Capítulo 4 - Estranhamente estranho
Na saída da escola pegamos um pequeno congestionamento, o que já nos rendia um atraso de 20 minutos, e isso porque ainda não estávamos nem na metade do caminho.
Bufei dentro do carro. Sempre fui muito impaciente, odiava esperar, aguardar, isso era muito chato, me tirava completamente do sério.
-- Quem mandou escolher um lugar tão longe para montar a sua escola? – Alice me perguntou.
-- Não é longe Alice, o problema é que tudo isso aqui ta urbanizando rápido demais sem a estrutura adequada. É carro demais para pouco espaço.
-- Estou precisando de férias.
-- Você acabou de chegar! Passou um ano longe de tudo isso aqui e já quer se ver livre novamente é?
-- Ah, mas eu estava estudando e não passeando, curtindo umas belas e merecidas férias. Por falar nisso, quando você vai tirar as suas? Lembro-me bem que a sua última viagem eu ainda estava aqui no Brasil.
-- Estou precisando mesmo. Quem sabe eu não planeje nada para meu aniversário de casamento, ãm? – perguntei balançando as sobrancelhas.
-- Sua safada! Mas devo concordar que seria perfeito. Faça uma surpresa para Giovanna e aproveite e se dê esse presente, garanto que ela vai adorar.
-- Benefício de fazer aniversário 5 dias depois do aniversário de casamento. Vou planejar tudo com carinho, tenho alguns meses para isso.
-- Pode contar comigo. Agora me faz o favor e liga pra Giovanna, explica pra ela que estamos presas nesse fim de mundo aqui graças a um congestionamento. A coitada vai ficar nos esperando sozinha.
Sorri com a expressão que minha amiga fez e peguei o meu celular. Disquei o número tão conhecido pra mim e aguardei ouvir aquela voz com um tímido e disfarçado sorriso nos lábios. Liguei uma, duas, três vezes e ela não atendeu o celular. Na quarta vez o celular deu desligado.
-- Tá dando desligado ou fora de área.
-- Provavelmente deve ter ficado fora de área, o sinal não é tão bom lá.
Desisti momentaneamente e depois de alguns minutos voltei a tentar. Ainda fora de área. Deixei o celular de lado e praticamente rezei para que aqueles carros a nossa frente enfim andassem.
Chegamos ao barzinho e não conseguimos uma vaga para estacionar, era tanto carro que tinha alguns ocupando até as calçadas. Frustrada depois de andar algumas ruas, Alice voltou para próximo do barzinho e parou na rua mesmo.
-- Malu desce, vai lá e procura a sua mulher. Eu vou dar uma volta no quarteirão ver se encontro um estacionamento ou uma vaga qualquer. Depois te encontro lá.
-- Tudo bem. Qualquer coisa liga no meu celular.
-- Tá.
Desci do carro e atravessei a rua encarando o tal barzinho. Por fora parecia bem atraente. Algumas mesas pretas ocupavam a ampla área da frente, que era uma espécie de calçada envolta de uma cerca viva de folhagem bem verde. Adentrei e me surpreendi. O bar tinha o estilo de um pub europeu. A iluminação era amena, com grandes lustres focados individualmente em casa mesa. Muito aconchegante.
A música consideravelmente alta em “harmonia” com o grande falatório me deixou momentaneamente zonza. O lugar estava lotado. Passei os olhos rapidamente pelas mesas em busca de Giovanna. Acabei repetindo o processo duas vezes. Quando enfim a vi em uma mesa mais ao fundo. Preferia não ter visto.
De repente o barulho todo ao meu redor havia parado, eu não via mais ninguém a não ser aqueles dois. Sim! Giovanna e Henrique, o medicozinho de quinta metido a galã. Senti meu corpo tremer e uma raiva absurda crescer em mim no momento em que vi aquele homem quase encostar os lábios no ouvido de minha mulher e falar algo que arrancou-lhe um sorriso.
Crispei minhas mãos ao lado do corpo e continuei encarando os dois que eram só sorrisos. O que aquele cara estava fazendo ali com a minha mulher?
-- Pra quê você quer celular hein? – ouvi a voz de Alice atrás de mim, porém não consegui responder. - Malu? Cadê a Gio?
-- Giovanna está ali. – apontei.
-- Quem é aquele?
Novamente não respondi, apenas me encaminhei para aquela mesa quase cuspindo fogo. Sentindo uma sensação que poucas vezes experimentei, raiva, ira, ciúmes. Tinha um nó em minha garganta, um gosto amargo me veio à boca.
-- Estou perdendo algo? – falei alto, quase gritei.
Assim que notou minha presença, Giovanna pareceu incomodada, algo do tipo. Logo tomou a maior distância que pode daquele galã de araque e me olhou como se pedisse calma.
-- Oi amor. Chegamos a pouco.
-- Pararam no meio do caminho para conversar ou o quê? – meus olhos ardiam tamanha a raiva que estava sentindo naquele momento.
Como ela havia chegado a pouco tempo se Alice e eu estávamos atrasadas um tempo considerável? A clínica não era tão longe daquele lugar. O que eles ficaram fazendo?
-- Wilson nos chamou na sala dele Luíza.
Eu ainda continuava de pé, dividindo o meu olhar entre Giovanna e aquele, aquele, ser nojento que me olhava com um sorriso sarcástico.
-- Ah Malu, você não se importa de dividir um pouquinho a sua esposa comigo não é mesmo? Tem Giovanna para todo mundo!
-- Henrique! – ela o olhava com desaprovação.
O tom debochado e dúbio que ele usou me fez querer partir para cima dele, e só não o fiz porque Alice chegou segurando meu braço, e impedindo meus ímpetos. Meu maxilar já doía diante da força que aplicava naquela área, e a única coisa que pude realmente fazer foi fuzilá-lo com o olhar.
-- Fica calma. – sussurrou Alice em meu ouvido.
Meu peito subia a descia freneticamente.
-- Bom, acho que já está na minha hora. Tenho que ir.
O desgraçado curvou-se na direção de minha esposa e a surpreendeu beijando-lhe o rosto próximo a boca. Porém, o pior de tudo não foi isso, foi ele ter colocado aquela mão suja sobre a coxa dela, apertando. Tentei soltar meu braço que Alice ainda segurava, no entanto ela segurou com mais força e me puxou dali. A baixinha tinha força.
-- Você tem que se acalmar. – minha amiga falou assim que adentramos o banheiro e ela fechou a porta.
-- Você não viu o que aquele descarado estava fazendo não? – bufei sentindo meus olhos ficarem úmidos.
-- Vi! Ele estava te provocando, e você estava caindo feito um pato.
-- O que ela estava fazendo aqui com esse cara? – perguntei com as mãos na cabeça andando de um lado para o outro.
-- Isso você só saberá quando conversar com a sua esposa, quando estiver realmente calma e falar de forma civilizada com ela.
-- Eu vou lá.
-- Não!
-- O que...
-- Não dessa maneira Malu! Já se olhou no espelho? Você está transtornada, dessa maneira não vai conversar com ninguém, o máximo que vai acontecer é uma bela de uma briga.
Olhei-me no espelho e tudo o que eu pude ver foi uma mulher com a face completamente tomada pela ira. Os olhos avermelhados, o olhar duro e a testa franzida.
-- Tá na cara que ele ta dando em cima dela, mesmo sabendo que ela é casada. E..e ela ta deixando, ele tá confortável porque ela ainda não o cortou.
-- Pra ser bem sincera Malu, eu acho que ela ainda nem percebeu, pelo menos ainda não tinha percebido, acho que agora ficou bem claro.
Minha cabeça começou a fervilhar e coisas horríveis começaram a se formar em minha mente. De uma maneira tão rasteira que nem mesmo consegui evitar. Expressei com palavras o que se passava...
-- Será que ela ta me...
-- Nem ouse concluir essa pergunta Maria Luíza!
-- Está defendendo ela Alice? – a fuzilei com o olhar.
-- Estou defendendo você sua tonta! Você está falando e pensando besteiras. Giovanna jamais seria capaz de algo assim, ela é a sua esposa, aquela que esteve do seu lado o tempo todo, que te ama incondicionalmente, que declara o amor dela por ti todos os dias. Giovanna nunca te deu motivos para pensar tal coisa dela.
Ok. Senti-me mal quando realmente me dei conta do que minha amiga me falava. Como eu pude pense isso dela, logo da Giovanna? Alice tinha toda e completa razão, minha esposa nunca me dera um motivo sequer para sentir ciúmes dela, muito menos desconfiar. Ela sempre foi tão amorosa...
Abaixei a cabeça me sentindo culpada.
-- Luíza?
Meu coração pulou dentro do peito ao ouvir aquela voz. Fechei os olhos, os apertei por alguns segundos e então ergui a cabeça. Já não tinha mais ninguém naquele banheiro a não ser Giovanna e eu.
Ela estava parada próxima a porta, me olhava como se me pedisse permissão para se aproximar de mim. Fui até ela e a abracei apertado, sentindo aquele nó voltar a apertar em minha garganta.
-- Desculpa... – sussurrei.
Ela ficou quietinha em meus braços, apertando a minha cintura.
-- Também tenho que te pedir desculpas.
-- Não, você não tem, eu fui uma estúpida.
-- Não gosto quando se intitula dessa maneira. Eu percebi o que ele fez amor, e sinto muito por isso. Fui uma tola em ver apenas amizade, mas naquela mesa ficou claro pra mim o verdadeiro interesse dele. Pensei que ele fosse diferente, não vi a verdade.
-- Ele estava dando em cima de você. – falei me separando dela. – Como ele veio parar aqui?
-- Quando estava deixando a clínica, Henrique me perguntou para que direção eu iria, disse que estava sem carro e me pediu ma carona. Quando disse que estava vindo para esse barzinho ele perguntou se eu me incomodava de acompanhá-lo em um chopp, um happy hour.
-- Eu tive raiva, fiquei irada, senti ciúmes...
-- Sei disso meu amor. Quer ir pra casa? – suas mãos macias acariciavam meu rosto.
-- Acho que não estou mais tão no clima quanto antes, o melhor seria mesmo ir para casa. Mas, não quero fazer desfeita com Alice e a namorada dela.
-- Tem certeza?
-- Tenho.
-- Então vamos para a mesa?
-- Vamos minha pequena.
Meu coração estava mais tranqüilo, e todo aquele sentimento ruim que fez meu corpo inteiro tremer e sentir aquele amargo na boca tinha se esvaído. Puxei Giovanna para mim mais uma vez e beijei delicadamente aqueles lábios rosados.
Separamos-nos e ela me puxou pela mão para fora do banheiro.
-- E ah, eu tenho a altura normal para uma brasileira, você que está fora dos padrões com essa sua altura ai. Tá? – me mostrou a pontinha da língua.
Saímos daquele banheiro e eu parecia outra pessoa, meu corpo estava relaxado, meu coração estava realmente tranqüilo e eu já não sentia raiva. Sentia-me em paz novamente. Apertei a mão menor que me puxava em direção a mesa e ela me olhou, sorriu. Aquele sorriso capaz de me derreter inteira e me fazer esquecer até mesmo o meu nome.
Ah Deus, como eu amava aquele mulher!
-- Desculpem-nos pela demora meninas. – Giovanna disse.
Olhei para a mulher de pele clara e olhos esverdeados que segurava a mão de minha amiga. Era uma mulher muito bonita, de feições suaves e tranqüilas. Tinha nos lábios aquele sorriso verdadeiro, que contagiava. Seus cabelos eram castanhos, quase loiros e eram cortados na altura do pescoço, com uma franja que lhe cobria parcialmente seu olho direito.
-- Imagina. Meninas deixem-me apresentar Elisa, minha linda namorada. – disse uma Alice sorridente. – Amor esse é o meu casal favorito, a minha irmã Malu, e a minha cunhada Giovanna.
Elisa gentilmente levantou-se e veio em nossa direção, nos cumprimentando com beijinhos de comadre.
-- É um prazer finalmente conhecer o casal preferido de Alice.
Sua voz era suave, com o perfeito sotaque dos lusitanos.
-- O prazer é todo nosso, principalmente meu que depois de anos dizendo que essa daí ainda iria se apaixonar por uma bela mulher ela me apresenta uma. Internacional ainda por cima. – brinquei.
Elisa olhou para Alice que ainda estava sentada e pude ver nos olhos dela o mesmo que eu enxergava nos olhos de Giovanna: carinho, ternura, amizade, companheirismo, paixão...amor! Fiquei contente com isso.
Sentamos-nos a mesa e passamos praticamente a noite inteira conversando e bebendo, quer dizer, apenas Elisa e eu bebemos, aventuramo-nos nos mais diversos e novos shots daquele bar. Giovanna e Alice ficaram nos sucos, pois dirigiriam na volta.
A noite terminou tranqüila, eu, levemente embriagada e minha esposa fazendo milhares de observações e comentários a cerca da namorada de minha amiga. Elisa era uma ótima pessoa, divertida, atenciosa e muito comunicativa. Foi bem fácil gostar dela. Agora entendia minha amiga, ela não teve como resistir.
-- Quer comer algo ou quer tomar logo um banho?
-- Quero tomar banho. – minha língua vez ou outra enrolava.
-- Vem.
Giovanna me guiou até o quarto e lá me despiu lentamente. Eu estava quase bêbada, e não morta, meu corpo ascendeu instantaneamente. Agarrei seu bumbum e tomei sua boca em um beijo guloso. Seu gemido contra meus lábios só serviu como combustível para meu fogo.
Aos beijos nos encaminhamos para o Box do banheiro. Tirei toda a sua roupa deixando-a completamente nua. Liguei o chuveiro e entramos debaixo da água fria de corpos colados. Normalmente quando eu bebia costumava ser um pouco mais selvagem quando fazíamos amor. E era assim que estava me sentindo, selvagem, com vontade de tomá-la da mesma forma, sem nenhuma vergonha ou pudor, apenas selvagem.
Agarrei seus cabelos e os puxei para trás, deixando a pele alva do seu pescoço livre para meus beijos. Mordi, suguei a marquei a pele sensível. Era a minha marca!
A ergui pela cintura, fazendo com que ela entrelaçasse as pernas nas minhas costas. Senti sua umidade contra minha barriga, ela suspirou.
-- Essa noite eu quero ser sua de todas as maneiras, amor. – falou contra meus lábios.
Ela sabia como a bebida me deixava, ela sabia que eu ficava ousada, que ficava quente e completamente tarada. Sabia que eu era capaz de fazer loucuras com o corpo dela, e que não haveria limites ao fazermos amor.
Possuiria aquela mulher de todas as maneiras!
**********
Um mês e meio depois...
Era mais um dia comum na escola, o dia chegava ao fim com tranqüilidade, nada além de um ou dois alunos que infelizmente se machucavam durante a prática de algum esporte. Nenhuma reclamação e nada de grave, tudo tranqüilo.
Reclinei minha cadeira para trás e fechei os olhos por alguns segundos. Suspirei. Balancei a cabeça de um lado para o outro o fazendo estalar e liberar a tensão naquela área.
Estaria tudo bem se preocupações não ocupassem a minha cabeça. Logo mais teríamos um campeonato regional e minha escola participaria. Tinham muitos alunos e em muitas categorias. A viajem aconteceria daqui a duas semanas, e muitas mães preocupadas haviam me procurado, afinal, qual mãe não se preocuparia com um filho menor de idade viajando sem sua supervisão para outro estado?
Minhas preocupações eram duas: a primeira era que eu precisava de mais um patrocinador para conseguir custear todas as despesas dos alunos, e a segunda era que eu não tinha professores e coordenadores suficientes para o grande número de alunos.
Minha cabeça martelava, funcionava a todo vapor tentando encontrar uma solução e uma saída. O tempo era curto, eu tinha que dar um jeito.
Uma batida em minha porta me tirou daquele pequeno momento de descanso/preocupação.
-- Entra.
Thaís colocou apenas a cabeça dentro de minha sala e fez uma pequena careta. Sabia perfeitamente do que se tratava, ela odiava ter que me avisar que Marcela esperava para falar comigo.
-- Marcela está ai? – perguntei sem deixar que ela falasse.
-- Sim, e deseja uns minutinhos com você. – outra pequena careta.
-- Tudo bem, deixe-a entrar.
Estranhando o fato de deixar que Marcela entrasse sem nenhum protesto ou reclamação minha, Thaís entrou em minha sala com uma cara no mínimo engraçada.
-- Malu, é a Marcela, a mãe do Gustavo. Lembra dela?
-- Lembro sim, pode deixá-la entrar. Preciso falar com ela. – justifiquei.
Mesmo achando estranho, Thaís apenas maneou a cabeça em afirmativa e saiu fechando a porta. Alguns minutos depois outra batida na porta. Endireitei-me na cadeira e autorizei a entrada.
-- Pode entrar.
-- Licença.
A mulher que vi entrar em minha sala não era a Marcela que eu conhecia. Nem de longe se parecia com aquela mulher que a todo custo tentava me provocar com roupas curtas, justas e insinuantes.
Marcela tinha o cabelo preso em um rabo de cavalo, a maquiagem era quase imperceptível, vestia uma calça jeans e uma blusa social de mangas ¾ na cor branca. Ela tinha um ar diferente, e não era apenas na maneira de se vestir. Não sei explicar bem, mas sentia que tinha algo nela bem diferente.
-- Pode sentar. – indiquei a cadeira.
-- Desculpa vir a essa hora, é que eu precisava falar sobre alguns assuntos importantes e infelizmente eu não podia adiar.
-- Imagina! Não tem problema nenhum. Em que posso ajudá-la?
-- Certo. Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que vou acompanhar meu filho durante esse campeonato. O pai dele e eu confiamos na escola, no entanto nos sentiremos mais seguros se um de nós acompanhá-lo. Que no caso serei eu. Sendo assim, ele não ficará hospedado com o restante da turma.
-- Tudo bem. Sabemos da preocupação de pais e mães, e você não é a primeira a decidir por ir junto do filho. Se quiser posso até providenciar uma acomodação para os dois no mesmo hotel onde os alunos ficarão.
-- Agradeceria muito. – Marcela deu um pequeno sorriso e logo voltou a ficar séria – Fiquei sabendo que a escola irá precisar de mais um patrocinador.
-- Isso é verdade. – massageei a nuca – Estou correndo contra o tempo para providenciar tudo. Mas não se preocupe, o campeonato está de pé, seja como for.
-- Sei que sim. Mas o que quero dizer é que meu ex marido e eu gostaríamos de patrocinar a Andrade Lemos.
-- Patrocinar?
-- Sim. Não sei quanto tempo leva para resolver essa parte burocrática, então, estará em suas mãos, e quando estiver tudo pronto é só me avisar que eu entrarei com a parte financeira.
-- Marcela eu não sei nem o que dizer...
Meu olhar era desconcertado, alisava minha nuca em sinal de nervosismo ou constrangimento, não sei. Quem diria que a mulher da qual eu queria a maior distância possível hoje estaria na minha sala tentando me ajudar com a escola. E o melhor de tudo, nenhum olhar, nenhum sorriso ou insinuação por parte dela. Ela estava mesmo diferente.
-- Não precisa dizer nada. Gustavo é louco por essa escola, e esse campeonato é muito importante pra ele.
-- Acho que tenho muito a te agradecer não é mesmo Marcela?
-- Na verdade não. O que fiz, faria de novo. E não tome este patrocínio como um favor, e sim como um investimento talvez.
-- Ok. Providenciarei tudo o mais breve possível.
Marcela me encarou, mas não ousou dizer nenhuma palavra, apenas me olhou. Ela estava muito diferente! Ainda me olhando ficou de pé.
-- Bom, já vou indo.
-- Espera! – digo me levantando e indo até onde ela estava - Muito obrigada Marcela, obrigada por ter me ajudado naquele dia, e obrigada pelo que está fazendo agora.
Ela apenas me sorriu de maneira mais aberta e deixou a minha sala. Fiquei encarando a porta sem entender o que tinha acontecido com ela, nem parecia a mesma pessoa. Não que eu achasse ruim o fato de não ter mais que fugir dela, de suas investidas, é que, era estranho.
Sorri, balancei a cabeça e voltei para minha mesa. Chamei Thaís a minha sala, contei sobre a conversa que tivemos e pedi para que ela adiantasse as papeladas para que Marcela pudesse revisar e assinar o quanto antes.
Olhei em meu celular e havia duas mensagens de minha esposa. Em uma delas ela dizia que estava com saudades de mim, e na outra ela dizia que chegaria um pouco mais tarde em casa. Respondi as duas mensagens – perguntando por qual motivo ela chegaria tarde. Fiquei na escola por quase uma hora, e ainda não havia recebido nenhuma resposta. Liguei para o celular dela e deu direto na caixa postal. Suspirei frustrada.
Resolvi ir de uma vez pra casa, já estava ficando tarde e eu necessitava de um longo e bom banho.
Ao chegar a casa me deparei com o aparamento completamente escuro. Sinal de que Giovanna ainda não havia chegado. Olhei no relógio em meu pulso. Ela nunca havia chegado após as 19hs, e já se passavam das 20hs.
Segui para o banheiro, enchi a banheira, coloquei alguns sais de banho, deixei a iluminação amena e uma música suave. Mergulhei até o pescoço. A água morna em contato com a minha pele me deu uma sensação de alívio instantânea. Soltei o ar e fechei os olhos.
Acabei adormecendo ali mesmo. Acordei com um barulho vindo da sala. Sai da banheira completamente enrugada, estava até parecendo um maracujá velho. Se Giovanna me visse dormindo ali brigaria comigo na certa. Vesti o roupão e fui até a sala.
-- Oi. – falei ao chegar à sala ainda amarrando o roupão.
-- Oi. – me respondeu seca, deixou a bolsa no sofá e foi até a cozinha.
Fui atrás dela.
-- O que houve?
-- Nada.
-- Onde estava?
-- Sai com as meninas.
-- Que meninas?
-- Umas colegas do trabalho. Fomos comemorar a promoção de uma delas.
-- E onde foi essa comemoração? – perguntei abraçando-a por trás e depositando um beijo em seu pescoço.
-- Per..perto do...do hospital mesmo.
-- Ihhh. Andou bebendo foi amor? – brinquei.
-- Claro que não, sabe que não costumo beber. – falou se afastando de mim.
Giovanna tinha realmente um fraco para bebidas, bastava uma pequena dose para mexer com sua coordenação motora, seu discernimento, e para torná-la mais solta E o engraçado de tudo isso, é que mesmo ela dizendo que não havia bebido, eu senti um leve odor de álcool quando a abracei.
-- Quer alguma coisa para comer?
-- Um sanduíche. Vou tomar um banho.
-- Tá certo. Eu levo o sanduíche daqui a pouquinho lá em cima.
-- Tá.
Ok! Seja lá pra onde foi que Giovanna tenha ido, ela tinha voltado muito estranha. Mesmo cansada ela sempre estava de bom humor, falava sobre o seu dia, era animada. E aquela Giovanna que eu acabara de ver não me lembrava a minha esposa. Estava monossilábica, evasiva como se fugisse de mim. Era ela e ao mesmo tempo não era. O que será que tinha acontecido?
Preparei um sanduíche para ela e um para mim, o dela do jeitinho que ela gostava, completamente saudável, já o meu, bom, era completamente o oposto, recheado de tudo que encontrei pela cozinha. Fiz um suco de abacaxi com hortelã, coloquei tudo em uma bandeja e subi.
Deparei-me com Giovanna completamente enrolada nos lençóis e ressonando. Como ela havia dormido tão rápido? Deixei a bandeja no móvel ao lado da cama e chamei tocando em seu ombro. Nada, ela nem mesmo resmungara.
Fiz meu lanche e desci para deixar a bandeja na cozinha. Ao passar pela sala percebi que o celular dela vibrava dentro da bolsa. Peguei o aparelho para olhar quem ligava àquela hora, mas assim que o peguei ele parou de tocar. Tentei olhar o número da ligação, mas a senha não era a mesma, aquela que ela costumava colocar em tudo por medo de esquecer – o que normalmente acontecia. Ela nunca mudava aquela senha.
Ia devolver para a bolsa quando ele voltou a tocar em minha mão, não havia nome, apenas um número que eu não conhecia. Sem pensar, atendi.
-- Alô? – silêncio – Alô?
Fiquei em silêncio também e do outro lado consegui ouvir o som de uma respiração.
-- Alô? – insisti e desligaram na minha cara.
Uma sensação muito estranha tomou conta de meu corpo. Estava tudo estranho!
Subi para o quarto e Giovanna estava na mesma posição, não havia se mexido um milímetro sequer. Olhei aquele rosto sereno por alguns segundos. Ela era tão linda!
Meu peito comprimiu e aquela sensação estranha pareceu se intensificar. Deitei e fechei os olhos. Lutei contra a desconfiança que queria se instalar em meu coração. Giovanna nunca havia me dado motivos para tal, e algo corriqueiro não era motivo para que agora começasse. A luta foi árdua não conseguia tirar da minha cabeça que tinha algo acontecendo, que ela estava me escondendo algo.
Olhei para ela novamente, tocando suavemente o seu rosto.
Suspirei. Demorei a pegar no sono
Fim do capítulo
E aí meninas, que rumo será que essa estória segue hein? O que acham?
Beijos amores
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Confesso que nem sei o que dizer. Acho que tem caroço nesse angu kkkkk.
Mas vamos ver o que isso vai dar.
Bjs
Resposta do autor:
Oh cuidado com os caroços ai, porque o angu está repleto deles kkkkk
Vamos lá, vamos ver onde tudo isso vai dar.
Beijos
Mille
Em: 27/01/2016
Coisas muita estranhas com Giovana.
Mais acho que ela não está traindo a Malu, talvez esteja fazendo algo por exemplo o tratamento de fertilização, espero sinceramente que essa babaca do Henrique não espere elas.
Marcela mudou da água para o vinho, sei não acho que está esperando o momento certo para dar o bote.
Bjus
Muito boa sua história
Resposta do autor em 29/01/2016:
Giovanna está mesmo muito estranha. Mas, tudo tem uma razão e um por que. Será mesmo que ela está querendo fazer uma surpresa para Malu trazendo um baby para a vida delas? Assim escondido mesmo?
O que posso dizer é que o Henrique ainda vai mexer bastante nessa relação. Ele consegue mexer de uma maneira incrível com a Malu, e isso não vai ser bom. Marcela é outra que parece estar tramando alguma coisa. O que será? Ninguém muda assim de uma hora para outra.
Obrigada minha flor.
Beijos
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patty-321
Em: 27/01/2016
Não sei. Relacionamentos sao difíceis. Qdo pensamos q ta td certo vem uma merda. Afffz. Eu penso q a gio sobre da visita e patrocínio p marcela e ficou bolada. E esse tal de Henrique ta cercando.
Resposta do autor em 29/01/2016:
Tenho que concordar com você Patty, relacionamentos sempre são uma caixinha de surpresas. As vezes estamos felizes, achando que ta tudo certo e aí acontece algo que nem sempre é bom. Aparece ex namorada que você não via a séculos e ai de repente ela começa a te ligar, alguém da aquela olhada pra você e a namorada percebe e fica irritada, uma briga boba...sempre uma nova surpresa!
O Henriqe com certeza está cercando, ele ta querendo algo. Isso ainda vai mexer bastante com as estruturas dessa relação!
Beijo
Resposta do autor em 29/01/2016:
Tenho que concordar com você Patty, relacionamentos sempre são uma caixinha de surpresas. As vezes estamos felizes, achando que ta tudo certo e aí acontece algo que nem sempre é bom. Aparece ex namorada que você não via a séculos e ai de repente ela começa a te ligar, alguém da aquela olhada pra você e a namorada percebe e fica irritada, uma briga boba...sempre uma nova surpresa!
O Henriqe com certeza está cercando, ele ta querendo algo. Isso ainda vai mexer bastante com as estruturas dessa relação!
Beijo
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Shayenne
Em: 27/01/2016
Não acredito que a Giovanna teja traíndo a Malu...ou esta?Aiii que agonia.Autora vc é ótima.Estou adorando acompanhar esse romance. bjs linda.
Resposta do autor em 29/01/2016:
Shayenne a Giovanna tá muito estranha, não tá não? O que era que está acontecendo?vamos ter que ler mais um pouquinho pra saber se isso é coisa da cabeça da Malu e da nossa. Mas posso apostar que vem emoções por aí! Linda muito obrigada pelo seu elogio e seu carinho, você que é uma ótima leitora! Obrigada viu? Tem capítulo novo já, e dependendo terá o sexto capítulo ainda hoje.
Beijo flor!
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