Capítulo 3
A manhã na Delegacia não estava sendo fácil, estávamos planejando uma operação muito importante, apenas faltava o apoio do Ministério Público para que fossem feita as abordagens. Diante disto, a Equipe se uniu para acertar os itens finais da invasão, que seria na área Leste da cidade e exigiria um número significativo de policiais e profissionais da área da Segurança Pública. No horário do almoço foi feito uma pausa para alimentação num restaurante no mesmo quarteirão do Batalhão. Almoçamos sem pressa já que praticamente da nossa parte tudo estava acertado. Percebi uma movimentação diferente, foi quando reparei a chegada dos policiais da área vizinha a nossa, que ajudariam na intervenção. Meus olhos se fixaram numa figura que adentrava o local, loira, com óculos de sol estilo aviador e cabelos presos num rabo de cavalo mal feito, naquele momento estava usando uma roupa casual, calças jeans clara, uma blusa baby look rosa e sapatilhas, estava falando com um dos PM, por isso tinha uma expressão seria, caramba, ela era sexy de qualquer maneira! Bryana veio na direção da nossa mesa e sentou almoçar com os demais, senti seus olhos em mim me analisando, mas não demonstrei minha emoção naquele momento, que era: calor! Meus pensamentos foram interrompidos pelo meu celular tocando, olhei no visor e era o número da Le, sinal de alerta, levantei e atendi:
- Oi Le, tudo bem?_ falei imaginando mil coisas, ela não costumava me ligar se não fosse algo de extrema importância.
- Mariana, a Alice não está passando muito bem, entrei em contato com a pediatra dela e me mandaram levá-la pro Hospital, no Uniclinicas. _ Ela falou tudo de uma vez, percebi seu nervosismo.
- Mas o que aconteceu?
- Ela está vomitando desde que acordou, tem diarréia e dores na região da barriga, além de febre alta. Sei que está atarefada Mari, vou cuidar dela como se fosse minha, não se preocup..
- Estou indo praí!! _Nem deixei a Le terminar, minha filha era a coisa mais importante e eu estaria do lado dela nem que chovesse canivete. Voltei pra mesa com pressa para pegar minha bolsa e avisar o pessoal, quando estava saindo, Bryana segurou no meu braço:
- Eu te levo, você está muito nervosa. _ Me surpreendi, mas não queria dar trabalho, só queria chegar logo.
- Não precisa Bryana, não estamos longe e eu não quero incomodar. _Falei atropelando as palavras, não conseguia pensar muito naquele momento.
- Qual foi, Mariana? Até parece que sou uma desconhecida, não teima, só quero tua segurança. _Ela fechou a cara e eu aceitei, afinal de contas, ela tinha razão.
Chegamos no Hospital e depois de nos informarem onde estava minha filha, andamos pelos corredores em silêncio, até chegar no quarto em que minha filha estava, abri a porta e entrei com Bryana atrás de mim, e não pude evitar de ficar emocionada, minha pequena cheia de soros e remédios, dormindo. Abracei Letícia que me confortou com seu carinho todo especial, e em seguida apresentei Bryana para ela, esta que foi muito simpática, mas não pude deixar de notar a expressão da Le: Dura. Ela passou os primeiros minutos analisando minuciosamente a Bryana, que neste momento estava fazendo carinho na Alice e mantive meu olhar na Letícia que, percebendo meu olhar inquisidor, desviou os olhos.
- A médica saiu faz alguns minutos daqui, ela informou que provavelmente foi a apendicite da Alice que está inflamada, já que ela tem histórico de inflamação nos exames anteriores. Nada grave, já deu medicação e hoje mesmo ela vai ter alta._Letícia falou calma, me olhando nos olhos, o que eu amava nela, ela transmitia uma segurança e tranquilidade que me fazia ficar também.
- Graças a Deus que foi só isso. Meu coração estava saindo pela boca. Pensando bem… Eu acho que logo logo a minha filha precisará fazer está cirurgia._ Dei um beijo na testa dela e acaricie seus cabelos. Só então me dei conta que Bryana estava ali, como uma múmia, parecia deslocada.
- Bry, obrigada pela carona, você me ajudou muito, cuidando de mim. Se quiser ir e avisar o pessoal que hoje eu não retorno.._Olhei pra ela enquanto ela me sorria.
- Eu vou, por que sem uma de nós aquilo vira um cabaret (risos)_ Abracei ela com carinho e ela alisou meus cabelos e beijou minha bochecha. Se despediu formalmente de Letícia e saiu.
Sentei num sofá que tinha no quarto e a Letícia ficou encostada na parede, olhando para o nada, achei estranho, mas fiquei olhando pra ela, percebendo que ela estava com a mesma roupa de hoje cedo, um shorts jeans escuro, soltinho e comportado e uma blusa frente única estampada com flores, colada ao corpo. A.blusa.dos.seios. Minha garganta ficou seca e então nossos olhos se encontraram. Por alguns segundos ficamos nos olhando, até que ela desviou. Porque Letícia estava me evitando desde cedo? Estava diferente de sempre, ela acostumada sempre com tanta espontaneidade.. Será que..? Claro, ela viu, tenho certeza que viu, a droga da porta fico aberta. Por um instante fiquei envergonhada, mas depois me remeteu a ideia: porque ela está arredia? Somos amigas, conversamos tanto, ela sabe da minha sexualidade, ela também é. Numa noite até nos contamos sobre nossos casos e algumas trans*s “diferentes”.
A tarde passou voando, Alice já tinha acordado e voltou a dormir. Perto das 19:00 horas a Dra Adriana entrou para ver como ela estava e quem sabe, dar alta. Conversamos bastante, afinal Adriana foi minha primeira namorada séria e, é uma pessoa muito especial na minha vida. Ela deu alta pra Alice e quando terminasse os soros, poderíamos ir embora. Como ela estava terminando o plantão, ficou no quarto comigo, rindo e lembrando das nossas loucuras. Senti o olhar da Letícia sobre mim o tempo todo e, se eu não estava enganada, hoje ela não estava nos seus melhores dias, pois pouco sorria. Adriana tentava incluir ela na conversa, mas ela parecia não querer conversar hoje. Percebi Adriana olhando algumas (muitas) vezes para Le e então me toquei que era para seu decote que, hoje estava sensacional. Letícia estava pedindo…. Quando Adriana se despediu, foi muito receptiva para Lê, enquanto isso eu não sabia se ria ou se me retestava. Afinal, isso era bom ou ruim?
Saímos do Hospital era passada das 20:00 horas, e Alice estava sonolenta mas cheia de manha, e me surpreendeu quando chegamos em casa, ao pedir para que Lelê dormisse lá em casa. Tentei explicar que ontem ela já havia dormido lá, mas Letícia disse que ficava, afinal, quem não se rende para os encantos da minha pequena?
Alice pegou no sono rápido e, então pedi pra Lê fazer um sanduiche para mim, já que eu o adorava. Ela fez, enquanto eu tomava banho, e depois que eu sai, ela foi tomar o banho dela, e eu emprestei um pijama fresquinho para que ela pudesse ficar confortável. Fiquei esperando ela sair do banho pra conversar um pouquinho, eu adorava ouvir ela contar piadas ou falar sobre a família dela, mas o sono me venceu e eu fui acordada por dedos macios que acariciavam meu braço, só então me dei conta que estava no sofá.
- Você está capotando, vai dormir na cama. _ Ela me disse com carinho na voz, daquele jeito que só ela me tratava e eu amava.
- Ah nãão Lê, me leva?_Fiz manha e um bico, estava carente… Ela riu e afagou meus cabelos.
- Não consigo te carregar Mari._Senti que ela ficou séria de novo, aquela capa de dureza tomou conta dela novamente, e essa era a minha oportunidade:
- Você viu né?
- O quê? _ meu peito palpitou, aquele olhar tão intenso, tão profundo, tão Letícia…
- A noite, no meu quarto, a porta ficou aberta..
- Vi. _ Desviou dos meus olhos.
- Desculpe, a porta ficou aberta.. _Minha voz se perdeu.
- Estão namorando? _me questionou, evitando me olhar.
- Claro que não, eu te conto tudo! Só aconteceu ontem, antes de voltar pra casa tivemos uma conversa mais informal e surgiu a oportunidade. _Eu estava leve por finalmente falar com ela, contar e esclarecer..
- Conversa informal? Oportunidade? Vejo isso como uma escapada bem quente, aliás… Um trepada bem quente! _Vi raiva no olhar dela e me assustei com os termos usados naquela frase.
- Que isso Letícia? Você sabe que eu transo, que eu gosto de fazer sex*. Você sabe que eu gosto de mulher e ouso lhe dizer que, sou afoita, se quer saber!_ Estava me excedendo já, me irritando com essa Letícia enigmática.
- Devo imaginar, alias, mesmo não imaginando, teu corpo fala por você, as mulheres falam por você!! Até nos momentos que sua filha esta doente você não perde uma oportunidade! _Letícia destilava ódio e já estava em pé, parecia uma leoa, pronta para atacar.
- Cuidado com o que fala Letícia, cuidado!! E não foi para mim que a Doutora Adriana deu mole, aliás, não era eu que estava com um decote que chama as pessoas, que não convida e sim intima a caírem de quatro por você! Não era eu que usava um shorts deixando toda essas pernas a mostra, para quem quisesse ver ou cobiçar, aliciando as pessoas já que a peça quase gritava: me tire! Fazendo inclusive uma médica a te paquerar! _Não aguentei e explodi. Vi em seus olhos que estava horrorizada, e eu possuída pelo ódio.
- Você é louca, Mariana? A maneira como me visto não diz nada sobre mim, me respeite! E vocês duas estava quase se comendo dentro daquele quarto, com essa besteira de lembranças, acha que não percebi o quanto você é exibida e sem vergonha? Relembrarem trans*s no mato, numa cachoeira, em rios, na minha frente? Qual é a sua Mariana? Me responda! _Ela se aproximou de mim e percebi que estava irada, mas incrivelmente sexy. Sua sobrancelha estava levantada e estava corada de raiva, os olhos, pareciam um mar, por que o verde reacendeu como uma chama. E em mim, outra chama acendeu. E eu tinha que admitir, eu estava sentindo tesão pela babá da minha filha.
- Qual a minha? Quer saber mesmo, Letícia? _Nossos rostos estavam tão próximos que eu pude sentir a respiração dela, coloquei os olhos em seus lábios e não consegui tirar e em seguida, a beijei. Ela correspondeu com toda ira que existia, pois era um beijo bruto, então passei minha mão pelas costas dela e outra puxei pela cintura, sentindo todo o corpo dela colado ao meu. Paramos só quando o pulmão precisou de ar, e neste milésimo de segundo que fitei os olhos dela, soube o que ela queria. Dei uma fungada no pescoço dela e, ela roubou um beijo meu, dessa vez quente, calmo e muito erótico, pois ela ch*pava a minha língua e me provocava com a dela. Andamos até meu quarto e ela bateu com o pé na porta para fechar, me olhou e rimos, em seguida caímos na cama e, tirei a sua roupa com pressa, enquanto ela me despia lentamente, pude perceber seu olhar sob minha lingerie branca, me arrepiei. Me enrosquei em seu corpo, beijando todo ele com volúpia e profundamente, e a partir daquele instante, Letícia era meu oásis. Ela inverteu e tomou toda a situação, percebi que me desejava há algum tempo, seu olhar não negava tal fato. Ela beijou meu corpo com delicadeza e ao mesmo tempo fúria, ora mordiscava, ora lambia, ela usou do meu corpo inteiro, sem esquecer de nenhum detalhe, até desfrutar do nervo mais duro e excitado do meu corpo naquele momento. Sua língua me lambeu e seus lábios me sugaram com maestria, até eu ficar toda mole e sentir o gozo vindo de maneira lenta e gostosa. Ela subiu até mim e beijou meus lábios de uma maneira inexplicável, fazendo um vai e vem com a língua dela na minha, enquanto descia os dedos dentro de mim me penetrando com delicadeza e urgência. O prazer que me acometeu foi tão arrebatador que eu arranhei as suas costas e cravei minhas unhas nela, compensando já que eu não poderia gritar. Enquanto regularizava a respiração, ela deitou ao meu lado, colando seu corpo ao meu e me enchendo de beijinhos. Me senti maravilhada com essa Letícia afoita e ao mesmo tempo carinhosa. E ela parecia não estar nada cansada, já que me virou de bruços e iniciamos uma dança que durou até as 06:00 horas da manhã, sem pararmos um minuto se quer.
Acordei 09:00 horas, estava um trapo, dormi três horas apenas. Olhei para o lado e Letícia estava num sono profundo, parecia um anjo, nua e com semblante descançado. Deixei ela dormindo, afinal a Alice sempre acorda tarde e ela precisaria de muita disposição para acompanhar uma ferinha de quatro anos. Entrei no banheiro e me olhei no espelho, estava diferente, estranhamente mais bonita, me sentia viva, brilhante.. Cheirei meus cabelos, cheiro de Letícia, impregnado em mim. Sorri de novo, sorri pra mim, por ela. Entrei no chuveiro, e aproveitei para por em dia meus tratamentos capilares, esfoliação semanal, e deixar tudo em dia. Queria sair dali linda, queria acordar ela com beijos… Demorei uns 45 minutos no banheiro, pois sequei meu cabelo no secador e fiz um rabo de cavalo baixo e caprichado. Aproveitei para me maquiar, com base, pó, blush, muito rímel e um batom vermelho, que eu amo. Ri por dentro, queria deixar a Lê toda marcada. Marcada de mim. Entrei no quarto e senti um ar diferente, as janelas abertas, mas a persiana fechada ainda, então o ar estava leve, circulando, olhei pra cama e confesso ser pega de surpresa: ela estava perfeitamente arrumada, com lençóis limpos e passados. Olhei pros lados, nada entregava que ela estivera ali um dia. Terminei de me vestir, com um vestido branco, até o meio da coxa, mangas ¾, e saí. Ela estava tomando café com Alice e ignorou a noite e tudo que aconteceu. Dei bom dia e decidi sair dali, precisava… Um vazio tomou conta de mim. Desapontamento. Mas por quê?
Fim do capítulo
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