Charlie foi a primeira a acordar e, quando chegou à completa consciência, se deu conta do corpo adormecido de Jodie aconchegado ao dela de forma que o rosto da mais nova estava em seu pescoço enquanto que o braço machucado dela estava sobre seu tronco assim como a perna ferida dela estava sobre suas pernas. Lembranças da madrugada anterior chegaram até mente da mais velha e ela encarou o rosto adormecido da loira com um olhar pensativo e uma expressão calma. Aquele sentimento de proteção e cuidado que sempre teve pela mais nova agora vinha com uma dose incompreensível de desejo que ela sabia em nada ter haver com o corpo bem definido da outra. Era o mesmo, mas ainda assim, diferente do sentimento que ela teve por Izzy; era algo novo com certos toques de nostalgia.....mas isso a assustou.

O sol estava aparecendo no horizonte quando Jodie se moveu um pouco fazendo o corpo de Charlie ficar imóvel e tenso. A mais nova desceu o braço colocando-o na cintura da mais velha ao mesmo tempo em que se puxou para mais perto, o que fez com que ela ficasse com seu corpo sobre metade do corpo de Charlie, enquanto colocava também seu rosto mais colado ao pescoço dela.

Por um segundo apenas a médica ficou imóvel, depois recolocou seus braços sobre a mais nova abraçando-a de forma carinhosa e se permitindo respirar de novo. Ela agora não conseguia ver o rosto de Jodie, apenas os fios curtos e loiros. Sua mão esquerda acabou saindo da cintura da mais nova e indo para o cabelo dela num carinho lento sob aqueles fios macios. Charlie olhou para o teto e ficou assim enquanto via o quarto ser preenchido pela luz daquele amanhecer. E assim ela ficou até a outra acordar.

– Eu sei que está acordada – murmurou Charlie ao notar a mudança na respiração da outra.

– Engano seu – respondeu Jodie sussurrando baixinho, mas sorrindo depois – Posso continuar fingindo que estou dormindo por mais alguns minutos? – ela perguntou por fim apertando um pouco mais o abraço em volta da cintura da mais velha.

– Porque quer continuar fingindo que está dormindo? – perguntou Charlie confusa com aquilo, mas ela ainda olhava para o teto do quarto que agora já estava completamente iluminado.

– Porque se eu acordar vamos ter que conversar e se conversarmos vamos ter que falar de ontem a noite, ou hoje de madrugada, e eu não quero saber que se arrependeu, ou ouvir que você se enganou ou que mudou de ideia – murmurou a mais nova num tom cansado.

– Porque acha que uma dessas coisas aconteceu? – questionou Charlie de forma calma ainda fazendo o mesmo carinho nos cabelos da outra.

– Porque você está ai e parece que está acordada a um longo tempo e isso, com certeza, significa que estava pensando e se pensou muito a possibilidade disso acontecer é muito grande – sussurrou Jodie num tom já angustiado e triste.

Charlie suspirou e afastou a mais nova de si levantando logo em seguida. Jodie mordeu o lábio querendo reclamar, mas não querendo irritar a mais velha e ao mesmo tempo tentou se controlar para não começar a sentir vontade de chorar. Ela viu Charlie caminhar até um canto onde estavam as coisas dela e depois voltar com a pequena maleta de primeiros-socorros que ela tinha. A mais velha, sem dizer nada, começou a trocar os curativos da mais nova enquanto Jodie a observava de forma triste e cansada.

Quando terminou de refazer os curativos Charlie começou a guardar tudo em silêncio e, quando se afastou para guardar de volta as coisas no lugar onde estavam Jodie se levantou pegando suas roupas que estavam aos pés da cama e começando a se vestir.

– Onde acha que vai? – perguntou Charlie ao se virar e ver a garota em pé tentando colocar a perna machucada na calça.

– Pro meu quarto – respondeu a mais nova com um sorriso constrangido – Chega de importunar você por um tempo.

– Ok – respondeu Charlie e Jodie desviou o olhar para que ela não visse a expressão triste que estava fazendo – Deixe pra por um short, ou algo assim – avisou Charlie quando a mais nova tentou de novo vestir a calça – Você não vai conseguir erguer tudo e depois, é até melhor não pressionar o ferimento. Se não tiver nada do tipo pode me dizer que eu te empresto um.

– Não, tá tudo bem, devo ter algum sim, no fundo da mochila – respondeu Jodie tentando ainda colocar a calça ainda de costas e, por isso, sem notar a aproximação da mais velha.

Ela estava quase conseguindo erguer a perna sem sentir muita dor quando se desequilibrou um pouco, mas antes que ela sequer ameaçasse cair Charlie já estava segurando-a pela cintura e mantendo-a no lugar. Jodie não pode conter o arrepio ao sentir a mão da mais velha sobre sua cintura descoberta, mas retirou forças que nem sabia possuir para não se virar porque não queria encarar o olhar de Charlie que pareciam lhe dizer que não havia acontecido nada.

– Não coloque a calça – disse a mais velha de forma calma e baixa – Estou tentando te dizer isso.

– Ok – concordou a mais nova tentando se afastar, mas o aperto de Charlie sobre sua cintura não diminuiu – Charlie, eu já me equilibrei, pode me soltar.

– Não quero te soltar – murmurou a mais velha passando o outro braço em volta da cintura da loira que arregalou os olhos e prendeu a respiração – Não quero que vá pro seu quarto – continuou Charlie abraçando Jodie pelas costas – Não quero que saia daqui achando que me arrependi do que fiz ontem.

– Você não.....não está....fingindo que esqueceu? – perguntou Jodie sem conseguir acreditar no que ouvia – Não....estava só ignorando por ter se arrependido.

– Não ignorei nada – explicou Charlie deixando que a mais nova se virasse, mas ainda assim sem soltá-la – Eu apenas não estava pronta, nem estou, pra falar sobre o que fiz ontem. Não significa que eu esteja arrependida.

Jodie encarou a mais velha, seus olhos ficando um pouco mais altos do que os dela por ser centímetros maior. Charlie não parecia estar com receio de nada, nem estar nervosa ou arrependida; ela estava calma e tranquila e seu olhar passava essa tranquilidade. As mãos dela estavam espalmadas sobre a cintura da loira e Jodie resolveu arriscar tocando o rosto da mais velha. Charlie não se moveu nem afastou a mão de Jodie, apenas continuou encarando aquele olhar azul que estava profundo e concentrado ao notar que seus toques não haviam sido rejeitados.

Com uma velocidade torturante para ela mesma Jodie segurou a cintura de Charlie e, aos poucos, foi aproximando o rosto do rosto da mais velha. Ela mal acreditava que Charlie continuava ali sem se afastar ou tentar afastá-la.

– Jodie – murmurou a mais velha depois da loira ficar muito tempo encarando a boca dela – Se vai me beijar me beije logo e não fique me fazendo esperar – ela disse num tom quase irritado.

A mais nova começou a rir e Charlie, se irritando com aquilo começou a se afastar. Mas Jodie não deixou segurando-a pela cintura com o braço bom e puxando-a de volta para perto de seu corpo com certa força. Antes que pudesse reclamar Charlie estava com os lábios sendo tomados por Jodie num beijo afoito e necessitado onde a loira conseguia colocar toda a vontade e desejo que sentia.

Fim do capítulo