POV Jodie

Pouco mais de um ano depois dela ir embora eu peguei aquelas faixas que ela tinha deixado pra mim e decidi começar a usá-las. Comecei a treinar corrida e flexões, abdominais e o que mais eu soubesse que pudesse me ajudar a ser forte como Charlie. Não havia muito a fazer e uns 3 meses depois eu achei que estava forte o bastante para começar a aprender algo de verdade; então decidi que era hora de pedir ajuda para a Izzy. Disse pra minha amiga que eu queria aprender a lutar, pedi para que ela me ensinasse sobre o boxe e o que ela e Charlie sabiam. Ela ficou muito feliz em me ajudar, fora ela ninguém mais se mantinha treinando algo para se manter em forma.

Depois de dois anos de calma nós acabamos por ficar distraídos, não fazíamos rondas regulares, não procurávamos sinais de outras pessoas. Nós nos acomodamos e esse foi nosso grande erro. Um dia um grupo hostil nos encontrou, eles chegaram com tudo, nos atacaram com facas, paus, pedras e bastões. Nós resistimos, tentamos lutar, mas apenas eu Izzy e Jonnathan conseguimos ser alguma coisa contra eles. Perdemos muitos, inclusive os pais da Izzy, os mais velhos e os mais novos também, inclusive Vivian. Eu quase não sobrevivi, fui ferida por um cara com uma faca que cortou dos meus ombros até parte das costas.

Izzy soube fazer alguma coisa depois, graças aos anos que passou com Charlie ela aprendeu coisas sobre primeiros socorros e curativos. Eu fiquei 5 dias ardendo em febre até me recuperar; quando voltei a mim estávamos no velho galpão da fazenda e tudo em volta estava destruído. A casa tinha pegado fogo, os campos tinham sido todos pisoteados, o que estava quase no ponto de colheita foi queimado também, mas se isso já não fosse demais, também descobri que do nosso grupo de 43 pessoas só 15 estavam vivos.

Izzy assumiu a liderança do que restou de nós, fora eu não havia mais ninguém que a ajudasse. Claire não era apoio, não era ajuda, nem compreensão. Estava sempre irritada por não ter mais o mínimo do conforto de antes, por não ter comida, por faltar água, por andar demais, por não poder descansar. Ela se tornou um verdadeiro pé no saco enquanto Izzy tentava guiar todos nós até algum lugar onde pudéssemos nos instalar. Ficamos três meses e meio vagando até que encontramos uma pequena vila e quando chegamos lá parecia que nos odiávamos.

Cada um dos que sobreviveu foi para um lado; Claire e Izzy ainda continuaram juntas por mais alguns meses nos quais eu acabei ficando com elas na mesma casa porque não tinha mais com quem ficar e não queria estar sozinha. Elas brigavam por qualquer coisa, Claire cada vez mais insuportável, mas Izzy a aguentava e no fim elas sempre faziam as pazes outra vez. Só que eu via no olhar da minha amiga que ela não gostava mais da Claire, mas continuava porque era nítido para qualquer um que visse que a garota estava enlouquecendo.

Claire estava realmente ficando louca, não que eu a culpe, ela viu a mãe e o irmão morrerem, ela teve de fugir de gente que queria mata-la e tudo o mais. Só que eu também vi meus pais morrerem e quase fui morta também; a verdade era que Claire era fraca, de corpo e mente. Na minha opinião ela só sobreviveu tanto tempo porque Izzy nos trouxe pra um lugar onde quase tudo parecia normal e, quando isso acabou, ela não teve mais no que se ancorar à realidade e a sanidade, nem mesmo Izzy pode ajuda-la, mas eu acho que foi assim porque Claire não a amava.

Eu ainda fiquei ali por muito tempo, quase um ano, até que decidi ir embora. Eu já tinha me decidido à ir procurar pela Charlie a muito tempo, mas depois de quase morrer eu entendi que não era forte o bastante para me virar sozinha. Um ano depois de termos quase morrido eu achei que estava pronta e fui contar para a minha amiga, eu não queria sumir do nada, iria ao menos me despedir.

“Você tem noção de que já faz três anos??”, ela me perguntou quando eu contei o que iria fazer. Eu sabia o que ela queria dizer com essa frase e aquele olhar triste, ela achava que Charlie não estava mais viva. As chances eram mesmo mínimas, mas eu tinha certeza de que ela estava viva ainda. Ela não iria embora, Claire tinha mesmo ficado louca a dois meses e ficado doente de verdade, ela parou de comer, de falar, de querer algo e Izzy tentou de tudo o possível para ajuda-la, mas Claire acabou morrendo não se sabe do que exatamente.

Izzy se sentia responsável apesar de não amá-la mais, mesmo assim depois disso ela tentou outras vezes. Estávamos num lugar com muitas pessoas, ela conheceu várias, gostou de algumas, ficou com uma ou outra, mas nada sério, nada que a fizesse se sentir como se tivesse encontrado mesmo a pessoa certa.

“Eu fui burra, Charlie talvez não fosse mesmo o amor da minha vida, mas ela com certeza foi quem chegou o mais perto disso até hoje. Claire.....bem, não era tudo isso no fim das contas. Eu só queria ajudar ela...cuidar dela....”, foi o que Izzy me disse enquanto caminhávamos pelas ruas calmas; foi nessa hora que eu disse o ‘eu te avisei’. Ela só riu fraco e continuamos a andar e eu finalmente perguntei se ela não queria vir comigo.

Izzy respondeu que não podia por dois motivos. O primeiro era que ela não queria sair por ai atrás de notícias e descobrir que Charlie tinha morrido; o segundo porque ela não queria entrar outra vez na vida da Charlie se ela já houvesse esquecido dela. Eu tinha de respeitar e sentir admiração por essa atitude de não querer trazer memórias ruins para a Charlie.

Ela não quis mesmo ir, mas antes que eu partisse me entregou uma das duas pistolas que haviam sobrado do nosso armamento junto com quase toda a munição que ela tinha. Foi assim que eu juntei minhas coisas numa mochila e cai na estrada indo atrás de informação de cidade em cidade. Passei por vários lugares, enfrentei gente ruim, conheci gente boa. Tudo isso atrás de informações de uma mulher alta, de cabelos castanho escuros e que lutava muito bem.

Fim do capítulo