Charlie se aproxima de Sam calmamente enquanto, com a mãe esquerda, segurava firmemente pressionando dois dedos contra o pequeno corte na sobrancelha fazendo o sangue parar. Todos a estavam encarando, mas as pessoas pareciam não saber o que falar nem como reagir. Era tudo silencio, um silencio de respirações abafadas algumas ofegantes de surpresa, outras tão silenciosas que nem som produziam, mas estavam lá.

Não que Charlie se incomodasse, ela estava calma, aproveitando as dores da luta como uma lembrança física de momentos vividos num passado que nunca retornaria; ela podia se dizer contente até. Mas alguns não estavam contentes; os outros subordinados de Simon não estavam nada contentes por seu melhor lutador ter sido derrubado de forma tão simples por uma desconhecida.

Mas Simon não estava descontente; o homem na verdade ainda estava maravilhado com aquela desconhecida que poderia vir a se tornar um trunfo para ele. Simon só precisava conquista-la; o que, para o azar dele, nunca aconteceria. E enquanto isso Charlie apenas limpava o rosto com os trapos da camisa que havia sido rasgada enquanto se mantinha sentada em frente a Sam.

POV Charllote

As coisas iriam se complicar. O tal Simon não parecia irritado e isso me levava a crer que ele havia gostado de me ver lutar, o que não seguia o que eu gostaria que acontecesse. Se eles se irritassem e viessem todos para cima de mim eu poderia acabar com todos de uma vez e pronto, estava feito. Mas com essa reação....com essa reação eu não tinha razões para matar os desgraçados. Os olhos de Sam mudando de mim para algum lugar ao meu lado indicaram que Simon se aproximava.

– Olha só...você conseguiu – ele disse numa voz calma e brincalhona – Vamos, diga-me o que quer, pode pedir qualquer coisa. Você ganhou afinal de contas. Mas, porque não me diz seu nome primeiro?

– Quero comida e um quarto com uma cama, lençóis limpos, água para um banho, comida para três dias e uma porta que possa ser bem trancada – ela respondeu sem olhar para o homem – E o meu nome não interessa a ninguém, nem mesmo a você. Mas pode me chamar de Hamss – ela então virou o rosto para Simon, que estava agachado ao lado dela – E se acha que vai conseguir alguma coisa comigo desista antes que eu me irrite e resolva que não me importo com você ser o chefe das coisas por aqui e que prefiro bater em você.

Vi ele recuar um pouco, mas logo depois um riso forçado apareceu. Ele achou que eu estava blefando. Que pense assim, dessa forma vou ter uma boa razão para enfiar o punho da cara dele.

– Vamos, vou te levar até um lugar onde pode tomar um banho – ele disse sorrindo de forma convencida e colocando a mão sobre o meu ombro.

Sam começou a rosnar e se levantou enquanto mostrava os dentes. Eu não me movi, mas por que me controlei.

– Tire a mão de mim. Eu não gosto que me toquem. E se não tirar, vou mostrar que não estou brincando e, além de deixar Sam morder você, ainda vou te matar.

Simon recuou depois disso.

– Olha aqui mulher, você está na minha cidade e já chega dessa sua pose de que pode o que....

– Cale a maldita boca – eu disse pegando minha pistola e apontando pra ele enquanto me levantava; todos os capangas dele pegaram armas e apontaram para mim, mas eu já estava com o cano da minha pistola na garganta de Simon – Mande esses desgraçados abaixarem as armas ou eu mato mesmo você.

– Façam.....Façam o que ela diz! – gritou Simon – Abaixem as armas seus filhos da mãe!!

– Agora, ouça bem, Simon – falei vendo que todos estavam guardando as armas – A cidade é sua, ótimo. Eu não quero confusão, eu nem quero ficar aqui. Mas você me ofereceu um desafio, e colocou recompensas para quem vencesse. Eu venci, e agora quero o que ganhei por isso. Pouco me importa se você acha que, por ser o chefe daqui, tem direito a ter o que quiser. Eu só quero o que lutei pra conseguir. E se você puser essas mãos sujas em mim de novo, eu mato você e mato todos esses babacas que obedecem as suas ordens – enquanto eu falava, meus olhos ainda podiam ver alguns dos movimentos dos capangas de Simon; alguns pareciam irritados com as ameaças, outros pareciam não reagir, o que era interessante – Eu vou ficar aqui por dois dias, Senhor Simon. E nesses dois dias eu só quero descansar e ter um lugar quente e macio para dormir. E durante esse tempo vou ser deixada sozinha e não vou interferir em nada do que vocês todos fazem. Depois de amanhã eu vou embora e pronto. Fim de papo. Estamos entendidos?

– Sim – ele respondeu me encarando com raiva – Estamos entendidos.

– Ótimo, porque se alguém se meter comigo, eu vou matar e não vou me importar nem um pouco com isso – falei com um sorriso forçado – É bom que seus homens entendam isso.

– Eles entenderam – disse Simon com ainda mais raiva por eu ainda manter minha arma na garganta dele.

Me afastei dele e peguei a minha mochila. Encarei Simon que estava com a mão no pescoço passando os dedos sobre a marca que apareceu onde a minha arma havia ficado. Olhei para ele erguendo uma sobrancelha e Simon bufou irritado, mas logo depois começou a me guiar para alguma casa.

Porque disse que ficaria dois dias eu não sei. Um dia era o bastante para descansar. Mas algo me dizia que havia muita gente seguindo o Simon que fazia isso apenas para se manter melhor naquela cidade. Parecia haver alguns filhos da puta que realmente gostavam de fazer o que o Simon mandava fazerem; mas havia alguns olhares que não demonstravam diversão ao assistir lutas e não comemoravam tanto quando alguém deles vencia. Foram esses mesmos olhos que me encararam com surpresa e até certa diversão depois de eu colocar Bob no chão.

Eu não tinha obrigação nenhuma com essas pessoas. Poderia simplesmente ir embora no dia seguinte e não precisaria sentir remorsos por não tê-las ajudado. Sai um maníaco aparecem mais 5 pra ocupar o lugar dele. Mas se houvesse entre os homens do Simon alguns que não eram assim tão filhos da puta; então talvez a cidade tivesse uma chance de não cair nas mãos de outro desgraçado depois que eu matasse Simon. Porque eu iria mata-lo. Não poderia ir embora sem fazer isso depois de ver o olhar que ele havia lançado pra mim.

Simon era um dos piores desgraçados que conseguiram ser alguma coisa com o fim do mundo antigo. Aqueles olhos...eu já vi coisas assim. Eram olhos de um pervertido inescrupuloso. O tipo de homem que tinha a mulher que quisesse ter, ela querendo ou não. E ver aquele olhar nojento me fez pensar quantas garotas, mulheres ou meninas naquela cidade já não haviam sido abusadas por ele. E isso me causava nojo, repulsa e raiva. E era por causa dessa raiva que eu iria matar Simon. Mas, se há uma chance da cidade sobreviver melhor e se manter bem quando ele se for; então eu vou esperar e aguentar aqueles olhos em mim por mais algum tempo para ter certeza.

Eu já não tenho mais nada. Mas isso não significa que não posso ajudar outras pessoas a terem de volta o que lhes foi tirado.

Fim do capítulo