Capítulo 11

 

Beatriz ainda tentava conter os ânimos de Érika, que não parava de falar e chorar. 

 

-- Ela e-era mi-nha me-lhor a-amiga - dizia com os olhos cheios de lágrimas - A-aquela des-graçada - estava com a voz pastosa devido a bebida. 

 

Bia abraçava a loira. As duas estavam em algum quarto daquela enorme casa. Estavam sentadas na cama. Érika apoiava a cabeça no ombro de Bia. 

 

-- Calma Érika... Depois tu me chama pra gente acabar com essa cretina, mas você precisa estar sóbria. 

 

-- Ca-dê a Lu-iza hein? Eu amo tanto ela, Bia... Desse tamanho oh... - disse se afastando da menina e abrindo os braços, sorrindo de uma maneira débil. Voltou a apoiar a cabeça no ombro de Bia - Mas e-ela nun-ca me quis... - sussurrou tristemente - min-nha vi-vida é uma des- graça mesmo... Eu so-sou tão fe-feia a-assim? - perguntou na dúvida. 

 

Beatriz gargalhou. 

 

-- Se tu é feia, eu sou um monstro... Érika você não é feia, aliás, nenhum pouquinho... Tu é linda... Muito linda mesmo... Uma loira como você a gente não encontra dando mole por aí... 

 

-- Então por que a Luiza nunca me quis? - conseguiu falar normalmente. 

 

-- Porque ela é uma idiota.

 

Érika sorriu. Bia sentiu o celular vibrando e viu que era Luiza. Atendeu e  conversaram por alguns segundos. 

 

-- Érika espera aqui... A Luiza chegou,  já volto - disse caminho em direção a porta. 

 

-- Lu...  Diz pra e-ela que e-eu a amo bem de montão - disse sorrindo. 

 

Bia sorriu. 

 

-- Vou dizer - disse antes de sair. 

 

Érika deitou na cama e sentiu os olhos pesados. A menina dormiu rapidamente. 

 

*************

 

Luiza estava agoniada no meio daquelas pessoas que estavam completamente bêbadas e drogadas. A garota olhava por todos os cantos procurando por Bia. Ficou aliviada quando viu a menina de cabelos castanhos aproximando-se. 

 

-- Só a Érika pra fazer você vim na festa né - Bia disse sorrindo. 

 

-- Nem me fala... Olha como essas pessoas estão, poucos aqui devem ser maior de idade... - comentou. 

 

-- Depois ficam falando porque gosto do meu cachimbo... 

 

Luiza revirou os olhos. 

 

-- Vamos... Me leve até a Érika.

 

-- Ok... Vem. 

 

As duas seguiram juntas. Subiram a escada entrando no quarto que Érika estava. 

 

Rebecca que estava prestando atenção em tudo, enxergou as duas e reconheu Luiza no mesmo momento. Era impossível não reconhecer aquela morena de cabelos escuros e cachos rebeldes. Luiza usava uma touca rosa. 

 

"O que ela tá fazendo aqui?... Aff, o que eu estou fazendo aqui né! Ela subiu para os quartos com a tal de Beatriz, mas ...O que elas vão fazer?! Será que vão ficar? Não suporto essa tal menina. Me irrita ao extremo"

 

Rebecca não tirou os olhos daquela escada e estava nervosa imaginando muitas besteiras. 

 

Luiza aproximou-se de Érika tocando carinhosamente em seus cabelos. Analisando a loira que dormia profundamente. 

 

-- Ela nunca foi de beber... Isso é tão estranho. 

 

-- Pois é... Ela ficou falando cada coisa sem noção - sorriu.

 

-- Ai, como eu vou tirar ela daqui? E pior pra onde vou levá-la... Se meus tios verem ela assim, Érika estará morta. Ela já não tem uma vida fácil dentro daquela casa com aqueles dois estúpidos... Isso seria uma arma na mão do Júlio para atingi-la... E eu não posso levar ela pra casa também, meus pais iriam falar com os pais dela. Infelizmente papai e mamãe não tem consciência das coisas que a Érika passa naquela casa, portanto, eles não iriam pensar duas vezes em falar qualquer coisa... Ai eu tô perdida aqui... 

 

-- Ai Lulu... Eu ofereceria minha casa pra vocês, mas essa semana tá lotado lá por causa de algumas bandas...

 

-- Ah eu entendo, Bia... Nem pensar em ir pra lá... E agora? ... - disse enquanto acariciava os cabelos loiros da prima. 

 

-- Talvez a Daniela possa ajudar. Elas são melhores amigas... - comentou. 

 

-- Daniela tá aí? 

 

-- Sim... E bom... - hesitou - A ruiva também...

 

-- Rebecca? - perguntou surpresa encarando a amiga. 

 

-- Sim. 

 

-- Hum... Não quero falar com nenhuma delas e nem vê-las...

 

-- Mas você precisa... Pela Érika... 

 

Luiza encarou a prima e sorriu tristemente.

 

-- Tem razão... Pela Érika! - disse ficando de pé - Vamos! 

 

Rebecca viu quando as duas desceram, pois não havia tirada os olhos da escada um segundo. Percebeu que as duas estavam se aproximando do grupo em que estava. Luiza a encarou por poucos segundos e depois desviou, seus olhos fixaram na morena no meio daquela gente. Daniela estava bem animadinha. 

 

Luiza respirou fundo antes de chamá-la. Rebecca observava a tudo no seu canto. 

 

-- Daniela...  - Luiza chamou.

 

A morena se virou para encarar quem estava lhe chamando e o sorriso que ostentava sumiu imediatamente. 

 

-- O que você quer? - perguntou arrogante. 

 

Bia estava calada ao lado da amiga. Luiza decidiu ser direta. 

 

-- Daniela preciso da sua ajuda, pois a Érika bebeu demais e você sabe que ela não pode voltar nesse estado para casa. Teria sérios problemas com meus tios. 

 

-- Érika tá bêbada? - estava surpresa. 

 

-- Sim, ela bebeu mais do que devia... 

 

Daniela sorriu ironicamente. 

 

-- E por que eu iria querer ajudá-la? 

 

-- Ela é sua amiga Daniela!

 

-- E? - a morena arqueou a sobrancelha -  Ela que quis beber, ela que se vire! 

 

-- Eu ainda me pergunto como ela pode ser sua amiga. 

 

-- Sou amiga e não babá. Esquece, eu não vou ajudar em porr* nenhuma. 

 

-- E eu achando que pelo menos com ela você poderia ser diferente, mas, uma vez sem caráter, será sempre assim - Luiza despejou. 

 

-- O que você disse?! - Daniela se alterou. 

 

-- O que você ouviu! - disse sem se intimidar. 

 

-- Saíam daqui... Não quero estragar minha noite com vocês. 

 

A morena virou-se e voltou a conversar animadamente com as pessoas. 

 

-- Que vadia! - disse Bia - Luiza a gente pode se apertar lá em casa... Sempre dá pra mais um. 

 

Luiza fez uma careta imaginando ela e Érika no meio daquelas pessoas que adoravam um cachimbo, assim como Beatriz. Mas pelo que havia percebido não teria outra alternativa. 

 

-- Talvez eu possa ajudar... 

 

Luiza e Beatriz encararam a menina. 

 

-- Lá em casa é grande e vocês podem ficar por lá tranquilamente - disse a ruiva timidamente. 

 

-- Sério?...  Seria bem melhor pra você e a Érika, Lulu... Mais confortável - Bia. 

 

Luiza encarava Rebecca que também a olhava. Estava magoada, mas sabia que as duas precisavam conversar e não queria mais adiar. Além disso, precisava pensar no melhor para Érika. 

 

-- Sim é sério - a ruiva respondeu sem desviar os olhos de Luiza. 

 

-- Então vou aceitar...  Pela Érika - disse Luiza. 

 

-- Ótimo, já que está tudo resolvido... Tô indo - disse Bia - Essa festa já deu... Quero ficar na brisa. 

 

Luiza revirou os olhos.

 

-- Você não tem jeito, Beatriz. 

 

-- Ah gata, preciso relaxar - abraçou e beijou o rosto da amiga - Tchau, Lulu... - encarou a ruiva e sorriu - Tchau, ruiva. 

 

Bia se foi e  deixou as duas sozinhas. 

 

-- Vamos, antes que a Daniela perceba - disse Luiza que passou a andar. 

 

Rebecca a seguiu. Por sorte, Daniela estava tão entretida naquelas conversas fúteis que nem percebeu nada. 

 

Luiza tentou acordar a prima de todas as formas, mas Érika dormia feito uma pedra. A menina acabou desistindo, não tinha como acordar Érika naquele momento. Rebecca observava tudo. 

 

-- Vou ligar para o Roberto vim nos buscar - disse pegando o celular. 

 

Rebecca falou alguns minutos com o motorista e desligou. 

 

-- O Roberto é discreto. Não vai falar nada disso a ninguém. 

 

-- Obrigada, Rebecca. E seus pais? 

 

-- Eles dormem em outro andar da casa...  Eu fico sozinha. Não se preocupe, eles não vão perceber nada. 

 

Luiza sorriu e encarou a prima. Rebecca estava de pé. As duas não falavam muita coisa, pois aquele não era o momento para conversarem. 

 

Roberto não demorou a chegar e carregou Érika até o carro. A loira resmungou alguma coisa, mas não acordou. O caminho até a casa da ruiva foi feito em total silêncio. Rebecca entrou primeiro para ver se os pais não estavam por ali, mas por sorte eles já haviam ido dormir, afinal, já era bem tarde. Roberto carregou a loira até um quarto de hóspedes e Luiza ficou com ela. Rebecca seguiu o motorista, pois queria conversar com ele.

 

-- Roberto gostaria de lhe pedir um favor.... 

 

-- Diga senhorita. 

 

-- Se a Daniela aparecer por aqui, por favor, não a deixe subir. 

 

-- Claro senhorita. 

 

-- Se ela perguntar se eu estou aqui e tal... Você fala que estou bem, mas que não quero vê-la no momento. 

 

-- Entendido. 

 

-- Obrigada, Roberto. 

 

-- Só faço o meu trabalho. 

 

-- E você é muito competente nele - disse sorrindo. 

 

Roberto também sorriu. Gostava daquela menina como se fosse sua filha. Rebecca correu para voltar a ficar com Luiza. A menina estava nervosa. 

 

Luiza havia tirado os sapatos da prima e a embrulhou. Os olhos verdes estavam fixos em um canto qualquer. Rebecca abriu a porta cuidadosamente. Ficou um tempo observando Luiza. A ruiva aproximou-se da menina. 

 

-- Luiza... - sussurrou.

 

Luiza a encarou. 

 

-- Oi Rebecca...

 

A ruiva estava nervosa. Esfregava as mãos e mordia os lábios. 

 

-- Podemos conversar? - disse ansiosa. 

 

Luiza respirou fundo. 

 

-- Sim... 

 

-- Me acompanhe - disse estendendo a mão. 

 

Luiza hesitou por alguns segundos. Seus olhos verdes estavam fixos nos mel dos de Rebecca. Segurou a mão da ruiva que a conduziu em direção a seu quarto. 

 

Luiza observou tudo em volta. Era muito luxo ali. Não parecia o quarto de Rebecca que era uma menina simples. As duas se sentaram na cama da ruiva e ficaram de frente para a outra. Rebecca não havia soltado a mão da menina, ao contrário estava apertando cada vez mais forte. Olhos fixos e respirações alteradas. O silêncio reinou por várias minutos. 

 

-- Acho que eu preciso começar a falar... - disse a ruiva quebrando o silêncio - Quando te conheci, eu senti algo diferente... Eu me sentia diferente perto de você. Você apareceu em um momento onde eu estava sofrendo por causa da Daniela, mas quando eu encarei esses seus lindos olhos verdes, toda aquela dor passou... Eu esqueci tudo, porque apenas você se tornou importante naquele momento.... E com passar do tempo eu fui gostando cada vez mais de você... Luiza... Me diz o que sente por mim... Quero mais que tudo ouvir isso de você. 

 

Luiza respirou fundo. Ela seria sincera como sempre foi. 

 

-- Eu nunca falei dos meus sentimentos por você e talvez nem tenha o direito de ficar magoada quando eu te vi beijando a Daniela, mas... 

 

Rebecca a cortou. 

 

-- Luiza esse beijo foi... 

 

-- Por favor, deixa eu falar, tá bom? 

 

-- Certo - a ruiva disse triste. 

 

Luiza apertou um pouco mais a mão da menina.

 

-- Eu gosto de você desde que te vi pela primeira vez... Primeiro dia de aula... Há algum tempo atrás. Sua beleza me encantou e eu passei a reparar cada vez mais em você. Tudo em você me deixa encantada e boba. Eu percebi que você tinha uma relação com a Daniela e que era muito reservada, pois falava apenas com ela. E eu como você sabe, não tenho uma fama tão boa. Pensei que nunca uma menina da sua classe iria querer ter um amizade com alguém que é tão mal vista por toda a cidade, pelo o único fato de ser lésbica. Você era um sonho distante... - sorriu nostalgica - Até o dia que nos esbarramos na praça da cidade. Imagina a minha surpresa quando percebi que era você... Percebi que ali era minha chance de aproximação e não poderia perder... Te conhecer me deixou ainda mais perdida... Você é tão prefeita, seu jeito, sorriso, como você ajeita seu vestido, mexe as mãos... Tudo... Eu me perdi em você, e não consegui mais me encontrar... Nunca foi minha intenção interferir na sua relação com a Daniela... Eu tentava me conformar em apenas ser sua amiga, mas era difícil... A verdade é que sou perdidamente apaixonada por você...  E eu amo muito você... Muito... Como nunca pensei que pudesse amar alguém...

 

Rebecca pensou que seu coração ia sair pela boca. Sentiu a ardência nos olhos e as primeiras lágrimas descerem por sua bochecha. Estava emocionada, feliz. Não pensou duas vezes e abraçou apertado Luiza, que acabou caindo na cama. Rebecca ficou por cima e a abraçava apertado. Seu coração estava muito acelerado. Rebecca encarou a menina com lágrimas nos olhos. 

 

-- Você é linda... Perfeita!... Aquele beijo na Daniela não significou nada para mim, na verdade foi ela que me beijou, eu só não tive forças para afastá-la - disse enquanto acariciava o rosto de Luiza - Eu nunca a amei... Tudo não passou de um encantamento, pois ela é muito bonita... Mas você é muito mais, e não digo isso apenas por fora, mas por dentro também. Desculpa por ter sumido e não ter avisado que voltei, tudo foi tão rápido e tudo que eu queria era estar com você. Eu pensei em você em todos os momentos...  Eu penso em você em todos os momentos... Você é a única dona dos meus pensamentos... Você é a única dona disso aqui - segurou a mão de Luiza a levando até seu coração que estava acelerado - Só você faz isso comigo... Eu sou apaixonada por você e também posso dizer que foi desde a primeira vez que te vi... Vou agradecer para sempre a minha mãe por ter me obrigado a sair naquele dia e se não fosse isso, jamais teria te conhecido... Aquele foi o dia mais importante da minha vida até hoje... Foi o dia que te conheci... Você também me encanta... Esse jeito... O seu olhar... Me diz tantas coisas, através dele consigo ver sua alma... Sua essência...  Eu te amo, Ana Luiza... 

 

Luiza também chorava. Estava emocionada. Esperou por muito tempo para ouvir a ruiva dizer aquilo. Não estava acreditando. 

 

-- Eu só posso está sonhando - sussurrou. 

 

Rebecca sorriu e enxugou as lágrimas da menina.

 

-- Não é sonho... Agora é real... Vou te provar isso. 

 

Rebecca passou o dedo sobre os lábios de Luiza e foi aproximando.  Se encaravam. Respirações alteradas. Batimentos a mil.  A ruiva jogou os cabelos para o lado para não atrapalhar o que estava prestes a acontecer. Rebecca colou os lábios no de Luiza.

 

-- Eu sonhei com isso desde que te vi... 

 

Luiza sorriu. 

 

-- Idem.

 

Luiza segurou a ruiva pela nuca e a beijou, sendo correspondida em igual intensidade. Elas estavam se conhecendo. Era um beijo profundo e cheio de paixão. Rebecca estava com mão no rosto de Luiza. Sentiam o sabor dos lábios, das línguas que disputavam espaço. O beijo ficou cada vez mais intenso e ambas já sentiam o ar faltar. Afastaram-se e Rebecca deitou com a cabeça apoiada no ombro de Luiza. Recuperavam o ar.

 

Era um beijo diferente para ambas. Quando se beija alguém que você ama, tudo é diferente. Não é um beijo apenas por desejo. Existe amor ali e isso se tornar muito mais importante que qualquer outra coisa. 

 

Rebecca se ajeitou para conseguir encarar Luiza. Ficaram se olhando por vários minutos.

 

-- Ainda temos coisas para conversar - sussurrou a ruiva. 

 

Luiza pos os dedos sobre os lábios da ruiva,  que estavam vermelhos por causa do beijo. 

 

-- Vamos curtir esse momento... Amanhã a gente conversar. 

 

Rebecca sorriu e concordou. Beijaram-se mais algumas vezes entre carinhos e várias declarações. Era o início de uma relação linda. 

 

Apenas o amor reinava naquele momento. E as duas adormeceram agarradas, sentindo o cheiro da outra. 

 

O que viesse depois... Não importava no momento. 

 

 

 

Fim do capítulo