Larissa

                Depois de ver Alana e Samantha juntas resolvi desencanar de tentar entender as duas. Nosso almoço chegou, Milena como sempre atacou a comida.

-Não sei para onde vai tudo isso que você come. – falei rindo.

-Muito menos eu, será que é possível que eu tenha um buraco negro no lugar no estômago? - perguntou caindo na risada.

-De você não duvido nada. – provoquei.

             Almoçamos nesse clima descontraído, conversar com Milena era algo bom de se fazer, ela sempre tinha um humor e tanto. Nem percebemos a hora passar, já havíamos terminado de comer mas continuamos conversando.

-Nossa, eu preciso voltar para a construção. – falou Milena.

-Tudo bem me deixa pedir a conta e vamos. – acenei para o garçom pedindo a conta.

           Assim que o homem se retirou com meu cartão Andressa veio até nossa mesa.

-Foram bem atendidas? – perguntou simpática.

-Sim, a comida estava ótima também. Os meus cumprimentos ao cheff.- sorri pegando o cartão que o garçom me devolveu.

-Darei sim, voltem mais vezes. Foi um prazer conhecê-las.

-Obrigada voltaremos aqui sim. – Milena se posicionou ao meu lado. – Esse é o restaurante preferido da noiva dela. – falou.

-Oh, claro, traga ela da próxima vez. – sorriu.

-Trarei sim, bom vamos indo. Tchau Andressa. – sorri.

-Tchau meninas.

          Caminhamos para a saída. Claro que tínhamos que sair exatamente no mesmo momento que Alana e Samantha.

-Eu mereço. – Mile reclamou baixinho.

-Oi gente nem vimos vocês ai. – Samantha falou.

-Me surpreenderia se tivessem visto até o que comeram, já que não paravam de flertar. – Milena comentou, deixando as duas embaraçadas. Cutuquei Milena. – Ai, que foi, só falei a verdade. – reclamou.

-Olá Larissa. – Alana disse, encarando a aliança em meu dedo. – Parabéns pelo noivado.

-Obrigada, bom precisamos ir. Até mais.

         Tratei de fugir o mais rápido dali, já no carro Milena comenta.

-Não é possível que Samantha seja tão boa de cama assim. – falou ligando o carro e saindo da vaga.

         Dei de ombros preferindo não comentar nada, Milena dirigiu tranquilamente até a construção. Fiquei um tempo por lá olhando os trabalhadores, Benjamim ainda não havia voltado. Depois de quase duas horas, percebi que não havia falado mais com Bella.

-Mile, me dá a chave do carro. – pedi.

-Vai me deixar a pé? – questionou.

-Imagina, venho te pegar ou mando o Zé, só quero ir na empresa, Bella não me deu mais noticia, só vou ver que se ela está bem.

-Tudo bem, esse povo apaixonado eu não sei não viu. – gargalhou me jogando a chave.

-Valeu. – agradeci e fui para o carro.

          Não levei tanto tempo para chegar a empresa, estacionei o carro e vi que o de Bella estava ali também. Senti as pessoas me olharem, pensei ser por conta da matéria que saiu sobre minha fortuna. Mal eu sabia que esses olhares eram por outro motivo. Cheguei no andar da Sala de Bella, a secretária não estava e como de costume eu fui entrando.

-Meu amor, eu...- parei a frase, sentindo me faltar ar.

          Meu coração bateu descompassado, minhas pernas pareciam não querer obedecerem meu comando de sair correndo daquele lugar. Bella estava beijando Alana, reparei a boca da segunda sangrando um pouco.

-Lari eu posso explicar...- minha noiva tentou argumentar.

-Claro que pode.- sorri sarcástica, me virei para ir embora.

-Isso corre para o castelo princesa. – Alana provocou.

         Foi a gota d’água para mim, parei minha mão na maçaneta. Me virei olhando para aquela mulherzinha que mantinha um sorriso no rosto. Tudo o que eu queria era arrebentar a cara daquele ser, enfim as aulas de box iam servir para alguma coisa. Vê-la sorrindo fazendo pouco caso de mim, imaginando aquela boca colada a da mulher que eu amo, me fez perder completamente a cabeça. Caminhei a passos largos em sua direção, distribui todo meu peso em uma das pernas e sem pensar ou me arrepender, dei um soco certeiro bem no olho daquela atrevida.

         Vi seu corpo tombar de encontro ao chão da sala, senti minha mão latejar, meu coração batendo acelerado. Olhei para ela e disse séria:

-Nunca fui de violência, mas faz tempo que você merece isso. – fiquei de costas para ela, pretendia sair dali. Parei me virando para ela. – E diga a seu patrão que minha empresa não irá fazer construção nenhuma se você estiver no projeto. – disse friamente.

           Olhei para Bella, odiei ter que fazê-lo. Nunca pensei que pudesse sentir uma dor como essa, parecia que um buraco havia sido aberto em meu peito, me consumindo de dentro para fora. Ela segurou meu braço me impedindo de partir.

 -Larissa, me espera deixa eu te explicar. – me pediu com a voz embargada.

          Prendi meus olhos em sua mão, vi a aliança e por mais que eu soubesse que aquilo havia sido um mal-entendido, não estava em condições de ouvir nada naquele momento.

-Não precisa explicar nada.- soltei meu braço.

          Caminhei a passos largos até o elevador, passei pela recepção sob o olhar atento de curiosos. Agradeci mentalmente quando cheguei na garagem, minha cabeça estava uma loucura, parei em frente ao carro, apoiei as mãos no teto, deitando minha cabeça. Estava com raiva, raiva de Alana por ser tão cara de pau, raiva de Bella por ter uma ex tão pé no saco, raiva de ter visto aquele maldito beijo. Soquei a lateral do carro, senti sangue escorrer da minha mão. Agora senti raiva de mim por estar com raiva, e acabei chutando a porta do passageiro que amassou na hora.

          Nunca fui de violência mesmo, nunca sai no tapa com ninguém, fiz aulas de luta apenas por defesa pessoal e por insistência do meu pai que temia que algo me acontecesse devido a todo o dinheiro que tínhamos. E depois devido a minha sexualidade. Respirei fundo tentando manter a calma, e ao mesmo tempo controlar as lágrimas que insistiam em cair mesmo que eu não quisesse.

        Entrei no carro e dei partida, sabia que precisava ir ao hospital, provavelmente levar alguns pontos no corte da mão, mas não foi isso que fiz, dirigi sem rumo, quando percebi já era noite. Ignorei todas as chamadas de Isabella. Não estava com cabeça para ouvir o que ela tinha para me dizer. Nem percebi quando parei em um pub. O lugar era até bonito, ainda estava vazio devido ao horário. Desci do carro e atravessei a rua.

        Dei uma olhada no lugar e me sentei em uma mesa. Logo o rapaz veio me atender.

-Whisky, dublo, sem gelo. – ele acenou e se retirou. Voltando em seguida.

        Olhei minha mão que estava inchada e com hematomas, além do corte que ainda sangrava um pouco. Vi uma mão colocar o copo com minha bebida em cima da mesa.

-Obrigada. – agradeci.

        Encarei o conteúdo do copo por alguns segundos, ingerindo-o em seguida. Acenei para o garçom que me trouxe mais uma doze. Ainda via aquele maldito beijo, o que só aumentava ainda mais a minha vontade de me afogar em uma garrafa de whisky até a não doer mais. E foi isso que fiz, doze seguida de doze, até que já nem sentia as dores na minha mão. Com certa dificuldade pedi mais uma, não havia reparado que o local já estava meio lotado. Olhei para uma loira que trazia em suas mãos minha bebida. Sorri reconhecendo-a, era a dona do restaurante, Andressa era uma mulher alta, de olhos castanhos e sorriso fácil, dona de cabelos tão loiros quanto os meus. Ela parou em minha frente.

-Você cresceu nessas poucas horas que ti vi? - perguntei divertida, com certa dificuldade devido ao meu estado de embriaguez.

       Ela sorriu, colocando o copo na mesa, e sentando-se em minha frente.

-Não cresci, acho que a quantidade de álcool que você ingeriu está te fazendo me ver maior. – sorriu, tive que admitir ela tinha um sorriso lindo.

-Talvezz seja mesmo isso. Mas o que você faz aqui? Não me diga que também é dona. – sorri lembrando a forma como ela falou comigo mais cedo.

-Na verdade sim, sou uma das donas. E você? Por que está nesse estado, e o que foi isso na sua mão? – falou segurando observando o machucado de perto.

-Aii,- reclamei da dor. – Eu estou enrolando para não ir para casa. – confessei.

-Você precisa mesmo é ir ao hospital, esse corte foi profundo, e fora que você deve ter quebrado algo. Socou o carro? – perguntou rindo.

-Exatamente. – gargalhei. – Mais antes acertei o olho da ex esposa da minha atual noiva.

-Ok, vou pegar gelo para colocar nessa sua mão aí você me conta o que aconteceu. – falou e já se levantou para pegar o gelo.

        Sorri em forma de agradecimento, peguei o copo que havia sido esquecido enquanto conversávamos, bebi de um só gole. Olhei Andressa conversar com uma outra mulher. Ela era negra, os cabelos curtos meio afro. Muito bonita por sinal, a loira falou algo no ouvido da outra, ela sorriu e olhou para mim. Acenou eu acenei de volta, ela sorriu e Andressa deu um selinho na mulher e voltou para a minha mesa.

-Pronto, coloca essa mão aí dentro. – falou dando uma ordem.

-Ai, odeioo sentirr door. – reclamei com os olhos fechado quando senti a mão afundar no gelo.

-Então me conta a história de como você machucou essa mão no carro e na cara da ex da sua noiva.

-Nãoo vou ficar te enchenndo com os meus problemas. Nem te conheço suficiente para isso. – falei mostrando o copo vazio para o garçom que entendeu o que eu queria.

-Tudo bem, bom você já sabe meu nome, Andressa Martins, sou dona do restaurante preferido da sua noiva. – sorriu. –E desse pub, tenho 32 anos, sou casada com aquela linda mulher ali no balcão. – apontou para a esposa. – A exatamente cinco anos. Ela é nigeriana, se chama Adisa Martins, antes de nos casarmos ela chamava Adisa Yoruba, tem 32 anos. Precisa mais alguma coisa para você desabafar? – perguntou rindo.

-Nãoo acho que isso já noss torna intimass suficiente. – sorri minha voz estava mais enrolada do que parecia. – Bem onteem foi meu jantar oficial de noivadoo. E apesar de eu ser bem...- escolhi a melhor forma de dizer.

-Milionária? Não precisa ficar com vergonha de dizer isso.- sorriu.

-Naa verdade eu ia dizer a doona da empresa em que ela trabalha. – dei um riso de canto. – Ela precisou ir trabalhar, e eu não. Pensei que ia acordar e ela ainda estaria ao meu lado, mas não foi bem isso que aconteceu. – suspirei. -  Enfim, combinei de almoçar com ela, mas ela teve que desmarcar, então acabei almoçando com a Milena, aquela minha amiga.

-Eu sei, a que pareceu pensar que eu só tratei você bem por conta do dinheiro.- sorriu. – Deu para perceber, na verdade não foi por isso, mas explicarei isso a ela outra hora. Continua...

-Ok!- sorri. – Acabei resolvendo ir na empresa só para saber se ela estava bem. – pedi mais uma doze de whisky. -  E qual não foi minha surpresa quando vi as duas se beijando.

-Puta que pariu. – soltou mais alto do que desejava.

-Foi exatamente isso que pensei na horaa. – gargalhei.

-Então você socou a cara da fulana?

-Não, eu ia simplesmente sair da sala. – dei de ombros. – Mas ela me provou então perdi o controle e soquei a cara dela, depois disso andei a cidade inteira e parei aqui. – sorri.

-E sua noiva, o que você pretende fazer agora? –perguntou.

-Eu sei que foi um mal-entendido, a Bella jamais faria isso comigo. Alana que é mal caráter, e uma mulher sem escrúpulos nenhum. – confessei tirando minha mão do gelo e pedindo mais uma bebida.

       Andressa fez que não para o garçom.

-É ótimo que você confie nela. Mas não acha que ela deve estar preocupada com você? - questionou chamando o garçom. – Uma água.

       Provavelmente ela deveria mesmo estar preocupada comigo. Suspirei encarando o garçom que me trouxe a agua.

-Quando eu troquei meu whisky por água? - perguntei confusa.

-Não foi você, fui eu. Acho que já chega de encher a cara por hoje.

-Você é uma péssima dona de bar. – ri da cara que ela fez. A esposa dela chegou sorrindo.

      Pensei o que diabos esse povo tem que precisam ter um sorriso tão lindo, e serem tão simpáticas e amigáveis.

-Olá. – sentou-se ao lado da loira.

-Oi, desculpa está alugando sua esposa. – sorri sem jeito.

-Imagina, não tem problema nenhum. – não disse que são sempre simpáticas quando tem o sorriso bonito.

- Você fala português perfeitamente. – observei.

-Muitos anos morando aqui já.- disse. – Estamos terminando de arrumar tudo para fechar. – falou para a loira.

-Tudo bem. – concordou. – Me diga que você anda de motorista, Larissa?. – me perguntou.

      As duas me olharam esperando que eu respondesse.

-Na verdade não, mas estou em condições de dirigir.

-Não está não- a nigeriana falou. – Quando formos embora te deixaremos em casa. – falou prestativa.

-Não precisa, posso ligar para minha amiga e ela vem me pegar ou o Zé meu motorista. Já abusei demais da paciência de vocês hoje.

-Não é abuso nenhum, e nunca deixamos nossos clientes dirigirem bêbados, política da casa. Vou só pegar minhas coisas e já volto. – a mulher saiu nos deixando sozinhas.

-Não vou mais contestar. – falei vencida.

      Alguns minutos depois, nós já tentávamos descobrir onde eu havia deixado o carro. Levou alguns minutos até que eu conseguisse lembrar, Andressa foi dirigindo e a esposa dela que no momento eu nem lembrava o nome foi nos seguindo.

-Você sabe que sua noiva vai estar te esperando acordada, não é? – questionou.

-Sei. – afundei no banco com a mão doendo.

-Vai se entender com ela? – perguntou, quando já estávamos chegando a minha casa.

- Não quero conversar, ao menos não hoje, não nesse estado, só vai piorar as coisas, e vamos brigar. – confessei descendo do carro.

-Então espere até amanhã para conversarem, durma em outro quarto. Evite piorar as coisas. – disse abraçando a esposa que já estava ao seu lado.

-Farei isso, obrigada por me trazerem em segurança para casa. – sorri agradecendo.

-Foi um prazer. – a nigeriana falou. –Volte ao nosso pub mas com sua noiva da próxima vez. – sorriu divertida.

-Pode deixar. Voltarei sim. Mais uma vez obrigada.

        Nos abraçamos e elas foram embora, olhei o meu carro com a porta e o teto amassados, suspirei pensando que hoje não era meu dia. Pelo menos consegui chegar em casa inteira, menos a mão, claro. Caminhei com passos incertos em direção a casa, observei a janela do meu quarto aberta, mas estava tudo escuro. Não sei se foi impressão minha ou vi um relâmpago. Abri a porta sem fazer barulho, e fui para a cozinha, minha mão me incomodava um pouco, peguei uma bolsa de gelo, me servi de whisky e caminhei para a parte da piscina.

        Tomei a bebida sem pressa, relaxei fechando os olhos, sentido o liquido queimar minha garganta. Olhei no relógio de pulso já era madrugada, agradeci por Isabella não estar na varanda, não queria que ela me visse nesse estado, e tudo que eu menos queria era discutir com ela. Fechei os olhos por um instante e quando abri, senti que ocorreu uma pequena explosão dentro da minha cabeça. Levantei a mão até os olhos senti uma dor forte, que me fez quase gritar.

-Merda, só me faltava essa.

-Larissa Rodrigues sua sapa irresponsável e sem coração, você dormiu ai e todo mundo louca atrás de você. – Milena reclamava com as mãos na cintura.

-Fala baixo, por favor. –pedi.

       Ela se aproximou sentando ao meu lado, balançou minha cabeça de um lado para o outro como se procurasse saber que estava tudo bem.

-Ótimo não falta nenhum pedaço, vai ser mais fácil te matar, assim você vai sentir mais dor. – me deu um tapa no ombro.

-Milena. – ergui a mão tentando me defender. Ela deu um grito.

-Que porr* é essa? – segurou minha mão, que estava completamente roxa e inchada, e ainda tinha o corte que hoje parecia maior que ontem.

-Pois é, acho que preciso ir no hospital ver isso. – dei de ombros fazendo careta de dor.

        Com o grito que Milena deu acabou chamando fazendo Bella ir ver o que havia acontecido. Ela estava com short e camiseta, me olhou com um misto de alivio e receio. Eu sorri ao vê-la, era impossível não sorrir para ela. Logo que me viu sorrindo, relaxou a expressão e se aproximou de mim.

-Fiquei preocupada. – confessou me olhando nos olhos.

-Eu tô bem. – tentei amenizar a situação.

-Bem nada, olha isso.- Milena mostrou minha mão. – Ela precisa ir ao hospital.

-Meu Deus Larissa o que foi isso na sua mão? E não me diga que foi pelo soco em Alana por que eu também fiz isso e minha mão está normal. – não consegui conter o riso ao ouvi-la dizer que socou a cara de Alana.

Fim do capítulo