em um carinho suave, as meninas às vezes perdiam-se em olhares. Jantamos em um clima ameno, familiar e totalmente pacífico.

Vi Marina praticamente rolar os olhos ao colocar em sua boca uma pequena colher da torta prestígio. Sorri com isso e a ouvi tecer elogios sobre meu dom culinário me fazendo corar instantaneamente.

Após a sobremesa Vick disse que se encarregava de arrumar a cozinha, e eu fiquei responsável pela louça. Apesar de envergonhada – era palpável o constrangimento dela – Vick convidou Nanda para ir até o seu quarto. Marina e eu sorrimos cúmplices.

-- Ela podia pelo menos ter disfarçado. – disse enquanto lavava a louça.

-- Deixa ela. Sabe de uma coisa?

-- O quê?

Perguntei voltando minha atenção para Marina, ela estava sentada na bancada atrás de mim, parecia concentrada enquanto brincava com os próprios dedos.

-- Estou feliz pela Fernanda, Vick está fazendo muito bem a ela, muito bem mesmo, ela está sorrindo mais, com um ótimo humor. Ela está como há muito tempo eu não vejo, Nanda passou por muita coisa, e conheceu muita gente que nunca a mereceu.

-- Vick também está muito feliz, e assim como a Nanda, ela passou por muita coisa, e principalmente, já sofreu muito por amor, tem o carma de se apaixonar sempre pelas pessoas erradas, mas dessa vez tudo indica que vai ser diferente, elas se dão bem, os olhares delas são sempre intensos. Até acho que elas foram feitas uma para a outra, o ponto de equilíbrio.

-- Não quero e nem posso permitir que Nanda sofra outra vez, nos consideramos melhores amigas, mas ela é bem mais do que isso, é como uma irmã pra mim. Uma irmã mais nova de quem eu tenho que cuidar.

-- A amizade de vocês é linda! Vick e eu também somos como irmãs.

Voltei a minha atenção para a louça a minha frente por um instante.

-- Ela, João Pedro e os meninos são a minha família, minha verdadeira família. Não posso contar com meu pai e muito menos com minha mãe. – sua voz era chorosa.

A olhei preocupada, ela agora estava com a cabeça baixa. Sequei minhas mãos e fui até ela. Levantei suavemente seu rosto e vi uma pequena lágrima descer.

-- Eles são sua família, e eu também estou aqui, estou aqui com você.

-- Eu sei. – sorriu fraco.

-- Não fica triste, quero lhe ver sorrindo. Seus pais lhe amam Marina, e eles ainda vão perceber isso, eles vão ver a filha maravilhosa que eles têm, e ai, vão correr atrás do tempo perdido. Eles te amam minha linda. – falei olhando eu seus olhos. – Não pensa mais nisso tá? – beijei seus lábios.

-- Tudo bem. Não vou pensar. – sorriu – Obrigada pelo jantar, estava maravilhoso como sempre.

-- Não precisa me agradecer. Marina?

-- Oi. – falou levantando o rosto para olhar em meus olhos.

-- Tenho uma proposta pra lhe fazer, mas acho que não aceitará, precisaremos de alguns ajustes, então não sei se ainda devo fazê-la.

-- Faça.

-- Aceita dormir aqui comigo hoje?

-- Se não for lhe incomodar, é claro que aceito.

-- Não será incômodo nenhum, mas amanhã teremos que acordar um pouco mais cedo, teremos que passar no seu apartamento para buscar roupas limpas pra você.

-- Não vamos precisar ir até o meu apartamento, tenho roupas limpas no carro e em minha sala lá na agência.

-- Que mulher mais prevenida! – falei a puxando para um beijo.

Marina me fez sentar em sua perna, enquanto uma de suas mãos apertava firmemente minha coxa. Ela abandonou meus lábios para distribuir beijos quentes e molhados em meu pescoço, deixando minha pele completamente arrepiada. Ela beijava, mordia. Minha respiração já não era mais controlável, estava descompassada.

-- Vamos para o quarto? – minha voz era rouca.

-- Vamos.

Levantei, peguei em sua mão e a levei até o meu quarto. Nossas roupas foram ficando espalhadas por todo o quarto assim que fechamos a porta. Marina me beijava com volúpia, com pressa e desejo. Minhas mãos caminhavam por todo o seu corpo alvo. Gemi quando meu corpo encontrou o colchão macio. Nossos corpos ansiavam um pelo outro. Nos entregamos diante de suspiros, gemidos e palavras desconexas.

Amamo-nos a noite inteira. Os corpos estavam saciados, os corações estavam extasiados. Eu me sentia completa naquele momento. Aconcheguei-me ao corpo de Marina, suspirei fundo, um pequeno sorriso surgiu em meus lábios quando ela depositou um beijo em meus cabelos e abraçou-me. Olhei o relógio na mesinha ao lado de minha cama antes de ceder ao cansaço, marcava 2h da madrugada.

========================

Marina e eu havíamos sido pegas de surpresa, faltava apenas um dia para viajarmos quando ela foi convocada pra uma reunião em Brasília, sua presença era imprescindível nessa reunião. Marina sentiu-se frustrada e levemente irritada, pois essa reunião nos impedia de viajarmos juntas, então nos encontraríamos no Rio de Janeiro, não embarcaríamos juntas.

Ela quis desistir, quis adiar, remarcar a tal reunião, não queria que eu viajasse até o Rio sozinha. Eu sabia o quão importante era a reunião, a JUMP fecharia mais um contrato com uma empresa da rede de alimentos, apenas a presença do advogado da agência não bastava. A muito custo consegui convencê-la. Foi preciso arranjar milhares de desculpas e bons argumentos para fazê-la ir, e além disso foi preciso ouvir por parte dela milhares de desculpas e recomendações. Vi o quanto ela se preocupava comigo nesse instante.

Chegamos ao aeroporto de mãos dadas, queríamos aproveitar o restinho de tempo que nos restava antes que o voo dela fosse anunciado. Sentamos no saguão e esperamos. Marina estava calada, pensativa, diria eu. Deixei minha mente viajar enquanto acompanhava as centenas de pessoas caminhando de um lado para o outro, algumas apressadas, outras nem tanto.

Por volta das 21h, a deixei no aeroporto. Tentei disfarçar a tristeza óbvia que meu olhar deixava transparecer, apesar de tudo, eu queria a presença dela. Podia até dizer que eu estava um pouco temerosa, acho que era mais do que isso, eu estava assustada, nunca havia saído de São Paulo, tudo o que eu conhecia era o Ceará e São Paulo, e nem era todo o Estado, então imagina como eu estava me sentindo. Rio de Janeiro era enorme, e totalmente desconhecia aos meus olhos. Me sentiria mais segura se Marina estivesse comigo, além disso, nunca havíamos ficado tanto tempo assim longe uma da outra, e agora éramos obrigadas a passar pelo menos uma semana separadas.

-- Giulia?

-- Oi.

-- Promete que tomará cuidado?

-- Prometo! Pode deixar, eu me cuidarei direitinho, mas você também terá que prometer que se cuidará direitinho, e que não irá deixar nenhuma engraçadinha se aproximar muito de você.

-- A senhorita está com ciúmes? – perguntou-me com um sorriso satisfeito.

-- Não, é apenas cuidado. – tentei disfarçar.

-- Mesmo que se aproximem, meu coração e meus pensamentos estarão aqui, estarão em você, então nem perceberei se alguma tentar uma aproximação.

-- Sorte sua que tem muita gente por aqui, ou eu te beijaria neste exato momento.

-- Então isso não é sorte, é azar! Eu quero um beijo seu, vou praticamente enlouquecer, ficarei sem teus lábios durante uma semana, não sei se aguentarei.

Eu também não irei aguentar, irei morrer de saudades – pensei.

Marina levantou-se de repente, fazendo com que eu a olhasse sem entender. Ela me olhou e sorriu de lado, fazendo com que eu entendesse menos ainda.

-- Preciso ir ao banheiro, você pode vir comigo?

Sorri em entendimento.

-- Claro!

Levantei e a segui em direção ao banheiro. Nossos passos eram longos e apressados, mais um pouco e estaríamos correndo. Minha vontade de beijá-la era realmente enorme. Chegamos ao banheiro. Vi Marina andar olhando cada boxe daquele banheiro enquanto eu estava parada próxima a porta.

-- Parece que estamos sozinhas. – falou vindo em minha direção.

-- E o que isso significa?

-- Que podemos nos despedir de maneira mais adequada.

Não consegui falar mais nada, apenas senti o corpo de Marina pressionando o meu contra a porta do banheiro. Seus lábios encontraram o meu com pressa, com desejo. De repente minhas pernas amolecerem e meu coração praticamente saia pela boca. Bastou apenas um beijo.

A abracei com força, causando um maior contato de nossos corpos. Sua perna direita agora friccionava meu sex* de maneira intima, me fazendo gem*r contra seu lábio. Sua boca desceu por meu pescoço, deixando minha pele arrepiada, seus lábios queimavam minha pele. Minha excitação já era evidente. Mordisquei seus lábios tentando controlar minha respiração alterada.  Enfiei minhas mãos por baixo de sua blusa e toquei seus seios por cima do sutiã. Um gemido foi inevitável.

Os lábios não se separaram. Uma das mãos de Marina abriu minha calça jeans enquanto a outra apertava meu seio. Quase gritei quando senti seus dedos me invadirem com maestria. Ela conhecia meu corpo como ninguém um dia foi capaz. Perdi o controle de meu corpo e entreguei as sensações que ela despertava naquele momento.

Seus dedos moviam-se dentro de mim, mas notei que ela tinha certa dificuldade por causa de minha calça. Sem pensar em mais nada ou ninguém, simplesmente abaixei um pouco mais a minha calça, dando mais liberdade aos movimentos de Marina. Suas estocadas passaram a ser mais fortes e mais rápidas, o gozo estava próximo, eu podia sentir. Nossos lábios separaram-se quando g*zei, mordi seu ombro tentando sufocar o grito. Seu nome.

Ela me abraçou com força tentando não deixar meu corpo desabar. Enfiei meu rosto em seu pescoço e aspirei fundo.

Arrumamos nossas roupas, nos beijamos mais uma vez e saímos do banheiro sorridentes. Chegamos juntas a conclusão de que tivemos muita sorte de ninguém ter entrado no banheiro. Poderíamos ter sido motivo de trauma se alguém tivesse entrado, afinal não seria uma cena muito comum.

Pouco tempo depois de saírmos do banheiro o voo dela foi anunciado, deixando meu coração comprimido. Nos despedimos com beijos no rosto e um abraço apertado, que durou um tempo que não soubemos precisar. Acompanhei seus passos até vê-la sumir. Senti meus olhos arderem, e depois algo quente descer por meu rosto. Uma lágrima solitária que eu não sabia explicar.

Sai do aeroporto já morrendo de saudades.

Só consegui dormir quando Marina havia feito como combinado e me avisado sobre sua chegada. Disse que estava bem, e que já morria de saudades.

========================

Havia acordado cedo, muito cedo, ainda era de madrugada, mas não tinha conseguido pregar os olhos novamente. Seria hoje! Hoje que embarcaríamos para o Rio de Janeiro, para visitarmos a primeira filial, caso Marina, não tivesse que ter ido antes à Brasília . Dois dias atrás tínhamos acompanhado o trabalho interno da matriz aqui em São Paulo. Era um trabalho interessante, conhecer como tudo funcionava. Seria ume experiência e tanto em meu currículo.

Vencida, acabei levantando decidida a tomar um banho gelado, já não adiantava mais rolar de um lado para o outro na cama, eu não conseguiria dormir de maneira nenhuma diante de tamanha ansiedade. Antes de ir até o banheiro não resisti, acabei mandando uma mensagem de bom dia para Marina, não esperei resposta, provavelmente ela ainda estaria dormindo.

Voltei ao meu quarto de banho tomado enrolada apenas em uma toalha branca e felpuda. Sentei em minha cama enquanto secava meus cabelos. Olhei para as malas num canto do quarto e senti a ansiedade aumentar ainda mais. Eu precisava me acalmar, ansiedade assim não me faria bem.

-- Bom dia. – disse Vick entrando em meu quarto completamente arrumada.

-- Bom dia. – sorri.

-- Acordada há essa hora por que? – olhou o relógio em seu pulso – Seu voo só sai às 9h.

-- Acordei de madrugada e não consegui mais dormir.

-- Sabia que isso aconteceria. – falou sorrindo.

-- E você, o que faz de pé tão cedo?

-- Sai para comprar o nosso café. Você não podia viajar sem que tomássemos pelo menos um café da manhã decente juntas.

-- Você não existe!

-- Existo sim, e estou faminta. Vai, levanta, se arruma. Estou lhe esperando lá na cozinha. – disse dando um beijo no topo da minha cabeça.

Arrumei pensando na enorme sorte que eu tinha. Deus não havia esquecido de mim nem por um segundo. Dei-me uma família maravilhosa, uma amiga que era bem mais do que isso, era uma irmã, e colocou em minha vida uma mulher lindamente encantadora e doce, Marina. Eu tinha muito o que agradecer.

Cheguei à cozinha e Vick já ocupada um lugar à mesa. Tomamos um café da manhã adorável, em um clima ameno, cheio de sorrisos e cumplicidade. Sentiria uma saudade enorme de minha irmã, sei que ela sentiria saudade parecida ou talvez maior, e meu celular estamparia pelo menos uma vez por dia o seu nome na tela.

Vick avisou que chegaria pelo menos uma hora atrasada em seu trabalho, insistiu em me deixar no aeroporto mesmo eu afirmando que poderia pegar um táxi. Nos abraçamos antes de sair do apartamento, e quase choramos quando nos despedimos já no aeroporto.

Voar de avião não me agradava muito, na verdade eu não conseguia me acostumar, sempre me sentia tensa, e nada me fazia relaxar, a saída era apelar para os calmantes. Assim o fiz, tomei um calmante e logo dormi. Acordei pouco tempo antes de o avião pousar.

Marina havia pensado em tudo, assim que cheguei ao Galeão havia um homem com uma plaquinha onde tinha meu nome escrito, seu nome era Fred, ele era um dos motoristas de sua família no Rio, como ela dizia, um amigo. Fred era um homem alto, de feições amáveis, meio contraditório diante de sua altura. Ela era gentil e educado. Aparentava ter em torno dos 50 anos de idade.

-- Olá senhorita Giulia, meu nome é Fred.

-- Olá Fred. – nos cumprimentamos com um abraço anda tímido.

-- A senhorita Marina pediu para que a levasse até o hotel em que ficarão hospedadas. Ficarei a sua disposição, a levarei até HR Lingeries, e onde mais a senhorita precisar. Esse é o meu número – falou estendendo um cartão – ligue-me sempre que precisar, não importa a hora. Está bem?

-- Tudo bem Fred. Muito obrigada. – sorri em agradecimento – Mas não precisa me chamar de senhorita, apenas de Giulia.

-- Ah sim, tudo bem.

Conversamos algumas trivialidades até chegar ao estacionamento. Era fácil manter uma conversa com Fred. Paramos ao lado de um carro preto. Fred foi até o lado do motorista enquanto eu fiquei do lado do carona, esperando que ele destrava-se as portas, mas diferente do que eu pensei, Fred voltou em minha direção com um buquê de rosas vermelhas. Ele estendeu-me sorrindo.

-- A senhorita Marina pediu para que as entregasse. – disse entendendo-as para mim.

Sorri sem jeito e as segurei. A saudade que eu sentia dela aumentou significativamente assim que via a sua letra estampada em um cartão de cor amarela no meio das rosas. Como ela havia feito aquilo?

-- Vamos? – perguntou Fred abrindo gentilmente a porta para que eu entrasse.

-- Obrigada.

Abri o pequeno cartão enquanto Fred guardava minhas malas.

“Olá minha linda! Espero que sua viagem tenha sido agradável, lamento por não poder estar com você agora. Está é uma pequena recompensa por minha falta. Desculpe-me, mas logo estarei ao seu lado. Estou morrendo de saudades de você meu anjo, meu coração está inquieto. Mil beijos.

 

Até breve.

Sua Marina Amorim.”

Sorri feliz ao terminar de ler o cartão. Voltei a me perguntar como ela havia feito aquilo. O cartão estava escrito a punho, a letra era dela. Mas como? Senti-me envergonhada quando Fred assumiu o volante, aquela pequena surpresa me fez pensar que talvez o homem ao meu lado soubesse do meu relacionamento com Marina, e isso pela primeira vez deixou-me constrangida.

Provavelmente o homem alto sentado ao volante notou o meu constrangimento, mas tratou de puxar um assunto qualquer comigo, desfazendo assim o meu embaraço. Logo esqueci e passamos a conversar animadamente durante todo o trajeto até o hotel.

Fred me deixou no hotel. Despedi-me dele com um beijo no rosto.

Fiz o check in e subi apresada. Meu corpo pedia desesperadamente por um banho e por um bom descanso. O fato de não ter dormido bem durante a noite e a razão de meu cansaço, era o preço.

Não havia falado com Marina desde o dia anterior, então antes de entrar no banho resolvi ligar para avisar que já estava no Rio e para ouvir a sua voz. Peguei o celular em minha bolsa, sentei na cama e liguei para ela. Chamou até cair na caixa postal, olhei para o celular na dúvida, não sabia se ligava outra vez ou não. Resolvi ligar novamente, mas assim como da primeira vez, chamou até cair na caixa postal. Frustrada, mandei uma mensagem avisando que já estava no hotel, agradecendo pelas rosas e confessando minha enorme saudade dela.

Aproveitei e mandei uma mensagem para Vick avisando de minha chegada. Sã e salva.

Deixei o celular em cima da cama e me dirigi até o banheiro. Após o banho resolvi dormir um pouco, quando acordasse providenciaria algo para comer. Adormeci facilmente, estava verdadeiramente cansada.

Acordei por volta das 16h com o meu celular tocando. Alcancei o celular quase em desespero. Era ela.

-- Alô?

-- Oi meu anjo! Tudo bem com você?

Sem querer minha voz saiu mais fraca do que eu desejei.

-- Tudo.

-- Estava dormindo? Lhe acordei?

-- Estava sim, mas adorei acordar e ouvir a sua voz. Estou com tanta saudade de você.

Ouvi um riso seu do outro lado da linha.

-- Eu também estou com muita saudade de você, não pode nem imaginar o quanto. Estou resolvendo tudo por aqui, está tudo dentro do prazo, então estarei ai com você antes do planejado.

-- Jura? – quase pulei de joelhos na cama.

-- Juro! Muito em breve estarei ai, lhe enchendo de beijos.

-- E eu vou cobrar cada um deles. Está tudo bem com você? Como estão as coisas por ai?

-- Terei o maior prazer em pagar cada um deles. Está tudo bem, está tudo correndo como o planejado. Estou me cuidando direitinho, meu problema é apenas saudade mesmo.

-- Boba. – sorri feito uma boba, do outro lado da linha.

“Vamos Marina? Temos que ir agora.” – ouvi uma mulher próxima a Marina falar, e logo o bichinho do ciúmes tomou conta de mim.

-- Tenho que desligar agora minha linda, prometo ligar daqui a pouco.

-- Tudo bem. – disse apenas.

-- Beijos meu anjo.

-- Beijos.

Assim que encerramos a ligação imaginei como seria a mulher que estava perto de Marina. Seria ela bonita? Pela voz que ouvi, julgara que provavelmente a dona dela fosse uma bela mulher, isso irritou-me, senti-me enciumada.

Decidida em não pensar em nada do tipo desci até o restaurante do hotel para comer algo, não havia comido nada depois do café da manhã.

Durante o restante do dia recebi algumas mensagens de Marina, sempre carinhosa e atenciosa comigo. Intrigava-me o fato de não receber ligações, somente mensagens. Tentei pensar que no momento ela apenas não podia me ligar, por isso me mandava mensagens. Vick me ligara, preocupada perguntou como estavam as coisas, se estava tudo bem mesmo. Tratei de tranquilizá-la.

***

Os dois dias seguidos passei divida entre a HR Lingeries, algumas anotações acerca do processo de criação e produção de cada peça fabricada, meu notebook, e alguns passeios rápidos em companhia de Fred – todos a pedido de Marina, para que eu não ficasse trancada dentro de um quarto de hotel.

Marina havia me ligado mais algumas vezes, assim como Vick. Natália também havia me ligado perguntando como estava a viagem. Durante esses dois dias voltei a receber ligações do número desconhecido que me ligara quando ainda estava em São Paulo. As ligações haviam se tornado mais insistentes. Não atendi nenhuma delas. O fato é que tamanha insistência estava me deixando intrigada.

Estava deitada na cama esperando Fred chegar, ele havia dito que me levaria até uma padaria que ele julgara ser uma das melhores do Rio de Janeiro. Estava faminta e ansiosa por conhecê-la. Marina havia se comprometido a me levar em alguns lugares românticos quando chegasse.

Senti meu celular vibrar em algum lugar da cama. O atendi sem olhar na tela. Distraída, com o pensamento em Marina.

-- Alô?

-- Ora, ora, até que enfim resolveu atender meus telefonemas. – ouvi uma voz feminina do outro lado da linha.

Sentei na cama, retirei o celular do ouvido e dei uma rápida conferida no número. Era uma ligação do tal número desconhecido. Tornei a colocar o celular no ouvido mesmo achando estranha a ligação.

-- Desculpe. Mas quem está falando?

-- Meu nome é Miriam Amorim, você deve saber quem sou.

Gelei. Engoli a seco ao ouvir esse nome.

-- Sim.

--Ótimo! Assim não perderei tempo com apresentações desnecessárias. – sua voz tinha um tom estranho.

-- O que a senhora quer?

-- Conversar com você.

-- Desculpe-me senhora, mas não estou em São Paulo.

-- Sei disso, você está aqui no Rio.

-- Como...

-- Não interessa como sei, eu apenas sei. – interrompeu-me.

-- O que a senhora quer comigo?

-- Já disse, mas repito quantas vezes for necessário, afinal vejo que você não é uma moça de muita inteligência.

-- Desculpa, mas se a senhora ligou para me ofender...

-- Não me interrompa novamente. Quero conversar com você. Se quer mesmo ficar com minha filha peça a Fred para lhe levar até o endereço que vou lhe dar. E não pense em não comparecer a este endereço, muito menos falar com Marina antes. Entendeu bem?

-- Sim.

-- Anote! – seu tom era autoritário.

Anotei o endereço. Assim que ela terminou de passar desligou na minha cara. Olhei para o aparelho em minhas mãos sem conseguir acreditar no que acabara de acontecer. A mãe de Marina havia pedido um encontro comigo para uma conversa que eu não fazia a mínima ideia sobre o que poderia ser.

Fiquei encarando o papel em minhas mãos pensando se deveria ir ou não. O que aconteceria se eu não fosse?

Fred avisou que tinha chego, estava me esperando. Desci decidida sobre o que iria fazer. O papel em minhas mãos pesava. Entrei no carro e cumprimentei Fred.

-- Então Giulia, pronta para conhecer a padaria?

-- Fred será que antes poderia me levar a este endereço? – perguntei mostrando o papel.

 

-- Claro!

Fim do capítulo


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