POV Narradora

Charlie queria bater em Jodie quando a viu descer, depois quis matar aquele cara pela forma com que ele olhava para a garota, então quis tortura-lo lentamente quando o viu usar uma faca contra a loira. E essas mudanças eram visíveis no rosto dela enquanto assistia a luta da mais nova.

Mas quando viu aquela faca entrar na perna de Jodie ela não se aguentou mais e pulou para dentro do buraco caindo direto no chão e logo correndo na direção deles que estavam do outro lado do lugar, mas quando chegou perto a luta já tinha acabado e Jodie estava gem*ndo de dor depois de arrancar a faca. Houve muito barulho e discussão na parte de cima, mas Charlie nem ligava pra isso. Ela se ajoelhou ao lado da mais nova rapidamente tirando as faixas das mãos e enrolando-as nos ferimentos da loira.

– Não – murmurou a mais nova quando viu o que Charlie estava fazendo – Vai sujá-las – disse Jodie em voz baixa.

– Quieta – falou a mais velha encarando os olhos azuis com irritação – Não diga nada pra não correr o risco de eu querer ainda mais bater em você.

– Desculpa te deixar preocupada – falou a mais nova rindo baixinho e Charlie rolou os olhos fazendo-a se sentar para colocar a outra faixa na coxa da loira que estava sangrando muito.

– A luta não foi válida – disse um dos líderes descendo e falando irritado – Ela não podia ter enfrentado meu lutador.

– Ele perdeu – falou Jeremy sorrindo – E agora você tem um lutador a menos. Eu não tenho culpa se ele não era bom o bastante.

– Ela não é do seu grupo! – insistiu o outro com raiva.

– Calem as malditas bocas! – disse Charlie com irritação fazendo todos olharem para ela que continuou a colocar a faixa na perna de Jodie que segurava o riso – Ela é parte do nosso grupo sim, mora comigo e é uma lutadora. Ela venceu e ponto, se não querem aceitar a vitória manda seu outro lutador que eu acabo com ele de uma vez por todas, mas já aviso que se eu lutar agora vou acabar com ele rápido, porque preciso cuidar desses ferimentos que o idiota do seu lutador fez – ela ergueu o olhar encarando o líder do outro grupo com um olhar de raiva que fez o homem tremer – Achei que tínhamos um acordo de que facas e coisas do tipo só seriam usadas se lutassem comigo.

Ninguém falou mais nada depois disso e, quando terminou o que estava fazendo, Charlie ajudou Jodie a ficar de pé e, com a ajuda de um dos homens de Jeremy, a colocou para cima. Depois disso ela não esperou nada nem ninguém e foi saindo com Jodie apoiada sobre ela e sendo seguida por Sam e Max. Jodie até que conseguiria andar sozinha, mas ela estava adorando poder estar com o braço em volta do pescoço da mais velha e ter um braço de Charlie em volta de sua cintura então não reclamou nada pela outra a ter amparado durante todo o caminho.

Não houve conversa também quando as quatro chegaram ao galpão. Charlie arrastou Jodie para o seu quarto, o que deixou a mais nova confusa, e Max subiu logo depois com um balde de água limpa. Só quando Charlie se afastou dela para pegar suas coisas médicas foi que Jodie sentiu que estava com frio e isso a preocupou, mas ela decidiu não dizer nada, afinal a outra já estava se preparando para cuidar dela.

Depois de limpar e suturar os dois ferimentos Charlie pediu para Max levar a água suja e as faixas dela para fora e tentar lavar um pouco as faixas. Jodie estava deitada de olhos fechados e ficou assim todo o tempo que a médica levou para fazer curativos sobre os ferimentos. Quando terminou Charlie parou e encarou a garota deitada em sua cama. Jodie estava quase nua porque foi preciso tirar a calça jeans dela para cuidar do ferimento na perna, usava apenas o top de antes e uma calcinha, também preta. Charlie ficou encarando-a imersa em pensamentos e só despertou para a realidade novamente quando Max apareceu na porta, minutos depois.

– Como ela está? – perguntou a garota entrando no quarto com Sam.

– Dormindo, aparentemente – disse Charlie se sentando ao lado do colchão que estava sobre um estrado de madeira.

– Jodie vai ficar bem? – perguntou a garotinha encarando a mais velha.

– Vai – respondeu Charlie simplesmente, para ela não havia outra possibilidade.

– Ela fez isso porque não queria que você tivesse que lutar – comentou a menor suspirando – Eu disse a ela que você talvez não quisesse que ela te visse lutar – completou a garota com uma expressão arrependida e Charlie a encarou por alguns segundos.

– Está tudo bem Max – disse a mais velha olhando para fora e vendo o céu escurecer – Não foi nada. E ela vai ficar bem sim, não se preocupe. Mas é melhor você ir dormir, está anoitecendo e caminhamos muito hoje, vá descansar que eu fico aqui com a Jodie. Você também Sam, fica fazendo companhia pra Max essa noite, ok?

Sam se aproximou da dona ganhando um carinho e um beijo na cabeça e depois seguiu Max para fora. Após a porta ser fechada Charlie se ergueu e puxou o velho cobertor sobre o corpo de Jodie cobrindo-o completamente e tirando-o da sua linha de visão. Ela sentou ao lado da cama encostando-se a parede ao lado de onde estava a cabeça de Jodie e ali, olhando o rosto da loira, ela acabou adormecendo.

----Algumas horas depois----

– Não....ela não...solta ela – balbuciava Jodie na cama se movendo e com uma expressão angustiada – Solta! – um pequeno grito da mais nova acordou Charlie que se sentou alerta e logo notou a loira se movendo e afastando o cobertor – Solta – repetiu Jodie começando a chorar baixinho ainda com os olhos fechados.

– Jodie – chamou a mais velha se ajoelhando ao lado da garota e segurando-a pelos braços – Jodie está tudo bem – repetiu ela notando como a mais nova estava com febre – Hey – ela chamou baixinho tocando o rosto da outra – Acorda, está tudo bem, é só um pesadelo.

Jodie abriu os olhos olhando assustada em volta e se encolhendo envergonhada ao notar Charlie a olhando.

– Desculpe – ela murmurou notando onde estava – Eu...eu vou pro meu quarto, desculpa te fazer dormir no chão – murmurou ela tentando levantar.

– Você não vai a lugar algum – falou Charlie a segurando no lugar – Está ardendo em febre, vai ficar exatamente ai.

– Não vou deixar você dormir no chão – disse Jodie numa voz fraca, logo depois ela se encolheu por causa de um arrepio de frio – Tá frio aqui.

Antes que tivesse pensando e realmente avaliado sua ideia Charlie já estava deitando ao lado de Jodie no colchão.

– O que está fazendo?? – perguntou a mais nova surpresa com aquela atitude.

– Resolvendo dois problemas – respondeu a mais velha puxando a coberta outra vez e se deitando mais perto da loira – Você está com frio e não tenho outras cobertas perto e, como não quer que eu durma no chão, vou ficar aqui – informou a mais velha se deitando e depois se apoiando sobre um braço para arrumar o cobertor em volta de Jodie ficando parcialmente sobre a outra.

– Isso é maldade comigo – comentou a mais nova fechando os olhos com força.

– Por quê? Estou cuidando de você – disse Charlie sem entender nada.

– É maldade porque você está aqui tão perto....na mesma cama que eu......e eu estou morrendo de vontade de te beijar de novo e te agarrar.....mas não posso e sei que você não deixaria – murmurou Jodie olhando para qualquer lugar menos os olhos de Charlie que continuava parcialmente sobre ela – Isso é pura maldade, Charlie......não é justo você me fazer passar por isso.

POV Charlie

Eu a encarava de perto, sentia o corpo dela quente e arrepiado, mas algo me dizia que estava arrepiada por conta de estar com meu corpo encostado ao dela. Lembrei do momento em que fiquei sozinha encarando o corpo dela, eu me lembrava de uma sensação parecida ao que senti ao observar o corpo seminu de Jodie. Não era a mesma coisa, havia algo diferente, mas eu também não podia negar a semelhança; era parecido demais para eu não entender que era desejo o que senti olhando para ela.

A raiva que eu senti do cara que a machucou também me veio a mente, era irracional demais, um desejo absurdo de descer lá e amassar o rosto dele com socos por ter machucado ela. E agora ela estava ali, a mesma mulher confiante que tinha entrado naquele buraco para lutar contra um brutamonte com um sorriso convencido no rosto estava agora na minha frente evitando meu olhar. Por um minuto eu me lembrei de Izzy, da forma como eu cuidava dela, mas, mesmo assim, ela não se deixava parecer frágil, exceto uma única vez, mas mesmo assim ela estava sempre se policiando para parecer forte, mais forte que eu, mesmo quando estávamos sozinhas eu tinha que pedir para que ela me deixasse cuidar dela.

Essa memória deveria mexer comigo, mas não mexia, ao contrário, ela apenas me trazia memórias de como a Jodie, apesar de forte, firme e decidida na presença dos outros, se abria e mostrava a própria fragilidade na minha frente sem receios de mim. Toquei o rosto dela de leve fazendo-a me encarar, olhei bem no fundo daqueles olhos azuis e ela me encarou de volta.

– Era um pesadelo com a Vivian, não era? – perguntei e ela concordou com a cabeça – Há quanto tempo tem esses pesadelos com ela? São frequentes?

– Mais do que eu gostaria que fossem – murmurou ela se encolhendo de novo, mas dessa vez por causa das memórias – E tenho eles desde que aconteceu – ela terminou de me responder voltando a me olhar – Charlie, por favor, se vai ficar aqui ao menos fique de costas. Eu te peço; sério mesmo. Não quero desrespeitar você, não quero te irritar com as minhas investidas. Sei que estou machucada e que você cuidou de mim, mas com você assim fica difícil não tentar nada – ela pediu olhando bem dentro dos meus olhos também.

Minha mão continuava no rosto dela e eu me mantive encarando-a e ela, apesar de tudo, me encarava de volta e era claro no olhar dela que estava se segurando para não me beijar.

Foi como uma porta se abrindo dentro de mim, um click, não sei nem nunca vou saber exatamente o que mudou, ou apareceu, ou se mostrou dentro de mim naquele momento. Só sei que num segundo eu só estava olhando-a e no segundo seguinte uma tempestade de sentimentos e emoções tomava conta do meu peito. E então eu decidi que queria beijá-la e não esperei nada para saciar essa vontade.

POV Jodie

Eu não estava mais com frio, apesar de saber que era só por causa dela, mas de repente eu fiquei incrivelmente quente, e isso não tinha nada haver com a febre. Charlie estava me beijando, e não era um beijo roubado, nem um selinho de surpresa, era um beijo de verdade e, por Deus, era melhor do que eu imaginava poder sentir a língua dela na minha. Esqueci que estava machucada e ergui o braço errado até os ombros dela e, quando o ferimento tocou o braço dela que estava entre a gente eu gemi, mas de dor e ela se afastou me causando um novo gemido de tristeza.

– Desculpa – ela pediu e eu me desesperei.

– Não! Deus Charlie, beijar você é a coisa que eu mais quis esse tempo todo, não peça desculpas por .... – fui calada pela mão dela na minha boca e notei o pequeno sorriso que ela tinha nos lábios.

– Não foi por isso que me desculpei – ela sussurrou beijando meus lábios e segurando meu braço ferido pelo cotovelo onde não havia bandagens cobrindo-o.

Ela o afastou colocando-o para cima da minha cabeça e me beijou de novo, dessa vez consegui colocar a outra mão por debaixo dela e abraça-la o que me deixou nas nuvens foi a outra mão dela descendo pelo meu braço até passar pela lateral do meu corpo até a minha cintura, e foi assim que notei que ainda estava só com roupas intimas.

– Agora chega – ela sussurrou contra meus lábios se afastando um pouco e eu reclamei de forma que ela me calou novamente com um selinho – Chega – ela repetiu num tom calmo se afastando mais e me fazendo sentar um pouco para ajeitar o travesseiro – Você tem que descansar e está com muita febre. Paramos por aqui hoje. Agora vem cá – ela me chamou abrindo os braços depois de deitar mais confortavelmente sobre o travesseiro e eu fui sem contestar sendo abraçada por ela e me aconchegando contra seu corpo – Dorme – ela sussurrou começando a fazer carinho nos meus cabelos e, mesmo não tendo sido uma ordem eu obedeci prontamente.

Fim do capítulo