Pentimentos por Cidajack
Gente,
Preciso fazer um aviso:
Quando eu fui colocar o valor da campanha, não percebi que coloquei 12.500, quando queria 2.500,00. Tentei corrigir, mas o site não permite. Por favor, peço perdão.
Mas, vamos kickar, por favor!
Capítulo 8
Becky estava agitada e insistiu em dirigir. Assim, ao seu lado, enquanto a loirinha reclamava, Clara apreciava a paisagem e pensava sobre os acontecimentos.
Trabalhava com Luciana há sete anos. Aceitou o desafio de trabalhar com a doutora pelo motivo mais óbvio: a excelente remuneração. Sabia que faria jus aos seus ganhos, quando passou por exaustivos testes e, por fim, fora entrevistada pela própria Luciana. Os anos seguintes foram árduos, pela aridez de sentimentos da mulher que a cativara pela beleza, pela altivez e, como não poderia deixar de ser, pelos olhos azuis dominadores e intensos.
Decidira manter a dignidade e atribuir os ataques de arrogância e raiva que recebia da doutora, aos próprios resquícios de amargura e mágoa que ainda a assombravam, quando perdera o marido e o filho. A mulher tinha enterrado seus sentimentos junto com seus entes queridos e desprezava a si mesma. As lutas eram contra os fantasmas internos. Com tantas dores e ressentimentos, como poderia considerar alguém?
Sofrera humilhações. Muitas. Mas, ao contrário das suas antecessoras, resolvera suportar. Também era sozinha. Também tinha suas ambições. E, acima de tudo, aprendera a ter devoção e lealdade à sua empregadora.
Quando a contratara, Luciana deixou bem claro que pagaria um excelente salário, muito acima da média, para que nunca tivesse que ouvir queixas sobre merecimentos, reconhecimentos, gratificações e toda sorte de ladainhas que ocorrem numa relação entre empregados e patrões. Ela, Clara, só saberia que tinha sido mal reconhecida, se fosse demitida; caso contrária, a permanência no emprego deveria ser entendida como o grau máximo de satisfação expressado pela doutora.
Errara uma primeira vez e fora alertada para que tal não se repetisse. A esta atitude, atribuiu sorte. Um segundo erro ocorreu e simplesmente ouviu da mulher,em tom frio e cortante, que entrevistar mais outra idiota era perda de um tempo que ela, Luciana, não tinha. Porém, Clara percebeu que o comentário servira para disfarçar a aprovação e familiaridade da doutora para com ela. Apesar de tudo, a mulher já estava acostumada com a secretária, como alguém que se acostuma com um sapato. É,era uma comparação nada enaltecedora, mas era realista.
Em pouco tempo, tomava conta de tudo, coordenando as agendas pessoal e profissional. Se, como médica era raro ela comparecer aos eventos; na vida pessoal virava uma causa perdida.
Apenas por desencargo e rotina, Clara simplesmente passava a agenda de manhã, checando todos os convites e eventos, para que Luciana desse as orientações. Invariavelmente a resposta era "não interessa", sem maiores comentários, e Clara se virava para elaborar as respostas, às vezes até de cunho político e diplomático para as relações profissionais da médica.
Eventos como congressos e seminários sobre saúde pública e privada, bem como pesquisas médicas; costumavam ter mais sucesso, mas com muitas restrições.
Assim, a secretária respondia todas as correspondências, declinando de convites e desculpando-se com as esposas e outros tipos de pares sociais da doutora.
Quando não atendia Luciana, administrava os imóveis mais usados, como a casa da praia e o haras; cuidando para que tudo estivesse sempre em ordem, pois a mulher não escolhia hora para usá-los. De certa forma, era mais usuária das coisas da médica do que ela mesma, tamanha era a reclusão da mulher.
Quase tão solitária quanto Luciana, a secretária também mantinha uma vida social meio morna. Vez ou outra, arriscava-se em bares e casas noturnas, em busca de companhia e diversão. Em uma dessas vezes, cruzou com a doutora. Era uma quarta-feira, dia da sua folga. Antes de ser vista, pôde observá-la. A imponente figura era o objeto de desejo de homens e mulheres, mas apenas ficava parada ao redor da pista de dança ou nos sofás. Quem ousava chegar perto dela, recebia um olhar que pulverizava o atrevido ou atrevida.
Clara não sabia se era sempre assim, mas em determinado momento, a bela mulher dirigiu-se ao centro da pista, pegou uma garota pela cintura, disse pouquíssima coisa e saiu com a tal. Ao sair, a doutora cruzou o olhar com o de Clara, que se manteve como se não estivesse ali, uma vez que fora isto que os olhos azuis denotaram ver: nada.
Apesar de um tanto quanto surpresa, pois fora algo impressionante a forma como a jovenzinha tinha sido levada pela predadora, algo como um passarinho hipnotizado pela serpente; a secretária mais uma vez só pôde admirar ainda mais a objetividade e a segurança da mulher que era a sua empregadora.
Logicamente, nenhum comentário surgiu, uma vez que dentro da natureza de suas relações, cada qual no seu papel, esta era a conduta aceitável. Porém, na quarta-feira seguinte a doutora encarregara a secretária de checar uma casa noturna recém-inaugurada. De certa forma, ela estava informando aonde iria, evitando novas surpresas. Deste episódio em diante, a própria secretária se encarregava de checar os lugares para a doutora.
Nos últimos anos, antes de Rebecca, a doutora deixara de sair. Trancara-se definitivamente em um mundo muito solitário. Às vezes, não comparecia ao hospital e sumia por dias. Em outras ocasiões, ficava até altas horas no hospital. Sempre mal-humorada, séria, irritadiça; uma caldeira sempre preste a explodir, o que acontecia com freqüência e por pura necessidade de mostrar quem era a dona do poder.
De repente, da noite para o dia, literalmente, surge no quarto da doutora uma figurinha de cabelos loiros e belíssimos olhos verdes. Uma criatura amável, gentil, humilde; mas de muita garra, fibra e coragem para enfrentar e encantar a fera. Novamente, a médica surpreendera Clara.
Rebecca mudou, ainda que sutilmente, os modos autoritários da doutora. Ainda era severa, ainda era arrogante, orgulhosa; mas tinha agora uma certa condescendência, ao menos para com ela, Clara.
Certamente, todos os fantasmas antigos ainda estavam lá; mas o amor e a devoção à loirinha eram verdadeiros. A jovem funcionava como calmante para os olhos azuis às vezes tão límpidos e transparentes, outras escuros e penetrantes ou, ainda, com nuances de turquesa ou violeta; definitivamente, aqueles olhos causavam devastação em quem os mirasse.
****
- Pare ali adiante, Rebecca. Eu dirijo agora.
- Ta com medo da Luck? Também não posso dirigir?
- Você está impossível hoje. Escuta bem o que vou falar, pois é a última vez.
- Rebecca parou a pick-up alugada. De repente, viu-se indignada pela reação da secretária.
- Desce.
- É a última vez que você diz "desce"?
- Não banque a engraçadinha. Desce.
Após trocarem de lugar, a loira ficou esperando o que viria. Calmamente, Clara começou a falar.
- Trabalho com a Dra. Luciana há quase oito anos. Se eu tivesse medo dela, ela não teria me mantido por tanto tempo.
Rebecca fingia estar entretida com a paisagem.
- Eu tenho admiração pela profissional e respeito pela mulher. Gosto do meu trabalho e me orgulho em saber que tenho feito o melhor nesses anos.
Rebecca começou a assobiar.
- Existem três tipos de pessoas na vida dela: aqueles que sofrem com as intempéries dela,mesmo estando indiretamente ligados a ela; aqueles que a suportam por bajularem-na e por necessitarem da mordomia que ser humilhado por ela lhes conferem; e aqueles que compreendem que a fúria que é extravasada nada tem a ver com eles, mas com coisas internas dela e estas pessoas, poucas, acabam ganhando sua confiança e respeito.
A jovem estava prestando atenção.
- Aqueles que a bajulam e concordam com tudo, simplesmente sofrem as piores humilhações e continuam a sofrê-las, odiando cada vez mais a mulher que os humilham. Para ela, são pessoas fracas, pessoas que se sujeitam e por isso merecem serem tratadas como são. Um belo dia, a qualquer hora, sem aviso, ela os descarta, pois sabe que na fila encontram-se muitos outros.
Clara parou para olhar o mapa, retomando em seguida.
- Estas mesmas pessoas quando podem, transferem para a esfera logo abaixo as mesmas frustrações. Todos acabam lutando pela sobrevivência, no culto aos valores materiais que os impulsionam. Ela não é a toda poderosa, ela é alguém que elevou à potência máxima tal culto e soube manipular o destino. Poucos sabem fazê-lo.
Os olhos de Rebecca estavam presos à paisagem, mas sua atenção estava nas palavras da secretária.
- A única coisa que eu fiz foi não temê-la. Quando errei, encarei o erro, ouvi destratos e me corrigi. Desde a primeira vez que vi a doutora, nunca desviei o meu olhar daqueles olhos azuis que, geralmente, não demonstravam qualquer expressão. Encarei-a e corrigi o erro com segurança. Aprendi que ela gosta de respostas pró-ativas e não achismos. Mesmo tendo péssimos momentos com ela, percebi que as coisas que ela me delegava demonstravam sua confiança. Finalmente, com a sua chegada, eu tive a certeza de que tinha o respeito dela.
- Existem mais pessoas como você na vida dela?
- Sim. Prof. Arthur...
- Ele não conta. É quase um parente dela.
- O que não seria motivo para ela não o desdenhar. Mas, vejamos... Marcella é uma delas.
- Gosto dela. É uma boa amiga. Mas, segundo Luck, eu gosto de todo mundo. – ela sacudiu os ombros, indiferentemente – Mas, o que ela fez para conquistar minha difícil companheira?
Era agradável constatar que Rebecca se sentia mais à vontade para falar sobre seu relacionamento. Antes, apesar de óbvio, tudo era muito formal. Talvez em consideração à médica, pois a jovem não era nada prepotente. Também poderia ser insegurança com relação ao papel dela na vida da mulher misteriosa. De qualquer forma, agora ela mostrava-se muito segura e até possessiva, referindo-se sem rodeios e eufemismos à sua paixão. Seja lá o que acontecera, Clara percebera que estava se tornando o anjo da guarda daquela relação.
- É famoso o encontro delas. Ela era uma coordenadora da área de marketing e estava fazendo parte de um comitê que integrava o processo de qualidade da empresa. A Dra. Luciana costumava participar das reuniões. As pessoas oscilavam entre a intimidação ou bajulação. Segundo contam, era nítida a falta de paciência da doutora, pois nada de novo surgia, uma vez que todos ficavam tentando adivinhar o que agradaria a médica, além de disputarem para ver quem teria sua aprovação. De repente, Marcella lançou uma idéia, alguns foram contra, fez-se o debate, até que a doutora concordou com a jovem coordenadora. Mas, apesar de ter sido aprovada, Marcella foi além e disse que a doutora poderia concordar, mas era a primeira a quebrar o procedimento sugerido toda vez que visitava as unidades que compunham a corporação.
- Pelos deuses! É aí?
- Pois é, todos reagiram como você e deram como certo que tal ousadia custaria o emprego da jovem. Após um longo silêncio, a doutora sorriu e disse que tomaria mais cuidado nas próximas vezes para não causar mais nenhum tipo de transgressão.
- E...
- Bem, como você sabe, Marcella é agora uma diretora e convive no mesmo andar com ela. Não é superprotegida, como pode parecer, uma vez que quando está irritada, a Dra. Luciana não mede as palavras; mas, com certeza tem o respeito da mulher tão temida.
- Quantas lendas mais existem sobre Luciana?
- Inúmeras. Ela é tida como um bicho-papão, alguém que pode se tornar o pesadelo de muitos e, com certeza, ela realmente tira o sono de muita gente. Não posso negar que é tenso estar tão próximo dela. Ninguém, em nenhum cargo ou grau de relacionamento está livre de ser sabatinado, testado e dispensado. Qualquer demonstração de insegurança, abre um precedente.
A jovem estava agora encostada na porta do carro, com a cabeça apoiada no banco e as pernas esticadas, quase alcançando Clara. Nesta posição, olhava fixamente para a secretária, absorvendo cada palavra que era proferida. Vez ou outra, desviando a atenção da estrada, Clara podia ver os olhos verdes ganharem nuances diferentes, uma vez que ela tirara os óculos.
- Entretanto, até hoje só presenciei situações nas quais ela tinha razão e tudo ocorreu por incompetência comprovada ou desgastes desnecessários para a administração das empresas. Os funcionários que são a base da pirâmide nem sequer sabem quem ela é. Conforme a pirâmide se afunila, as pessoas começam a sofrer algumas sobras dos ataques que costumam abalar os altos escalões. Até com relação à cor preferida dela alguns se preocupam, tentando não desagradá-la. Existe um boato que ela teria demitido funcionários que usavam roupas da cor que ela não gostava.
- É verdade? Luck fez tal coisa? – os olhos demonstravam incredulidade e um certo medo.
- Não. Uma das gerentes me contou que a doutora discutira com uma funcionária e esta a desacatou, resultando na demissão sumária da infeliz. Na mesma semana, em outra visita, foi constatado que um determinado funcionário estava fraudando estoques utilizados nos ambulatórios. A doutora pessoalmente o demitiu. Alguém reparou que ambos usavam peças de roupas da mesma cor e, não sabendo das implicações reais das demissões, atribui isto aos famosos caprichos dela. Resultado: criou-se uma nova lenda.
Rebecca começou a rir.
- Quer saber? Nem eu sei a cor que ela gosta mais ou menos.
- Pois é. Isto não é o tipo de coisa que preocuparia uma mulher objetiva e racional como ela. Muito menos alguém teria tal informação. Se nem você sabe, quem poderia?
- Taí... Vou perguntar. Ela está sempre de branco, mas usa preto também.
- Sei que o Prof. Thomas detestava vermelho, o que é estranho para um médico.
- É verdade.
- Se existem lendas sobre a doutora, sobre o professor elas se multiplicam e são realmente cercadas de requintes de crueldade. Marcella diz que ele visitava os leitos dos hospitais e checava pessoalmente quem podia ou não permanecer internado. Se tivesse acabado o prazo de internação, a família do infeliz que se arrumasse para continuar com a internação ou remover o paciente.
- Luck nunca fez isso, fez?
- Não fez... Ela faz. Não pessoalmente, mas ainda decide sobre alguns casos.
- Mas ela fazia. Dizia que eram negócios. Eram despesas e tudo fora acordado por contratos celebrados entre as partes. Era algo automático. Quem ia atrás dos direitos, dava mais trabalho Outros, menos esclarecidos, tratavam de cumprir o acordo. Sob este aspecto, era compreensível, ainda que desumano.
Clara percebeu a expressão no rosto de Rebecca e tentou consertar o que disse.
- Você conhece os contratos. Já foram piores.
Rebecca voltou à posição anterior. Ficou um bom tempo em silêncio e depois disparou.
- Por que não faria, já que pessoas são descartáveis para ela.
Clara olhou para Rebecca, mas não pode ver seu rosto, pois ela olhava pela janela. De repente, sentiu que suas palavras reverberavam de forma errônea pela cabeça da jovem e isto não era a sua intenção. Não estava arrependida da conversa, pois via o quanto a jovem estava tentando transpor barreiras a fim de atingir e socorrer sua companheira. Entretanto, deixou-se exceder em seus comentários. Agora teria que ser sábia em suas palavras.
- Você não é.
- Como pode saber?
- Eu é que pergunto: como pode VOCÊ não saber?
****
O silêncio que se estabeleceu reinou por muito tempo, antes de Rebecca pedir para parar o carro.
Clara ia protestar, mas ao olhar para a jovem percebeu que ela estava trêmula e meio pálida. Rapidamente, parou.
Rebecca desceu e foi até uma placa na qual, em letras toscas, estava escrito PRÁ LÁ. Voltou para o carro. Os olhos verdes brilhavam pelas lágrimas contidas.
- Você está bem?
- Por que você não disse?
- Se eu soubesse o que, eu teria dito.
- Aquela placa... Fui eu quem fez... Tinha uns seis anos e me perdia pra chegar em casa, então fiz a sinalização. Meus pais riram muito de mim. – ela deu uma risada meio sem graça.
- Você está me dizendo que....
- PRÁ LÁ fica a minha casa!
Clara não sabia mesmo. Luciana não falara nada além de dar o mapa instruí-la a levar Rebecca até uns metros mais adiante da tal placa.
- Quer dizer que estamos perto da sua casa, onde você vivia com seus pais?
- Onde está Luck?
- Uns metros mais adiante, pelo que consta no mapa.
Na estrada, mais para frente, elas entraram em um sítio. Logo avistaram a doutora. Apesar da emoção, Rebecca não pode deixar de sentir o coração bater mais rápido e o desejo tomá-la de assalto ao ver sua parceira.
Ela estava verdadeiramente estonteante. Montada em um cavalo negro, a médica estava em jeans e camiseta regata, botas de montaria, cabelos presos, chapéu e óculos escuros. A camiseta moldava perfeitamente o corpo, realçando os ombros e braços perfeitos, bem torneados e fortes. Os seios avançavam contra o tecido da camiseta, criando um nicho macio e deliciosamente sensual entre eles. De repente, um calor invadiu o corpo de Rebecca e, com certeza, nada tinha a ver com a temperatura local.
Descendo do carro, esperou Luciana se aproximar.
- Oi! – Luciana falou.
- Oi. – Rebecca retornou, sem disfarçar a voz rouca pela emoção e desejo.
- Sua voz... Você está bem?
Rebecca assentiu com a cabeça, pois não sabia o que era o sentimento que tomava conta dela.
- Sabe onde estamos?
- Sim.
Lentamente, Luciana retirou os óculos. Mais uma vez, verdes intensos renderam-se aos azuis cristalinos.
- Está pronta para voltar?
Rebecca não sabia o que significava voltar: seria retornar a sua casa, aos seus pais ou, naquele instante, diante da mulher que amava, representava voltar para a segurança daquele braço, agora estendido a espera da sua resposta.
Sem hesitar, segurou na mão firme e foi posta sobre o cavalo, logo à frente da amazona, sentindo em suas costas o calor do corpo amado. Tão logo manteve contato, pode perceber Luciana enrijecer. Para Rebecca, ficou claro que seus corpos reagiam às mesmas sensações.
Clara fora instruída a encontrá-las ali, dentro de algumas horas. Tinham reservas para o vôo daquela noite.
- A doutora está sem carro?
- Vim com o dono dos cavalos. Ele conhece bem a região e me orientou.
Sem mais palavras, Luciana deu um leve toque no cavalo e saiu em um galope suave. Rebecca sabia que ela era uma excelente amazona. Sabia que estava segura. Sentia-se protegida. Lembrou-se do que Clara dissera sobre não ser descartável. No mesmo instante, sentiu os lábios dela em sua têmpora, num beijo carinhoso, íntimo, amigo, reconfortante.
- Você sabe o caminho, Becky?
- Nunca soube direito, antes de conhecê-la.
Apoiou a cabeça no ombro da doutora.
- O que vamos encontrar lá, Luck? Meus pais...
- Não, Becky. Infelizmente, não.
- Você sabe quem são os donos agora?
- Sei.
****
Chegaram até a placa.
- Queria saber quem colocou essa placa. Quanta sabedoria! Parece você quando eu estou dirigindo e pergunto pra qual lado e você fala PRÁ LÁ – a médica estava inconformada. – Devia ser médico o infeliz, que letrinha ruim....
- Pra uma criança de seis anos.....
- ...Tudo bem, uma criança de seis an...
Luciana ficou em silêncio. Então Rebecca pode sentir o movimento e logo em seguida a gargalhada.
- Não me diga que foi...
- Foi o melhor que pude fazer. E funcionou: nunca mais fiquei perdida.
Rebecca estava ficando irritada, pois a doutora estava com a testa apoiada em seu ombro, num riso irrefreável.
- E pra minha irmã também. Depois, todo mundo se acostumou.
Luciana tentou se controlar, quando percebeu a seriedade na voz da loirinha.
- Então... Devemos... - a doutora ainda estava tentando se conter – ir... PRÁ LÁ.
- É, minha casa fica PRÁ LÁ!
- Então, vamos... PRÁ LÁ. – e a morena desatou a rir novamente - ...Tem certeza que não é PRÁ CÁ?
Rebecca, num gesto de represália, deu uma cotovelada em Luciana que a deixou sem fôlego. Agora, quem estava zangada era a doutora.
- Doeu, viu? Pode esperar o troco.
Um sorriso malicioso brotou na face da jovem.
- Mal posso esperar, querida.
****
Durante o trajeto, Rebecca ia identificando algumas coisas, achando falta de outras, admirando o crescimento de certas plantas que ela tinha visto nascer.
Segurando firme as mãos de Luciana sobre as rédeas, forçou o cavalo a parar.
- Luck, não sei se quero continuar. Não sei se poderei ver pessoas estranhas no lugar que era meu, da minha família.
Luciana desmontou. O chapéu escorregou para as costas e ela tirou os óculos. Quando ela ergueu a cabeça para olhar Rebecca, o sol refletia em seus olhos, tornando-os claros, límpidos, meio turquesa. Sem uma palavra, esticou os braços e ajudou a loira a descer.
Sem qualquer pudor, a jovem deslizou o corpo pelo corpo moreno, aproveitando o pequeno espaço que ocupava entre o cavalo e a doutora. Desta vez, como durante todo a cavalgada, o tremor e a rigidez eram indisfarçáveis.
Quando seus pés tocaram o chão, suas mãos estavam entrelaçadas na nuca da médica e seus lábios tocavam-se, sedentos e vorazes.
- Se você fizer isto novamente, não chegaremos ao nosso destino. – Luciana estava ofegante.
- Já disse que não quero chegar. – Rebecca intensificou o beijo, adicionando carícias pelos braços que a prendiam. – Você é o meu destino.
Luciana estava cedendo. Sabia que dentro de alguns segundos seu cérebro não iria funcionar direito. Ela tinha uma coisa importante a fazer. Afastou os lábios, usando sua altura para dificultar os ataques de Rebecca. Embora fosse uma vantagem, sua altura também a desfavorecia, uma vez que a loira ficava confortavelmente nivelada com seus seios e os atacava agora sem constrangimento, por sobre a camiseta. Cedendo ao prazer que tomava conta do seu corpo, Luciana arcou as costas, tentando afastar o alvo do seu atacante. Outro fracasso, pois os lábios foram novamente envolvidos. Não tinha jeito. Era inútil resistir quando as mãos quentes e macias de Rebecca estavam invadindo por sob sua camiseta e acariciavam a sua pele.
Sem se importar com o fato de estarem quase no meio de uma estrada, Rebecca levantou a camiseta, deixando os seios da doutora expostos. Enquanto os devorava, procurava o zíper da calça de Luciana.
- Não, Becky. Estamos... No meio da estrada...
- Você nunca escolheu lugar. – a língua úmida serpenteava entre os seios - Não comece agora. – mãos impacientes forçavam o zíper do jeans - ...eu preciso de você....- dentes atacavam os mamilos - ....agora....sinta.
De alguma forma, Rebecca manejou umas das mãos e trouxe em seus dedos a prova da sua urgência, oferecendo-os para sua parceira. Tão logo ela os ch*pou, sentiu a língua desafiadora invadindo sua boca, ávida por sabores.
Sabendo que não tinha mais volta, Luciana inverteu o jogo. Abriu suas calças, ao mesmo tempo em que soltava o cordão que prendia o shorts de Rebecca. Encostando a jovem em uma árvore, intensificou os beijos, descendo a língua pela nuca, invadindo o vale entre os seios, devorando cada milímetro dos mamilos rijos. Sua coxa buscando espaço entre as pernas fortes, tentando moldar a posição perfeita.
Sem perda de tempo, Rebecca procurou colocou sua mão entre as pernas da doutora, buscando o seu lugar de direito, o único lugar onde queria estar. Luciana apoiou as mãos na superfície áspera e enrugada da árvore, deixando seus seios inteiramente exposto para o deleite de sua amante, enquanto os dedos hábeis da jovem faziam provocações em seu clit*ris, ameaçando a abertura quente, porém não tão úmida como imaginava.
Rebecca conhecia Luciana e sabia que ela não estava totalmente presente naquela trans*. Seu corpo reagia mais por reflexo do que por puro prazer.
Compreendeu que ela estava cedendo à sua vontade, já que não conseguira dissuadi-la. Havia algo incomodando a doutora. Ela queria acabar logo com aquilo, para poder se concentrar na "missão", seja ela qual fosse.
Sem uma palavra, Rebecca se afastou. Luciana demorou um pouco para perceber que ela parara.
Quando voltou a si, Luciana percebeu que Rebecca estava arrumando suas roupas, recompondo-se.
- O que... O que foi? Por que parou?
- Estava sem minha parceira.
Luciana não sabia como interpretar tal frase, uma vez que Rebecca parecia calma. Com uma expressão confusa, a doutora começou a arrumar sua roupa.
- Luck, o que você tem para me dizer. Deve ser muito importante para afastá-la do nosso prazer.
- Desculpe-me, Becky... Eu queria...
- ...Mas não estava respondendo como eu queria.
Luciana mantinha a cabeça baixa, desviando o olhar. Rebecca se aproximou e, numa atitude irreverente, usando sua altura, encaixou-se perfeitamente sob o olhar que mirava o chão, criando uma visão totalmente desfocada do belo rosto.
- Você é a minha razão de amar. É o desejo, é a resposta que eu preciso. Nunca, mas nunca mesmo, transe comigo só para me agradar. Não vai funcionar. Posso não saber o que você tranca na sua cabeça, mas seu corpo não tem segredos para mim.
- Está zangada comigo, não?
- Eu desviei você do seu propósito. Não vou negar que estou realmente acesa....
- ...acesa? Senti um vulcão preste a explodir.
Ambas riram, mais descontraídas.
- ...Mas, estou assustada e com medo, talvez estivesse tentando protelar o que tenho que enfrentar.
Rebecca beijou Luciana, depois abraçou-a fortemente, beijando entre os seios, lambendo a pele.
- Não estou zangada. Desde que eu tenha a minha mulher, tão logo ela acabe o que veio fazer.
Luciana adorava ouvir a jovem chamando-a assim, tão possessivamente. Um sorriso iluminou seu rosto ao ver-se refletida nos olhos verdes. Era ali onde ela queria estar pelo resto da sua vida.
- Pode contar com isso.
****
Rebecca achou estranha a aparência abandonada do lugar. Se haviam comprado as terras, a casa deveria estar em melhor conservação.
Tudo parecia abandonado. Havia uma caminhonete meio desmontada, segura por um cavalete. Era exatamente assim que ela se recordava de ter visto o veículo pela última vez.
- Nossa, Luck, que abandono. Esta era a minha casa. Aquele, um velho veículo que papai vivia consertando e nunca ficava bom, até que compramos algo mais novo.
Luciana observava sua parceira vasculhar desoladamente os cômodos da casa.
- Becky, vamos sair. Isto pode desabar, além da sujeira.
Enquanto caminhavam, a doutora percebia a ansiedade presente no olhar da jovem.
- Quem comprou as terras, Luck?
Sem uma palavra, a doutora tirou do bolso um papel. Um xerox reduzido de uma página aparentemente antiga.
- Que é isso?
- Leia.
Após alguns minutos, nos quais a loira deve ter lido e relido o conteúdo do papel algumas vezes, ela ergueu os olhos e fixou-os em Luciana.
- Feche a boca, querida. Tem muita mosca por aqui.
- Não sei se entendi bem....
- ...Bom, você pode engolir uma...
- Não é isso, engraçadinha. O que eu li, seu eu li certo, é o que eu penso?
- É, Rebecca, estas terras são dos seus pais. Ninguém comprou. Nenhuma nova escritura, acordo de compra, nenhum novo dono, nada; absolutamente nada!
- Mas, então, por que nós fomos embora? O dinheiro de papai, de onde veio?
Luciana não sabia o porquê das terras ainda estarem no nome dos pais de Rebecca, mas sabia coisas que a jovem nunca suspeitara.
Uma delas, era a extensão real da propriedade que era algumas vezes maior do que a jovem dizia ser.
De acordo com os documentos encontrados pelos advogados da doutora, a maior parte das terras vizinhas pertencia à família do pai de Rebecca, sendo que eram apenas dois filhos os herdeiros. Por alguma situação familiar, tudo acabara ficando com o pai da jovem. Porém, era muita terra para pouco recurso e fraca administração.
Luciana não sabia o que dizer.
Entendia menos do que Becky porque o pai havia se retirado de maneira tão repentina e deixado para traz uma quantidade de terra considerável. Não parecia ser uma terra muito bem aproveitada, mas tinha potencial para uma boa produção, segundo informações dos especialistas contratados pela médica.
Se era estranho para Becky, para a doutora era óbvio que algum tipo de pressão ele estaria sofrendo. Mas, qual?
A verdade que se descortinava era que Becky, bem como seus familiares, ainda eram proprietários daquelas terras. Como assuntos agrários não eram seu forte, Luciana movimentou seus advogados e estes, por sua vez, descobriram sobre as terras. De certa forma, foi fácil, já que todos os impostos referentes estavam irregulares.
Como todas as coisas referentes ao sistema agrário do país, pouco também estava esclarecido sobre o tamanho da propriedade em relação ao que era utilizado pelos pais de Rebecca.
- Luck, é muito estranho. Vejamos: papai nos fez ir para um lugar distante, disse que estava levando todo o dinheiro que possuía e, depois, após sofrermos todo tipo de infortúnio, ainda nos fez permanecer em um lugar aparentemente hostil, sabendo que ainda tínhamos nossa casa. É loucura!
- O que ele alegou quando falou que vocês iam mudar?
- Pra mim, nada além do fato de querer me dar uma condição acadêmica melhor.
- Só?
A loirinha sacudiu a cabeça e permaneceu calada, pensativa. Olhava ao redor e sentia sua infância presente em algum lugar, ali, no meio daquele abandono.
Não era tão nova quando saiu dali, mas ainda era inocente, por assim dizer. A alegação do pai sobre os estudos caiu-lhe bem aos ouvidos, pois era o que queria ouvir. Tinha alcançado o grau máximo de aprendizado dentro da região e, talvez, isto seria o suficiente, não fosse ela quem era.
Enquanto brincava com a irmã ou ajudava a mãe nos afazeres da casa, sabia que aquela vida não era pra ela.
Apanhar água no poço a levava para uma viagem; caminhar até a cerca criava um novo sonho; olhar o horizonte, a natureza, a paisagem bucólica; tudo, mas tudo mesmo a fazia sonhar com as coisas além daquele seu mundo, que já seria pequeno se fosse igual ao que sua mãe ou irmã haviam se acostumado. Em se tratando dela, o espaço era sufocante de tão limitado. Seus parentes e amigos até podiam estar ou serem felizes, mas ela não.
De forma egoísta, aceitou os motivos do pai e nunca os questionou. Nem mesmo quando tudo deu errado. Na verdade, no caso dela, tudo deu certo. Mas, como estariam as coisas para seu pais e irmã?
Agora, ali, olhando tudo ao redor, sentia-se perdida.
- Luck, vamos embora.
Sem dar tempo para a doutora reagir, saiu correndo. As longas pernas de Luciana a beneficiaram, quando rapidamente alcançou Becky e a segurou. Ela chorava.
- Shh.. Calma. ..Calma, amor. Relaxa. Shh...
Rebecca, envolta pelo afeto de Luck, ponderava por que ela precisava de um monte de terras, uma casa abandonada e um mundo que jamais havia questionado se ainda existia, se aqueles braços que a suportavam era tudo o que importava?
Luciana já fizera sua parte. Demonstrara sua preocupação em resgatar suas perdas. Só isto bastava.
- Eu quero ir embora, Luck.
- Tem certeza? Olha…- delicadamente, a doutora ergueu a cabeça que estava em seu ombro e fez a jovem olhá-la diretamente nos olhos…- …localizar a fazenda é um passo muito importante para que possamos achar seus pais. você não quer reencontrá-los?
Essa pergunta era engraçada. Conforme falara para Clara, não sabia se queria isso agora.
Conhecendo, ou não, completamente a doutora, Rebecca sabia que era arriscado, em ambos os casos, colocar outros elementos dentro da relação delas. Tinha medo de afastá-la colocando um outro tipo de relacionamento entre elas.
Sabia do amor da doutora. Tinha total certeza dele. Mas, também sabia o quanto Luciana tinha se modificado em tão pouco tempo. Certas coisas não podem acontecer da noite para o dia. Acostumar-se a uma relação, certamente, é uma delas. As duas eram perfeitas enquanto somente elas. Toda vez que algo externo era trazido para a relação, o hermético mundo da doutora era invadido. Ela tentava aceitar, mas era nítida a sensação de ameaça e, em conseqüência, a postura de defesa e retranca que a médica passava a ostentar.
E, se não queria arriscar cegamente em seu conhecimento sobre a doutora; sua relação com os pais também era algo não trabalhado. Não conhecia tão bem seus pais a ponto de saber como seria a reação deles para o tipo de união que as duas mantinham.
Sabia que era covardia pura, mas não queria pensar em pais e Luciana dentro de uma mesma preocupação.
Luciana aguardava a resposta. Seus olhos estavam claros, calmos e pacientes. Cheios de compreensão.
- Não.
Rebecca falou e aguardou por algum tipo de reprovação, já que a doutora se esforçara para realizar o que achava ser o maior desejo dela.
Luciana passou o braço em volta dos ombros dela, aninhou sua cabeça sob seu queixo, como sempre fazia e, fazendo carícias gentis em seus braços, começou a caminhar de volta para o animal, que pastava calmamente e as olhou com certo desdém.
Eram poucos metros, mas o silêncio os transformavam em quilômetros.
- Luck...
- Hum..
- Você está brava comigo?
- Não.
Silêncio.
- Estou assustando você?
- Não.
Antes de montarem, Luciana abraçou Rebecca com muito carinho. Sabia que as palavras dela não eram verdadeiras, pois seus olhos estavam cheios de tristeza. Também sabia que ela, Luciana, estava um pouco desapontada, pois imaginara uma reação mais entusiasmada.
Era engraçado, pois deveria estar aliviada por não ter que colocar pessoas estranhas em sua vida; entretanto, as "pessoas estranhas" eram os pais de sua parceira, da mulher que escolhera.
Quando quis ser parte da vida de Rebecca, nem pensou no pacote total. Ela e Thomas não tinham família. Quando decidiram casar, eram a conta certa para a relação. Ele não teve que se preocupar com os laços dela e nem ela com os dele.
Com Becky...bem, com ela só percebeu que o quebra-cabeça ia muito além de juntar as peças que uniam as duas, quando Clara mencionou sobre os suspiros de saudade que a jovem emitia, vez ou outra, quando lembrava de algo da infância, dos pais e da irmã.
Quando ouviu a secretária comentar tal sentimento, ficou um pouco magoada com o fato de Becky esconder isto dela. Na verdade, ficou com raiva da secretária ter sido tão mais perspicaz para com os sentimentos da jovem do que ela.
Luciana admitia que não era a pessoa mais fácil do mundo para se entender. Pior ainda quando se tratava de entender outras pessoas. Mas, com Rebecca se esforçava muito para ser o que a jovem esperava dela. Se algum tipo de medo ainda pairava sobre o relacionamento, teria que ser trabalhado. Luciana tinha que saber que Rebecca confiava nela. Confiava na relação. Plenamente e sem medos.
- É por minha causa, não é? - Luciana sentiu a tensão no corpo de Rebecca, tão logo a pergunta fora feita.
O carinho estava tão bom e Rebecca não queria falar sobre coisas aborrecidas. Não que sua relação fosse uma coisa aborrecida, mas tudo que as cercavam era, de certa forma, camadas de barreiras que tinha que ser derrubadas. Isto cansava.
Lembrou-se que ainda tinha um longo caminho a percorrer, antes de se meter em outra maratona emocional. Ainda não contara sobre seus encontros com os doutores e sabia que isto sim iria requerer toda a sua atenção e energia. Só de pensar, sentia o nó se formando no estômago. Luciana tinha limites e ela estava avançando sem a permissão da médica. Pior: sem o conhecimento do quanto a sua invasão causaria no relacionamento delas.
Reunindo alguma coragem, mergulhou no azul intenso que parecia querer vasculhar sua alma.
- Por nossa causa.
Era a coisa mais honesta e sincera que podia pensar em dizer, sem desviar o olhar dos olhos que a fitavam com certo medo. "Medo?".
Antes que pudesse responder, um estampido se fez ouvir e Luciana, que segurava as rédeas, foi atirada ao chão pelo animal assustado que saiu em galope.
Um segundo estampido e o som se caracterizou como um tiro. Instintivamente, Becky atirou-se sobre Luck, protegendo a doutora com o próprio corpo.
- Calma. Não estão atirando em nós. – Luciana disse sorrindo.
- Como sabe?
- Se estivessem, estaríamos mortas – resposta lacônica.
Fim do capítulo
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