Alguém que você ama já te ameaçou?
São Paulo, 23 de janeiro de 2016. 15h
Hoje eu pensei seriamente em juntar as poucas coisas que eu tenho, pegar o Odin, chamar um táxi e voltar para a casa dos meus pais.
Estou sozinha em casa com uma pia entupida na cozinha.
Rebeca levou as crianças a um museu.
Antes de sair, ela me disse que eu pagaria caro por ter escolhido ficar em casa.
Eu sei que eu preciso de ajuda.
Mas também sei que de nada adianta gente de fora querer me ajudar se eu mesma não faço questão de sair do buraco.
Antes de pensar em ir embora, pensei também em tomar todos os comprimidos que encontrasse na casa.
Desisti porque as crianças não precisam ver isso.
Não sei o que fazer. Arrumei a casa, mas continuo lutando com a pia entupida na cozinha.
Tenho um segredo: há uma amiga com quem eu falo e ela está preocupada comigo.
Contei a ela o que aconteceu, mas não deixei que ela viesse me buscar.
Estou cansada de estar sozinha.
Você já esteve sozinha?
Você quer gritar, mas sabe que ninguém vai ouvir. Você quer se matar, mas sabe que não haverá ninguém pra chorar a sua passagem. Você não tem pra quem pedir ajuda.
Eu só preciso de um carinho.
E preciso conversar com alguém que me entenda.
Tudo o que eu queria era sentar com alguém, com um bolo e duas canecas de chá à nossa frente, e poder falar tudo o que eu penso e sinto sem me preocupar se estou sendo ridícula.
Queria que essa tela não existisse entre nós.
Você me daria seu ombro para chorar? Afagaria os meus cabelos ruivos desbotados?
Rebeca tem vergonha de estar comigo.
Eu já fui mais bonita, mais magra, mais inteligente.
E eu também tenho vergonha de estar assim...
Eu sei que eu vou morrer. Você sabe também.
Uma hora ou outra, eu vou me cansar de verdade de tudo isso.
Sinto muita falta da avó que me criou. Era um colo que eu tinha sempre que precisasse.
Um colo, café quentinho e bolinhos de chuva cobertos com canela e açúcar.
Eu podia me deitar ali enquanto ela desembaraçava meus cabelos e eu desembaraçava tudo o que eu sentia.
Mas ela se foi e Rebeca, que devia ser o meu porto seguro, quer cabelos e sentimentos soltos sem ter o trabalho de me ajudar.
Eu sou uma farsa.
É por isso que pagarei caro.
Mas pagarei com o que?
O que eu tenho que pode ser tirado?
De que mais eu posso abrir mão?
Minha avó teria vergonha de mim.
O que ela sentiria agora se me visse sentada aqui nessa sala sozinha, chorando?
O que ela pensaria se me visse derrotada pelo mundo que ela venceu?
Me desculpe, eu não estou sendo boa companhia hoje.
Fim do capítulo
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