Um dia depois

   Alexia e Tereza não tinham dormido, tudo em casa lembrava a pequena. Gabriel e Samuel tentavam ficar calmos, mas por dentro estavam morrendo.

- Alexia precisamos de um mandado – Gabriel entrou exasperado na sala da delegada, ela e Tereza estavam juntas, os rostos inchados de tanto chorar.

- Alguma pista da Amora? – Tereza dizia, só de falar o nome da filha já dava vontade de chorar.

- Não, mas descobri que o Thiago Navarro sumiu do mapa, rastreamos o endereço dele, preciso de mandado – Disse serio.

- É pra já – Alexia disse e já pegou o telefone discando um número.

- Porque desconfia dele? – Tereza perguntou triste. Gabriel sentou e contou como foi o interrogatório e a descoberta da tatuagem. Tereza não falou nada, apenas ficou pensativa.

- Pronto, em meia hora está liberado – Alexia disse desligando o telefone e olhando para seu amor e o amigo.

***

   No apartamento um homem sentado em uma poltrona pegava uma rosa na mão, enquanto a pequena dormia em um quarto escuro do local.

- Eu mato – Tirou uma pétala – Ou não mato – Tirou outra – Mato – Tirou – Ou não mato – Gargalhava e brincava despetalando a rosa. – Mato – Tirou a última pétala e gargalhou mais ainda. Foi andando lentamente em direção ao quarto, estacou na porta – É bonitinha, acho que vou te matar – Ria maleficamente.

***

- Alexia você fica aqui com o Samuel, eu e Gabriel vamos invadir a casa do Thiago – Tereza falava firme enquanto colocava a arma atrás de si. Gabriel colocava o colete.

- A delegada aqui sou eu – Alexia disse arqueando a sobrancelha.

- É melhor assim Alexia – Samuel disse tentando amenizar.

- Ela também é minha filha – Não aguentou e lagrimas desciam. Tereza se aproximou a abraçando forte, afagando seus cabelos, Samuel e Gabriel se controlavam para não chorar.

- Meu amor, prometo trazer ela de volta – Falava no ouvido da delegada, ainda se abraçavam – Eu te amo – Disse e uma lagrima descia.

- Nossa Amora – Dizia quase soluçando.

- Olha pra mim – Se afastou um pouco a olhando firme – Eu prometo, ela vai voltar – Disse, limpou as lagrimas e beijou suavemente cada olho de Alexia – Confia em mim.

- Confio – Alexia disse por fim.

   Tereza e Gabriel saíram apresados, Alexia se jogou na cadeira, chorava muito enquanto seu amigo a abraçava forte, todos na DP estavam trabalhando duro para encontrar a filha das colegas de trabalho.

30 minutos depois

- Thiago – Gabriel chamava batendo na porta – Não tem ninguém – Disse.

- Vamos a moda antiga – Tereza disse e nesse momento Gabriel se afastou, sabia que a amiga iria arrombar a porta, dito e feito, Tereza deu um só chute e a porta abriu. Entraram lentamente apontando a arma, Tereza na frente e Gabriel atrás.

- Não tem nada suspeito – Gabriel disse, tinham revirado a sala, cozinha. – Vamos no quarto. – Tereza apenas confirmou com a cabeça.

   Quando os amigos entraram no quarto de Thiago, estacaram, não acreditavam no que viam. O quarto tinha um mural cheio de recortes e fotos das crianças assassinadas, fotos delas brincando e fotos dos corpos sem vida. Gabriel tomou iniciativa e começou a revirar as gavetas. Seu susto foi maior quando abriu uma gaveta e viu vários pirulitos.

- Desgraçado, eu sabia – Gabriel trincou os dentes.

- Não acredito que esse infeliz nos enganou tanto, vou mata ló – Tereza estava com uma ira que só aumentava.

- Vamos embora, ele não está – Gabriel disse.

- Espera – Tereza se aproximou do criado mudo – Olha esse anuncio – Mostrou a Gabriel um folheto com um anuncio de um parque de diversões. – Liga pra Alexia – Tereza disse.

- Alexia encontramos algo, preciso que mande policiais para um parque de diversões – Gabriel dizia. – Quando chegarmos explicamos. – Disse e deu o endereço, desligou. – Vamos, ela está esperando a gente.

***

   Thiago Navarro desde criança nunca foi de brincar ou viver com outras crianças. Em um dia de muita chuva, em uma raiva que teve, pegou a arma do pai que era policial e matou a mãe e logo depois o pai. Foi internado em uma clinica, teve bom comportamento e foi liberado. Estudou, se formou e dava aulas, era um professor exemplar. Depois cometeu seu segundo crime contra uma criança, nunca foi descoberto. Logo depois veio o episodio na escola onde foi refém, Carolina quase lembrava dele, mas por sorte morreu antes. Depois começou a ter necessidade de matar crianças, sentia prazer, como se fosse uma comida que desejasse muito. Fez a tatuagem quando matou a primeira criança, ela andava de triciclo na rua, parecia perdido, vinha ch*pando um pirulito e sorrindo. Thiago o achou e o matou por puro prazer. Tirava fotos deles e guardava com cuidado, como se fosse troféus.

***

- Nojento, infeliz – Samuel disse irado.

- Desgraçado – Alexia quase gritou. Tereza e Gabriel haviam chegado, estavam todos juntos na sala da DP. Gabriel contou tudo que ele e Tereza viram.

- Mas porque? – Samuel se perguntava a todo momento, o homem parecia ser do bem.

- Aquele doente, vai pagar caro – Tereza trincava os dentes.

- Mandei quatro viaturas para o parque. – Alexia disse quando o telefone tocou.

- Doce delegada, estou na duvida cruel, não sei se mato a bonitinha afogada ou queimada – Thiago dizia rindo.

- Seu infeliz, vou matar você – Alexia gritava.

- Vem me pegar docinho – Gargalhou e desligou o telefone.

- O que ele disse? – Tereza se apressou em dizer.

- Temos que encontrar ele, vamos para esse parque – Alexia disse já pegando a arma. – Deu para escutar uma música e alguns gritos de pessoas, com certeza ele está perto desse parque.

   Não demorou para os quatro entrarem no carro e saírem. Em quarenta minutos já estavam no local, vários policiais espalhados.

- Olha bonitinha, temos plateia – Thiago por coincidência admirava a paisagem do parque que era praticamente em frente ao apartamento, viu os quatro policiais descendo do carro – Isso vai ser divertido.

   No parque Gabriel e Samuel falavam com alguns policiais enquanto as duas mulheres olhavam ao redor.

- Nenhuma pista gente – Samuel se aproximou das amigas.

- Tenho certeza que ele está aqui – Alexia dizia.

***

   Thiago se sentia um deus, nada poderia o atingir, na cabeça dele era invencível. Quando viu os policiais, pegou Amora no colo e desceu com muita calma e tranquilidade, atravessou a rua, era tudo tão natural que conseguiu entrar no parque sem nenhum policial ver. Entrou na roda gigante com a pequena. Se sentia no paraíso no meio de tantas crianças, se pudesse mataria uma por uma.

***

- Sua cara de cachorro molhado é muito engraçada – Thiago falava, Alexia conseguia escutar o barulho do parque, era o mesmo que ouvia ao vivo. – Vou matar a bonitinha, vou matar, matar – Cantarolava rindo.

- Seu desgraçado, vou te encontrar, sei que está aqui – Alexia gritava.

- Me dá isso aqui – Tereza puxou o celular de Alexia – O que você quer seu doente? – Disse com raiva.

- Quero matar a Amora – Gargalhou e desligou.

- Ele está aqui em algum lugar – Tereza dizia já entrando em desespero. Gabriel parecendo receber um aviso, sentiu um vento forte e acabou virando o rosto pro lado da roda gigante. Apertou os olhos e conseguiu ver o que tanto queria.

- Ali gente – Gritou apontando. Correu ele, Samuel, Tereza e Alexia, nessas alturas já tinham tirado as armas e apontavam para frente, as pessoas perceberam e começaram a sair desesperadas, a multidão se formou, a roda gigante parou, Thiago saiu com a pequena, lentamente entre a correria dos outros.

- É bonitinha, acho que vai ser afogada mesmo – Thiago disse rindo e olhando para Amora. Foi andando em direção a um pequeno lago que tinha no terreno onde o parque se instalou.

- Cadê ele – Tereza subia a cabeça pra ver se achava no meio do corre, corre das pessoas.

- A opção escolhida foi afogada docinho – Alexia atendeu o celular. Thiago disse e desligou, Alexia pensou, pensou.

- O lago – Gritou e correu, os amigos foram atrás.

- Larga a Amora e levanta os braços – Gabriel gritava aprontando a ama para Thiago, o professor segurava a pequena no colo, estava pronto para jogar no lago, tinha colocado um pirulito na frauda da pequena.

- Não vou ser preso, vou matar a bonitinha e vou embora calmamente enquanto vocês iram sofrer para o resto da vida – Dizia calmamente.

- Solta ela idiota – Tereza gritava, os quatro apontavam a arma, Alexia e Tereza sentiam o coração disparar. Não podiam atirar, iria atingir Amora.

- Thiago pense bem, você vai perder anos na cadeia, se soltar ela e assumir seus crimes, podemos negociar uma redução – Alexia tentava ser fria.

- Solta logo ela Thiago – Samuel sentia ímpeto de pular em Thiago e o matar de tanta porr*da.

- Acho que não seus lindos – Thiago disse debochado – Tchauzinho bonitinha – Disse olhando para Amora, nem pensou duas vezes, jogou a pequena no lago e correu.

   Tereza largou a arma e pulou na água, procurava Amora, mergulhava e nada, no seu intimo pedia para não acontecer nada a sua filha. Estava de noite não dava para ver direito. Alexia também pulou na água. Gabriel e Samuel corriam atrás de Thiago, tinha sido tudo muito rápido.

   Quando Tereza e Alexia já choravam desistindo, Tereza mergulhou mais uma vez e achou a pequena que já estava desmaiada. Correram para a beira do lago, Tereza fazia respiração boca boca e apertada o peito da pequena. Enquanto isso Alexia ligava para a ambulância.

   Thiago corria e gargalhava ao mesmo tempo, parecia que estava brincando de pega pega, tinha pulado a cerca que determinava o ambiente do parque, nessas alturas corria pela rua, caiu quando sentiu uma dor na perna. Sentou e viu o sangue na perna, ria, gargalhava.

- Você está preso Thiago Navarro – Samuel chegou perto do professor, apontava a arma, o tiro veio da arma de Gabriel que chegou logo atrás do namorado.

- Nunca serei preso – Pegou uma arma e disparou em direção a Samuel, o tirou pegou de raspão no braço do policial, enquanto isso o corpo de Thiago caia sem vida, apenas com um sorriso maléfico nos lábios e olhos abertos. Gabriel assim que Thiago disparou, também disparou sua arma, em defesa.

- Você está bem? – Gabriel correu para o namorado, olhou o ferimento.

- Não se preocupe, foi raspão – Disse vendo o ferimento – Vamos recolher o corpo. – Disse ao namorado. Gabriel pegou o telefone e discou um número.

- Ela não está respondendo Alexia, ela não responde – Tereza entrava em desespero, sua Amora estava fria.

- A ambulância já está chegando. – Dizendo isso, viu quando os enfermeiros chegaram. Tudo foi rápido demais, Amora foi colocada em uma maca na ambulância, davam pequenos choques no peito da pequena, mas nenhum sinal de vida. Alexia já chorava sem esperanças, Tereza não aguentava mais. Até que o aparelho começou a registrar batimentos.

***

Duas semanas depois

   Amora brincava, já estava andando, sorria feliz, Alexia e Tereza estavam no parquinho perto da casa delas, observavam sua pequena e agradeciam aos céus. Junto delas estava Gabriel e Samuel.

   Tudo havia voltado ao normal, Thiago foi enterrado, todos os crimes haviam sido descobertos, inclusive o assassinato dos pais anos atrás. Amora tinha voltado a vida quando tudo estava perdido. Os pais das vitimas ficaram atônitos quando foi descoberto o killer, a dor da perda nunca iria embora.

***

- Vamos descer até o chão Amorinha – Samuel falava animado, estavam almoçando todos juntos na casa das amigas.

- Quer parar – Tereza dizia enciumada – Ela tem que escutar a galinha pintadinha e não descer até o chão.

- Deixa eles serem felizes amor – Alexia gargalhava.

- Olha quem fala, era você que um dia desses dançava a metralhadora – Gabriel ria divertido. Tereza olhou feio e pegou sua pequena no colo.

- Chama mamãe Amorinha – Tereza tentava de todas as formas fazer com que Amora a chamasse de mãe.

- Mama xia – Amora repetia.

- É Terezinha, essa você perdeu – Gabriel ria – Melhor chamar a Layla – Gargalhou. Todos riam da cara enciumada que Tereza fazia.

- Essa menina é vira casaca demais – Dizia.

- Me dá ela aqui – Alexia dizia rindo. Tereza entregou a pequena emburrada. – Tira esse bico. – Disse rindo.

  Aquela tarde foi de muita diversão para os amigos, a pequena era a alegria da casa. Gabriel finalmente já estava morando com Samuel, estava tudo indo bem para os dois. A noite foi chegando, Amora não aguentou e dormiu, Tereza a colocou no berço, ficaram apenas os quatro amigos na sala.

- Vamos dançar gente? – Samuel falou. Tereza já estava em pé puxando Alexia. – Coloca uma música amor – Pediu para o namorado. Gabriel foi em direção ao tocador.

https://www.youtube.com/watch?v=WLxw8SGA_ew

Só sei dançar com você – Tulipa Ruiz

   Os dois casais dançavam calmamente em silêncio, apenas sentindo a respiração e os corações. Tereza apertava firme Alexia, enquanto essa repousava a cabeça em seu ombro. Gabriel e Samuel dançavam de olhos fechados. O amor era grande entre os quatro amigos.

   Ficaram ali, dançando por um bom tempo, até que os amigos foram embora, as mulheres ficaram sozinhas. Estavam exaustas.

- Dá beijo, dá? – Tereza disse e Alexia se aproximou, ficaram ali na sala se beijando, aproveitando o sabor da boca uma da outra, até que escutaram um choro, se afastaram e riram se encarando. Levantaram, e foram ver a Amora. Alexia a pegou no colo, ela parou de chorar, Tereza foi para o banho, voltou e foi a vez de Alexia.

   Estavam deitadas na cama, Amora no meio delas duas, brincava com os cabelos de Tereza, enquanto Alexia alisava sua barriguinha, Amora ria.

- Quanta energia – Tereza se surpreendia.

- É assim mesmo amor – Alexia dizia rindo.

- Amor – Tereza disse se sentando na cama, Alexia também se sentou, pegou Amora no braço – Eu sei que é cedo, mas eu quero você para o resto da minha vida, você é meu sol, vocês são meu sol – Tereza dizia firme, encarava Alexia que não aguentou, uma lagrima descia. – Quer casar comigo? – Tereza perguntou, mexeu embaixo do travesseiro e tirou uma caixinha – Então, aceita? – Disse por fim.

- Não aceito – Disse e Tereza arregalou os olhos – Você tem que me comprar com doce, ai sim eu penso no seu pedido – Gargalhou – Claro que aceito meu amor, minha maloqueira, vou te amar pra sempre. – Disse e Tereza soltou a respiração.

- Engraçadinha – Riu, pegou o anel e colocou no dedo do seu amor, deu um selinho leve em seus lábios.

- Meu amor – Alexia disse fazendo carinho em seu rosto – Único amor – Sorriu feliz.

- E a senhorita – Tereza olhou para a pequena – Quando vai me chamar de mãe? – Tereza dizia esperançosa.

- Mama teta – Amora disse rindo. Tereza arregalou os olhos, Alexia só sabia rir.

- Amor você escutou? – Tereza não acreditava – Ela me chamou de mama – Tereza quase gritava de felicidade, pegou Amora nos braços, levantou da cama e rodopiava com a pequena pelo quarto. – Ela me chamou de mama, teta, teta, mama teta – Cantarolava dançando com a criança no braço. Alexia morria de rir vendo a cena.

- Amor calma, vai deixar ela tonta – Alexia disse, Tereza se sentou com Amora.

- Vou matar vocês duas de cócegas – Olhou arqueando a sobrancelha.

- De jeito nenhum, dá nossa filha aqui – Alexia disse protegendo Amora.

- Hahaha agoraaaa – Tereza disse fazendo cócegas em Alexia e alternava entre ela e Amora, as três gargalhavam felizes.

   Aquela noite foi de muitas alegrias para as duas mulheres, para os quatro amigos. Aquele amor iria durar por anos, décadas...

Fim do capítulo