Eu preciso descansar
Ubatuba, 20 de janeiro de 2016. 18h30min
Eu estou cansada. Janeiro parece que nunca vai ter fim.
Os filhos da Rebeca estão na nossa casa e nossa relação, minha e dela, vai de mal a pior.
Sabe o que acontece quando você chega no fundo do poço? Te dão uma pá pra continuar cavando.
Eu não tenho privacidade nenhuma na minha própria casa, não tenho voz.
Faço o possível e o impossível pra manter a casa arrumada e as coisas nunca ficam no lugar. Eu estou tomando banho e abrem a porta sem bater nem pedir licença.
Sobra até pro Odin, pobre do meu cachorrinho.
A culpa é sempre nossa. Hoje eu fui acordada pela Rebeca gritando que eu devia levantar cedo pra tirar o cocô do cachorro do chão porque ninguém era obrigado a ver.
Os filhos dela não dão descarga, não tiram o cabelo do ralo, não lavam a própria louça (e quando lavam, eu preciso lavar de novo porque fica tudo um nojo!) e ela vem falar que não merece ver o cocô do cachorro.
Eu faço coisas que não são minha obrigação, eu estou há um mês aguentando essas crianças gritando e não posso nem surtar na minha casa.
Viemos para a praia, mas não melhorou em nada o humor.
Agora há pouco, conversando sobre uma possível viagem à Disney que ela vai dar pro menino quando ele fizer 18 anos, ele disse que queria ir sozinho. Ela disse que não, que iríamos todos nós.
Ele riu e disse “Até a Betina? Nossa, mas é daqui muito tempo né... Você já vai terminar com ela.”
Eu fiquei chateada.
E ela brigou comigo, porque não é culpa dela se as crianças inventam coisas da cabeça delas e eu deixo elas comerem a minha mente.
Eu não tenho o direito de ficar triste.
Acabei de acordar. Estou dormindo há mais ou menos 48 horas, só levantei para comer alguma coisa de madrugada.
A verdade é que eu queria que tudo isso acabasse... Queria acordar e ter minha casa de volta, com minhas coisas no lugar. Queria poder pegar minhas tintas e pintar sem ter que ouvir um “Be, o que você está fazendo?” ou “Be, posso pintar com você?”
Decidi que, voltando para São Paulo, vou passar um tempo na casa dos meus pais.
Acho que tenho esse direito, não?
Eu preciso descansar, porque estou muito cansada.
E quero poder surtar. Quero poder perder o controle e gritar e chorar e bater nas coisas sem ser julgada.
Ontem eu joguei a bolsa na cama e, sem querer, pegou no pé da Rebeca.
Ela me acusou de tê-la agredido, jogando coisas nela.
Queria tanto alguém que olhasse pra mim e tentasse me entender...
Estou sozinha. Não tenho nenhum amigo.
O que vai ser de mim quando tudo isso aqui acabar?
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 18/02/2016
Só acho que um dos grandes problemas da Betina é sua relação com a Rebeca. Que tal ela resolver pelo menos esse problema mandando a namorada catar coquinho e cair fora da vida dela? Talvez se ela der o primeiro passo, as outras coisas sejam resolvidas mais facilmente.
Resposta do autor em 24/02/2016:
A Betina acredita piamente que se a Rebeca for embora ela vai ficar sozinha e sem auxílio, mesmo que nós, que estamos de fora, enxerguemos a situação de outra maneira.
Primeiro, ela precisa confiar em si mesma... Talvez aí ela resolva a situação com a namorada.
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