Todos os acontecimentos são verídicos.
Capítulo 2 - Eu amo a TIM
No dia seguinte, estava na sala tentando prestar atenção na aula e conversando com Carmen por SMS. – Pasmem! Ela não tinha Whatsapp – Conversa vai, conversa vem, começamos a tocar assuntos mais sérios e seguindo essa linha de raciocínio entramos no assunto de Laura. Para quem não lembra, Laura é outra integrante do time que também deu em cima de mim e tinha tido um relacionamento mal acabado com Carmen.
Carmen começa a se abrir comigo, dizer que sente falta dela e que agora que Laura parecia ter superado, ela estava sentindo falta. Parecia arrependida de ter terminado as coisas com Laura e queria tentar novamente. Aquilo me feriu, não que eu achasse que tínhamos algo sério, mas acreditei que no mínimo, deixaríamos as coisas rolarem. Não imaginei que Carmen queria apenas colocar meu nome na lista dela.
Apesar de chateada, resolvi não atrapalhar pois, sabia que Laura realmente gostava de Carmen. Desejei boa sorte para as duas e tentei agir como adulta, pelo menos diante delas. No quarto, no banho eu ficava imaginando como poderia ter sido diferente, mas tentava deixar isso para lá e não me arrepender já que querendo ou não, eu tinha aberto uma nova porta e queria explorar o caminho para o qual ela levava. Carmen e eu conversamos bastante e decidimos nos esforçar para manter a amizade e sendo sincera, não foi difícil já que ninguém amava ninguém e afinal de contas, éramos do mesmo time, não queríamos um clima ruim.
Agora que o flashback acabou, podemos voltar para o ponto onde essa história começou. Acredito que vocês se lembram de Natália, certo? E de como eu disse que ela seria meu novo objetivo. Pois então, quando conheci Natália naquele bosque, me encantei. Até então eu não sabia que tinha um “tipo” de mulher, mas pelo jeito ela era o meu.
Depois do treino em que ela apareceu, conversei com Carmen e disse que estava interessada em alguém. Precisava conversar com outra pessoa a respeito ou ficaria louca. Tomada a decisão de agir, comecei a pensar em como faria isso, eu nunca tinha chegado em alguém antes, muito menos esse alguém sendo uma mulher que eu não conhecia e não fazia idéia de como era, do que pensava, vai que ela era preconceituosa e me daria um belo de um tapa só por tocar no assunto.
Decidi ser o mais sutil possível, pelo menos até saber mais sobre ela. Conversei com minha amiga Jess, a responsável por me apresentar meu novo desafio pessoal e pedi o número de Natália. Jess dificultou um pouco para me passar, ela parecia um pouco incomodada com a possibilidade de eu e Natália virarmos melhores amigas e excluíssemos ela, ciúmes. No final, depois de muita insistência, consegui o número dela.
Puxei assunto com ela pelo whatsapp de maneira leve, brincando, perguntando se ela tinha gostado do treino e se voltaria mais vezes. Ela respondeu que sim e que pretendia voltar sempre. Para minha felicidade ela parecia gostar de conversar comigo, rendia a conversa e parecia interessada. Depois de menos de uma semana nós já conversávamos direto, falávamos sobre tudo e apesar de o ciúmes de Jess ser claro, ela não interveio e não atrapalhou nada.
Em uma quinta-feira, fui almoçar na casa de Jess depois da aula pois, tinha combinado com ela de irmos ao treino do time de basquete para conhecer. Passamos a tarde tocando violão juntas, ensaiamos algumas músicas em que ela fazia a base e eu completava com o solo, até gravamos algumas vezes. Durante o tempo todo eu conversava com Natália pelo celular e isso irritava Jess, apesar disso eu não conseguia parar, estava muito perto de conseguir toda a intimidade de que eu precisava. Enquanto conversava com Natália, eu brincava com ela e a convidei para ir ao treino de basquete conosco, insistindo tentando convencê-la para que eu tivesse oportunidade de conversar com ela pessoalmente, porém como ela morava muito longe não consegui fazer com que ela voltasse para o CEFET.
Não me dei por vencida e já que não iria vê-la hoje, resolvi tirar proveito daquela conversa. Começamos a falar da nossa vida pessoal e eu de maneira a não citar nomes, contei pra ela do que tinha acontecido comigo e com Carmen. Para seu crédito ela não mostrou nenhuma aversão ao fato de eu ter tido algo com outra mulher e pareceu bastante interessada no assunto. Contei a ela que tinha ficado bastante chateada com o desfecho da história mas que agora eu tinha encontrado uma pessoa pela qual estava interessada.
Agora vocês devem estar pensando algo como: “Nossa mas que óbvio, claro que deu muito na cara que era ela”. Sim, eu concordo em partes. De certa forma eu tinha a intenção de que ela pensasse a respeito, queria que quando ela deitasse naquela noite ela imaginasse como seria ficar com outra mulher, queria gerar na cabeça dela a dúvida do “será que ela tava falando de mim?”. Mas ao mesmo tempo não queria que ela tivesse certeza a ponto de se assustar, coisa que funcionou exatamente porque ela nunca tinha tido nada com outra mulher, logo ela ainda tinha certa inocência.
Continuando a conversa, eu disse que estava interessada em alguém e ela me perguntou quem. Não dei muitos detalhes, apenas disse que não sabia nada sobre a pessoa direito e que eu nunca tinha feito isso antes então não sabia como agir. Ela disse que na opinião dela eu deveria tentar, pois o não eu já tinha.
Deixamos minha vida um pouco de lado e começamos a falar do assunto “homossexualidade” que era o ponto ao qual eu queria chegar. Perguntei o que ela pensava sobre isso, se ela tinha curiosidade, se já tinha beijado mulheres, entre outras perguntas óbvias. Ela respondeu que não tinha nada contra e admitiu sim ter curiosidade, mas que nunca tinha experimentado. Disse que tinha medo, que a família seria um problema e etc. Medos normais que eu também tinha. Não fui muito além disso, percebi que tinha alcançado tudo que eu queria com aquela conversa e não queria abusar da sorte já que tinha me dado muito bem com as respostas adquiridas.
Desde então fomos ganhando intimidade, eu pegava no pé dela nos treinos, provocava fazendo piada, conversávamos pelo whatsapp todo dia e o dia todo. Passados cerca de um mês, eu já sabia tudo sobre ela e ela sobre mim.
Certo dia, viajei para a cidade em que grande parte da minha família reside, no interior de Minas Gerais e convidei Jess para ir comigo. Ficamos lá apenas um final de semana pois no sábado extensivo pelo domingo seria o aniversário de um tio. Como de costume, eu e Natália conversamos o tempo inteiro porém tive que diminuir um pouco a freqüência das mensagens pois Jess estava começando a ficar nervosa comigo.
No final da tarde de sábado enquanto eu e Jess nos arrumávamos para o aniversário eu estava conversando com Natália e a conversa estava muito pessoal, falávamos de como estávamos próximas em tão pouco tempo e do quanto gostávamos de conversar uma com a outra e acredito que exatamente pelo teor da conversa resolvi dar um passo a mais. Enquanto eu e Jess entrávamos no carro para ir para o aniversário, resolvi dizer toda a verdade para Natália.
Contei que estava muito atraída por ela, disse que achava ela muito bonita e que tinha ficado interessada desde o primeiro dia em que a vi. Falei que a pessoa na qual tinha falado aquele dia sempre tinha sido ela e que estava sem coragem de dizer e sem saber como dizer. Não queria assustá-la mais do que o normal para aquele teor de conversa então fui com calma, deixei claro que estava apenas sendo sincera sobre o quanto eu gostaria de ficar com ela, que eu queria que ela visse aquilo como uma oportunidade, a mesma oportunidade que eu tive de saciar minha curiosidade e conhecer um lado da vida que nunca tinha sido me apresentado antes, mas que apesar de querer muito beijá-la, que se por algum motivo ela não estivesse disposta eu entenderia. Queria que ela entendesse que nada mudaria, que eu não tinha feito amizade com ela apenas interessada nisso – inicialmente pode até ser, mas acabei gostado mesmo dela como amiga – e que se ela quisesse me dar uma chance, perfeito! Mas se ela não quisesse pouco importava, pois eu continuaria pegando no pé dela da mesma forma.
O engraçado ou talvez desesperador de tudo é que eu estava no carro a caminho do aniversário enquanto me declarava e o aniversário seria em uma fazenda bem no fim do mundo. O que aconteceu foi que assim que terminei de falar tudo que tinha para falar com ela, exatamente nesse instante, eu fiquei sem sinal algum e fui bruscamente interrompida. Desisti de acreditar que o sinal voltaria magicamente quando consultava o celular pela enésima vez e também pela enésima vez, Jess brigava comigo. Eu não a culpava já que ela não fazia idéia de tudo que estava acontecendo e eu não estava disposta a contar.
Como depois da negação vem a aceitação, resolvi aproveitar o aniversário, eu e Jess pegamos nossos violões, sentamos na roda e começamos a tocar. Assim foi por toda a madrugada de sábado. Para a minha absoluta alegria, meus pais decidiram não virar a noite na festa e próximo das 4 horas da manhã resolveram voltar para onde estávamos ficando. Assim que entrei no carro peguei meu celular e fiquei esperando eufórica pelo sinal voltar.
Claro que nada seria assim tão fácil, o caminho de estrada de chão era bem longo e o sinal só voltaria quando chegássemos á cidade. Estava nervosa para ver qual seria a reação depois de tudo aquilo, será que ela entenderia? Será que ficaria completamente chocada e não olharia mais na minha cara? Será que tentaria continuar normal comigo mas o clima ficaria pesado? Eu não sabia mais o que pensar.
Quando chegamos a cidade novamente, reiniciei o celular com a esperança de que o sinal retornasse. Assim que ele religou, começou a vibrar loucamente com a série de mensagens em resposta que eu tinha recebido, eram tantas que o celular tinha travado e eu não conseguia abrir e lê-las. Aguardei com a paciência de uma mulher em trabalho de parto até que ele finalmente voltou a funcionar e eu consegui abrir a conversa com Natália apenas para ler na primeira linha:
“Como é que você faz isso comigo?!”
Fim do capítulo
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