Isabella.

               Precisava do meu celular, não conseguiria acompanhar Larissa, da forma como ela saiu daqui já deve estar na garagem, droga! Pensei. Espero que ela esteja de motorista. Não gosto da ideia que ela possa está sozinha e vá dirigir nesse estado, liguei uma vez, duas, três e ela recusou todas as minhas ligações. Suspirei, atirei meu celular na mesa. Olhei nossa foto no porta-retratos, não podia deixar que ela entendesse tudo errado. Liguei para Milena:

-Oi Isa. – atendeu.

-Milena a Larissa te ligou, ela está com o Zé ou dirigindo? – perguntei agoniada.

-Calma, respira, ela não me ligou, ela está com o carro depois que almoçamos ela foi aí te ver. – contou de forma calma, até que percebeu meu silêncio. –O que aconteceu Isa?

-Ela viu Alana me beijando. – confessei. – Mas não dessa forma que você imagina, ela simplesmente me agarrou. Larissa viu e deu um soco nela e saiu em seguida sem me deixar explicar o que realmente havia acontecido.

-Puta merd*, o que diabos essa Alana tem na cabeça, ela merecia dois socos ao invés de um. Vou tentar falar com ela, fica calma, a Lari não vai fazer nenhuma besteira. Qualquer coisa te ligo.

-Tudo bem, obrigada Mile.

       Encerrei a ligação sentindo meus ombros pesarem, por que diabos eu aceitei conversar com Alana aqui na minha sala, eu deveria era tê-la dispensando logo que tive chance. Mas o fato de termos falado em particular não lhe dava o direito de me beijar. Suspirei derrotada.

-Amiga, é verdade o que o rádio corredor está contando? – Maísa colocou a cabeça para dentro da sala.

      Acenei para que ela se sentasse, era tudo o que me faltava, as fofocas do que aconteceu.

-Dependo do que ouviu. – suspirei com o celular na mão, o fundo da tela era Lari com as meninas na grama.

-Tem um grupinho ali fora que parou de falar quando eu cheguei, mas lá em cima tudo mundo está comentando que Larissa pegou você e Alana aos beijos.

-Foi isso, mas não desse jeito, não estávamos aos beijos, Alana me agarrou e Larissa chegou. – senti meus olhos marejarem. – Eu tem..tei Maísa, eu..eu até mordi a Alana para que ela me soltasse. – chorei, não conseguindo conter o turbilhão de emoção dentro de mim.

-Calma, respira Isa. – falou tentando me consolar. – A Larissa é cabeça, ela não se deixa abalar por Alana, ela sabe que você não fez por querer. – disse colocando agua no copo para mim.

-Ela deu um soco na Alana. E eu também na verdade. – falei meio que rindo depois que tomei um pouco da agua.

-Você bateu na Alana? E a Larissa também? – foi impossível não rir, Maísa gargalhou, na verdade ela já chorava de tanto rir.

-Maísa é sério, a Larissa sai daqui furiosa, não me deixou explicar nada, e ela estava de carro, tenho medo que ela acabe se machucando. – confessei preocupada.

-Eu entendo querida, não fica assim, daqui a pouco ela aparece, e vocês se acertam. Quem sabe ela não está com Milena já. – falou pensativa.

-Já liguei para Milena ela não sabe da Lari. – falei derrotada.

-Bom, sendo assim a única coisa que você pode fazer é esperar que ela apareça. Já está anoitecendo quem sabe ela não foi para casa. Você devia ir ver se ela já está lá.

-É talvez você tenha razão, acho que vou para casa. – concordei arrumando minhas coisas.

-Vamos, vou contigo.

            Bastou botar o pé fora da sala para os olhares se voltarem para mim, Maísa segurou minha mão me passando segurança. Sorri para ela e seguimos para o estacionamento. Entrei no meu carro, depois que nos despedimos, tentei mais uma vez ligar para Larissa, dessa vez já estava era encaminhado direto para a caixa de mensagem. Suspirei e dirigi atentamente na tentativa frustrada de quem sabe vê-la em algum lugar por onde passava.

            Parei o carro na garagem de casa e não vi todos os carros ali, suspirei, pois, o isso significava que ela não estaria ali. Segui para o quarto, andando calmamente, abri a porta e ela não estava, as meninas correram querendo atenção.

-Oi meu amores, vocês por acaso sabem se a mamãe Lari está nessa casa imensa?-  as duas me olharam enquanto eu fazia carinho em suas cabeças.

            Brinquei um pouco com as duas, e fui conferir se não havia ninguém em casa. Depois que constatei que estava sozinha, fui tomar um banho, ainda tentei ligar para ela, mas não obtive resposta alguma. Acabei desistindo. Ouvi um barulho lá em baixo. Desci as escadas na esperança de que fosse ela.

-Ah oi Milena. – falei sentando no sofá.

-Oi Isa, sinto muito não consegui falar com a Lari, e pela sua cara ela não apareceu ainda. – disse sentando ao meu lado.

-Não, estou preocupada, será que aconteceu alguma coisa com ela?

-Não sei, se fosse o caso nós já saberíamos. Vou ligar para Suse quem sabe ela não foi falar com ela. – disse se afastando com o celular no ouvido.

            É impressionante como nessas horas você só pensa o pior, na minha cabeça duas coisas poderiam ter acontecido, ela ter se machucado ou ter sido assaltada. Senti um calafrio e me proibi de pensar na terceira que era ela está com outra pessoa por pensar que eu fui infiel. Fiquei ali no sofá encarando o nada por sei lá quanto tempo, Milena não foi para a faculdade, a verdade é que ela estava tão preocupada quanto eu.

           Não sei em que momento acabei dormindo, percebi que Milena tinha colocado um cobertor em cima de mim. Lembrei das acusações infundadas de Alana, Milena e Larissa são praticamente irmãs. Fora que ainda namora meu irmão. Suspirei pegando o celular na esperança de que ela tivesse pelo menos avisado que estava bem.

           Fiquei triste ao ver que isso não havia acontecido e mais ainda quando vi o avançar das horas. Acabei subindo para o quarto, me deitei e senti o cheiro dela no travesseiro, chorei, chorei muito até que apaguei. Abri os olhos lentamente, na incerteza de que o que havia acontecido ontem teria sido um sonho. Passei a mão na cama, e percebi que tinha realmente acontecido, Larissa ainda não havia aparecido.

           Fechei os olhos suspirando, ouvi batidas na porta. Levantei-me e abri.

-Bom dia Isa. A Lari apareceu?

-Não, ela não dormiu em casa. Ao menos não aqui. – mostrei a cama vazia.

-Vou tentar ligar para ela vai que dessa vez aquela criatura atende. – pegou o celular e discou. Esperou um pouco e logo começou a falar.- Larissa Rodrigues, sua sapatão, sua loira desmiolada, é bom que você ainda esteja viva, para quando eu te encontrar te cortar em pedacinhos, ouviu? – deixou recado. – Você vai para a empresa? – me perguntou.

-Não sei, tenho muito trabalho, mas estou preocupada com a Lari. Acho que vou ficar por aqui e esperar que ela apareça. – falei triste.

-Tudo bem, vou ter que ir para a construção. Te espero para tomarmos café juntas?

-Claro, desço daqui a pouco.

-Ok.

            Assim que ela saiu fiz minha higiene matinal, vesti algo confortável e desci, quando cheguei na sala ouvi um grito de Milena, segui sua voz e respirei aliviada quando vi Larissa deitada em uma das cadeiras perto da piscina. Mantive certa distância já que não sei ao certo como ela está em relação a tudo que aconteceu ontem. Até que vi ela sorrir para mim, isso era um bom sinal, não é mesmo? Resolvi me aproximar.

-Fiquei preocupada. – falei encarando aqueles olhos que tanto amo.

-Eu tô bem. – tentou amenizar a situação.

--Bem nada, olha isso.- Milena mostrou a mão dela. – Ela precisa ir ao hospital.

-Meu Deus Larissa o que foi isso na sua mão? – me assustei com o estado que ela estava.- E não me diga que foi pelo soco em Alana por que eu também fiz isso e minha mão está normal.- mostrei a minha, ela sorriu quando escutou o que eu disse.

-Para de rir palhaça, ela bateu mesmo na Alana e juro que deixou ela te cobrir de pancada se você não for ao hospital logo. – Milena ralhou com ela.

-Tudo bem, mas posso pelo menos tomar um banho antes? – perguntou olhando para Milena como se pedisse permissão.

-Ok. Eu preciso ir para a construção, a Isa vai se responsabilizar por te levar. – me olhou esperando que eu concordasse.

-Cla-claro. – confesso que estava com medo dessa Milena cheia de ordens.

-Ótimo, até mais tarde. – deu as costas e saiu pisando duro.

-Ela está furiosa. – Lari falou se pondo de pé.

-Não é para menos, você sumiu a noite inteira. – falei enquanto caminhávamos para a casa.

             Minha vontade era que perguntar onde diabos ela havia ficado a noite inteira, e com quem, mas no momento não era bom dá uma de ciumenta já que ainda nem conversamos sobre o que aconteceu ontem.

-Desculpa, só precisava acalmar os nervos. Não tinha intenção de preocupar vocês. – falou segurando minha mão.

              O gesto me deixou feliz, isso significava que ela não tinha intenção de terminar comigo, ao menos é isso que espero. Já no quarto deixei que ela fosse para o banheiro.

-Meu amor...- sorri ao ouvi-la me chamar de amor, isso também era um bom sinal, não é?

-Oi linda. – coloquei a cabeça para dentro do banheiro, ela estava com a blusa presa na cabeça.

-Será que você pode me ajudar? Minha mão está me deixando impossibilitada.-

-Claro. – entrei e ajudei a despi-la.

             Quando ela já estava completamente pelada ficou me olhando como se esperasse que eu comentasse algo ou perguntasse. Eu não falei nada, apenas sorri para ela que me retribuiu.

-Você bateu mesmo na Alana?- perguntou quando já estava no chuveiro.

-Sim, ela merecia. – vi que ela deu uma pequena risada.

-Eu sei. Já estava passando da hora na verdade. –falou.

-Sobre o que você viu...- tentei tocar no assunto.

-Eu sei Isabella, ela agarrou você. – disse calmamente, desligou o chuveiro. E abriu a divisória do banheiro. Encarou meus olhos.- Confio em você, sei que nunca seria capaz de me trair ainda mais com a sua ex.

-Se você sabia disso por que saiu me deixando pensar que eu tinha ferrado com tudo? – questionei magoada.

-Por que se eu ficasse para tentar conversar no estado em que eu estava nós não teríamos conversado com calma. – falou meio que sorrindo. – Quando eu disse que você não precisava explicar era por que eu já sabia o que havia acontecido.

-Você não faz ideia do que senti quando te vi saindo daquele jeito.- senti meus olhos umedecerem.

-Ei, eu sei sim, desculpa por ter feito isso. – segurou minha mão.

            Me trouxe para perto me abraçando, acho que ela esqueceu que estava pelada e completamente encharcada. Apoiou minha cabeça em seu ombro e beijando-a em seguida. Me permiti chorar, ela estava ali, estava bem, e não ia me deixar. Segurou meu queixo seu olhar ia da minha boca aos meus olhos, e nos beijamos em seguida. O beijou durou tempo suficiente para ficarmos sem ar, quando nos separamos eu reclamei.

-Você me molhou inteira. – abri os braços mostrando minha roupa.

-Tenho uma solução para isso.- riu de forma safada. – Você entra aqui comigo e eu te deixo ainda mais molhada.

            Não pensei sei duas vezes, e já estávamos trocando carinhos embaixo do chuveiro. Alguns minutos depois já estávamos pronta para irmos ao hospital. Na garagem vi o carro que ela estava ontem com a porta amassada.

-Eu sei, fiz isso. – confessou, entrando no meu carro e colocando o sinto.

-Você deveria ter ido imediatamente para o hospital. – falei séria.

-A Andressa disse a mesma coisa. – falou olhando a mão.

           Quem diabos era essa tal Andressa? Resolvi não perguntar diretamente.

-Você bebeu ontem e dirigiu até em casa? – questionei tirando o carro da garagem.

-Sim eu bebi, mas não vim dirigindo. Andressa me trouxe no meu carro e voltou com a Adisa.

           Mais essa agora Adisa que porr* de nome é esse, tentei não demonstrar ciúmes ou qualquer incomodo com isso.

-Tudo bem. Fico feliz que esteja bem. – sorriu para ela.

           O restante do percurso ela acabou pegando no sono, talvez não tivesse dormido suficiente, sabe-se lá que horas ela chegou em casa. Quando estacionei o carro tive que acorda-la.

-Chegamos. – disse tirando o sinto.

-Hum, tudo bem. Acho que preciso dormir. – falou meio que sorrindo.

-Precisa sim.

          Entramos no hospital e ela logo foi atendida, essa é uma das vantagens quando se tem dinheiro, não ter que encarar o sistema público de saúde. Doutor Alan nos atendeu.

-Como você conseguiu machucar a sua mão desse jeito? – perguntou enquanto analisava os machucados.

-A porta do meu carro. – Larissa falou tranquila.

-Entendo, vejo que isso não foi hoje. – concluiu o médico. – Preciso de um raio x para ver se quebrou algo, e terei que dar alguns pontos no corte.

-Tudo bem.

        Enquanto ela foi fazer o raio x eu fiquei esperando, aproveitei para avisar a Mile que já estávamos no consultório médico. Liguei para Luciana já que havia esquecido de avisar que não iria hoje. Depois de meia hora o médico voltou sozinho. Olhei para ele preocupada.

-Calma ela já está vindo.- sorriu para mim. – Ela não quebrou nada, mas acho melhor ela colocar uma proteção na mão pelos próximos dias, vou passar alguns medicamentos para ela.

-Tudo bem.

-Então não quebrei nada? – perguntou a loira que acaba com meu coração com esse jeito lindo.

-Não, farei os pontos e você precisará apenas usar uma proteção na mão nada demais.

        Alguns muitos minutos depois já saiamos do hospital, Larissa tinha a mão direita junto ao corpo, acabou tendo que tirar a aliança do dedo já que esse estava extremamente inchado. Ela não gostou da ideia mais depois se tocou que poderia usar na outra mão.

-Não vou casar sozinha. – reclamou entrando no carro. – Pode colocar a sua para a mão esquerda.

-Sério? – perguntei rindo.

-Sério. – falou com os semicerrados.

-Tudo bem. – tirei a aliança e coloquei onde ela queria.

-Obrigada. – sorri e me deu um selinho. – Você não tinha muito trabalho hoje?

-Sim, mas você é mais importante.- confessei sem tirar os olhos da pista.

       Ela sorriu e colocou a mão na minha coxa.

-Você ainda me deve o almoço de ontem.

-Você já quer almoçar? – olhei para ela quando parei no sinal.

-Sim, já é quase meio dia. E nem jantei ontem e não tomei café da manhã.

-Tudo bem onde você quer ir?

-No seu restaurante preferido. – sorriu para mim.

-Tudo bem.

        Alguns minutos depois já parávamos enfrente a restaurante. Larissa tirou o cinto com certa dificuldade. Eu acabei tendo que ajuda-la. Seguimos de mãos dadas, ela fazia carinho com a ponta dos dedos. Por mais que ainda fosse cedo já haviam algumas pessoas por ali. Larissa correu os olhos pelo lugar como se procurasse algo. Um garçom nos acompanhou até uma das mesas. Nos entregou o cardápio.

-A Andressa está por ai? – perguntou minha noiva.

-Está sim, no escritório. – o homem respondeu.

        Então a tal Andressa era a dona do restaurante, e como foi que Larissa conheceu essa mulher?

-Será que você poderia dizer que a Larissa está aqui? – perguntou.

-Claro, só um instante. – o homem saiu.

-Conheci ela ontem, quando viemos almoçar aqui. Gostei dela, quero que te apresentar. – falou.

       Nesse instante meus olhos fora de encontro a uma loira de uns dois metros de altura que caminhava de forma deslumbrante e tinha um sorriso que dava até inveja, se antes eu queria saber quem era a tal Andressa ao ver aquela deusa na minha frente eu mudei completamente de ideia.

-Vejo que foi ao hospital. – comentou parada próxima a minha noiva. Disse rindo.

-Pois é, pelo menos não quebrei nada. –devolveu o sorriso.

-E você deve ser a famosa Isabella. – falou olhando para mim. – Muito prazer Andressa.

-Oi Andressa, o prazer é meu. – sorri educadamente.

-Está muito ocupada ou pode sentar um pouco com a gente? - Larissa perguntou.

-Tenho alguns minutos. – respondeu sentando-se. – Fico feliz que tenham se acertado. – olhou para nos duas.

          Então ela sabia o que havia acontecido, o que me fez pensar em quanto tempo exatamente Lari passou ao lado dessa beldade para contar algo assim tão íntimo.

-Pois é. – Lari sorriu me olhando.- Tudo certo.

-E não precisa me agradecer por ter ido deixa-la em casa. – sorriu para mim dessa vez.

-Ela me disse que você tinha ido, só não entendi ainda como vocês se conheceram. – falei olhando as duas.

-Ontem ela e Milena almoçaram aqui, foi nosso primeiro contato.

-Depois que sai da empresa dirigi sem rumo, por coincidência eu parei em um pub onde a Andressa também é dona junto a esposa dela Adisa. – Lari contou de forma tranquila.

         Então a mulher de nome estranho era na verdade casada como essa diva loira aqui, confesso que respirei aliviada. Não gostava da ideia de uma mulher linda como ela sendo solteira e ainda se tornando amiga da minha noiva assim do nada.

-Depois de cuidar da mão dela, ela acabou me contando o que aconteceu, quando íamos fechar Larissa não estava em condições de dirigir, então fomos deixa-la em casa em segurança.- sorriu. – Bom, vou deixa-las aproveitarem o almoço, espero que se recupere logo e apareça no pub como combinamos. Até mais Isabella, tchau Larissa.

-Iremos, sim. Tchau Andressa. – minha noiva sorriu para a mulher que sorriu de volta e saiu nos deixando sozinhas.

-Ela é simpática. – falei puxando assunto.

-É sim, as duas na verdade, a esposa dela é nigeriana. – contei.

-Legal. –foi tudo o que eu disse.            

-Confessa que você morreu de vontade de me perguntar onde eu estava. – disse dando um sorriso.

-Não. – encarei seus olhos. – Estava sim. – confessei rindo.

 

           Ela sorriu para mim, seus olhos presos aos meus. Tocou minha mão por cima da mesa, fazendo carinho, sem parar de me olhar. Mantendo aquele sorriso que me fazia esquecer de tudo. Não precisávamos de palavras para expressar o que sentíamos.

Fim do capítulo