POV Jodie

Eu estava há dois meses na estrada em direção à NY segundo as velhas e, na maioria das vezes, caídas, placas nas estradas. Eu andava o dia todo, parava ao anoitecer e dormia até o sol nascer e então continuava a andar sem parar por nada. Passei por 4 vilas organizadas em cidades menores pedindo informação sobre Charlie mas não achei nada em nenhuma delas. Eu estava perdendo minhas esperanças de estar indo pelo caminho certo e já pensava em parar e escolher na sorte para que outro lado iria, mas decidi que chegaria na próxima cidade antes disso.

Em algum ponto daquela viagem eu tinha completado 20 anos e isso era algo muito estranho no qual pensar; principalmente porque eu me sentia mais velha. Foi pensando nisso que eu avistei os primeiros sinais de uma cidade: várias linhas de fumaça subindo no horizonte.

– Vamos lá Jodie, sua ultima tentativa – murmurei a mim mesma enquanto respirava fundo e ajeitava a mochila nas costas para enfrentar mais alguns quilômetros até a cidade.

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Quando eu vi as linhas de fumaça que indicavam a presença de várias pessoas na tarde de ontem eu não achei que estava tão longe, mas eu estava. Não quis parar a noite por já estar tão perto e por isso acabei caminhando a noite toda até encontrar, pela manhã, a tal vila. Era maior do que eu esperava, provavelmente havia sido uma das cidades menores em volta de NY. Várias casas e um clima calmo, apesar das coisas se deteriorando nas periferias. Entrei naquele lugar exausta e com sono. Havia uma espécie de mercado ao ar livre numa das primeiras ruas maiores que eu encontrei e decidi ir para lá.

O velho sistema de trocas estava funcionando e havia um número razoável de pessoas vendendo coisas que envolviam desde roupas até comida e sementes o que me dizia que havia por perto alguma região de agricultura. Passei perguntando para todos sobre Charlie, mas ninguém sabia a quem eu poderia estar me referindo. Me disseram que havia, mais perto de NY um lugar onde um grupo se reunia para organizar e apostar em lutas, mas ninguém com a descrição que eu passei foi notado. Eu estava desanimando quando parei num dos últimos comerciantes; uma senhora que estava vendendo algumas poucas frutas.

– Bom dia, senhora – eu cumprimentei com um fraco sorriso; havia uma garotinha de cabelos curtos cortados como os de um garoto escolhendo algumas das frutas, ela tinha cabeços castanhos e, quando me ouviu falar e olhou para mim, eu notei seus olhos de um azul claro muito bonito.

– Bom dia – respondeu a senhora – Interessada em algumas frutas? É difícil acha-las quando se está viajando. Talvez você tenha algo interessante para trocar.

“Como sempre viajantes são muito bem considerados por terem sempre coisas novas para troca”, pensei comigo mesma, mas não custava nada trocar algo, eu estava com fome mesmo.

– Tenho algumas sementes – falei procurando nos bolsos os saquinhos de sementes que Izzy tinha salvado da fazenda e dado para mim antes de eu partir – Acho que vou ter algumas de morangos, talvez a senhora esteja interessada – falei sorrindo e a velha senhora ficou animada.

Troquei 5 sementes por 3 laranjas que estavam até razoavelmente bonitas e bem doces para a minha sorte. Enquanto isso a menina procurava algo na sua mochila para trocar pelas frutas que havia escolhido.

– Se me permite – falei enquanto guardava as laranjas – Eu gostaria de perguntar uma coisa – falei e a senhora disse que se soubesse responderia com prazer – Eu estou procurando uma pessoa. É uma viajante também. Uma mulher, por volta dos 40 anos, mas duvido que ela aparente ter essa idade. Ela é alta e forte, cabelos e olhos castanhos, muito bonita. Sabe lutar e também é médica. Talvez ela possa ter passado por aqui – falei encarando a senhora.

– Desculpe-me minha jovem; é uma descrição bem comum fora ela ser médica, mas eu realmente não sei de nenhuma médica lutadora que tenha passado por aqui – me disse a senhora suspirando por não poder ajudar.

– Talvez ela tenha dito só o nome – falei fazendo minha ultima tentativa; viajantes não costumavam falar seus nomes, mas não custava tentar – Ela se chama Charlote Hamss, talvez tenha ouvido o nome??

O som de um frasco de metal caindo sobre a mesa onde estavam as frutas me chamou a atenção e eu encarei a garota que me olhava com um olhar ameaçador.

– Quem é você? – ela perguntou fazendo uma cara séria e ameaçadora.

– Porque quer saber? – perguntei encarando a menina de volta, aquela expressão dela me causando uma sensação estranha.

Ela claramente não pareceu intimidada comigo e veio para perto olhando para cima e me encarando como se fosse capaz de bater de frente comigo.

– Quem perguntou primeiro fui eu – disse ela com uma cara de brava que eu achei até fofinha, mas fiquei com minha expressão séria encarando-a de volta para não menosprezá-la ao rir do jeito fofo dela – Quem é você pra saber o nome dela????

– Hey, pera aí – falei arregalando os olhos – Você conhece a Charlie??? – perguntei assustada, meu coração disparado, minha mente a mil tentando formular formas de conversar com aquela garota pra que ela me contasse o que sabia.

– Desconversa não garota! – falou ela ainda mais irritada – Fala logo! Quem é você???

– Sou uma amiga dela, eu a conheci a muito tempo – falei com um sorriso calmo por lembrar da época em que Charlie estava com a gente – Meu nome é Jodie. Por favor, se você a conhece ou a conheceu, me fala onde ela está ou pode estar. Eu estou a mais de dois anos procurando por ela – pedi e não pude impedir meu tom de sair desesperado.

– Jodie? – ela murmurou pensativa, mas ainda com a mesma cara séria de antes; então me encarou séria – Da onde conhece a ela?

– Você sabe onde ela está ou não? – perguntei séria de novo, eu não conseguia mais ter paciência, se essa garotinha sabia onde a Charlie estava eu precisava saber logo também; eu precisava achar ela.

– Não te interessa – me respondeu a garota me encarando do mesmo jeito sério; nunca vi outra pessoa tão marrenta quanto essa menina.

– Interessa sim – falei no tom mais autoritário que eu consegui – Se você não quer que eu saiba onde ela está, problema seu. Eu conheço a Charlie, estou a anos andando o país inteiro pra encontra-la; o mínimo que mereço eh que ela decida se quer ou não me ver. Então se você sabe é melhor que me diga logo, porque se não falar eu vou começar a bater de porta em porta nessa cidade toda até acha-la.

Fim do capítulo