Vou acelerar as postagens do que já foi publicado para chegarmos logo na parte que interessa. Boa (re) leitura!
CapÃtulo 2
Capítulo 9: Especulações
Era perto do meio dia quando acordei, sem barulhos e também sem o corpão e os olhos azuis da Lu. Eu particularmente não gosto de domingo, este sinceramente não é um dia para solteiros e solitários. É aquela sensação de cansaço acumulado por toda semana, nenhum programa sequer na tv, pelo menos nenhum digno de ser visto, mas também para que investir em programas dominicais se estão todos nas casas de seus familiares, almoçando, jogando conversa fora, brigando?
Definitivamente, domingo é depressivo. Imagina pra alguém que ainda está sob efeitos de um resfriado, embora aquela manhã já não sentisse mais os sintomas. Não havendo nada melhor pra fazer em casa fui pra praia, sai de casa pensando que podia sentar ali e esperar por todo o dia a moça, sim já decidi que é uma mulher, ela virá e então a convidarei para um programa bem domingo: um almoço, um passeio por alguma praça, depois um cinema.
E foi pensando nessas coisas que cheguei até o local onde ficava o caderno e para minha surpresa havia algo mais dessa vez. Era um casaco verde escuro, que peguei com cuidado e coloquei no meu colo enquanto lia o que “ela” havia escrito.
“...acho inclusive que este barco deixou transparecer o q faz quando não está escrevendo para o mar...
...UM PRESENTINHO Q VAI FAZER COM Q O FRIO PASSE BEM LONGE, E VOCÊ CONTINUE POR PERTO... ESPERO QUE DÊ PRA VESTIR...”
PENSEI QUE FOSSE APENAS EU A SENTIR QUE PRECISO DE ALGUÉM QUE NEM CONHEÇO, QUE BOM QUE NÃO É ASSIM...
Eu olhava pra aquele casaco, ao mesmo tempo em que sentia aquela textura confortável da lã, e era impossível não sentir o cheiro bom que exalava dele, que variava entre o cheiro de roupa limpa e um cheiro adocicado muito gostoso, que logo elegi como sendo o “dela”. Era estranho, agora mais que nunca eu sabia que era ELA, que era uma mulher. E agora com uma peça de roupa dela a minha imaginação foi a mil: como era? O que fazia? Onde estará? Fiquei lá por pelo menos meia hora montando uma mulher que seria dona daquele casaco, dona daquelas palavras, e no momento também, dona da minha atenção e curiosidade.
“Mas nem aqui consegui deixar de lado a argumentação e retórica, já sabe que advogo.” Falei pra mim mesma me referindo ao fato dela insinuar o que eu fazia nas horas vagas, sem conter um sorrisinho de canto que não me abandonou tão cedo.
“Vejo que meu dom (ou seria maldição?!?) parece ter carimbado meu passaporte por águas desconhecidas, nas quais faço questão de navegar. E agora mais forte do que nunca, nem o frio me afastará de minha empreitada. Sim, investi nisso q chama de dom, mas dá para ajudar as pessoas a garantirem e lutarem pelos seus direitos, além de tirar quem precisa, de algumas enrascadas...Quanto ao destino desse barco, vejamos, não há destino certo, há objetivo. E o objetivo é continuar a navegar por esse mar e aos poucos tornar estas águas menos desconhecidas. Conto com a sua colaboração (que frase pedante... humpf).”
P.S. E DEPOIS DESSE PRESENTINHO, E DO SEU CHEIRO POR TABELA, A ÚLTIMA COISA QUE VOU SENTIR É FRIO...
PARA QUE EU CONTINUE POR PERTO, BASTA QUE VOCÊ DEIXE E QUEIRA ASSIM...
De inicio eu queria mesmo ficar ali e esperar. Mas depois de uns quinze minutos lá, sentada, eu comecei a ficar inquieta, pensei no que poderia acontecer, que talvez ela não gostasse de mim, da minha calça jeans, das minhas havainas. Vai que ela fosse uma psicopata, não acho que não... Enfim, acabei voltando pra casa, cheguei a conclusão de que ainda não estava preparada para esse encontro, vai que pessoalmente não tivéssemos o mesmo entrosamento que temos através das palavras. Ainda na porta do prédio vesti o casaco, era um pouco grande e muito confortável.
A porta do meu apartamento estava aberta, e fiquei matutando algum tempo se fui eu que deixei assim ao sair, ou estava sendo assaltada. Mas não perdi muito tempo nisso, visto que ouvi vozes conhecidas vindo da sala.
Entrei devagar, o Pedro de costas pra porta remexendo meus cds, alguns segundos depois a Luciana aparece na sala, tão distraída com umas flores e um vaso que nem percebeu a minha presença.
_Espero que estejam todos a vontade! – falei com desdém – Não é porque é minha casa que precisam fazer cerimônia.
_Falei que não era uma boa idéia! –retrucou o Pedro sem nem ao menos se virar pra me cumprimentar.
_Não temos culpa por você deixar a porta aberta – defendeu-se a Luciana, enquanto arrumava o vaso no centro da mesa onde faço as refeições e que hoje estava na varanda.
_Mas a que devo a invasão, digo, presença de vocês em minha casa em pleno domingo?
_Viemos te fazer companhia. – disse a Luciana enquanto verificava minha temperatura – Sem febre, graças a Deus, suspende o chá. – gritou na direção da cozinha.
_Nada disso, vai ter que tomar o chá. – ouvi uma voz já conhecida vindo da cozinha.
Corri até a cozinha e a Cátia estava lá, do lado do fogão, mão na cintura. Ela é a irmã mais velha que não tive, personalidade forte, fala e faz o quer, doa a quem doer. Estava um pouco diferente, mais magra os cabelos curtos e queimados de sol, a pele negra, ainda mais bronzeada. Dei um abraço apertado nela, que logo reclamou que se eu apertasse mais ela, morreria sufocada. Depois enchi de perguntas, como ela estava, como estava o trabalho, e ela só dizia “num me enrola que tu vai tomar esse chá”.
Almoçamos na varanda, todos ouvindo atentamente o relato da Cátia a respeito da situação que passou e deixara nos assentamentos. As represálias sofridas pelos líderes dos movimentos, e em como o controle e a punição são como lendas nos interiores, onde quem faz as leis são os poderosos donos de terra, ou seja, quem tem dinheiro. Ficamos todos muito preocupados com outros amigos nossos que estavam por lá, e talvez não tivessem a mesma sorte de voltar para um almoço de domingo.
_Mas me conte, que história é essa de resfriado? – perguntou a Cátia divertida tentando aliviar o clima tenso que se estabeleceu.
_Queimando de febre ontem. – respondeu a Luciana por mim – Isso sem contar na história mal contada desses arranhões.
_Foi o mar! – respondemos eu e o Pedro na mesma hora e com a mesma voz de tédio.
_Mar....ta? Mar...ia? Mar...ina? – insinuou a Cátia com aquela cara “te conheço, fala sério!”
Todos rimos bastante, a Luciana e o Pedro começaram a recolher os pratos, não fiz qualquer movimento que sinalizasse que iria ajudá-los, muito pelo contrário, deitei de novo no sofá e fiquei lá pensando.
“Eles não estão de todo errados, afinal, é uma mulher que anda fazendo eu ficar ainda mais boba do que já sou. Onde será que ela está agora? Como será ela? Que cheiro bom ela tem!” Uma almofada atinge meu rosto, interrompendo meus pensamentos.
_Vamos, me conta o que aconteceu? – disse a Cátia enquanto abria passagem para sentar-se no mesmo sofá em que eu estava esparramada.
_Não aconteceu nada.
_Sim e esse sorrisinho, me conte quem é ela?
Tive que me levantar e ir até o espelho, sim lá estava o tal sorrisinho, uma cara muito boba isso sim, tentei fazer careta, cara triste, mas não deu nada, o insistente do sorrisinho continuava lá.
_Não sei do que você está falando não Cátia. – disse tentando conter o riso, encarando minha cara de boba no espelho.
Voltei para a sala, e todos estavam em silêncio e, estrategicamente sentados um em cada canto da sala, me restando apenas um lugar, no qual seria o centro das atenções.
_Vejo que a platéia já está montada. – disse enquanto me sentava no lugar que me foi reservado.
Era engraçada a cara de expectativa que todos me olhavam, pairava um silêncio inacreditável, comecei a rir descontroladamente da situação.
_Quem é? – perguntou a Luciana incrivelmente séria.
Parei de sorrir, já não podia esconder daqueles que eram minha única família pelo que estava passando, quanto a acreditarem e aceitarem, isso seria outra história.
_Onde a conheceu? – perguntou o Pedro curioso.
_Quanto tempo? – agora a Cátia.
_Gente, por favor, não é para tanto. – respirei fundo e comecei. – Faz alguns dias que, como de costume, estava lá na praia tentando escrever, mas ultimamente ando tendo um certo bloqueio. Enfim, nesse dia acabei esquecendo o caderno lá e lembrei ainda na porta do prédio e voltei para buscar. Para minha surpresa, havia mais coisas escritas. Desde então meio que me correspondo com alguém através desse caderno. – falei essa última parte mais sem jeito do que eu imaginava.
Quando terminei minha narrativa todos me olhavam com expressões indecifráveis e um silêncio incômodo tomou conta da sala.
_Cruzes, fui trocada por um caderno. – brincou a Luciana começando a gargalhar.
_Não um caderno, mas sim qualquer um, porque qualquer um mesmo pode estar escrevendo nele. – disse o Pedro com sua calma habitual.
Tentei falar alguma coisa, mas fui interrompida pela Cátia antes de proferir a primeira palavra.
_Faz tempo que não ouço tanta bobagem, Júlia é pedir muito que você conte a história verdadeira? – falou com um tom autoritário.
_Mais é isso, foi exatamente o que aconteceu, ou está acontecendo, sei lá. – me defendi.
_Como pode estar apaixonada por alguém que nunca viu? – rebateu a Cátia quase indignada.
_Mas... – fui interrompida, dessa vez pela Luciana.
_Epa, ela não disse que está apaixonada.
_Sim, no máximo deve estar encantada pela novidade, pelo mistério da situação. – falou o Pedro parecendo um psicólogo.
_Por... – de novo não me deixaram falar.
_Prefiro acreditar que seja isso mesmo, embora essa expressão não seja muito diferente da de alguém apaixonado. – disse a Cátia apontando pra mim.
_Impossível! – sentencio a Luciana em tom de brincadeira. – Júlia, lembre-se que combinamos de nos casar depois de testarmos as pessoas erradas. – e disse isso piscando pra mim.
_Ora, mas não se escolhe por quem se apaixona. – rebateu o Pedro deixando transparecer, pela primeira vez, interesse pela conversa e algo mais que não consegui decifrar.
_Pode até ser que não escolhemos por quem nos apaixonamos, mas é escolha nossa nos apegarmos a uma ilusão e isso da Júlia não passa de uma ilusão. Ou você tem alguma ideia de quem possa ser? – perguntou a Cátia com certo desdém levantando uma sobrancelha.
_Bom... – isso já estava ficando chato.
_E se for um homem?!?!?! – me interrompeu a Luciana dando um pulo e começando a gargalhar.
_Pode ser qualquer um. – disse o Pedro entediado.
_Mas... – tentei de novo.
_Muito hilário, imagina a Júlia apaixonada por um homem. Que desperdício bebê... – me interrompeu a Luciana falando entre uma gargalhada e outra.
A Cátia já ia falar alguma coisa, mas gritei bem alto:
_JÁ CHEGA!
Todos me olharam um pouco assustados, a Luciana havia parado de rir, o Pedro ainda mais clamo do que de costume, a Cátia me olhando com desdém.
_Acho que vocês estão perdendo tempo. Primeiro, eu não estou apaixonada, e sinceramente não sei de onde tiraram isso. Segundo, é uma mulher.
A Cátia e a Lucina riram alto, até o Pedro sorriu discretamente.
_E como é que você sabe? – perguntou a Cátia ainda rindo.
_Bom... - aquilo estava me incomodando, eu só sabia oras. – tem letra de mulher.
Riram com mais gosto ainda.
_Isso não quer dizer nada, já viu a letra desse aí? – perguntou a Cátia apontando para o Pedro.
_Ei, só porque sou homem não quer dizer que tenho que fazer garrancho. – defendeu-se o Pedro.
_É Júlia, esse seu argumento é falho, sua letra mesmo é muito feia pra ser letra de “mulher“.
Todos olharam pra mim esperando por mais alguma coisa, sim nesse ponto tinham até alguma razão.
_Mas tem o cheiro, por favor, isso é cheiro de mulher. – disse apontando para o casaco.
_Cheiro? Onde? – perguntou a Luciana eufórica. Ela era a mais animada de todos, parecia estar se divertindo com toda aquela história. A Cátia fazendo pouco caso, mas não era por mal, parecia estar preocupada. O Pedro e seu ar quase indiferente.
_Esse casaco é dela, deixou lá no lugar em que o caderno fica.
_E já estão trocando presentinhos é? – disse a Luciana chegando mais perto pra sentir o cheiro – É parece de mulher mesmo. – sentenciou.
_E agora essa... – desdenhou a Cátia.
_Isso é bem simples, a Júlia está apai... – olhou para mim antes de continuar – digo, envolvida. E como gosta de mulheres, espera que esta pessoa também seja, para assim poderem levar algo a diante. – falava Pedro como se falasse do tempo.
_A mim, cheiro não quer dizer nada, afinal não tem como saber se esse casaco é mesmo dele ou dela. – rebateu a Cátia.
_Gente, vamos parar com esse assunto? Vocês ficam especulando sobre quem é a pessoa, o que estou sentindo, enfim... O que vocês disserem não vai mudar em nada minha opinião, não sei explicar, mas tenho certeza de que é uma mulher e pronto.
A Luciana respondeu que já queria mesmo mudar de assunto, o Pedro ainda mais indiferente, percebi que a Cátia ainda queria falar alguma coisa, mas permaneceu calada. O resto da tarde ouvimos a loira contar sobre sua temporada na África, a Lu faz parte de um grupo voluntário que vai até os países que precisam prestar ajuda humanitária. Quem vê a Lu, assim loira, linda e meio perua não imagina a pediatra meiga e consciente que ela é, diz ela que não aguenta ficar muito tempo dentro de um consultório com ar condicionado, tendo que tratar de resfriados.
Assim que anoiteceu todos se despediram e voltaram para suas casas e para a nostalgia do domingo, a Cátia enquanto me abraçava ao se despedir ainda disse:
- Só toma cuidado para não se machucar ta?
- Ta certo. – respondi.
Voltei para o meu sofá pensando nessas palavras e também em tudo que foi dito aquela tarde. No entanto, a única coisa que estava clara na minha cabeça era que queria, agora mesmo, voltar à praia e ver se havia algo mais naquele caderno... Eu precisava daquelas palavras... Loucura? Talvez...
*******
O hospital teve uma noite atipicamente tranquila, com casos não muito graves, o que acabou me dando mais tempo para pensar do que gostaria. E todos os meus pensamentos só iam em uma direção, àquele caderno, àquelas palavras, a quem escrevia ali,eu já tava começando a me preocupar, não era muito saudável me fixar tanto em um caderno, e em alguém que nem conheço. A repressão contra mim mesma só durava uns minutos, uma aplicação de medicamento, um prontuário, pois lá voltavam meus pensamentos de novo para aquele ponto da praia.
Travei uma verdadeira batalha contra mim mesma logo de manhã quando o plantão acabou e peguei o ônibus de volta para casa, uma parte de mim gritava desesperadamente para eu voltar lá, enquanto a outra parte dizia que aquilo era loucura. Acabei não descendo, mas no fundo eu sabia, que era daquela loucura que precisava...
Achei o Lucas já acordado e tomamos café juntos. Depois comecei arrumar algumas coisas na casa, enquanto o ajudava nos deveres, embora raramente ele precisasse de alguma ajuda. A vovó acordou e, como sempre, foi direto para sua poltrona e para sua televisão. Domingo, nada de programas de culinária, nada de novelas, e ela trocava de canal insistentemente e já começava a se irritar. Fiz um gesto discreto para que o Lucas fosse para o quarto e o acompanhei até lá.
- Acho melhor ficarmos por aqui hoje. – disse a ele assim que fechei a porta.
- Tudo bem, disse ele enquanto sentava no chão e arrumava o material dentro da bolsa.
- Já terminou o dever?
- Já sim!
- Quer dar uma volta?- não podia deixar meu irmãozinho trancado em um quarto em um domingo tão lindo.
- Pode ser depois que você dormir? – disse ele enquanto pegava na minha mão e me levava até a cama.
-Como...? – esse meu irmãozinho tinha cada uma.
-É... tu passou a noite cuidando dos doentes... tem que dormir. – disse ele piscando pra mim.
-Mas...
-Xiuu! – disse ele me empurrando para deitar na cama. – Tu precisa de uma música para dormir? – perguntou ele sério.
-Não, acho que não.
-Então dorme logo, ai tu acorda e gente vai passear! – disse ele sorrindo e fechando meus olhos com os dedinhos dele.
Esse meu irmão parecia não existir, eu acabei me rendendo ao cansaço e dormindo mesmo, acordando só no fim da tarde, com o Lucas me observando atentamente.
- O que foi? – perguntei ainda meio desnorteada.
- Tu estava sorrindo enquanto dormia.
- Tu ficou o tempo inteiro me observando? – perguntei assustada.
- Não, não, já almocei, ela me ajudou com a comida. – disse ele apontando para a porta, querendo dizer que a vovó o ajudou – Já desenhei, já brinquei, mas toda vez que olhava para você estava sorrindo.
Então lembrei, eu tive uns sonhos esquisitos, dos quais agora conseguia me lembrar muito pouco, um sorriso que me deixava tonta, um abraço que me completava, e um sussurrado “eu preciso de você...”, que eu não sabia se falava, ou se ouvia.
-Eu... – tentei falar ainda muito confusa.
-Você sonhou! O que você sonhou? – ele perguntou animado.
-Com o passeio que vamos dar! – respondi tentando mudar de assunto.
Ele sorriu animado e me puxou da cama para que eu me vestisse logo. Tomei um banho enquanto deixei que ele decidisse aonde iríamos. Ele queria ir no cinema, já sabia o filme que queria assistir, e no meio do caminho ainda estava tentando decidir onde sentar. Não tinha nada como ver meu irmão animado, estava até mais falante, bem mais falante. Queria mesmo que fosse sempre assim...
*****
Tantos pensamentos... meu sofá... meu apartamento incrivelmente silencioso... e uma vontade súbita de sair dali... Para onde? Também não sei...
Peguei minha bicicleta na área de serviço, e enquanto descia carregando-a, me lembrei que fazia tempo que não dava um passeio de bicicleta, embora costumasse fazer isso sempre nos fins de semana, mas a preguiça tem sido maior que tudo nos últimos tempos.
Comecei a pedalar sem rumo, percorri toda a orla marítima, depois passei a entrar e sair de um monte de ruas, avenidas, e quando dei por mim já estava bem próxima da praça Pedro Alcântara, na rua de mesmo nome, próxima a um shopping movimentado da cidade, onde naquela hora muitas pessoas saiam, a praça também bem movimentada para um domingo.
Parei bem diante da enorme fonte que fica no meio daquela praça, onde há uma enorme estátua bem no centro da fonte, que é atingida pelos jorros de água que ora sobem, ora descem. Olhei em volta, todas aquelas pessoas indo e vindo, umas acompanhadas, outras extremamente sozinhas, crianças e seus brinquedos, cachorros ou pirulitos; então não consegui deixar de pensar... nela.
Uma pessoa... em meio a tanta gente. Um rosto dentre tantos rostos, mas como reconhecer? Como se reconhece alguém quando tudo que se tem são palavras?
Acompanhei a subida daqueles jorros de água, que agora desciam como em câmera lenta, e eu só conseguia observar atentamente, até quando ouvi uma voz meio arrastada começar a gritar algo e então perdi aquele jorro de água de vista, para encontrar os olhos mais lindos que já tinha visto na vida.
********
Lucas saiu ainda mais animado do filme, no entanto, não queria mais ficar dentro do shopping que naquele domingo estava muito movimentado, ouvi dizer que havia um cantor famoso autografando cd’s em uma das lojas. Meu irmão não é muito fã de lugares fechados, e com muita gente, então saímos de lá o mais rápido possível.
A praça também com bastante gente, Lucas correu em direção a fonte, eu o segui e passei a observá-lo brincar com a água. Um senhor bem grisalho, meio sujo, e com um olhar extremamente penet*ante passou por nós, me olhando insistentemente, com um meio sorriso e vi quando ele subiu na fonte, do outro lado em que estávamos e começou a gritar com a voz arrastada:
“Neste momento, há 6 bilhões, 714 milhões, 29 mil e 731 pessoas no mundo...”
-Olha Lívia, vai subir!!! – gritou o Lucas apontando para os jorros de água.
Eu desviei meu olhar do senhor, para onde o Lucas apontava, mas não foi os jorros de água que vi, mas um olhos tão azuis como jamais tinha visto...
******
“...Algumas estão fugindo assustadas. Algumas estão voltando pra casa...
E agora eles olhavam diretamente para mim, os olhos mais lindos de todos, pareciam só meus naquele segundo, onde eu só ouvia aquelas frases desconexas sendo gritadas bem perto de mim...
“....Algumas dizem mentiras para suportar o dia. Outras estão agora mesmo enfrentado a verdade...”
Lindos... e concentrados nos meus, era como se uma força estranha me puxasse na direção daqueles olhos, mas eu não conseguia me mexer... eu não conseguia piscar... um nó estranho na minha garganta, e eu não podia respirar... e eu só ouvia...
“...Alguns são homens maus, em guerra com o bem. E alguns são bons, lutando contra o mal. 6 Bilhões de pessoas no mundo...”
E uma fraqueza imensa parecia que me dominava, as minhas pernas fracas... meu coração acelerava a cada segundo que passava, e ele passou a bater tão forte que meu peito parecia doer... os olhos mais lindos, na mulher mais linda... e eu não sabia ao certo, porque naquele segundo, as lágrimas chegaram aos meus...
“...seis bilhões de almas. E as vezes... tudo o que precisamos... é apenas uma.*”
-Vo...
-...cê.- e como naquele sonho, eu não soube se falava, ou se ouvia aquele ‘você’.
Fim do capítulo
*O texto utilizado nesse capítulo foi encontrado na web, de autoria desconhecida.
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Sem cadastro
Em: 05/03/2016
Como eu fiquei feliz em ver você aqui.
Tão bom saber que elas vão ter um final.
Elas são lindas!
Não quero falar muito kkkkkk tem gente que ainda não leu... Kkkkk fico com medo de entregar.
Elas estão no mesmo ambiente sem saber e seus olhares se atraem. O destino colaborando ou a autora kkkkk
Adoro muito, muito mesmo.
Parabéns!
Até os próximos.
Beijos!
Resposta do autor em 05/03/2016:
Obrigada! O destino e a autora dando uma chance para essa duas, vamos ver se elas aproveitam! Logo logo tem coisa nova!
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Mille
Em: 05/03/2016
Um imã atraindo as duas, o destino fez elas se comunicarem pelo caderno. A força as uniu para estar no mesmo lugar.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor em 05/03/2016:
Espero que a história seja um imã que atraia tod@s vocês! Obrigada! Beijos.
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