Larissa

                Sorri olhando Bella em frente ao espelho. Ela estava linda em um vestido longo, azul, salto alto e maquiagem. Me aproximei admirando-a, ela me olhou pelo reflexo do espelho. Seus olhos brilhavam, mante o olhar no meu, até que me coloquei atrás dela.

-Você está linda. – falei pousando as mãos em sua cintura.

               Ela deu um sorriso, já ficando corada.

-Obrigada, você também está linda.- virou-se me admirando.

               Eu vestia um terninho feminino, calça social e scarpin preto. Hoje era o casamento de nossos amigos. Bella estava radiante, e mesmo depois de tantos acontecimentos em minha vida, eu me sentia feliz.

-Você está pronta? - perguntei.

-Sim. – disse sorrindo lindamente para mim.

             Segurei sua mão e caminhamos para a saída do quarto. Descemos as escadas, Isac e Milena começaram as gracinhas:

-Gente o casamento é de Maísa e Benjamim, vocês duas vão chamar mais atenção que os noivos.- Mile disse sorrindo.

-Estão lindas. – Isac falou beijando o rosto da irmã. Em seguida o meu.

-Vamos, Zé já está nos esperando. – Milena falou.

              Já no carro, Bella sentou-se ao meu lado. Segurou minha mão, que agora, já não estava mais imobilizada. Eu olhei para ela e sorri. Meus pensamentos foram até dois dias atrás :

 

 

             Depois que assistimos ao filme vi que Bella e Alice estavam dormindo. Sorri com a cena, ela estava com a cabeça na barriga de Bella e as pernas na minha. Como era espaçosa essa garota, ri e tirei as pernas dela de cima de mim, ela se mexeu e deitou ainda mais agarrada a Bella. Cobri as duas, desliguei a Tv e sai da sala.

 

              As mãos de Bella tocaram minha perna me trazendo a realidade.

-Chegamos. – me olhou.

               Descemos do carro, a igreja estava cheia, faltava pouco tempo para a hora da noiva chegar. Dei uma olhada rápida e vi Benjamin parado no altar, ele conversava com um homem que parecia bastante com ele. Provavelmente seu irmão. Milena e Isac me chamaram:

-Vamos procurar um lugar para sentar?

-Claro. – concordei e me virei para Bella. – Nos vemos lá dentro.

-Tudo bem. – sorriu e me deu um beijo.

               Caminhei junto de Milena e Isac, encontramos um lugar vazio e nos sentamos. Passei os olhos pelo lugar, de longe avistei Samantha e Bianca, sentadas lado a lado. Ainda não sabia o que as duas tinham, nem ao menos o que aconteceu depois da noite que saíram juntas com aquela mulher do pub. O que me fez lembrar de Andressa e nossa conversa, que Marta e Ruan esconderam de mim a existência da minha irmã. 

 

              Já era noite quando Bella e Alice acordaram.

-Pensei que iam dormir até amanhã. – falei ao ver as duas acordarem.

-Hum, já é noite? – perguntou Bella ainda sonolenta.

-Sim, quase hora do jantar. – falei fechando o livro que eu lia.

-Posso dormir mais? - Alice disse passando a mão nos olhos.

-Não, precisamos comer algo. – Bella disse passando a mão nos cabelos da pequena.

-Tudo bem, depois eu posso dormir aqui? – perguntou com os olhos brilhando.

            Bella me olhou, na esperança que eu explicasse para ela.

-Você não pode dormir com a gente hoje, depois do jantar teremos que te levar na ONG, mas amanhã vamos te ver lá antes de voltarmos. Tudo bem?

-Mas eu pensei que vocês iam me adotar.- falou baixinho. Olhando os dedos.

 -Claro que iremos, só que isso leva um tempinho. Prometo que faremos de tudo para que aconteça mais rápido. – falei me colocando em sua frente.

-Vocês vão para outra cidade e nem vão mais lembrar de mim. – nos olhou com os olhinhos em lagrimas.

             Meu coração ficou apertadinho, vi Bella olhar para Alice de forma protetora. Me surpreendi, mais ainda quando ela não falou nada, só colocou ela no colo e a abraçou. Eu acabei abraçando as duas. Alice chorou um pouco até que reclamou:

-Aí, vocês estão me sufocando. – disse rindo.

-Tudo bem, vou soltar você, mas só se me prometer não ficar pensando que nós não iremos ficar com você. - falei ainda agarrada as duas.

             Ela ficou em silêncio por um instante, Bella e eu a olhávamos esperando que ela falasse alguma coisa.

-Tudo bem, eu prometo. – falou nos olhando.

-Ótimo, agora me dá um beijo aqui.- apontei para minha bochecha. – Que eu solto vocês.

          Alice sorriu, passou os braços em volta do meu pescoço e beijou meu rosto. Depois se virou para Bella e disse:

-Você também. – Beijou seu rosto.

           Bella sorriu do jeito da pequena, depois que comemos algo, fomos deixar Alice na ONG, não foi fácil deixar a pequena lá. Ambas nos emocionamos, ela ficou triste por não poder ficar conosco. Esperamos que ela entrasse e voltamos para o carro.

-Ela vai ficar bem.- Bella disse segurando minha mão.

-Eu sei que vai, eu só não queria ter que deixar ela aqui. – sorri sem graça.

-Nem eu meu amor, nem eu. – disse se acomodando ao banco.

            Ela dirigiu calmamente, percebi que não era o caminho de casa.

-Onde você está indo?

-Para a casa de Ruan e Marta. – eu revirei os olhos e olhei para a rua.

-Não faça essa cara, você precisa conversar com os dois, escutar o que eles têm a dizer.

-Eu sei. – me dei por vencida.

          Seguimos em silêncio, cada uma presa em seus pensamentos. Logo ela parou o carro em frente ao portão. Me olhou de forma doce, como se me encorajasse a descer do automóvel.

-Acho que chegou a hora. – soltei o ar dos pulmões.

-Boa sorte. – sorriu.

-Você não vem? – questionei quase saindo do carro já.

-Não, melhor você conversar com eles sozinhos. Quando terminarem me liga que eu venho te pegar. –falou pausadamente.

-Tudo bem. – inclinei meu corpo para dentro do carro até que nossos lábios se tocaram em um beijo leve. – Até daqui a pouco. – sorri e ela deu a partida no carro.

-Até.  

          Me virei para a casa e pela primeira vez tive receio em adentrar o local. Fiquei alguns segundos, relembrando de tudo o que havia acontecido, de como eu fui passada para trás, pelas duas pessoas que eu pensava serem confiáveis. Deixei o medo de lado e caminhei a passos lentos até a porta. A governanta abriu para mim.

-Boa noite, Marta e Ruan estão por ai?

-Sim, entre, eu irei chama-los. – me deu passagem.

         Logo a mulher sumiu, em seguida Marta e Ruan surgiram.

-Olá, pensei que iria embora sem que eu lhe visse. – o homem falou se aproximando e me abraçando.

-Não tinha essa intenção. – falei fria.

-Olá Larissa. – Marta me cumprimentou de longe.

          Acenei para a mulher que parecia triste.

-Será que poderíamos conversar no escritório? – perguntei, não queria que fossemos interrompidos pelos meninos.

-Claro, vamos. – Ruan disse.

           Já no escritório, ele sentou-se no sofá, seguido de Marta. Não sei se pelo nervosismo ou se pelo medo do que iria escutar eu preferi ficar de pé.

-Porque vocês esconderam de mim? - perguntei encarando os dois.

-Larissa, nós sentimos muito. – Marta falou.

-Foi uma promessa que fizemos a sua mãe. – Ruan argumentou.

-Ela está morrtaaa.- eu gritei, os dois se assustaram. –Morta, ela morreu, assim como meu pai e Henrique. - sem coragem de encarar os dois eu me virei para a grande janela.

-Linda foi proibida por seus avôs de procurar Andressa, mesmo depois da morte deles ela não quis procurar por ela. Algum tempo depois ela conheceu seu pai, e acabou casando, logo, você nasceu. Ela se acostumou a não saber de Andressa. – Ruan narrou de forma calma.

-Até o dia que ela viu Andressa no Santé. Com o mesmo colar que você tem, o mesmo que ela deu a criança que ela teve que dar para adoção. – Marta disse baixinho.

-O que ela fez quando viu Andressa?

-No dia que ela retornou de viagem ela me procurou aqui. E me contou toda a história, ela ficou apavorada por nunca ter contado a ninguém, nem mesmo ao seu pai.- Marta contou em confidência.

-Ela ficou inconformada e se achava covarde, tanto por não ter lutado para ficar com Andressa, não ter enfrentado os pais, como por ter escondido do homem que ela amava e de você. –Ruan completou.

              Eu permanecia atenta ao que os dois diziam, ouvi os saltos de Marta sobre o piso do escritório.

- A primeira preocupação dela foi em saber tudo sobre Andressa. Ela queria saber tudo sobre a filha que segundo ela, parecia tanto com você. – Marta disse me virando para si.

- Então ela me pediu que investigasse tudo sobre Andressa. E foi o que eu fiz. Entreguei o dossiê para ela, logo que ficou pronto. – olhei Ruan que me encarava sério. – Andressa tinha se assumido para os pais, e já estava quase terminando faculdade de Administração e trabalhava no Santé como Auxiliar Administrativa. O pai adotivo dela não aceitou a sexualidade da filha. E acabou por não ajuda-la mais financeiramente. A mãe dela, no entanto sempre esteve ao seu lado.

-Linda então passou a sempre frequentar o restaurante, apenas para ver Andressa. E nós mudamos o testamento dela, em segredo, até que ela resolveu contar para o seu pai. Ele não se importou por ela ter outra filha, disse que Linda deveria procurar Andressa e contar a verdade a ela, e quando sua mãe decidiu fazer isso ela descobriu que estava grávida novamente. – pausou tentando controlar a respiração. – Então ela adiou mais uma vez. Nós prometemos a ela que explicaríamos tudo a você e a Henrique caso algo acontece com ela, nós nunca esperávamos que vocês...fossem sofrer aquele acidente. – sua voz saiu entrecortada.

             Nesse instante fechei meus olhos, sentindo as lagrimas banharem meu rosto. Reviver o acidente, a risada e a troca de olhares entre os dois, minha mãe sempre conferindo se estávamos bem. E reclamando por eu não largar o telefone. E de repente tudo isso foi tirado de mim, ela nunca teve a chance de me contar o que hoje escuto pela boca de seus amigos.

-Quando ela, quando eles morreram, nós procuramos Andressa, mas na verdade ela já sabia de tudo, e nós mais uma vez ficamos presos nesse segredo. Ela não quis saber do testamento, e dos 25% que tinha por direito. Assim como não quis procurar você. – Ruan disse me analisando.

-Eu sei. Ela falou que não queria que as pessoas comentassem que ela só queria o dinheiro. Só não entendo como vocês me traíram assim, você dois poderiam ter me contado antes, eu entendo a fidelidade que tiveram com minha mãe. Mas com Andressa? Vocês preferiram me deixar sem saber de nada para que Andressa permanecesse no anonimato. – falei sentida. - Vocês não deviam lealdade a ela, deviam a mim, ao menos era o que eu acreditava.

-Larissa o desejo de conhecer você deveria partir dela, de nada adiantaria se contássemos a você e quando a procurasse ela se recusasse a te ver, você estava passando por um momento difícil. Você perdeu as pessoas que mais amava, você ficou sem ninguém, e não queríamos que sofresse por conta de uma irmã que não queria te conhecer. – Ruan falou.

-No fundo o que fizemos foi para te proteger e não por Andressa. – Marta disse ficando próxima a Ruan. – Tudo o que fizemos foi por tentar amenizar seu sofrimento. Tudo foi por você. – disse isso e seus olhos pararam nos meus.

           Não sei se por conta de todo o apoio que eles me deram desde que meus pais se foram ou se pelo fato de eu ter aceitado os motivos de Andressa, percebi que não valeria a pena ganhar uma irmã e perder as únicas pessoas que estiveram ao meu lado no momento mais difícil da minha vida. Caminhei até os dois e os abracei. Marta chorava copiosamente, e até Ruan estava emocionado.

-Sinto muito por tudo isso. – sussurrou ao meu ouvido.

-Ela me pediu também para quando você soubesse de Andressa, te entregasse isso. – Marta de dirigiu até o cofre e de lá tirou um envelope e me entregou. – Vamos deixa-la sozinha. – olhou para Ruan e lhe estendeu a mão.

           Ele segurou meu ombro e saiu de mãos dadas com a esposa. Eu olhei o conteúdo em minha mão que estava trêmula. Quando abri o envelope e vi a letra da minha mãe,  chorei.

 

 

-Lari, Lari..você está bem? – Milena perguntava baixinho.

           Ouvi a música típica de casamento, todos na Igreja já estavam de pé esperando que Maísa entrasse. Olhei para Mile que me encarava preocupada.

-Estou bem. – sorri e me levantei. A primeira a entrar foi Bella.

            Ela sorria abertamente, caminhando com cuidado. E a cada passo dela meu coração batia um pouco mais acelerado, até que seus olhos encontraram os meus. Me prendi neles como se fosse a primeira vez, o brilho, o sentimento que eles expressavam. Sussurrei um “eu te amo” e ela passou por nos. Logo atrás vinham mais duas moças, por último a noiva. Maísa chorava e sorria ao mesmo tempo, pensei que comigo seria exatamente assim.  Benjamim era pura felicidade observando ela se aproximar.

             Já no altar, o pai de Maísa apertou a mão de Ben e disse algo que fez ele rir. Logo depois ela e ele ficaram se olhando, pareceu até que haviam esquecido o que estavam fazendo ali. Logo depois a cerimônia começou, depois de todo o falatório do padre, chegou a hora da troca de alianças e dos votos. Benjamim foi o primeiro:

-A melhor parte da vida é quando não temos mais que caminhar sozinhos, quando encontramos alguém que divide os sonhos, que soma as alegrias, que multiplica as boas memórias, diminui o sofrimento, as dores, os problemas. Que te faz ver o mundo não penas por seus olhos, mas te faz enxergar um mundo inteiro só pelos olhos dessa pessoa. Maísa, obrigada por me fazer enxergar esse mundo cheio de novidades e possibilidades. – ele parou emocionado. Maísa já chorava. – Não posso te prometer ser o melhor sempre, mas prometo sempre tentar ser o melhor. Não posso prometer que jamais te farei sofrer, mas prometo sempre te pedir desculpas e acertar as coisas. Pois não sei como seria uma vida sem que você estivesse comigo, prometo amar vocês todos os dias e todas as noites. Inclusive as madrugas. – deu risada, assim como todos ali presentes. - Quero sempre estar ao seu lado. Te amo. – colocou a aliança no dedo dela.

- Benjamim, ao seu lado descobri que a felicidade pode ser constante. Você consegue me fazer bem apenas por sorrir, seu cuidado comigo, seu carinho, só me faz ter a certeza de que eu fiz a melhor escolha. Você é meu melhor amigo, meu confidente, meu companheiro, meu amante e agora, marido. Prometo defender o nosso amor todos os dias. Não importa quais obstáculos enfrentemos, o meu amor por você continuará intacto, forte e perfeito. Nosso amor é eterno e se eternizará na vida dos nossos filhos. Te amo. – colocou a aliança no dedo de Ben.

-Eu os declaro, Marido e Mulher. O noivo pode beijar a noiva.

             Foi exatamente isso que eles fizeram, o beijo foi intenso, e todos os presentes aplaudiam.  Logo os noivos saíram, já fora da Igreja eu espera Bella.

-Menina eu chorei. – Milena falava pra mim. – E o que foi esse grude todo de Samantha e Bianca? – perguntou baixinho.

-Não sei. Só acho que elas parecem felizes. – olhamos as duas rindo, conversando.

-Oi meu amor. – Bella falou, me abraçando.

-Oi amor.- sorri.

-Já podemos ir para a festa? Preciso beber.- Milena perguntou nos olhando.

-Claro. Vocês vão com a gente? – perguntei.

-Sim. –Isac disse.

-Vão indo para o carro que só vou falar rapidinho com mamãe. – Bella disse.

             Alguns minutos depois já estávamos esperando por Bella, que logo chegou. Seguimos para o local da festa. Milena e Isac estavam em uma animação só. De repente Isac pareceu lembrar de algo e perguntou:

-Isa, por que você queria um modelo de Guarda provisória? – olhou para a irmã.

-Eu...Eu...- ela não conseguiu formular uma frase.

-Era para mim. – disse e Mile arregalou o olho.

-Pra que você queria? – Ela perguntou e de repente caiu em si. – Não me diga que você...

-Sim. Eu vou pedir a guarda provisória de Alice. – falei calma.

-E quando nos casarmos vamos adota-la. – Bella falou sorrindo para mim.

-Pera aí, isso é muita informação. – Isac disse alterado. –Vocês nem sabem quando irão casar ainda. Como já querem adotar uma criança?

-Nossa documentação já está no cartório e a Alice é uma criança ótima.

-A mamãe vai pirar quando souber disso. – Isac disse sorrindo.

-Não, ela não precisa saber disso, ao menos não agora. – Bella disse rapidamente.

-Porque? Ela vai ficar feliz Isa. –Isac questionou.

-Não sabemos ainda quando irá acontecer e você conhece a mamãe. – Bella disse calma.

            Nesse tempo todo Milena ficou calada. Até que disse rindo:

-Eu vou ter uma sobrinha. – nos olhou e continuava sorrindo. – Eu vou ganhar uma sobrinha e vou encher ela de presentes, ensinar a paquerar, levar para o shopping. –falava animada.

-Essa vai ser mais ou menos a reação da mamãe. – Isac disse olhando a namorada.

             Depois do comentário de Isac foi impossível controlar o riso. Milena não parou de falar sobre as coisas que iria fazer com Alice. Ela ficou encantada quando mostrei a foto que Gerard havia tirado.

-Aí que coisa fofa vocês três juntas. – falou toda emocionada.

 -Nossa, ela é linda. – Isac disse tomando o celular da mão dela.

             Os dois falaram sobre Alice o caminho inteiro, Bella e eu não conseguimos esconder a satisfação em ver os dois assim tão empolgados com Alice. Chegamos ao local da festa, muitos dos convidados já estavam presentes. Caminhamos de mãos dadas, e logo avistamos a mãe e o pai de Bella.

-Vamos. – ela disse e caminhamos até a mesa que eles estavam. –E vocês dois, nada de contar sobre Alice. – falou seria olhando para Milena e Isac.

-Prometo. – Mile riu.

-Pensei que minhas noras preferidas não ficariam conosco. – Helena disse cumprimentando Milena e em seguida a mim. – Veja se não são lindas. Cada dia estão mais belas.

-Obrigada Helena, a senhora também está linda. – falei, já sem graça por todos os elogios que minha sogra nos dava.

-Vamos sentem-se. – Antônio.

             Nos sentamos, e logo todos já conversavam e bebiam. Milena como sempre era a mais animada.

-O que eu queria mesmo saber é quando será o casamento de vocês. – olhou para mim e Bella.

         Isac e Milena seguraram o riso, pois já sabiam o que estávamos prestes a fazer. Bella me olhou como se pedisse socorro.

-Estamos providenciando isso. – disse e tomei um gole da minha bebida.

-Essa resposta foi muito vaga, pensei que a advogada aqui fosse minha filha. – dessa vez foi Antônio que falou.

-Pai. – Bella o repreendeu. – Por que vocês insistem nisso? – perguntou olhando os dois.

-Vai Isa, conta logo, assim eles param de perguntar. – Isac falou.

        Bella virou para ele, lhe lançando um olhar gélido, que até eu fiquei assustada.

-O que você sabe Isac? – Helena questionou.

-Eu...-olhou pra Bella, que mantinha a expressão séria. – Eu não posso falar. – disse e sorveu todo o liquido de seu copo.

-Então alguém vai me contar ou vão continuar de segredinho? – Helena olhava para nós quatro. Bella deu um logo suspiro, e se deu por vencida.

-Nós já deixamos a documentação no cartório mãe. – disse Bella sem encarar a mãe.

-E se eu não pergunto você não me conta, não é mesmo dona Isabella? – reclamou.

-Mãe é claro que iriamos contar. – Bella se defendeu.

-Mais isso não é tudo. – Milena quem falou dessa vez.

-Não? – Antônio e Helena nos olharam.

-Vocês dois são linguarudos. – Bella disse e eu ri, nem sabia porque ela queria deixar isso escondido, afinal eles são seus pais. – Mamãe não é nada demais, e nem sabemos quando irá acontecer.

-Isabella você está enrolando, vá direto ao ponto. – Antônio reclamou com ela.

-Nós decidimos que depois que casarmos iremos adotar uma criança.

-Mostra a foto dela Isa. Mamãe ela é linda.

-Uma criança, e vocês já conhecem? - nos olhou.

-Sim, foi por isso que fomos para Ouro Preto.

               A mãe e o pai de Bella se entreolharam em completo silencio. Ela segurava minha mão aflita, pelo silencio dos dois. E logo eles sorriram e Helena foi a primeira a falar:

-Onde está a foto da minha neta. Vão me mostrar ou ficar ai com essa cara de espanto?

              Bella enfim conseguiu respirar e foi logo mostrar a foto de Alice aos pais. Era nítida a felicidade dos dois em saber de Alice e claro que Helena assim como Milena já fazia planos, inclusive queriam ir visitar a ONG conosco da próxima vez. Eu fiquei feliz, e ao mesmo tempo senti inveja por Bella ter os pais presentes e poder compartilhar isso com eles. Me lembrei então da carta que minha mãe deixou.

 

 

                Logo que abri o envelope já sentia as mãos trêmulas, bastou ver a letra da minha mãe naquele pedaço de papel, para que eu chorasse. Depois de alguns minutos aos prantos eu consegui ler o conteúdo da carta.

 

 

Lari,

       Se você está lendo isso, significa que algo me aconteceu e não tive a chance de te contar sobre sua irmã. Primeiro, quero que me desculpe por ter escondido esse segredo de você por tanto tempo, segundo, espero que entenda os motivos pelos quais eu não contei, e terceiro, acredito que você irá ficar chateada por Ruan e Marta não terem lhe contado, por tanto lhe peço que os perdoe. Eles apenas fizeram aquilo que eu pedi. A essa altura você já deve saber boa parte da história, me sinto culpada por nunca ter procurado a criança que eu desisti de cuidar, apenas por pressão dos meus pais. Eu fui covarde e admito isso, mas na época não teria como me manter sozinha, e ainda dependia dos dois financeiramente. Desde que cedi a vontade dos dois me acostumei a viver na curiosidade em saber como a criança estaria. A vida segue, muitas coisas acontecem, e você acaba se acostumando com certas ausências, e foi isso que me aconteceu, quando casei com seu pai, já nem pensava tanto na criança que abandonei. E logo depois veio você, que assim que foi colocada em meus braços me fez lembrar tanto dela. Tantas semelhanças, os olhos, a cor dos cabelos. Naquele momento na sala de parto eu parecia estar revivendo velhas lembranças. Mas nunca dei um único passo para saber se sua irmã ainda estava viva, ou onde morava. Até que onze anos depois eu vi uma jovem usando o mesmo colar que eu havia dado a minha primeira filha, logo que nasceu. De repente meu passado e meu presente estavam frente a frente, olhar para ela foi me arrepender de não saber nada sobre sua vida. Nem ao menos saber seu nome, ou como era o som de sua risada.

            Me senti culpada, por não ter dado a ela o cuidado que te dei, por não ter visto seus primeiros passos, por não saber nada sobre ela, apenas seu nome, Andressa, pois estava escrito em seu crachá. Então resolvi contar para alguém, esse segredo, escolhi Ruan e Marta porque eles sempre foram amigos fieis. E me ajudaram nessa época difícil. Queria saber de Andressa, conhece-la mesmo sem deixar que ela soubesse realmente quem eu era. Me contive por um tempo, até que decidi contar para o seu pai. Ele sempre um homem tão maravilhoso, me encorajou a procurar Andressa e contar a verdade, porém acabei descobrindo que estava gravida, e mais uma vez acabei pondo outras coisas em primeiro lugar. Não sei se tive a chance de conhecer Andressa, mas espero que caso eu não tenha, você possa pedir desculpas por minha covardia. Sei que ela poderá não aceitar, mas ao menos sei que vocês estão uma na vida da outra, pois conheço muito bem a filha que tive, você sempre cativa as pessoas. Hoje, talvez você já tenha encontrado a mulher da sua vida, provavelmente eu já tenha até netos.

          Quero que você saiba, que sempre senti muito orgulho de você, que em nada você me desapontou como filha. Que mesmo não estando ao seu lado hoje, estarei cuidando de vocês de onde eu estiver. Amo muito você filha. Fica com Deus.

Linda Rodrigues.

 

 

 

 

 

Fim do capítulo